MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR
O DIA ANTERIOR
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
2.9 A Bomba secreta de
Israel – Parte 2
Poucos dias depois, Israel rejeita a resolução 487 com a qual, em 19 de
Junho de 1981, o Conselho de Segurança das Nações Unidas lhe ordena, entre
outras coisas, de colocar todas as suas instalações nucleares sob a jurisdição
da IAEA. Rejeita também as cinco resoluções que a Assembleia Geral emite, entre
1981 e 1989, sobre o armamento nuclear israelita. Na resolução de 15 de
Dezembro de 1989 (44/121), a Assembleia Geral «reitera a sua condenação à
recusa de Israel em renunciar à posse de armas nucleares; exprime profunda preocupação
pelo facto de Israel continuar a produzir, desenvolver e adquirir armas
nucleares e a experimentar os seus transportadores; convida todos os Estados e
organizações que não o haviam ainda feito, a não cooperar mais com Israel e a não
lhe dar assistência no campo nuclear; pede, mais uma vez, que esse Estado
coloque todas as instalações nucleares sob a alçada da jurisdição da Agência
Internacional da Energia Atómica; reitera o seu pedido para que a IAEA suspenda
toda e qualquer cooperação com Israel, que possa contribuir para a sua
capacidade nuclear; pede, mais uma vez, ao conselho de Segurança, para tomar
medidas urgentes e eficientes para que Israel se adapte à resolução 487 do
mesmo Conselho». Nada disto acontece.
Para abrir uma brecha no muro de silêncio e conivência que esconde os
segredos (que agora, na verdade, já não existe) de Dimona, não é uma grande
potência mas um pequeno homem. É um técnico israelita, na ocasião com cerca de
trinta anos, Mordechai Vanunu, que trabalha de 1976 a 1985, nas instalações
nucleares de Dimona. Quando, depois de algum tempo, percebe que se produzem
armas nucleares, Vanunu decide recolher provas, conseguindo, também, tirar
algumas fotografias. Depois de ter deixado Dimona, em 1986, gradua-se em
Filosofia e converte-se à religião anglicana. Decide, então, tornar públicas as
provas recolhidas. Vai para Londres, onde contacta o jornal The Sunday Times. A redacção, antes de
publicar o testemunho, fá-las examinar por alguns dos maiores peritos de armas
nucleares.
Frank Barnaby, um físico nuclear que trabalhou no centro de pesquisas
britânico sobre armas nucleares, depois de ter entrevistado Vanunu, na
tentativa de encontrar alguma lacuna científica no seu depoimento, concluiu: «O
seu testemunho é completamente convincente». Theodore Taylor, que trabalhou no
projecto da primeira bomba americana e, em seguida, dirigiu o programa de
experiências de armas nucleares do Pentágono, depois de ter examinado as provas
de Vanunu, declara: «O programa israelita de armas nucleares é notavelmente
mais avançado do que quanto foi indicado em qualquer relatório ou conjectura
precedente». Estes e outros peritos calculam que Israel tinha fabricado, até
àquele momento, 100-200 armas nucleares, com uma potência global, dez vezes
maior, do que a estimada anteriormente.
The Sunday Times decide publicar as provas na
edição de 5 de Outubro de 1986. Mas, antes de Vanunu ver o seu testemunho
publicado, a mão comprida do Mossad, o serviço secreto israelita, apanha-o em
Londres: uma mulher bonita marca-lhe um encontro em Roma, em 30 de Setembro de
1986. Quando, em 5 de Outubro, The Sunday
Times publica com o título «Revelado: os segredos do arsenal nuclear de
Israel» e o relatório contendo as provas, Mordechai Vanunu já tinha sido
transportado para Israel. Aqui, enquanto estava dentro de um automóvel,
consegue escrever na mão «fui raptado em Roma» e, premindo-a contra o vidro da
janela, faz ler a mensagem aos jornalistas. O tribunal israelita condena-o, em
Março de 1988, a 18 anos de reclusão. Três meses depois, a magistratura
italiana encerra o caso do seu rapto em Roma «por falta de provas».
A seguir:
2.9 A Bomba secreta de
Israel – Parte 3
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
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