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Sunday, February 18, 2018

PT - GUERRA NUCLEAR : 3.3 Os falsos alarmes de ataque nuclear






MANLIO DINUCCI

GUERRA NUCLEAR

O PRIMEIRO DIA


De Hiroshima até hoje:

Quem e como nos conduzem à catástrofe



3.3  Os falsos alarmes de ataque nuclear

Na noite de 25 de Novembro de 1961, todas as comunicações entre a NORAD (Comando de Defesa Aérea Norte Americana) e o SAC (Comando aéreo Estratégico) interromperam-se devido a uma sobrecarga das linhas. Dado que poderia ser o início de um ataque soviético, o NORAD lança o alarme alfa, o nível máximo de alerta, preparando-se para dirigir contra a URSS os bombardeiros B-52 e lançar mísseis nucleares.

Na manhã de 9 de Novembro de 1979, salta um outro alarme nuclear, quando um oficial do NORAD, introduz, inadvertidamente, num computador ligado à rede radar, uma fita com um programa registado, usado nos exercícios contra um ataque soviético. Sobre os visores dos radares aparecem, então, bombardeiros e mísseis intercontinentais soviéticos a dirigir-se para os EUA.

Novo alarme nuclear no NORAD na noite de 3 de Junho de 1980, quando, devido a uma falha nos computadores, aparecem 4 algarismos que indicam o número de mísseis soviéticos a chegar, no lugar de um zero aparece um dois, assinalando a chegada dos dois primeiros e depois, duzentos mísseis.

Na noite de 26 de Setembro de 1983, surge outro alarme nuclear também na URSS. Naquele momento, o comando de um centro de controlo, perto de Moscovo, está o Tenente Coronel Stanislav Petrov, um analista que substitui um dos militares profissionais. Quando se acende uma luz vermelha, assinalando o lançamento de um míssil de uma base americana contra a URSS, Petrov e a sua equipa verificam a operacionalidade do sistema, o que é regular. De repente, acendem-se outras luzes vermelhas, indicando o lançamento de outros mísseis da mesma base. Segundo o protocolo, neste ponto, Petrov deveria dar o alarme às autoridades civis e militares, que tinham apenas 12 minutos para lançar o contra ataque nuclear. Em vez disso, considerando irreal um ataque americano proveniente de uma única base, comunica às referidas autoridades que se trata de um mau funcionamento do sistema de controlo soviético. O momento é dramático: tem de aguardar o escoar de meia hora  a partir do presumível lançamento, para ter a confirmação se é, efectivamente, um falso alarme. O que provocou o sucedido, foi um reflexo de luzes sobre as nuvens, que um satélite tinha assinalado como sendo o brilho dos foguetões dos mísseis balísticos intercontinentais, lançados dos Estados Unidos contra a União Soviética.

Estes são apenas, alguns dos numerosos alarmes nucleares durante a guerra fria. As informações que possuem são incompletas, dado que as autoridades, mesmo quando são forçadas a admitir tais episódios, não fornecem pormenores. Então, na maior parte dos casos, não se sabe qual era o seu grau de perigo, nem como se chegou ao alarme cessado. 

Outros riscos derivam do estado mental, mais do que dos governantes aparentemente sãos, dos militares que operam com armas nucleares. Nos EUA, entre 1973 e 1990, foram afastados 66.000 militares: 40% por abuso de álcool e drogas e 20% por problemas psiquiátricos. Certamente, verificaram-se casos análogos na União Soviética e em outros países com armamentos nucleares.

Nem mesmo é de descartar a possibilidade que alguém, das altas esferas militares, forneça deliberadamente informações falsas sobre um ataque inimigo, em acção ou iminente, para poder lançar um ataque nuclear.

Há também o risco de ameaça de usar armas nucleares, utilizada como bluff, ser interpretada pelo adversário como a intenção real de atacar. Neste campo, o record da inconsciência pertence ao Presidente Richard Nixon. Em 13 de Outubro de 1969, ele ordena o estado de alerta das forças nucleares americanas a escala mundial: é um bluff para fazer crer à URSS que os EUA estão a preparar-se para atacar o Vietnam do Norte com armas nucleares, para que Moscovo force Hanoi a interromper a ofensiva sobre o Vietnam do Sul e, desse modo, a guerra terminar, deixando o sul do país sob controlo dos americanos.

É o que Nixon define em segredo, como a «teoria do louco»: um estratagema para fazer crer aos adversários que ele é perigosamente imprevisível, pronto a alvoraçar-se, a golpear com uma força avassaladora, usando também, armas nucleares. Apenas sabem que se trata de um bluff (coisa que começará a vir à luz anos depois, no início de 1983),  o conselheiro para a Segurança Nacional, Henry Kissinger, o seu ajudante, Alexander Haig e o Chefe do Staff da Casa Branca, Bob Haldeman.

Todos os outros, incluindo os responsáveis do Comando Aéreo Estratégico e dos outros comandos encarregados das armas nucleares, acreditavam que se tratava de um preparativo de guerra real contra a União Soviética. Eles colocaram as forças nucleares em alerta máximo, aumentando o número de bombardeiros tidos em vôo para estarem prontos para o ataque e, no dia 27 de Outubro de 1969, efectuam no Alaska um exercício de guerra nuclear, denominado «Giant Lance» (Lançamento gigantesco). Três dias depois, os serviços secretos americanos informam a Casa Branca que o estado de alerta das forças nucleares soviéticas atingiu o nível máximo. Só neste ponto, vendo o bluff falhar, é que o Presidente Nixon revoga o estado de alerta das forças nucleares dos EUA.

A seguir:
3.4 Os incidentes com armas nucleares



Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

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