MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR
O PRIMEIRO DIA
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
6.3 Afeganistão: o início da «guerra global ao terrorismo»
Os Estados Unidos atacam e invadem o Afeganistão em 2001, com o motivo
oficial de dar caça a Osama Bin Laden, indicado como líder do ataque terrorista
do 11 de Setembro. Uma figura bem conhecida em Washington: engenheiro e homem
de negócios, que pertence a uma família rica, Osama bin Laden colabora activamente
com a CIA, quando, de 1979 a 1989, ele treina e arma o ISI (o serviço secreto
paquistanês), mais de 100 mil mujaidin para a guerra contra as tropas soviéticas
caídas na «armadilha afegã» (como a define Zbigniew Brzezinsky, precisando que
o treino e o armamento dos mujaidin foi iniciado em Julho de 1979, cinco meses
antes da invasão soviética do Afeganistão).
Em seguida, Osama bin Laden – cerca de 1988 funda a organização
multinacional Al Qaeda (a Base), recrutando militantes muçulmanos em várias
partes do mundo – alia-se à organização dos taliban, os quais, treinados e
armados nos campos do Paquistão, conquistam Kabul em 1996, onde estão em curso,
confrontos entre as diversas facções de mujaidin que a conquistaram em 1992.
Osama bin Laden declara-se, nesta altura, hostil aos Estados Unidos. Em
1990-91, depois de ter tentado em vão, impedir que a Arábia Saudita se una aos
Estados Unidos contra o Iraque e aceite a presença de tropas americanas no seu
território, em 1998, da sua base no Afeganistão, lança um apelo aos muçulmanos
para que libertem os lugares santos do Irão, da ocupação americana. Isso não o
impede de ter contactos com agentes da CIA, com os quais se encontra,
provavelmente, em Julho de 2001, dois meses antes dos ataques terroristas de New
York e Washington, quando se estava a tratar no Hospital Americano do Dubai.
O verdadeiro objectivo da intervenção militar USA/NATO, no Afeganistão, é
a ocupação desta área de primeira importância estratégica. O Afeganistão está
no cruzamento entre o Médio Oriente, Ásia Central, Meridional e Oriental.
Nesta área (no Golfo e no Mar Cáspio) encontram-se as maiores reservas
petrolíferas do mundo. Encontram-se três grandes potências – China, Rússia e Índia – cuja força está a crescer e a influenciar os activos mundiais.
Como o Pentágono tinha advertido no relatório de 30 de Setembro de 2001,
«existe a possibilidade de emergir na Ásia, um rival militar com uma formidável
base de recursos».
A decisão de deslocar forças para o Afeganistão, como primeiro passo para
estender a presença militar americana na Ásia Central, é tomada por Washington
não depois de 11 de Setembro de 2001, mas antes. Revelam fontes fidedignas, segundo
as quais «o Presidente Bush, dois dias antes do 11 de Setembro, estava a
caminho de assinar um plano detalhado que previa operações militares noAfeganistão»: já estava na mesa do Presidente, antes do ataque terrorista que, oficialmente,
motiva a guerra do Afeganistão, «o plano de guerra que a Casa Branca, a CIA e
o Pentágono executam depois do 11 de Setembro».
No período anterior ao 11 de Setembro de 2001, existem fortes sinais na
Ásia de aproximação entre a China e a Rússia, que se concretizam quando em 17
de Julho de 2001, o Presidente Jang Zemin e Vladimir Putin assinam, em Moscovo,
o Tratado de boa vizinhança e cooperação amigável», definido como um «marco» nas
relações entre os dois países. Mas sem declarar, Washington considera a
aproximação entra a China e a Rússia, um desafio aos interesses dos Estados
Unidos na Ásia, no momento crítico em que os Estados Unidos procuram ocupar,
antes de tudo, o vazio que a desagregação da URSS deixou na Ásia Central. Uma
posição-chave geoestratégica para o controlo dessa área, é a do Afeganistão.
A guerra inicia-se em 7 de Outubro de 2001, com o bombardeamento do
Afeganistão efectuado pela aviação americana e britânica. Anteriormente tinham
sido infiltradas no território afegão, forças especiais com o objectivo de
preparar o ataque conjunto da Aliança do Norte e de outras formações rivais dos
taliban. Debaixo de bombardeamentos maciços e da ofensiva terrestre da Aliança
do Norte, as forças taliban, que apoiam voluntariamente, provenientes do
Paquistão e de outros países, são forçadas a abandonar Kabul em 13 de Novembro.
Nesta altura, o Conselho de Segurança da ONU autoriza, com a resolução 1386 de
20 de Dezembro de 2001, a constituição da ISAF (Força Internacional de
Assistência à Segurança). A sua tarefa é ajudar as autoridades afegãs,
provisoriamente, em Kabul e arredores. Segundo o Artigo VII, da Carta das
Nações Unidas, o emprego das forças armadas colocadas à disposição dos membros
da ONU para tais missões, deve ser estabelecido pelo Conselho de Segurança,
coadjuvado pela Comissão do Estado Maior, composto pelos chefes do Estado Maior
dos membros permanentes do Conselho de Segurança. Também se essa Comissão não
existir, o ISAF permanece até ao fim de Agosto de 2003, uma missão ONU cuja
direcção é designada em sucessão à Grã-Bretanha, Turquia, Alemanha e Holanda.
Mas, de repente, em 11 de Agosto de 2003, a NATO anuncia ter «assumido o
papel de liderança da ISAF, força com mandato da ONU». É um verdadeiro golpe de
mão: nenhuma resolução do Conselho de Segurança autoriza a NATO a assumir a
liderança, ou seja, o comando da ISAF. Só depois disso ter acontecido, na
resolução 1659 de 15 de Fevereiro de 2006, o Conselho de Segurança «reconhece o
empenho continuado da NATO em dirigir a ISAF». Desde Agosto de 2003, não é mais
a ONU, mas a NATO a orientar a missão: de facto, o quartel general ISAF é
inserido na cadeia de comando NATO, que escolhe de vez em quando os generais
para chefiar a ISAF. Como sublinha um comunicado oficial, «a NATO assumiu o
comando e a coordenação da ISAF, em Agosto de 2003: esta é a primeira missão
fora da área euro-atlântica, na história da NATO». Assim, a missão ISAF é
inserida na cadeia de comando do Pentágono. Na mesma cadeia de comando são
inseridos os militares italianos designados para a ISAF, juntamente com os
helicópteros e aviões, bem como os caça bombardeiros Tornado.
A seguir:
6.4 A segunda guerra
contra o Iraque.
Ler este capítulo e os precedentes em
Tradutora: Maria Luísa de
Vasconcellos
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