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Sunday, June 3, 2018

PT -- GUERRA NUCLEAR: NOTA DA REDACÇÃO

MANLIO DINUCCI

“Copyright Zambon Editore”


GUERRA NUCLEAR
O DIA ANTERIOR
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe



Nota da Redacção

Em 12 de Junho de 1901, o físico francês, Henri Becquerel, identificou e quantificou pela primeira vez, a radiação proveniente de uma amostra de urânio. O fenómeno será classificado, sucessivamente, por outra cientista francesa, Marie Curie, como radioactividade.

Esta descoberta,no principio da década de 1900, abre a estrada para um futuro inimaginável, ao progresso nos campos médico e energético, a descobertas que anunciavam riqueza e felicidade para toda a Humanidade. Mas abria, também, o caminho para o desenvolvimento da radioactividade no campo militar e, em seguida, ao uso da ameaça nuclear como supremacia política. A um século de distância, a maravilha científica é substituída pelo temor difuso de um perigo furtivo e permanente.

A Associação dos Cientistas Atómicos Americanos, responsável pelo desenvolvimento extraordinário do nuclear e, consciente da sua responsabilidade, mudou o ponteiro do Relógio do Apocalipse, o assinalador do tempo simbólico do risco nuclear, de 3 minutos para a meia noite em 2015, para 2,5 minutos para a meia noite em 2017.

Manlio Dinucci, com o seu livro ‘Guerra Nuclear – O Dia Anterior’, explica com precisão documentada, a História dos últimos setenta anos de convivência com o nuclear e denuncia quem são os que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial,  a usam sem receio no que  respeita à segurança dos seres vivos e como eles nos querem levar à catástrofe, ao deserto nuclear.

Tudo começou em Agosto de 1945. O Presidente dos Estados Unidos, Henry Truman, tomou uma decisão terrível: a de lançar uma bomba atómica sobre o Japão, para pôr fim à guerra, já terminada na Europa. Ordenou ao Comandante da Força Aérea Americana no Pacífico, Carl Spaaz, de lançar um engenho sobre uma cidade de tamanho médio. Foram escolhidas quatro cidades mediante a importância e a localização. No fim o destino recai sobre duas delas, Hiroshima e Nagasaki, em parte, por razões metereológicas. Uma imensa bola de fogo envolveu a cidade, transformando-se numa enorme núvem de fumo em forma de cogumelo. Esta forma característica tornar-se-á a imagem clássica da catástrofe nuclear tão temida. O bombardeamento causará a morte imediata de, pelo menos, de cem mil pessoas no perímetro de 1,5 km do epicentro da explosão. As radiações atingiram dezenas de milhares de pessoas que continuaram a morrer ao longo dos anos. Tinha sido libertado um monstro que não se podia conter, invísivel e altamente mortal.

Será que o Presidente Truman teria escolhido, realmente, lançar o engenho, unicamente, para pôr fim à guerra no Pacífico? Talvez as coisas não sejam assim. É sabido agora, que o Japão tinha oferecido, através de diversos canais diplomáticos, a sua rendição, mas impunha a condição não renunciável da intocabilidade da figura do Imperador. A minoria da esquerda nos USA, era contrária a exonerar o maior responsável pelo militarismo japonês da sua responsabilidade e Truman, de repente, sensível ao pedido da esquerda, fortaleceu-se com esta recusa para, deste modo, rejeitar as diligências da diplomacia japonesa. Será  possível que o Presidente americano, ao atingir o Japão, quisesse na realidade, ameaçar e redimensionar o papel dos Soviéticos, os verdadeiros vencedores do nazismo na Europa? (Gian Luigi Nespoli e Giuseppe Zambon, Hiroshima-Nagasaki, Zambon Editore, Verona 1997).

As primeiras reportagens da cidade bombardeada deixaram as pessoas petrificadas perante esta enorme força desconhecida. A monstruosa quantidade de mortos e feridos de patologias desconhecidas e não curáveis causadas pelas radiações, impressionou o mundo inteiro, entregando aos Estados Unidos  o troféu de nação invencível.

Em seguida, o Pentágono continuará a financiar os estudos sobre o nuclear e, no final da presidência de Eisenhower, o Complexo militar/industrial começará a influenciar a política americana, exarcebando o perigo do comunismo e de uma possível invasão soviética da Europa. Este estado de guerra não declarada encorajava uma corrida ao armamento que fazia andar a toda a velocidade as fábricas, enquanto os aliados europeus, a Grã-Bretanha e a França, por sua vez, se esforçavam  para dotar-se da bomba atómica e poder, assim, aceder à mesa dos poderosos. A URSS, obviamente tentou recuperar o tempo do atraso tecnológico que a afastava dos USA. Assim, o nuclear entrava na cena política internacional como dissuasão entre as forças em oposição durante a Guerra Fria.

Durante muitos anos, temeu-se que um erro furtuito na sala dos botões pudesse terminar a existência da Humanidade. Só depois da dissolução da União Soviética e com os diversos tratados para o controlo do rearmamento nuclear,  nos anos seguintes, é que se acreditou que não se devia temer o nuclear. Mas como demonstra o livro de Dinucci, tratava-se de um falso sentido de segurança, porque, em silêncio, continuou a pesquisa e a produção de novas armas muito sofisticadas.

