MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR
O PRIMEIRO DIA
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
Capítulo 4
AS GUERRAS DEPOIS DA
GUERRA FRIA
4.1 O mundo numa encruzilhada
Na segunda metade dos anos oitenta, o clima da guerra fria começa a
mudar. O primeiro sinal do degelo é o Tratado sobre as Forças Nucleares
Intermédias (INF Treaty), assinado em Washington, em 8 de Dezembro de 1987: baseados no mesmo, os EUA
empenham-se a eliminar, entre outros, os mísseis balísticos Pershing 2, instalados na Alemanha Ocidental e os misseis de cruzeiro, lançados de terra,
instalados na Grã Bretanha, Itália, Alemanha Ocidental, Bélgica e Países
Baixos; a União Soviética compromete-se a eliminar os misseis balísticos SS-20,
instalados no seu próprio território. Em Maio de 1991, são eliminados, no
total, 2.692 mísseis desta categoria.
O Tratado INF é o primeiro acordo que estabelece não só um 'plafond' à
instalação de uma categoria específica de mísseis nucleares, mas a eliminação
de todos os mísseis de tal categoria. O limite do tratado consiste no facto de
que, elimina os mísseis nucleares de alcance intermédio e curto, lançados de
terra, mas não dos que são lançados do mar e do ar, que ficam no seus postos,
nos navios, submarinos e aviões. Não obstante, o Tratado INF constitui um primeiro passo no caminho de um verdadeiro desarmamento nuclear.
Este resultado importante é devido, substancialmente, à «ofensiva de
desarmamento» lançada pela União Soviética de Gorbacev: em 15 de Janeiro de
1986, propõe não só eliminar os mísseis soviéticos e americanos de
alcance médio (o que é feito sucessivamente), mas de estabelecer um programa
global, em três fases, para a proibição da armas nucleares em 2000.
Em Washington não consideram factível a proposta soviética, confirma-o Colin Powell que, depois de ter sido, de 1987 a 1989, conselheiro do Presidente para a Segurança Nacional, ocupa, em 1993, o cargo de Presidente do Estado Maior Conjunto/Chairman of the Joint Chiefs of Staff, o mais alto nível da hierarquia militar. Num breve ensaio na revista Foreign Affairs, Powell refere: «Quando era Conselheiro do Presidente Reagan para a Segurança Nacional, ele e o Presidente Mikhail Gorbacev encontraram-se cinquenta vezes em três anos, e eu estive presente em três destas ocasiões.O líder soviético falava de revolução pacífica, falava de paz mundial. Quanto mais falava e mais escutávamos, mais compreendíamos. Recordo uma reunião na qual a minha reacção não pode ser exprimidas senão com estas palavras: «Meu Deus, faça isso seriamente!».
Em Washington sabem, portanto, que ele quer verdadeiramente o desarmamento, que ele quer, de facto, a eliminação completa das armas nucleares. Mas sabem também que o processo da perestroika, posto em movimento por Gorbacev em 1986, provocou uma reacção em cadeia que está não só a desagregar o Pacto de Varsóvia, mas a própria União Soviética.
Em Washington não consideram factível a proposta soviética, confirma-o Colin Powell que, depois de ter sido, de 1987 a 1989, conselheiro do Presidente para a Segurança Nacional, ocupa, em 1993, o cargo de Presidente do Estado Maior Conjunto/Chairman of the Joint Chiefs of Staff, o mais alto nível da hierarquia militar. Num breve ensaio na revista Foreign Affairs, Powell refere: «Quando era Conselheiro do Presidente Reagan para a Segurança Nacional, ele e o Presidente Mikhail Gorbacev encontraram-se cinquenta vezes em três anos, e eu estive presente em três destas ocasiões.O líder soviético falava de revolução pacífica, falava de paz mundial. Quanto mais falava e mais escutávamos, mais compreendíamos. Recordo uma reunião na qual a minha reacção não pode ser exprimidas senão com estas palavras: «Meu Deus, faça isso seriamente!».
Em Washington sabem, portanto, que ele quer verdadeiramente o desarmamento, que ele quer, de facto, a eliminação completa das armas nucleares. Mas sabem também que o processo da perestroika, posto em movimento por Gorbacev em 1986, provocou uma reacção em cadeia que está não só a desagregar o Pacto de Varsóvia, mas a própria União Soviética.
A «Queda do Muro de Berlim», em 9 de Novembro de 1989, assinala o início
do fim. No dia 1 de Julho de 1991, dissolve-se o Pacto de Varsóvia: os seis
países da Europa Central e Oriental que faziam parte dele, não são mais aliados
da URSS. No dia 26 de Dezembro de 1991, dissolve-se a própria União Soviética:
em vez de um único Estado, formam-se 15. O desaparecimento da URSS e do seu
bloco de alianças cria, na região europeia e centro-asiática, uma situação
geopolítica inteiramente nova. Simultaneamente, a desagregação da URSS e a
profunda crise política e económica que aflige a Rússia assinalam o fim da super
potência capaz de rivalizar com a americana.
Nesta altura, o mundo está numa encruzilhada. A decisão de qual dos dois
caminhos escolher e seguir está substancialmente nas mãos de Washington: de um
lado está a possibilidade de iniciar um verdadeiro processo de desarmamento,
começando por estabelecer, consoante as linhas da proposta de Gorbachev, um
programa destinado à eliminação completa das armas nucleares, que, se lançado
conjuntamente por Washington e Moscovo, poderia envolver, também, as outras potências nucleares; do outro lado, está a possibilidade de aproveitar o
desaparecimento da super potência rival para aumentar a superioridade
estratégica, incluindo a superioridade nuclear, dos Estados Unidos da América,
que permaneceu a única super potência na cena mundial. Sem um instante de
hesitação, Washington tomou o segundo caminho.
«O Presidente Bush pegou nesta segunda mudança histórica», conta Colin
Powell, no Foreign Affairs. «O Presidente, coadjuvado pelos seus conselheiros e pelo Secretário da Defesa, traçaram uma nova estratégia da segurança nacional e
construíram uma estratégia militar para sustentá-la. Em seguida, em Agosto de
1990, enquanto o Presidente Bush fazia o seu primeiro anuncio público sobre a
nova maneira da América enfrentar a questão da segurança nacional, Saddam
Hussein atacou o Kuwait. A sua brutal agressão fez com que puséssemos em
prática a nova estratégia, exactamente no momento em que começávamos a
publicá-la. Todos os americanos poderiam assim, ver a nossa estratégia validada pela guerra».
A seguir:
4.2 Golfo: A primeira guerra depois da Guerra Fria
Tradutora: Maria Luísa de
Vasconcellos
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