MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR
O PRIMEIRO DIA
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
6.6. A guerra encoberta contra a
Síria e a formação do ISIS
Depois de ter destruído o Estado líbio, no mesmo ano de 2011, tem início
a operação USA/NATO para demolir o Estado sírio. Uma das razões é o facto de que a Síria, o Irão e o Iraque, em Julho de 2011,
assinam um acordo para um oleoduto que deveria ligar a jazida petrolífera de
South Pars, a maior do mundo, à Síria e, depois, ao Mediterrâneo. A Síria, onde
foi descoberta outra reserva petrolífera perto de Homs, poder-se-ia tornar,
dessa maneira, num eixo de corredores energéticos alternativos aos que
atravessam a Turquia e outros percursos, controlados pelas companhias
americanas e europeias.
A guerra encoberta inicia-se com uma série de atentados terroristas
efectuados, sobretudo, em Damasco e Aleppo. As imagens dos edifícios devastados
por explosivos muitíssimo potentes são eloquentes: obra não de simples
rebeldes, mas de profissionais da guerra infiltrada. Centenas de especialistas
das forças da elite britânica SAS e SBS – relata o Daily Star – operam na Síria, juntamente com os das forças
americanas e francesas.
A força de choque é constituída
por uma milícia de grupos islâmicos (até há pouco designados por Washington
como terroristas) provenientes do Afeganistão, Bósnia,Chechénia, Líbia e
outros países. No grupo de Abu Omar al-Chechen – refere o enviado do Guardian em Aleppo – as ordens são dadas
em árabe, mas têm de ser traduzidas em checheno, tadjique, turco, dialecto
saudita, urdu, francês e outras línguas. Fornecidos de passaportes falsos
(especialidade da CIA), os combatentes afluem às províncias turcas de Adana e
Hatai, que confinam com a Síria, onde a CIA abriu centros de formação militar.
As armas chegam, sobretudo via Arábia Saudita e Qatar que, como na Líbia, também
fornecem forças especiais.
O comando das operações está a bordo dos navios NATO, no porto de
Alessandretta. Em Istambul é aberto um centro de propaganda onde os dissidentes
sírios, formados e financiados pelo Departamento de Estado USA, confeccionam as
notícias e os vídeos que são transmitidos por redes de satélites.
Nos centros operacionais específicos, os agentes da CIA providencia a compra
de armas com financiamentos (na ordem de biliões de dólares) concedidos pela
Arábia Saudita, Qatar e outras monarquias do Golfo; em seguida organizam o
transporte das armas para a Turquia e Jordânia, através de uma ponte aérea;
finalmente, fazem-nas chegar, através da fronteira, aos grupos na Síria, já
treinados em campos especiais estabelecidos em território turco e jordano.
Nos documentos vindos à luz a seguir, verifica-se qual era a estratégia.
A Secretária de Estado, Hillary Clinton, num email de 2012 (desclassificado
como «caso número F-2014-20439, Doc No. C05794498») escreve que, dada a «relação
estratégica» Irão-Síria, «a destituição de Assad constituiria um benefício
imenso para Israel e faria, também, diminuir o compreensível temor israelita de
perder o monopólio nuclear».
Um documento oficial do Pentágono, datado de 12 de Agosto de 2012 (desclassificado em 18 de Maio de 2015, por
iniciativa do grupo conservador, Judicial Watch), afirma que «os países
ocidentais, os Estados do Golfo e a Turquia, apoiam na Síria, as forças da
oposição que tentam controlar as áreas orientais, adjacentes às províncias
iraquianas ocidentais», ajudando-as a «criar refúgios seguros sob protecção
internacional». É a «possibilidade de estabelecer um principado salafita na
Síria oriental e é exactamente o que querem as potências que apoiam a oposição,
para isolar o regime sírio, a retaguarda estratégica da expansão chiita
(Iraque e Irão)».
É nesse contexto que, em 2013 se forma o ISIS (ou DAESH), o «Estado
islâmico do Iraque e da Síria», que se auto-proclama em seguida, «Estado do Califato
Islâmico». Em Maio de 2013, um mês depois de ser fundado o ISIS, Ibrahim
al-Badri - o "califa" conhecido pelo nome de batalha de Abu Bakr
al-Baghda-di – encontra na Síria o Senador John McCain, líder dos Republicanos,
encarregado pelo democrata Obama, de desenvolver operações secretas por conta
do governo. O encontro é documentado fotograficamente. O ISIS recebe
financiamentos, armas e rotas de trânsito dos aliados mais chegados aos Estados
Unidos: Arábia Saudita, Qatar, Kuwait, Turquia, Jordânia, com base num plano
seguramente, coordenado pela CIA. Depois de ter conquistado as suas milícias,
grande parte do território sírio, o ISIS lança a ofensiva no Iraque, não por
acaso, mas no momento em que o governo, presidido pelo chiita Nouri al-Maliki se afasta de
Washington, aproximando-se, cada vez mais, da Rússia e da China. A ofensiva,
que incendeia o Iraque, encontra matéria inflamável na rivalidade
sunita-chiita. As milícias do ISIS ocupam Ramadi, a segunda cidade do Iraque e,
pouco depois, Palmira, na Síria central, matando milhares de civis e forçando à
fuga dezenas de milhares dos mesmos.
De facto, o ISIS desempenha um papel
funcional na estratégia USA/NATO de demolição dos Estados. O mesmo não
significa que a massa dos seus militantes, provenientes de diversos países,
esteja consciente disso. Ela é muito heterogénea: fazem parte da mesma massa, quer
combatentes islâmicos, formados no drama da guerra, quer militares da época de
Saddam Hussein que combateram contra os invasores, quer muitos outros cujas
histórias estão sempre ligadas a situações sociais trágicas, provocadas pela
primeira guerra do Golfo e pelas guerras seguintes, num espaço de vinte anos. Também
fazem parte alguns combatentes estrangeiros provenientes da Europa e dos
Estados Unidos, dentro de cujas máscaras se escondem, de certeza, agentes
secretos formados propositadamente, para tais operações.
Também é muito suspeito o acesso que o ISIS tem às redes mediáticas
mundiais, dominadas pelos colossais corporações mediáticas americanas e europeias, através das quais
divulgam as filmagens das decapitações que, suscitando horror, criam uma
opinião pública muito vasta, favorável à intervenção no Iraque e na Síria.
A campanha militar «Inherent Resolve», formalmente dirigida contra o
ISIS, é lançada no Iraque e na Síria em Agosto de 2014, pelos Estados Unidos e pelos
seus aliados: França, Grã-Bretanha, Canadá, Austrália, Arábia Saudita, Emiratos
Árabes Unidos, Bahrain e outros. Se os Estados Unidos, a França e a
Grã-Bretanha usassem os seus caça-bombardeiros como tinham feito na Líbia em
2011, as forças do ISIS, movendo-se em espaços abertos, seriam um alvo fácil.
Pelo contrário, elas podiam avançar imperturbáveis, com colunas de blindados
carregadas de homens e explosivos. Os USA tinham-se tornado militarmente
impotentes? Não: se o ISIS avança na Síria e no Iraque, é porque em Washington,
eles querem isso mesmo. O objectivo de Washington é a destruição da Síria e a
reocupação do Iraque.
A seguir:
6.7 O golpe de Estado na Ucrânia
Ler este capítulo e os precedentes em
Tradutora: Maria Luísa de
Vasconcellos
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.