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Quem e como nos conduzem à catástrofe
8.4 A ameaça mortal do plutónio e o aviso não escutado de Fukushima
Juntam-se a estes cerca de 2.400 toneladas de plutónio proveniente, juntamente com 40 toneladas de HEU, dos reactores nucleares para a produção de electricidade, situados em 33 países. Este plutónio é suficiente para fabricar 300.000 armas nucleares (com base no cálculo de que são necessários 8 kg por ogiva nuclear) e aumenta quase 50 toneladas por ano. A parte mais facilmente utilizável para fins militares é constituída por plutónio não irradiado: 275 toneladas, equivalentes a cerca de 12% da quantidade total, suficiente para fabricar mais 34.000 armas nucleares. O plutónio não irradiado aumenta cerca de 2 toneladas por ano, suficiente para fabricar 250 novas ogivas nucleares.
Continua-se, desta maneira, a produzir plutónio, existente na natureza só como vestígios em minerais de urânio, recuperando-lo e separando-lo do urânio, nas operações de tratamento do combustível nuclear. Acumula-se, assim, criando-o artificialmente, um potencial destrutivo capaz, pela primeira vez na História, fazer desaparecer a espécie humana da face da Terra. Bastariam poucas centenas de quilogramas de plutónio, distribuídos convenientemente, para provocar cancro do pulmão em toda a população humana. E o plutónio permanece perigoso durante 240.000 anos.
A crescente quantidade de plutónio disponível permite aos países que já possuem armas nucleares, aumentar o seu número a qualquer momento e, ao mesmo tempo, permite aos outros países, abastecer-se de armas nucleares visto que, no ciclo de exploração do urânio, não existe uma linha nítida de demarcação entre o uso civil e militar do material físsil.
Mas não é só este perigo que se origina. As instalações nucleares está sujeitas a graves acidentes, como já aconteceu. Como possam ser essas consequências, demonstra-o o acidente ocorrido na central nuclear japonesa de Fukushima.
Em 11 de Março de 2011, o nordeste do Japão é atingido por um violento terremoto com o epicentro no fundo marinho do Pacífico, que provoca um tsunami com ondas da altura de 10-15 metros. Quando elas atingem a costa, quatro dos seis reactores da central nuclear de Fukushima ficam submersos. As bombas param de funcionar, bloqueando o arrefecimento dos reactores, e os dispositivos de segurança não entram em funcionamento. Após o bloqueio dos sistemas de refrigeração, verifica-se a fusão dos núcleos dos três reactores.
A causa decisiva é natural, mas no acidente de Fukushima – como os que foram verificados em 1979, em Three Mile Island, na Pennsylvania (USA) e, em 1986, em Chernobyl, na Ucrânia (URSS) – as responsabilidades humanas são determinantes. Acima de tudo a escolha de construir uma central nuclear sobre uma costa com a altura de, apenas, 4 metros acima do nível do mar e protegida por quebra-mares de pouco mais de 5 metros, numa zona sujeita a tsunami.
Surgem também graves faltas no controlo e na manutenção das instalações da parte da TEPCO (Tokyo Electric Power Company), a sociedade privada de gestão da central. Depois do acidente, a mesma sociedade é forçada a admitir a insuficiência dos controlos às instalações. Por exemplo, as válvulas da temperatura de um reactor, não eram verificadas há 11 anos, enquanto as verificações espaçadas para precisão eram aproximadas e faltavam inspecções aos dispositivos de reserva de arrefecimento. Além do mais,imediatamente após o bloqueio dos reactores, a TEPCO atrasa, conscientemente, as intervenções para arrefecer com água do mar, os reactores onde está em curso a fusão do núcleo. O uso da água do mar pode baixar a temperatura dos reactores, reduzindo os riscos de explosões imediatas e de fugas radioactivas, mas, ao mesmo tempo, danifica os reactores tornando-os inutilizáveis: coisa que a TEPCO procura, até ao fim, evitar para não ter perdas económicas posteriores.
As responsabilidades são, igualmente, do Governo japonês e da Agência Internacional da Energia Atómica, que procuram, de maneiras diversas, diminuir a gravidade do acidente. Em 12 de Março, o dia seguinte ao acidente, o Governo declara que dos reactores não se espalhará uma grande quantidade de radiação e que a população residente num raio de mais de 20 km não será afectada. Duas semanas depois, o governo pede à população que vive entre 20 a 30 km da central, para evacuar a zona e, no fim de Abril, estende a zona de evacuação até 50 km. O número de deslocados sobe a quase meio milhão.
Seis anos depois do acidente, em 2017, a situação ainda é dramática. Para arrefecer o combustível derretido dos três reactores, demasiado quente e radioactivo para ser removido, chega água bombeada através dos reactores, vinte e quatro horas sobre vinte quatro, cerca de 400 toneladas por dia. A água usada, que se tornou radioactiva, é tratada numa instalação de descontaminação, cujos filtros, no entanto, não podem remover toda a radioactividade absorvida. A água ainda radioactiva é armazenada no interior da central em grandes reservatórios, que em 2017 já contêm cerca de um milhão de toneladas. Não sabendo durante quantos anos se deverá bombear a água nos reactores derretidos, e sendo praticamente impossível continuar a armazená-la em reservatórios, a TEPCO e as autoridades governamentais pensam diluir a água radioactiva e descarregá-la no mar.Mas os pescadores e os habitantes da zona opõem-se vigorosamente a esta «solução». É ao mesmo tempo, o problema insolúvel, de como impedir que a água fortemente radioactiva no interior dos reactores, contamine as reservas hídricas e a água marinha. O «muro de gelo» subterrâneo, realizado em 2016, colocando à profundidade de 30 metros em volta dos reactores mais de 1.500 tubos através dos quais passa uma solução salina a -30ºC, revela-se ineficaz.
