GUERRA NUCLEAR -- O PRIMEIRO DIA
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
ÍNDICE
4.2 Golfo: A
primeira guerra depois da Guerra Fria
O Iraque de Saddam Hussein que, invadindo o Iraque em 2 de Agosto de 1990
dá um motivo aos Estados Unidos para pôrem em prática a nova estratégia
«exactamente no momento» em que é lançada, é o mesmo Iraque que, até há pouco,
era apoiado pelos Estados Unidos. Nos anos oitenta, os EUA tinham-no ajudado na
guerra contra o Irão de Khomeini, naquele momento, o «inimigo número um» para
os interesses dos Estados Unidos na região do Médio Oriente. O Pentágono não só
forneceu armamento ao Iraque (entre outros, helicópteros militares, usados em
1988 para atacar os curdos com armas químicas) mas, secretamente, encarregou
mais de 60 funcionários do DIA (Defense
Intelligence Agency)de ajudar o comando iraquiano, fornecendo-lhe fotos de
satélites sobre a distribuição das forças iranianas, planos tácticos para as
batalhas e indicações dos objectivos a atingir nos ataques aéreos. Sob as
instruções de Washington, também o Kuwait ajudou o Iraque de vários modos,
fornecendo-lhes fotos de satélites sobre a distribuição das forças iranianas,
planos tácticos para as batalhas e a indicação dos objectivos a atingir nos
ataques aéreos. Sob instruções de Washington, o Kuwait ajudou mesmo o Iraque de
várias maneiras, fornecendo-lhe empréstimos avultados para a aquisição de
armamentos.
Mas, uma vez terminada a guerra contra ou Irão, em 1988, Estados Unidos
começaram a temer que o Iraque, graças, também, à ajuda soviética, adquirisse
um papel dominante na região. Recorrem, de novo, à antiga, mas sempre actual
política de «divide et impera». A atitude do Kuwait também muda, de acordo, pois
exige o reembolso imediato da dívida contraída por Bagadad e, explorando o
campo Rumaila que se estende nos dois territórios, eleva a sua produção de
petróleo acima da cota estabelecida pela OPEP. Deste modo, provoca uma queda de
preço do petróleo bruto que prejudica, sobretudo, o Iraque, saído da guerra com
um enorme e custoso equipamento militar e um débito externo de mais de 70
biliões de dólares, 40 dos quais ao Kuwait, Arábia Saudita e outras monarquias
do Golfo. Neste ponto, Saddam Hussein decide fugir do impasse «tornando a
anexar» o território do Kuwait que, fundamentado nas fronteiras traçadas em 1922
pelo pro-cônsul britânico, Sir Percy Cox, bloqueia o acesso do Iraque ao Golfo.
Quando o Iraque se prepara para invadir o Kuwait, os EUA (que conhecem
detalhadamente o plano) fazem crer a Baghdad que querem ficar fora do litígio.
Em 19 de Julho de 1990, enquanto 100.000 soldados iraquianos estão já reunidos
nas fronteiras com o Kuwait, Washington aconselha o governo kuwaitiano a
cancelar o estado de alerta das suas forças armadas. Em 25 de Julho, quando os
satélites militares americanos mostram que, agora, a invasão já está iminente, a
Embaixatriz americana, April Glasbie, encontra-se com Saddam Hussein, ao qual
assegura ter recebido, directamente do Presidente dos Estados Unidos, instruções
de procurar melhores relações com o Iraque. Além do mais, especifica que os
Estados Unidos não têm nenhuma opinião sobre os conflitos inter-árabes, como a
disputa de fronteira entre o Iraque e o Kuwait. Uma semana depois, no dia 1 de
Agosto de 1990, Saddam Hussein ordena a invasão, cometendo um colossal erro de
cálculo político.
Os Estados Unidos rotulam o antigo aliado como inimigo número um e,
formada uma coligação internacional, enviam para o Golfo uma força de 750.000
homens, dos quais 70% são americanos, sob as ordens do General Norman
Schwarzkopf, Comandante do U.S. Central
Command (o Comando Central Americano, responsável pelas operações no Médio
Oriente).
Faz parte da distribuição militar – surgirá mais tarde, em documentos
desclassificados – o porta aviões USS America
com a sua divisão de armas nucleares (W Division), dotada de bombas B61
e bombas de profundidade B 57.
Em 17 de Janeiro de 1991
tem início a operação «Tempestade do Deserto». Acaba de ser lançada contra o Iraque aquela que é definida como a mais intensa
campanha de bombardeamento da História»: em 43 dias, a aviação americana e a
aliada efectuam, com 2.800 aviões, mais de 110.000 saídas, lançando 250.000
bombas, entre as quais as bombas de fragmentação que lançam totalmente, mais de 10 milhões de sub-munições. Em 23 de Fevereiro, as tropa da coligação, compreendendo 520.00 soldados,
lançam a ofensiva terrestre que, depois de cem horas de carnificina, termina em
28 de Fevereiro com um «cessar-fogo temporário», proclamado pelo Presidente
Bush.
Ninguém sabe com exactidão quantos são os mortos iraquianos na guerra de
1991: segundo uma estimativa, cerca de 300.000. entre militares e civis,
seguramente muitos mais. O Wall Street
Journal relata que «as forças terrestres aliadas, enquanto avançavam,
usavam bulldozers para enterrar milhares de inimigos mortos nas trincheiras».
Numa entrevista, o Coronel Anthony Moreno e outros militares americanos confirmam
que milhares de soldados iraquianos são
sepultados vivos nas trincheiras com tanques, transformados em bulldozers,
aplicando na parte dianteira grandes lâminas dentadas: «Colocando os nossos
veículos sobre as trincheiras, era possível cobrir, em poucas horas, milhares e
milhares de valas. Os iraquianos não tinham salvação: se fugiam das
trincheiras, eram varridos pelo fogo dos blindados que avançavam, se ficavam
dentro das trincheiras, eram sepultados pelos tanques-bulldozers. No fim do ataque,
das trincheiras cobertas, brotavam braços e pernas dos iraquianos sepultados
vivos».
Quantos foram os iraquianos sepultados, já mortos ou ainda vivos,
permanece um segredo guardado nos arquivos do Pentágono. Ou melhor, ninguém se
preocupou em contá-los. Pelo contrário, contam-se meticulosamente as perdas da coligação
na operação «Tempestade do Deserto»: 148 soldados americanos mortos em combate
e 138 em situações de não combate, mais 91 aliados. O Pentágono sublinha, em
tons triunfantes, que nunca, num campo de batalha, um exército infligiu ao
inimigo tão grandes perdas, pagando um tão baixo preço de vidas.
A guerra do Golfo de 1991 distingue-se das outras, combatidas pelos
Estados Unidos, no período seguinte ao segundo conflito mundial. É a primeira
guerra em vasta escala que Washington não motiva com a necessidade de conter a
ameaçadora avançada do comunismo, justificação que esteve na base de todas as
intervenções americanas precedentes, no «terceiro mundo», desde a guerra da
Coreia à do Vietnam, da invasão de Grenada à operação contra a Nicarágua. É
a primeira guerra depois da guerra fria, através da qual os Estados Unidos não
só reforçam a sua presença militar e influência política na área estratégica do
Golfo onde se encontra a maior parte das reservas petrolíferas do mundo, mas –
como explica Colin Powel – colocam em prática e confirmam a nova estratégia,
exactamente no momento, em que a mesma é
lançada.
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