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Saturday, April 28, 2018

PT -- GUERRA NUCLEAR: 1.4 O inverno nuclear

MANLIO DINUCCI

“Copyright Zambon Editore”


GUERRA NUCLEAR
O DIA ANTERIOR
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe



1.4 O inverno nuclear

Durante mais de trinta anos depois do bombardeamento atómico de Hiroshima e Nagasaki, cientistas de todo o mundo concentraram os seus estudos sobre os efeitos de uma simples explosão nuclear: irradiação térmica, onda de choque, queda radioactiva local, intermédia e a longo prazo. Só no início dos anos oitenta, começaram a indagar sobre as consequências de um uso em vasta escala de armas nucleares. Os modelos científicos que elaboraram, fornecem-nos – embora com diferenças notáveis uns dos outros, uma indicação fundamental inequívoca. Uma guerra nuclear provocaria não só o que aconteceu em Hiroshima e Nagasaki multiplicado por mil ou um milhão, mas algo ainda mais grave: a desorganização dos equilíbrios climáticos e dos eco-sistemas.

Num conflito nuclear em vasta escala, desenvolver-se-iam, ao mesmo tempo, em áreas urbanas e florestais, milhares de incêndios violentos, cada um dos quais estendido até centenas de quilómetros. Não tendo tido nunca, incêndios  deste tipo e de tão vastas proporções, é difícil estimar com exactidão, a quantidade de fumo que seria emitida. De qualquer maneira, acredita-se que até a combustão de uma pequena parte dos materiais inflamáveis provocaria consequências gravíssimas.

Bastaria a combustão de um terço de mais de 10 biliões de toneladas de madeira e de papel – concentrados nas áreas urbanas e industriais -  da América do Norte, Europa e Rússia – para produzir uma quantidade de fumo estimada, desde dezenas de toneladas e, ulteriormente, mais centenas de milhões de toneladas, constituída por um quarto ou um terço de carbono elementar amorfo.

A combustão dos materiais inflamáveis concentrados nas áreas urbanas e industriais – madeira, papel, petróleo, gasolina, querosene, gasóleo, produtos químicos, materiais plásticos, fibras sintéticas, borracha, asfalto e outros – produziria centenas de milhões de toneladas de fumo muito fuliginoso, constituído por mais de 50% de carbono elementar amorfo.

Os incêndios de grandes áreas florestais, na ordem de dezenas o centenas de milhares de km2, adicionariam, em quantidade variável dependendo da estação e do tipo de vegetação, outras dezenas de milhões de toneladas de fumo, o qual teria, em relação ao produzido pelos incêndios urbanos, um coeficiente mais elevado de absorção da radiação solar.

Esta enorme quantidade de fumo fuliginoso – constituído de partículas com diâmetro de 01, a 1 micron, formado de uma mistura de carbono elementar amorfo, hidrocarbonetos condensados, detritos minúsculos e outras substâncias – seria transportado rapidamente para a atmosfera, a uma altitude de 10-15 km, por violentas correntes ascendentes geradas pelos incêndios. Se bem que uma parte caísse no solo,  depois de algum tempo, com as precipitações atmosféricas, uma outra parte ficaria muito tempo suspensa na atmosfera, exercendo uma forte acção absorvente da radiação solar.

No hemisfério Norte, no período que vai da Primavera ao início do Outono,  a temperatura média da superfície poderia cair de 20ºC para -40ºC dentro de poucos dias, provocando fortes perturbações. Nas latitudes médias, a temperatura média de verão à superfície poderia cair a níveis outonais ou de princípio de inverno por períodos de semanas ou mais. Nas zonas interiores dos continentes poderia existir períodos caracterizados por temperaturas muito rígidas, de pleno inverno. Fortes correntes de ar frio poderiam dirigir-se para o sul, para regiões onde raramente ou nunca, há condições de gelo.

