MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR
O DIA ANTERIOR
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
Capítulo
8
O
CENÁRIO DO APÓCALIPSE
8.1 A
escalada qualitativa do confronto nuclear
Segundo as estimativas aproximadas da Federação dos Cientistas Americanos (FAS), relativas a 2017, as potências nucleares possuem, globalmente, cerca de 15.000 ogivas nucleares.
Destas, 4.150 estão instaladas estrategicamente, ou seja, prontas para ser lançadas
por mísseis balísticos e bombardeiros pesados, cujo raio de acção é, aproximadamente,
10.000 km ou mais; juntam-se a estas, mais 150 instaladas não estrategicamente,
isto é, as bombas nucleares na Europa, prontas a ser lançadas por
caça-bombardeiros com menor raio de acção, mas mais próximas dos objectivos a
atingir.
Outras 5.300 ogivas nucleares estratégicas e não
estratégicas, são mantidas de reserva em depósitos, prontas a serem instaladas
em mísseis e bombardeiros. Adicionando a estas, mais 5.300 ogivas retiradas de
uso operacional, mas ainda intactas e, portanto, prontas a ser utilizadas, o
número global de ogivas nucleares é cerca de 15.000.
Pertencem aos Estados Unidos e à Russia, 92% das
ogivas nucleares – cada um destes países possui cerca de 7 mil. Os outros países
que possuem ogivas nucleares são: França
(300), China (270), Grã-Bretanha (215), Paquistão (120-130), Índia (110-120)
Israel (80), Coreia do Norte (10-20). Outros 5 países – Itália, Alemanha,
Bélgica, Holanda e Turquia - têm, globalmente, cerca de 150 ogivas nucleares
americanas não estratégicas, instaladas nos seus territórios.
O número estimado de ogivas nucleares, também
constitui uma medida significativa das forças nucleares de um determinado país,
não basta para determinar qual seja a sua capacidade nuclear militar. Por
exemplo e sempre segundo a FAS, os Estados Unidos possuem, no total, cerca de
7.000 ogivas nucleares, mais 20.000 núcleos
de plutónio ou partes internas de reactores nucleares com os quais podem
construir outras tantas ogivas nucleares e produzem continuamente novos núcleos
de plutónio, no Los Alamos National Laboratory, para assim poderem construir
rapidamente novas ogivas nucleares.
A corrida aos armamentos desenvolve-se não na quantidade,
mas cada vez mais, na qualidade das armas nucleares: ou seja, sobre o tipo de
plataformas de lançamento (de terra, mar, ar e provavelmente também do Espaço
exterior) e sobre a capacidade ofensiva das ogivas nucleares.
Os Estados Unidos, tendo mais ou menos o mesmo
número de ogivas do que a Rússia, estão em vantagem como número de «armas
estratégicas ofensivas», ou seja, de ogivas nucleares que, transportadas por
mísseis balísticos e bombardeiros pesados, são capazes de atingir objectivos
distantes de mais de 10 mil quilómetros: segundo as estimativas da FAS relativas
a 2017, os Estados Unidos têm mais de 3.800 ogivas nucleares estratégicas em
comparação com as 2.460 russas.
Têm, juntamente a esta, uma outra vantagem: mais de
metade das ogivas nucleares estratégicas americanas – 52% - está instalada em
mísseis balísticos lançados de submarinos (SLBM), em comparação com 31% das
russas. Isto significa que os Estados Unidos têm mais 1.980 ogivas nucleares
estratégicas SLBM em comparação com as 770 russas. A vantagem consiste no facto
de que, os submarinos de ataque nuclear, sempre mais silenciosos e mais rápidos,
são dificilmente localizáveis e, deste modo, relativamente invulneráveis; além
do mais, podem avizinhar-se dos objectivos, contra os quais podem lançar os
mísseis balísticos, permanecendo imersos. Estão capacitados para lançar de
qualquer ponto dos oceanos e também, do Oceano Glacial Ártico, emergindo do
gelo.
A maior parte das ogivas nucleares estratégicas
russas – 44% em comparação com 21% das americanas - pelo contrário, está instalada em mísseis balísticos intercontinentais, lançados de terra (ICBM). Assim, são mais
facilmente localizáveis e vulneráveis a um ataque nuclear de surpresa. Em termos
numéricos, a Rússia tem quase 1.100 ogivas nos ICBM em comparação com as 800
dos EUA.
Os Estados Unidos estão em vantagem sobre a Rússia
também em número e percentagem de ogivas nucleares estratégicas, transportadas
por bombardeiros pesados: as dos EUA são mais de 1.000, correspondem a 27% do
total; as russas são pouco mais de 600 e correspondem a 25% do total.
