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Saturday, March 24, 2018

PT -- GUERRA NUCLEAR: 6.6. A guerra encoberta contra a Síria e a formação do ISIS

MANLIO DINUCCI



“Copyright Zambon Editore”


GUERRA NUCLEAR
O PRIMEIRO DIA
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe



6.6. A guerra encoberta contra a Síria e a formação do ISIS

Depois de ter destruído o Estado líbio, no mesmo ano de 2011, tem início a operação USA/NATO para demolir o Estado sírio. Uma das razões é o facto de que a Síria, o Irão e o Iraque, em Julho de 2011, assinam um acordo para um oleoduto que deveria ligar a jazida petrolífera de South Pars, a maior do mundo, à Síria e, depois, ao Mediterrâneo. A Síria, onde foi descoberta outra reserva petrolífera perto de Homs, poder-se-ia tornar, dessa maneira, num eixo de corredores energéticos alternativos aos que atravessam a Turquia e outros percursos, controlados pelas companhias americanas e europeias.

A guerra encoberta inicia-se com uma série de atentados terroristas efectuados, sobretudo, em Damasco e Aleppo. As imagens dos edifícios devastados por explosivos muitíssimo potentes são eloquentes: obra não de simples rebeldes, mas de profissionais da guerra infiltrada. Centenas de especialistas das forças da elite britânica SAS e SBS – relata o Daily Star – operam na Síria, juntamente com os das forças americanas e francesas.

A força de choque é constituída por uma milícia de grupos islâmicos (até há pouco designados por Washington como terroristas) provenientes do Afeganistão, Bósnia,Chechénia, Líbia e outros países. No grupo de Abu Omar al-Chechen – refere o enviado do Guardian em Aleppo – as ordens são dadas em árabe, mas têm de ser traduzidas em checheno, tadjique, turco, dialecto saudita, urdu, francês e outras línguas. Fornecidos de passaportes falsos (especialidade da CIA), os combatentes afluem às províncias turcas de Adana e Hatai, que confinam com a Síria, onde a CIA abriu centros de formação militar. As armas chegam, sobretudo via Arábia Saudita e Qatar que, como na Líbia, também fornecem forças especiais.

O comando das operações está a bordo dos navios NATO, no porto de Alessandretta. Em Istambul é aberto um centro de propaganda onde os dissidentes sírios, formados e financiados pelo Departamento de Estado USA, confeccionam as notícias e os vídeos que são transmitidos por redes de satélites.

Nos centros operacionais específicos, os agentes da CIA providencia a compra de armas com financiamentos (na ordem de biliões de dólares) concedidos pela Arábia Saudita, Qatar e outras monarquias do Golfo; em seguida organizam o transporte das armas para a Turquia e Jordânia, através de uma ponte aérea; finalmente, fazem-nas chegar, através da fronteira, aos grupos na Síria, já treinados em campos especiais estabelecidos em território turco e jordano.

Nos documentos vindos à luz a seguir, verifica-se qual era a estratégia. A Secretária de Estado, Hillary Clinton, num email de 2012 (desclassificado como «caso número F-2014-20439, Doc No. C05794498») escreve que, dada a «relação estratégica» Irão-Síria, «a destituição de Assad constituiria um benefício imenso para Israel e faria, também, diminuir o compreensível temor israelita de perder o monopólio nuclear».

Um documento oficial do Pentágono, datado de 12 de Agosto de 2012 (desclassificado em 18 de Maio de 2015, por iniciativa do grupo conservador, Judicial Watch), afirma que «os países ocidentais, os Estados do Golfo e a Turquia, apoiam na Síria, as forças da oposição que tentam controlar as áreas orientais, adjacentes às províncias iraquianas ocidentais», ajudando-as a «criar refúgios seguros sob protecção internacional». É a «possibilidade de estabelecer um principado salafita na Síria oriental e é exactamente o que querem as potências que apoiam a oposição, para isolar o regime sírio, a retaguarda estratégica da expansão chiita (Iraque e Irão)».

É nesse contexto que, em 2013 se forma o ISIS (ou DAESH), o «Estado islâmico do Iraque e da Síria», que se auto-proclama em seguida, «Estado do Califato Islâmico». Em Maio de 2013, um mês depois de ser fundado o ISIS, Ibrahim al-Badri - o "califa" conhecido pelo nome de batalha de Abu Bakr al-Baghda-di – encontra na Síria o Senador John McCain, líder dos Republicanos, encarregado pelo democrata Obama, de desenvolver operações secretas por conta do governo. O encontro é documentado fotograficamente. O ISIS recebe financiamentos, armas e rotas de trânsito dos aliados mais chegados aos Estados Unidos: Arábia Saudita, Qatar, Kuwait, Turquia, Jordânia, com base num plano seguramente, coordenado pela CIA. Depois de ter conquistado as suas milícias, grande parte do território sírio, o ISIS lança a ofensiva no Iraque, não por acaso, mas no momento em que o governo, presidido  pelo chiita Nouri al-Maliki se afasta de Washington, aproximando-se, cada vez mais, da Rússia e da China. A ofensiva, que incendeia o Iraque, encontra matéria inflamável na rivalidade sunita-chiita. As milícias do ISIS ocupam Ramadi, a segunda cidade do Iraque e, pouco depois, Palmira, na Síria central, matando milhares de civis e forçando à fuga dezenas de milhares dos mesmos.

De facto, o ISIS desempenha um papel  funcional na estratégia USA/NATO de demolição dos Estados. O mesmo não significa que a massa dos seus militantes, provenientes de diversos países, esteja consciente disso. Ela é muito heterogénea: fazem parte da mesma massa, quer combatentes islâmicos, formados no drama da guerra, quer militares da época de Saddam Hussein que combateram contra os invasores, quer muitos outros cujas histórias estão sempre ligadas a situações sociais trágicas, provocadas pela primeira guerra do Golfo e pelas guerras seguintes, num espaço de vinte anos. Também fazem parte alguns combatentes estrangeiros provenientes da Europa e dos Estados Unidos, dentro de cujas máscaras se escondem, de certeza, agentes secretos formados propositadamente, para tais operações.

Também é muito suspeito o acesso que o ISIS tem às redes mediáticas mundiais, dominadas pelos colossais corporações mediáticas americanas e europeias, através das quais divulgam as filmagens das decapitações que, suscitando horror, criam uma opinião pública muito vasta, favorável à intervenção no Iraque e na Síria.

A campanha militar «Inherent Resolve», formalmente dirigida contra o ISIS, é lançada no Iraque e na Síria em Agosto de 2014, pelos Estados Unidos e pelos seus aliados: França, Grã-Bretanha, Canadá, Austrália, Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos, Bahrain e outros. Se os Estados Unidos, a França e a Grã-Bretanha usassem os seus caça-bombardeiros como tinham feito na Líbia em 2011, as forças do ISIS, movendo-se em espaços abertos, seriam um alvo fácil. Pelo contrário, elas podiam avançar imperturbáveis, com colunas de blindados carregadas de homens e explosivos. Os USA tinham-se tornado militarmente impotentes? Não: se o ISIS avança na Síria e no Iraque, é porque em Washington, eles querem isso mesmo. O objectivo de Washington é a destruição da Síria e a reocupação do Iraque.

A seguir:
6.7    O golpe de Estado na Ucrânia

Ler este capítulo e os precedentes em

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

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