O manto de fumo poderia permanecer na atmosfera durante um ou mais anos, e determinar à escala mundial, um arrefecimento a longo prazo com a duração de anos, com um declínio de vários graus das temperaturas médias, em particular depois dos oceanos terem arrefecido significativamente. Em tais condições, poderia verificar-se uma notável redução da precipitação.

Um outro fenómeno que se produziria na estratosfera, poderia ter graves efeitos biológicos e ecológicos. Os óxidos de azoto gerados pela explosão nuclear, atingindo a estratosfera, catalisariam reacções químicas que, dentro de alguns meses, poderiam reduzir de 10 a 30% a camada de ozono. Como consequência, a radiação ultravioleta biologicamente activa, logo que se reduzisse o manto de fumo, atingiria a superfície terrestre com maior intensidade.

Outros efeitos resultariam da emissão nas camadas baixas da atmosfera de grandes quantidades de monóxido de carbono, óxido de azoto e de enxofre, ácido clorídrico e de outras substâncias, produzidas pela combustão de milhares de toneladas de produtos de celulose e combustíveis fósseis. Tais substâncias, algumas das quais muito tóxicas, poderiam se nocivas, directa ou indirectamente, para muitas formas de vida.

As consequências de todos estes fenómenos seriam devastadoras. O declínio da radiação solar e da temperatura teria um impacto imediato sobre a possibilidade de sobrevivência dos sobreviventes, os quais, privados em grande parte, de abrigos adequados, de combustíveis e de energia eléctrica, deveriam de enfrentar durante semanas ou meses, temperaturas baixíssimas em condições de obscuridade e grandes tumultos climáticos.

Efeitos a médio e longo prazo, também irreversíveis, aconteceriam na vegetação, em particular na das zonas tropicais e subtropicais, que pode existir apenas dentro de uma faixa muito restrita de temperatura e iluminação. Ao mesmo tempo, o fitoplancton e o zooplancton seriam destruídos, quer pela queda das radiações, quer pelo aumento das radiações ultravioletas, produzindo efeitos chocantes em todo os eco-sistemas marinhos.

A agricultura também seria gravemente atingida. Ao verificar-se episódios, mesmo de breve duração, de congelamento durante a estação de maturação, duração insuficiente da própria estação de maturação, falta de temperatura para o crescimento trariam a perda de colheitas completas. Tal possibilidade é demonstrada não só em experiências de laboratório, mas também do estudo de grandes erupções vulcânicas.

A erupção do Tambora, na Indonésia, em 1815, projectou na estratosfera 150 quilómetros cúbicos de matéria pulverizada. No ano seguinte, em 1816, foi definido como «o ano sem verão»: Na América do Norte e na Europa nevou em Junho e houve temperaturas baixíssimas em Julho e Agosto; seguiu-se uma grande carestia, a qual, provavelmente, favoreceu a epidemia de cólera que, surgiu em Bengala, chegou primeiro ao Cáucaso e, em seguida, à Europa e à América.

De grande duração, pior seria esta situação, se caísse sobre a Terra o «inverno nuclear».

Os aprovisionamentos de cereais, seriam suficientes em teoria, para manter a vida dos sobreviventes durante alguns anos, só nos maiores produtores, mas mesmo nesses países, em rapina devido a convulsões sociais, seria praticamente impossível um funcionamento regular dos sistemas de distribuição. No resto do mundo, compreendendo a maioria dos países e das populações, as reservas alimentares durariam poucas semanas ou poucos meses. Como consequência, se a produção alimentar fosse interrompida durante uma ou mais estações e ao mesmo tempo fossem interrompidas as importações, não haveria comida suficiente para manter os sobreviventes vivos.



A desnutrição, as doenças galopantes e o caos que dominaria em quase toda a parte, provocariam o declínio global da espécie humana

A seguir: 
Capítulo 2
A CORRIDA AOS ARMAMENTOS NUCLEARES
2.1 O confronto nuclear USA-URSS
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

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