A vantagem dos EUA é acrescida pelo facto de que, as
suas forças nucleares estão integradas nas de outras duas potências nucleares
da NATO, França e Grã-Bretanha. As forças nucleares da NATO (americanas,
francesas e britânicas), segundo as estimativas da FAS relativas a 2017,
dispõem de mais de 7.300 ogivas nucleares, das quais 2.200 estão prontas para
ser lançadas, em comparação com as 7.000 russas das quais 1.950 estão prontas
para lançamento. Cerca de 550 ogivas nucleares estratégicas e não estratégicas
da NATO – americanas, francesas e britânicas – prontas para lançamento, estão
instaladas na Europa, na proximidade do território russo. É como se a Rússia
instalasse no México centenas de ogivas nucleares apontadas para os Estados
Unidos. Outra vantagem é constituída pelo facto de que, todas as ogivas
nucleares britânicas e grande parte das francesas, estão instaladas em mísseis
balísticos lançados de submarinos.
Às forças nucleares USA/NATO juntam-se as de Israel,
a única potência nuclear no Médio Oriente, ligada à NATO através do «Programa
de cooperação individual» (2008). Baseadas nesta circunstância, as forças
israelitas envolvidas numa grossa manta de sigilo e silêncio, são estimadas pela
FAS, em 2017, como possuindo cerca de 80 ogivas nucleares, mais plutónio
suficiente para construir outras 100-200; outras fontes estimam o arsenal
israelita em 100-300 ogivas nucleares. Israel também produz, seguramente,
trízio, gás radioactivo com que fabrica armas nucleares de nova geração. Entre
estes mini-nukes, para usar num teatro bélico restrito, estão as armas de neutrões,
que provocam uma contaminação radioactiva menor, mas uma mortalidade mais
elevada pela forte emissão de neutrões velozes: os mais adaptados contra
objectivos não muito distantes de Israel.
As ogivas nucleares israelitas estão prontas para
lançamento em mísseis balísticos que, com o Jericho 3, atingem 8-9 mil
quilómetros de alcance. A Alemanha forneceu a Israel (como presente ou a preços
promocionais), quatro submarinos Dolphin modificados: em cada um, há seis tubos
de lançamento de mísseis de cruzeiro de curto alcance, foram adicionados quatro
para os Popeye Turbo, mísseis nucleares com um alcance de cerca de 1.500 km. Os
submarinos israelitas ‘made in Germany’, silenciosos e capazes de permanecer imersos durante uma semana, navegam no Mediterrâneo Oriental, Mar Vermelho e
Golfo Pérsico, prontos vinte e quatro horas sobre vinte e quatro, para o ataque
nuclear. Os Estados Unidos, que já forneceram a Israel mais de 350
caça-bombardeiros F-16 e F-15, estão empenhados em fornecer-lhes, pelo menos,
75 caças F-35, esses com uma dupla capacidade nuclear e convencional. O
Pentágono, que mantém secretos os códigos de acesso ao software dos F-35, mesmo
aos países (como a Itália) que participam na sua construção, fornece-os a
Israel para que assim, possa integrar o F-35 nos seus sistemas de guerra
electrónica. Também dá prioridade ao
treino de pilotos israelitas, preparando-os para o ataque nuclear com estes
caças da quinta geração.
A vantagem nuclear dos Estados Unidos sobre a China
é irrefutável. Eles possuem um número de ogivas 25 vezes superior e uma nítida
superioridade de plataformas de lançamento. Além do mais, segundo estima a FAS
em 2017, 70% das ogivas nucleares chinesas estão instaladas em bases em terra,
sendo assim, mais vulneráveis e só 50-70 destes mísseis têm um alcance
intercontinental de modo a alcançar os Estados Unidos. No entanto, a China tem
a capacidade tecnológica e industrial para aumentar e modernizar rapidamente as
suas forças nucleares, recorrendo, também, à crescente cooperação com a Rússia.
O Paquistão possui 120-130 ogivas nucleares. Como
plataformas de lançamento, não tem (em 2017) mísseis balísticos
intercontinentais nem submarinos de ataque nuclear, mas tem mísseis balísticos e
de cruzeiro, de curto e médio alcance (máximo de 2.750 km) de ogivas múltiplas
independentes, a que se juntam caça-bombardeiros de capacidade nuclear. O
Paquistão também está empenhado em aumentar e modernizar o seu arsenal,
Poderá ter, em 2025, 220-250 ogivas nucleares.