Hoje estamos novamente perante os Estados Unidos que desafiam a Rússia, com um olhar para a China, uma situação semelhante à da Guerra Fria, mas muito mais temível, porque ao contrário da década de 1970, quando os antagonistas tinham concordado com um último telefonema através  do famoso telefone vermelho antes de qualquer acção definitiva, actualmente todos os adversários sabem que só obtém a vitória, quem lançar o primeiro míssil.

Revela o Washington Post que se autorizam ataques preventivos contra os Estados que estejam quase a comprar armas de destruição em massa.Em plena sintonia com a teoria do PNAC (Project for a new American Century, Projecto para um novo século americano)formulado pelos neo-conservadores e cada vez mais aplicada à política americana: A História do Sec. XX deveria ter ensinado que é importante plasmar as circunstâncias antes das crises surjirem e enfrentar a ameaça nuclear e enfrentar as ameaças antes que se tornem trágicas. A História deste século deveria ter ensinado a abraçar a causa de uma liderança americana... estabelecer uma presença estatégica militar em todo o mundo através de uma revolução tecnológica no contexto militar, desencorajar o aparecimento de qualquer super potência competitiva, lançar ataques preventivos contra quaisquer poderes que ameacem os interesses americanos.

Da narrativa do nascimento da bomba e da aniquilição das duas cidades japoneasas até há corrida renovada aos armamentos, com um percurso de nove capítulos densos de informação e pormenores documentados, Manlio Dinucci introduz o leitor no mundo do nuclear e da política que o acompanhou sobre o fundo de um cenário internacional em mudança. O autor revela acidentes nucleares desconhecidos, o risco das centrais atómicas obsoletas e os atentados às mesmas, o uso do urânio empobrecido nos bombeardeamentos na Jugoslávia e no Iraque, as guerras escondidas, as guerras comissionadas, as guerras no Médio Oriente, o nascimento do ISIS, a inquietante cumplicidade americana no armamento dos terroristas islâmicos, a NATO e a CIA a trabalhar na Ucrânia, a perigosa expansão da NATO nos países de Leste em direcção à Rússia.

A política estrangeira americana parece dividir a Europa em duas entidades: de um lado a nova Europa, constituída pelos antigos países satélites da União Soviética – Repúblicas dos Balcãs, Polónia, República Checa, Eslováquia, Hungria, Bulgária, Roménia e, do outro lado, a parte fundadora da União Europeia. A primeira é considerada a aliada mais firme, onde fazer fluir financiamentos, armas, soldados e bases de mísseis para instalar contra a Rússia; a segunda é mantida sob controlo, para que não ouse conspirar economica e financeiramente com a Rússia ou com outras nações inscritas no livro negro dos EUA, penalidades pesadas, ameaças de sanções e crises bancárias. Quase toda a Europa é membro da NATO e alberga grande número de bases militares que armazenam armas e bombas nucleares em Itália, Bélgica, Holanda e Alemanha. É evidente que a Europa está numa posição de sujeição aos Estados Unidos e é considerada a parte fraca das forças em campo.

Um capítulo do livro descreve as novas armas e abre uma antevisão da guerra estelar: a mudança das armas cinéticas em armas de energia dirigida.Não usam mais balas, mas impulsos electromagnéticos, ondas de calor, armas cibernéticas e outras diabruras da ficção científica que só tinhamos visto em filmes e como tal, pensávamos ser pura fantasia. Hoje são uma realidade terrível, como os drones miniaturizados com as mais diversas utilizações, como matar por comando remoto ou transportar mini-nukes, que espalham epidemias ou mais simplesmente, mosquitos espias. Igualmente incrível é o desenvolvimento dos sistemas espaciais e dos aviões robotizados para destruir os satélites das comunicações dos adversários e para enviar armas para o Espaço.

No final desta extraordinária cavalgada ao longo da história dos nossos anos mais recentes, o livro explica a posição actual do poder americano, reivindicando a defesa do amargo fim dos seus privilégios antes do aparecimento de outros poderes. Para este fim a pressão militar americana aumenta em todos os continentes. O Pentágono controla directamente, 4.800 bases e outras instalações militares. O mundo está dividido em seis áreas, cada uma das quais está submetida ao controlo de outros tantos Comandos Combatentes Unificados dos Estados Unidos. A estes Comandos juntam-se três operacionais à escala global que presidem as forças nucleares terrestres, navais e as operações no espaço e ciber espaço, a guerra electrónica e missilística; as operações especiais e as operações psicológicas; o transporte, a mobilidade e o abastecimento dos exércitos.

Dinucci conta com precisão as funções de cada uma e o panorama descrito é impressionante, porque se desenvolve paralelamente ao nosso quotidiano, na quase total ignorância do público, que é tido deliberadamente na ignorância do facto de que as bases constituem o primeiro objectivo destinado a receber o contra ataque.


 

A seguir:
Nota sobre o Autor

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos


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