RELATÓRIO DO PRIMEIRO MINISTRO VIKTOR ORBÁN A CHARLES MICHEL, PRESIDENTE DO CONSELHO EUROPEU
18/07/2024
FONTE: GABINETE DO PRIMEIRO-MINISTRO
Senhor Presidente,
Por favor, leia a seguir uma avaliação sumária das minhas
conversações recentes com os dirigentes da Ucrânia, Rússia, China, Turquia
e com o Presidente Donald J. Trump, bem
como algumas sugestões para a sua apreciação.
1. A estimativa geral é que a intensidade do conflito militar
irá aumentar radicalmente num futuro próximo.
2. Testemunhei pessoalmente que as partes beligerantes estão
determinadas a envolver-se mais profundamente no conflito e nenhuma delas
gostaria de tomar a iniciativa de um cessar-fogo ou de negociações de paz.
Por conseguinte, podemos presumir que as tensões não diminuirão e que as partes
não começarão a procurar uma saída para o conflito sem um envolvimento externo
significativo.
3. Existem três actores mundiais capazes de influenciar a
evolução da situação: a União Europeia, os Estados Unidos e a China. Temos
também de ter em consideração que a Turquia é um actor regional importante, na
medida em que foi o único mediador bem sucedido entre a Ucrânia e a Rússia, desde o início das hostilidades em 2022.
4. A China prosseguirá a sua política, também formulada em
documentos internacionais, apelando a um cessar-fogo e a conversações de paz.
No entanto, a China só desempenhará um papel mais activo se a probabilidade de
sucesso do seu compromisso for quase certa. Na sua opinião, actualmente, não é
esse caso.
5. No que diz respeito aos Estados Unidos, tive a
experiência, na Cimeira da NATO e durante as minhas conversações com o
Presidente Trump, de que os EUA estão, neste momento, muito preocupados com a
campanha presidencial. O Presidente em exercício está a fazer imensos esforços
para se manter na corrida. É óbvio que ele não é capaz de modificar a actual
política pró-guerra dos EUA e, por conseguinte, não se pode esperar que inicie
uma nova política. Como temos testemunhado muitas vezes ao longo dos últimos
anos, nestas situações a burocracia sem liderança política continuará a seguir
o caminho anterior.
6. Durante as minhas conversações com o Presidente Trump,
cheguei à conclusão de que a política externa desempenhará apenas um pequeno
papel na sua campanha, que é dominada por questões de política interna. Por
conseguinte, não podemos esperar qualquer iniciativa de paz da sua parte até às
eleições. No entanto, posso afirmar com
segurança que, logo após a sua vitória eleitoral, ele não esperará pela tomada
de posse, mas estará pronto para agir imediatamente como mediador da paz. Para
esse fim, tem planos pormenorizados e bem fundamentados.
7. Estou mais do que convencido de que, no resultado
provável da vitória do Presidente Trump, a proporção dos encargos financeiros
entre os EUA e a UE mudará significativamente em desvantagem da UE, no que diz
respeito ao apoio financeiro à Ucrânia.
8. Em nome da unidade transatlântica, a nossa estratégia
europeia copiou a política pró-guerra dos EUA. Não dispusemos, até agora, de uma estratégia europeia soberana e
independente, nem de um plano de acção política. Proponho que se discuta, no
futuro, se a continuação desta política é racional. Na situação actual, em
conformidade com uma forte base moral e racional, podemos encontrar uma janela
de oportunidade para iniciar um novo capítulo na nossa política. Neste novo
capítulo, poderíamos fazer um esforço para diminuir as tensões e/ou criar
condições para um cessar-fogo temporário e/ou iniciar negociações de paz.
9. Proponho que se dê início a um debate sobre as seguintes
propostas:
a. Tomar a iniciativa de efectuar conversações políticas de
alto nível com a China sobre as modalidades da próxima conferência de paz;
b. Manter os contactos políticos de alto nível actuais com a
Ucrânia, e ao mesmo tempo reabrir linhas directas de comunicação diplomática com
a Rússia e reabilitar esses contactos directos na nossa comunicação política;
c. Lançar uma ofensiva política coordenada em direção ao Sul
Global, cujo apreço perdemos relativamente à nossa posição sobre a guerra na
Ucrânia, resultando no isolamento global da comunidade transatlântica.
10. Espero que os meus relatórios e sugestões possam ser um
contributo útil para possíveis propostas e iniciativas que V. Exa. apresentará
aos dirigentes da UE, numa ocasião apropriada e num formato conveniente.
Com os melhores cumprimentos,
Viktor ORBÁN
Budapeste, 12 de Julho de 2024
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