A Arábia Saudita, que financia 60% do programa nuclear paquistanês, poderia ter recebido em troca, do Paquistão, algumas armas nucleares ou mesmo, a possibilidade de usá-las. Em 2015 Ryadh mostrou a intenção de comprar armas nucleares. Em 2016, o analista político, Daham al-Anzi, de facto, porta-voz da Riyadh, declarou numa entrevista «Nós temos bombas nucleares». A Arábia Saudita possui mais de 250 caça-bombardeiros de dupla capacidade, convencional e nuclear, fornecidos pelos EUA e pelas potências europeias. Desde 2012, ela faz parte da «NATO Eurofighter and Tornado Management Agency», a agência NATO que gere os caças europeus Eurofighter e Tornado, os quais foram comprados pela Riyadh à Grã-Bretanha, duas vezes mais do que a própria Royal Air Force. No mesmo quadro entra o fornecimento ao Kuwait, aliado da Arábia Saudita, de 28 caças Eurofighter Typhoon, construídos pelo consórcio do qual faz parte a Finmeccanica (renomeada Leonardo, em 2016) juntamente com as indústria da Grã-Bretanha, Alemanha e Espanha.
A Arábia Saudita, que financia 60% do programa nuclear paquistanês, poderia ter recebido em troca, do Paquistão, algumas armas nucleares ou mesmo, a possibilidade de usá-las. Em 2015 Ryadh mostrou a intenção de comprar armas nucleares. Em 2016, o analista político, Daham al-Anzi, de facto, porta-voz da Riyadh, declarou numa entrevista «Nós temos bombas nucleares». A Arábia Saudita possui mais de 250 caça-bombardeiros de dupla capacidade, convencional e nuclear, fornecidos pelos EUA e pelas potências europeias. Desde 2012, ela faz parte da «NATO Eurofighter and Tornado Management Agency», a agência NATO que gere os caças europeus Eurofighter e Tornado, os quais foram comprados pela Riyadh à Grã-Bretanha, duas vezes mais do que a própria Royal Air Force. No mesmo quadro entra o fornecimento ao Kuwait, aliado da Arábia Saudita, de 28 caças Eurofighter Typhoon, construídos pelo consórcio do qual faz parte a Finmeccanica (renomeada Leonardo, em 2016) juntamente com as indústria da Grã-Bretanha, Alemanha e Espanha.
A Índia, que possui 110-120 ogivas nucleares, baseia
as suas forças nucleares em caça-bombardeiros, mas possui também, mísseis
balísticos com base em terra de alcance intermédio, como o Agni-5 de produção
nacional, capaz de transportar uma ogiva nuclear a 5.000 kms. Em 2016, tornou
operacional o seu primeiro submarino de ataque nuclear, armado com 12 mísseis
balísticos, tornando-se assim, o sexto país (depois dos Estados unidos, Rússia,
Grã-Bretanha, França e China) com capacidade de construir unidades deste tipo.
Os mísseis balísticos instalados no primeiro submarino são de alcance curto,
mas a Índia tem um programa para construir SLBM de longo alcance.
A Coreia do Norte, estima a FAS em 2017, tem material físsil suficiente para produzir 10-20 ogivas nucleares, mas não há provas disponíveis que esteja capaz de torná-las operacionais para serem transportadas por mísseis balísticos, em cujo desenvolvimento alcançou progressos notáveis. Tudo isto é ignorado pelos jornais e telejornais, que denunciam a Coreia do Norte como única fonte de ameaça nuclear. Ignora-se também a lição que. em Pyongyang, dizem ter aprendido: Gaddafi – recordam – tinha renunciado totalmente a todo o programa nuclear, permitindo inspecções da CIA, no território líbio. Porém, isso não o salvou, quando os USA e a NATO decidiram destruir o Estado Líbio. Se ele tivesse armas nucleares, pensam em Pyongyang, ninguém teria tido coragem para atacá-lo. Esse raciocínio também pode ser feito por outros:na actual situação mundial é melhor ter armas nucleares do que não tê-las.
A Coreia do Norte, estima a FAS em 2017, tem material físsil suficiente para produzir 10-20 ogivas nucleares, mas não há provas disponíveis que esteja capaz de torná-las operacionais para serem transportadas por mísseis balísticos, em cujo desenvolvimento alcançou progressos notáveis. Tudo isto é ignorado pelos jornais e telejornais, que denunciam a Coreia do Norte como única fonte de ameaça nuclear. Ignora-se também a lição que. em Pyongyang, dizem ter aprendido: Gaddafi – recordam – tinha renunciado totalmente a todo o programa nuclear, permitindo inspecções da CIA, no território líbio. Porém, isso não o salvou, quando os USA e a NATO decidiram destruir o Estado Líbio. Se ele tivesse armas nucleares, pensam em Pyongyang, ninguém teria tido coragem para atacá-lo. Esse raciocínio também pode ser feito por outros:na actual situação mundial é melhor ter armas nucleares do que não tê-las.
N.d.T.: A geoestratégia e a geopolítica alteraram-se após o discurso do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, em 1 de Março de 2018.
A seguir:
8.2 A
preparação para o 'first strike' nuclear
Tradutora: Maria Luísa de
Vasconcellos
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