MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR
O DIA ANTERIOR
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
2.9 A Bomba secreta de
Israel – Parte 1
Enquanto os EUA, a Grã-Bretanha e a União Soviética procuram impedir, com
o Tratado de Não-Proliferação, que outros países entrem no club nuclear, do
qual fazem parte, em 1968, cinco membros, um sexto país infiltra-se no círculo
das potências nucleares, conseguindo não só entrar pela porta de serviço, do
nuclear civil mas, uma vez lá dentro, a tornar-se oficialmente invisível: o
convidado de pedra é Israel. No mesmo momento em que, em 1968, se torna aberto
às assinaturas o Tratado de Não-Proliferação, ele está já a distribuir em
segredo, as suas primeiras armas nucleares. A história sobre como Israel consegue construí-las, sem nunca revelar a sua existência, desenvolve-se no
mundo escuro dos assuntos nucleares.
O programa nuclear militar começa no mesmo ano do nascimento de Israel;
em 1948, sob ordens do Ministro da Defesa, um grupo de cientistas efectua
prospecções no deserto do Negev, à procura de urânio. Encontrado um mineral de
baixo teor de urânio, aperfeiçoam um processo para extraí-lo e desenvolvem,
também, um novo método para extrair água pesada, que serve de moderadora nos
reactores nucleares. Neste ponto, Israel tem necessidade de um reactor. Para obtê-lo,
volta-se secretamente para a França, com a qual já colabora no sector nuclear:
cientistas israelitas participaram, no início dos anos 50, na construção de um
reactor de água pesada e num projecto de reprocessamento, em Marcoule.
A resposta de Paris chega, sempre num envelope selado, no Outono de 1956,
poucas semanas antes das forças israelitas invadirem o Sinai egípcio, para dar
à França e à Grã-Bretanha a maneira de ocupar a zona do Canal do Suez, depois
da nacionalização do mesmo, decidida por Nasser. Para recompensar Israel, logo
que acaba a crise do Suez, o governo francês envia os seus técnicos para
construir, no máximo segredo, um bunker subterrâneo em Dimona, no deserto do
Negev, um reactor nuclear de 24 megawatt de potência. Para fazer chegar os
componentes ao reactor, em Israel, o governo francês envolve-se em contrabando,
declarando à sua própria alfândega, que são partes de uma fábrica de dessalinização,
destinada, no quadro da cooperação internacional, a um país da América Latina.
As autoridades israelitas também fazem o seu melhor para esconder a
verdadeira natureza dos trabalhos de construção, que são fotografados em 1958,
antes que um espião aéreo americano, sem
temer contradizer-se, declarara que se trata de uma fábrica têxtil, depois
diz ser uma estação agrícola, em
seguida, um centro de pesquisa metalúrgica. Ao mesmo tempo adquirem da Noruega,
por baixo da mesa, 20 toneladas de água pesada com base num contrato, tornado
conhecido, 30 anos depois, que vincula a parte que a adquire, a usá-la
unicamente para fins pacíficos. O governo norueguês foi verificar só uma vez,quando
a água pesada, chegada a Dimona, ainda estava nos bidões, no exterior da fábrica.
Depois não foi lá mais, fiando-se na palavra dada em segredo, pelo governo
israelita.
Porém, logo depois, em Maio de 1960, o Presidente De Gaulle, temendo que
um eventual escândalo, enfraquecesse a posição internacional da França, no
momento delicado em que estava comprometida com a guerra da Argélia, pede ao
Primeiro Ministro isrealita, Ben Gurion, para tornar o projecto do conhecimento
público. Porém, este recusa. O contencioso resolve-se com um compromisso formal:
a França completará o fornecimento dos componentes do reactor e da matéria
físsil; em troca, Israel revelará a existência do reactor e empenhar-se-á a
usá-lo só para pesquisa nuclear civil. Em Dezembro de 1960, Ben Gurion anuncia
ao mundo a existência do reactor, garantindo que será usado para fins
exclusivamente pacíficos.
