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Friday, May 10, 2019

Arpão: Um submarino, alguma confusão e uma demissã


OPINIÃO: Misturar operações militares com intervenções supostamente humanitárias virou um hábito que cresce a cada dia que passa. O objectivo é branquear as primeiras com as supostas boas intenções das segundas e confundir a opinião pública, normalmente avessa a militares e militarismos. Não precisamos de ir até à África remota para perceber como a coisa se faz. Basta concentrar-nos nas aventuras do submarino português Arpão, no ano passado, que levaram à demissão do seu desastrado comandante e à apreensão de uma edição inteira da Revista da Armada.
Arpão, comprado pelo ministro Portas num negócio obscuro, tem participado nos últimos anos em duas missões no Mediterrâneo. Na operação “SOPHIA” está ao serviço da Força Naval da União Europeia (EUNAVFOR MED), que tem como principal objectivo contribuir para o desmantelamento das redes de introdução clandestina de migrantes e tráfico de pessoas dando uma mãozinha à Guarda Costeira da Líbia ajudando-a a reconduzir de volta a terra, alguns emigrantes detectados ao mesmo tempo que persegue contrabandistas de combustíveis. Esta seria a suposta operação humanitária.
Já na operação “SEA GUARDIAN” trabalha directamente para a NATO recolhendo e partilhando informação com as marinhas da Aliança relativamente ao panorama marítimo do Mediterrâneo, portanto uma missão militar pura e dura. Um pouco como na rábula do polícia bom e do polícia mau, ambas as operações são indistintas envolvem percursos secretos e pouca divulgação dos seus reais objectivos.
Aconteceu no entanto que no ano de 2018 após o regresso a Portugal, o comandante do Arpão resolveu detalhar num artigo da Revista da Armada (ver aqui a página com cortes publicada no Dário de Noticias de 12 de Janeiro de 2019) pormenores da missão onde se percebe bastante bem o que andaram a fazer submersos durante 61 dias no Mediterrâneo. Espionagem pura e dura sem qualquer interesse para a ajuda humanitária a migrantes.
Desfeita a confusão em torno das actividades do Arpão, nada mais restou à Marinha senão apreender todos os números da sua própria revista e demitir o comandante do submarino que escreveu o artigo.  
António Pereira


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