MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR
O PRIMEIRO DIA
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
2.9 A Bomba secreta de
Israel – Parte 3
O processo de Mordechai Vanunu é definido como «um dos mais estranhos
recordados na jurisdição de um país civil». De facto, ele é acusado e
condenado, com base no código penal, por ter revelado a existência de algo que
o governo israelita nega que exista: ninguém explica como pode ele ter posto em
perigo a segurança do Estado, divulgando informações secretas e ajudando assim
um inimigo em guerra com Israel, se a fábrica de armas nucleares não existe.
Tentando justificá-lo sem algum fundamento, o Ministro da Justiça
israelita salienta, numa carta datada de 4 de Julho de 1989, que «a lei israelita
proíbe a divulgação de qualquer informação que diga respeito à segurança, mesmo
que ela seja falsa» e, «segundo quanto declarou o Ministro da Defesa, não pode
ser fornecida ao tribunal nenhuma prova à cerca da veracidade ou falsidade da
informação dada pelo senhor Vanunu». O verdadeiro crime de Vanunu, escreve A.Cohen, « não consiste no que disse, mas no facto que o disse: a sua verdadeira culpa,
foi falar abertamente sobre as armas nucleares de Israel». Ele quebrou, deste
modo, a compreensão tácita entre os governantes e a opinião pública de Israel,
de não discutir as questões nucleares».
Por tal razão, Mordechai Vanunu é mantido numa cela de isolamento durante
12 anos e, nos primeiros dois anos, com a luz acesa dia e noite e controlado
por uma câmara de video vigilância. Pode receber, só uma vez por mês, durante
uma hora, visitas de um familiar ou de um sacerdote, com o qual pode falar sob
a vigilância de um guarda e separado por uma grade. As suas condições de
detenção são definidas pela Amnestia Internacional como “cruéis, desumanas e
degradantes». Quando, em Dezembro de 2002, pede para ser solto sob palavra,
dois anos antes de terminar a pena, foi-lhe negado com base no parecer dos
serviços secretos que «Vanunu, mesmo depois de 16 anos de cárcere, pode ainda
possuir segredos nucleares vitais».
Mordechai Vanunu sai da prisão em 2004, mas desde então está submetido a
graves restrições à sua liberdade: não pode ter contactos com cidadãos
estrangeiros, sem a autorização do Ministro do Interior, não pode aproximar-se
das embaixadas e consolados, não pode possuir um telemóvel nem aceder à
Internet, não pode deixar o Estado de Israel. Por ter contactado jornalistas e
vultos de organizações humanitárias, foi preso outra vez.
No conteúdo desta história de proliferação comum, entrelaçada com
mentiras oficiais e cumplicidade escondida, coloca-se o «caso Vanunu»: a
escolha de um homem que, consciente dos riscos envolvidos, decide gritar a
verdade e infringir o tabu nuclear.
A seguir:
2.10 A entrada da África
do Sul, da Índia e do Paquistão entre as potências nucleares
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
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