Além da água há o problema do lodo radioactivo, que se acumula nos filtros das instalações de descontaminação: em seis anos encheram 3.500 contentores e continuam a aumentar. Também se acumularam em seis anos, 65 mil metros cúbicos de roupas de protecção e 80 mil metros cúbicos de resíduos florestais que se tornaram radioactivos. Juntam-se a estes mais 200 mil metros cúbicos de destroços e 13 milhões de metros cúbicos de solo radioactivo. Além do mais, há cerca de 1.600 barras de combustível nuclear, ainda radioactivo, que a TEPCO, em vez de transferi-las para um sítio adequado, tinha armazenado no interior da central,para poupar nos custos.
O Governo japonês comunica, em 2017 que, para desmantelar a central de Fukushima e beneficiar a zona, seria necessário 4 décadas e uma despesa de quase 200 biliões de dólares, visto que os níveis elevados das radiações, abrandam as operações. No entanto, ao mesmo tempo, nos seus relatórios avaliados pela Agência Internacional de Energia Atómica, continua a sustentar que, salvo qualquer caso esporádico, não haveria vítimas por causa das radiações do acidente de Fukushima. O balanço das mortes foi apenas atribuído o tsunami, que em 11 de Março de 2011, matou mais de 18.500 pessoas. Sobre as consequências das radiações, a médio e a longo prazo, é colocado uma capa de silêncio. Ao mesmo tempo, pressionam-se os deslocados (muitos dos quais, sobretudo os idosos, vivem em condições de grande desconforto) para que se instalem, novamente, nas suas aldeias, não obstante, hajam níveis de radiações perigosos. A TEPCO, a sociedade responsável pela catástrofe de Fukushima, é autorizada em 2017, a reactivar dois reactores na central nuclear Kashiwazaki-Kariwa, a maior do mundo.
No mesmo ano, a Tepco, com base nos dados recolhidos por meio de um pequeno robot subaquático, admite que a situação é particularmente complicada no reactore 3 de Fukushima, onde o combustível nuclear derramado se misturou com o metal derretido.
O reactor 3 é o mais perigoso visto que, na central de Fukushima, é único carregado com MOX, contendo plutónio. O MOX, um misto de óxido de urânio e plutónio, sendo muito mais instável e radioactivo, aumenta o risco de acidentes nucleares e, em caso de derrame, é extremamente perigoso. O reactor 3 de Fukushima foi carregado com este combustível de plutónio em Agosto de 2010, depois do Governador da Prefeitura de Fukushima ter dado a aprovação. Outros dois reactores, nas centrais de Kyushu Genkai e Shikoku Ikata, já tinham sido carregados com MOX, em Novembro de 2009 e Março 2010, no âmbito de um programa que previa expandir o uso deste combustível.
O MOX para os reactores japoneses é produzido em França, utilizando escórias nucleares enviadas do Japão. Das instalações de processamento de AREVA, na Normandia, o combustível com plutónio é transportado por mais de um milhar de quilómetros, em autocarros, das instalações Melox, de Marcoule, onde são fabricadas as barras de combustível. Elas são novamente transportadas para a fábrica de Beaumont-Hague, para preparar a expedição. Assim, os contentores são transportados ao porto de Cherbourg e embarcados em navios que, tendo a bordo homens armados, em ambiente de guerra, zarpam para o Japão.
Greenpeace denuncia os perigos do transporte deste combustível de plutónio por terra ou por mar, percorrendo dezenas de milhares de quilómetros, se bem que ninguém possa prever o que seria em caso de acidente.Denuncia, também, que o MOX favorece a proliferação das armas nucleares, dado que o plutónio se pode extrair dele mais facilmente. Quase nenhum governo presta atenção ao alarme lançado pelo Greenpeace. O governo irlandês tinha procurado, em vão, dirigindo-se, em 2003, ao Tribunal de Arbitragem de Haia, fechar a instalação de Sellafield, em Inglaterra: a fábrica, da qual ainda se serve o Japão, é a fonte de um inquinamento radioactivo perigoso do Mar de Irlanda e do Atlântico Norte.
Não é dada grande atenção ao alerta, lançado em 2017, em França, pela Autoridade sobre a Segurança Nuclear (ASN) a respeito da AREVA, de Beaumont-Hague. Segundo a ASN, a protecção do local contra o risco de explosão tornou-se insuficiente. Estas instalações concentram a maior quantidade de plutónio e de outros materiais radioactivos da Europa. Um acidente provocaria consequências catastróficas para a totalidade da região europeia.
A Seguir:
8.5 A ameaça do terrorismo nuclear