OPINIÃO:
Misturar operações militares com intervenções supostamente humanitárias virou
um hábito que cresce a cada dia que passa. O objectivo é branquear as primeiras
com as supostas boas intenções das segundas e confundir a opinião pública,
normalmente avessa a militares e militarismos. Não precisamos de ir até à
África remota para perceber como a coisa se faz. Basta concentrar-nos nas
aventuras do submarino português Arpão, no ano passado, que levaram à demissão
do seu desastrado comandante e à apreensão de uma edição
inteira da Revista da Armada.
O Arpão,
comprado pelo ministro Portas num negócio obscuro,
tem participado nos últimos anos em duas missões no Mediterrâneo. Na
operação “SOPHIA” está
ao serviço da Força Naval da União Europeia (EUNAVFOR MED), que tem como
principal objectivo contribuir para o desmantelamento das redes de introdução
clandestina de migrantes e tráfico de pessoas dando uma mãozinha à Guarda
Costeira da Líbia ajudando-a a reconduzir de volta a terra, alguns emigrantes
detectados ao mesmo tempo que persegue contrabandistas de combustíveis. Esta
seria a suposta operação humanitária.
Já
na operação “SEA
GUARDIAN” trabalha directamente para a NATO recolhendo e partilhando
informação com as marinhas da Aliança relativamente ao panorama marítimo do
Mediterrâneo, portanto uma missão militar pura e dura. Um pouco como na rábula
do polícia bom e do polícia mau, ambas as operações são indistintas
envolvem percursos
secretos e pouca divulgação dos seus reais objectivos.
Aconteceu
no entanto que no ano de 2018 após o regresso a Portugal, o comandante do Arpão
resolveu detalhar num artigo da Revista da Armada (ver aqui a página com
cortes publicada no Dário de Noticias de 12 de Janeiro de 2019) pormenores
da missão onde se percebe bastante bem o que andaram a fazer submersos durante
61 dias no Mediterrâneo. Espionagem pura e dura sem qualquer interesse para a
ajuda humanitária a migrantes.
Desfeita
a confusão em torno das actividades do Arpão, nada mais restou à Marinha senão
apreender todos os números da sua própria revista e demitir o comandante do
submarino que escreveu o artigo.
António
Pereira
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