MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR
O PRIMEIRO DIA
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
3.2 A «maleta nuclear»
O perigo da situação explosiva
deriva dos mesmos procedimentos do emprego das armas nucleares, definido no decurso
da guerra fria.
Os mísseis balísticos intercontinentais, uma vez lançados, levam 3-5
minutos para acelerar na fase ascensional, 8-10 minutos para atingirem o apogeu
fora da atmosfera, 20 minutos para percorrer o trajecto intermédio, durante o
qual as ogivas nucleares se separam.
Então, elas tornam a entrar na atmosfera, empregando 30 segundos, na fase
terminal, para atingir os objectivos à velocidade de 28.000 km/h. Cerca de 30
minutos depois do lançamento, as ogivas explodem sobre os objectivos a mais de
10.000 km de distância.
Dado estes tempos muito curtos, o Presidente dos Estados Unidos, onde
quer que vá, é acompanhado de um oficial que leva a «maleta nuclear». O
oficial, que está sempre a poucos passos do presidente, tem de ter a patente
«Yankee White», que é concedida depois de um rigorosíssimo exame à vida pessoal
do candidato, dos familiares e dos amigos, que devem ser absolutamente imunes a
qualquer influência estrangeira.
A «maleta nuclear» contém um rádio satélite que funciona continuamente e
o SIOP (Single Integrated Operational
Plan) Decision Book, um manual ilustrado com o plano de guerra nuclear e o procedimento para lançar os mísseis. Dado que o primeiro SIOP foi
denominado em código, «Dropkick» - o pontapé de ricochete, no futebol americano,
que faz passar a bola sobre a trave da baliza adversária – a «maleta nuclear» é
chamada por brincadeira, «Football». O manual do «Football», explica ao
Presidente, Comandante Chefe das Forças Armadas, quais são as opções para o
ataque nuclear. Ele pode escolher um ou mais dos seguintes objectivos no país
inimigo: as forças nucleares, as forças convencionais, a liderança militar e
política, os centros económicos e industriais. Mas também há uma quinta opção:
a de usar, numa crise regional, as armas nucleares contra um inimigo que ataca
as Forças Armadas americanas com armas convencionais (não-nucleares).
O manual, redigido pelos Chefes do Estado Maior reunidos, o orgão militar
supremo, permite ao Presidente não ser ele mesmo a lançar os mísseis, carregando
em qualquer botão, mas de fazer-se identificar, transmitindo códigos especiais
de modo a poder, eventualmente, partilhar a ordem de lançamento aos chefes
militares. São estes que têm o verdadeiro controlo dos mísseis nucleares e o
poder efectivo de lançá-los. O mesmo acontece nos outros países que possuem
armas nucleares.
O tempo para decidir o lançamento dos mísseis nucleares, no caso de um
ataque do inimigo ou presumido como tal, é tão breve que torna
impossível uma decisão política ponderada. Menos de 30 minutos, quando os
satélites militares assinalam o lançamento provável de mísseis balísticos
intercontinentais da parte inimiga – e menos de 10 minutos, se a lançar está,
ou aparenta estar, um submarino avizinhando-se da costa ou uma unidade em
posição avançada, com mísseis balísticos de alcance intermédio – os responsáveis
políticos dos países sob ataque, verdadeiro ou presumível, devem verificar se é
um lançamento real e deliberado, ou um falso alarme ou mesmo um lançamento
acidental e decidir lançar os seus próprios mísseis nucleares.
No entanto, são também as chefias militares a ter a palavra decisiva,
porque, admitindo que haja tempo de ponderar a decisão, os responsáveis
políticos são chamados a decidir com base na informação fornecida pelos
militares. Estes, por sua vez, recebem-na dos sistemas automáticos, tipo radar
e sensores de satélites.
Em tal situação, existe a possibilidade real de poder deflagrar uma guerra
nuclear acidental, depois de um erro ou incidente. Demonstram-no milhares de
falsos alarmes, alguns dos quais muito arriscados.
A seguir
3.3 Os falso alarmes de
ataque nuclear
Tradutora: Maria Luísa de
Vasconcellos
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