MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR -- O PRIMEIRO DIA
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
ÍNDICE
4.3 As armas de urânio empobrecido
Na primeira guerra do Golfo, os Estados Unidos têm prontas para lançar, à
distância de um tiro do Iraque, centenas de armas nucleares tácticas. Ao mesmo
tempo, estão prontas para lançamento, armas nucleares israelitas. Provavelmente
é o mesmo Secretário de Estado, James Backer, a advertir o Ministro dos
Negócios Estrangeiros, Tariq Aziz, em Genebra, na véspera da operação
‘Tempestade do Deserto’, que os Estados Unidos estão prontos a usar armas
nucleares, se o Iraque empregar armas químicas contra as forças americanas e
aliadas.
Se bem que na guerra do Iraque não são usadas armas nucleares, são, no
entanto, usadas maciçamente, pela primeira vez em larga escala, as suas «irmãs
menores»: as de urânio empobrecido, armas de novo tipo, provenientes do mesmo
ciclo do urânio, através do qual se produz urânio enriquecido para as armas
nucleares.
As balas de urânio empobrecido (DU), graças à densidade excepcional desse
metal (pesa 1,7 vezes mais do que o chumbo) e à sua natureza pirofórica
(capacidade de incendiar-se espontâneamente quando exposto ao ar), podem
penetrar através da couraça dos tanques, desenvolvendo no interior,
temperaturas elevadíssimas. O urânio empobrecido é um subproduto do processo de
enriquecimento do urânio 238, do qual conserva 70% da radioactividade. Para as
indústrias que gerem as fábricas de reprocessamento é, em seguida, extremamente
conveniente, em vez de suportar custos de armazenagem, vendê-lo às indústrias
bélicas que o usam para fabricar balas.
Segundo dados fornecidos, posteriormente, pelo Pentágono, na zona de
Bassora e no Kuwait foram usados em 1991, pelas forças aéreas e terrestres dos Estados Unidos e em tamanho reduzido, pelas forças britânicas, balas de urânio
empobrecido num total de 300 toneladas. Segundo algumas organizações não
governamentais, a quantidade real usada é de 700-800 toneladas. A cerca de 14.000
balas DU de 120 mm disparadas por tanques e cerca de um milhão de balas de 30 mm
disparadas pelas «canhoneiras voadoras» A-10 e helicópteros Apache, juntam-se,
de facto, milhares de ogivas de urânio empobrecido, de que são dotados os
mísseis e foguetes de cruzeiro e
milhares de projecteis empregados durante os exercícios no deserto saudita.
O perigo destas balas, quer para o ambiente, quer para a saúde dos
habitantes da zona em que são usadas, é devido ao facto de que, no momento da
explosão, o urânio transforma-se num aerosol cujas partículas radioactivas,
transportadas pelas correntes de convecção e pelos ventos, espalham-se por uma
vasta área e, penetrando no corpo humano através da inalação, ingestão ou
contaminação das feridas, podem provocar tumores e também graves danos
genéticos às gerações seguintes.
Já em Março de 1979, mais de 10 anos antes da guerra do Golfo, um
relatório publicado pelo Exército americano concluía que, no momento do impacto
das balas contra a couraça de um tanque, o urânio empobrecido transforma-se em
aerosol, colocando em perigo «não só as pessoas na vizinhança imediata, mas
também as que se encontram à distância, a favor do vento», enquanto as
partículas, transportadas pelo vento, se depositam nos tecidos pulmonares,
expondo os indivíduos a uma dose tóxica crescente de radiação alfa, capaz de
provocar o cancro e outras doenças mortais». Um outro estudo, encomendado pelo
Exército americano na véspera da crise do Golfo, confirma que «o urânio
empobrecido provoca o cancro, quando penetra no organismo, e a sua toxidade
química causa danos aos rins». Apesar de se conhecer o perigo a que são
expostos não só os civis iraquianos, mas os próprios soldados americanos, em
1991 decide-se usar as balas DU de maneira maciça. Dois anos depois do fim da guerra, outras centenas de veteranos começam a acusar sintomas de graves patologias, tais
como perda de peso, cabelos e hemorragias das gengivas. São os primeiros sinais
do que se torna definido como o «síndroma do Golfo». O mesmo é devido às balas
de urânio empobrecido, provavelmente também às substâncias tóxicas, libertadas
pelas fábricas químicas e pelos depósitos de munições bombardeados, pelos
bunkers demolidos, pelos poços petrolíferos em chamas e às vacinas contra o
antrax e o botulinum.
Nos dez anos seguintes, dos 697.000 soldados americanos que combateram na
guerra de 1991, cerca de 110.000 chegam atingidos pelo «síndroma do Golfo», do
qual são também afectados 2.000 soldados britânicos e 9.000 morrem. São numerosos os casos de malformações
genéticas nos filhos deles. Seguramente, verifica-se um número maior de vítimas
na população iraquiana. Nos anos seguintes, os médicos iraquianos revelam um forte
aumento de casos de cancro, leucemia e malformações no nascimento, tipicamente ligadas
à radioctividade. No Iraque meridional, entre a população de idade inferior aos
15 anos, verifica-se em 1990, um aumento de 6% dos casos de leucemia e 120% de
tumores malignos, em particular no cérebro. O Exércitos dos Estados Unidos,
enquanto de um lado nega oficialmente o perigo das balas de urânio
empobrecido, por outro lado demonstra estar ao corrente dos seus efeitos
nocivos. Um vídeo de treino militar realizado por eles, cinco anos depois da
guerra do Golfo,avisa os soldados do risco do «urânio empobrecido poder ser
inalado através do pó e do fumo se não se usar a máscara e, se não se usarem
luvas, ingerido com a comida e com as bebidas». «Recordem – concluem as
instruções – para estar sempre longe, se possível, dos equipamentos e dos
terrenos contaminados».
Assim, as armas de urânio, irmãs menores das armas nucleares de cuja
génese são originadas, continuam a matar, como continuam a matar as bombas de
Hiroshima e Nagasaki e tantas outras que explodiram nos testes nucleares.
A seguir:
4.4 A reorientação dos Estados Unidos
Tradutora: Maria Luísa de
Vasconcellos
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