Sobre a cena em que se recita a comédia do nuclear pacífico, entra nesta
altura, outro actor, o governo dos EUA, que pede oficialmente a Israel para submeter
o reactor de Dimona a inspecções internacionais. O governo israelita aceita,
pondo uma única condição; as inspecções devem se efectuadas pelo governo dos
EUA, que depois comunicará os resultados aos outros. Assim, entre 1962 e 1969,
chegam a Dimona, em várias ocasiões, os inspectores
enviados por Washington. São alguns dos maiores peritos nucleares. No entanto,
eles são bastante ignorantes ou desonestos, para não notar que os locais que
estão a visitar são uma ‘mise-en-scène’, com instrumentos falsos que imitam processos inexistentes do nuclear
civil, e que sobre o pavimento está um enorme bunker de oito andares onde se
constroem armas nucleares. Com base nos resultados das inspecções, quer o
Presidente Lyndon Johnson, quer o Presidente De Gaulle, asseguram oficialmente,
que a instalação é usada apenas, para fins pacíficos. Entretanto, em 1965, na Nuclear Materials and Equipment Corporation,
uma empresa americana com sede em Apollo (Pennsylvania), são «perdidos» 90 kgs
de urânio altamente enriquecido, que, com toda a probabilidade, reaparece em
Israel.
Deste modo, as instalações de Dimona são completadas e, provavelmente, em
1966, começam a produzir armas nucleares. Para protegê-las, são instalados à sua
volta, 25 mísseis antiaéreos Hawk, fornecidos pelos EUA. Em 1967, Israel já
tem, pelo menos, duas bombas nucleares, que distribui secretamente na Guerra
dos Seis dias. Os vectores que as podem transportar (entre os quais os caças
A-4E Skyhawks e o F-4E Phantoms) foram também fornecidos pelos EUA. O Egipto,
antes da guerra, procura obter armas nucleares da União Soviética, mas Moscovo
não lhas dá.
Israel prepare-se de novo para usar armas nucleares quando, na fase final
da Guerra do Kippur, em Outubro de 1973, as suas forças se encontram em dificuldades
devido ao ataque egípcio e sírio. A decisão foi tomada secretamente, pela Primeira
Ministra, Golda Meir e pelo Ministro da Defesa, Moshe Dayan: ogivas nucleares
de 20 kiloton estão prontas a ser lançadas sobre o Egipto e sobre a Síria pelos
mísseis Jericho 1 (construídos em Israel sob projectos franceses) e por caça bombardeiros
fornecidos pelos EUA. A história completa, compreendendo o número de ogivas
nucleares, será, em seguida, voluntariamente vazada pelos serviços secretos
israelitas, para advertir os países árabes que Israel tem armas nucleares e que
está pronto a usá-as. Depois da guerra do Kippur, o programa nuclear israelita
acelera, desenvolvendo um processo mais
rápido para o enriquecimento do urânio e a miniaturização das ogivas nucleares,
para poder usá-las também nos canhões 175 e 203 mm, fornecidos pelos EUA.
Que Israel possui uma capacidade nuclear militar desenvolvida, embora não
o admitindo, nesta altura já não é segredo. No entanto, o governo israelita não
se contenta em desenvolver as suas próprias armas nucleares. Procura por todos
os meios, conservar o monopólio dessas armas no Médio Oriente, impedindo que os
países árabes desenvolvam programas nucleares, com os quais um dia podiam
construí-las. Fundamentados nesta estratégia, seguramente concordada por
Washington, em 7 de Junho de 1981, Israel lança um ataque contra o reactor
Tammuz-1, que está para entrar em funções em Osiraq, no Iraque: 8 caças F-16,
acompanhados de 6 F-15, fornecidos pelos EUA e guiados pelo sistema americano de
satélites, atingem o reactor com 15 bombas de mais de 900 kgs, destruindo-o. É o
primeiro ataque no mundo, contra um reactor nuclear, para mais pertencente a um
país, que ao contrário de Israel, aderiu ao Tratado de Não-Proliferação de
armas nucleares (O Iraque assinou e, 1968 e ratificou em 1969) e que também
pode ser submetido às inspecções da Agência Internacional da Energia Atómica
(IAEA).
A seguir:
Tradutora: Maria Luísa de
Vasconcellos
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