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Tuesday, March 13, 2018

PT -- GUERRA NUCLEAR: A CORRIDA AOS ARMAMENTOS NUCLEARES -- 2.1 + 2.2







MANLIO DINUCCI

GUERRA NUCLEAR


O PRIMEIRO DIA

De Hiroshima até hoje:

Quem e como nos conduzem à catástrofe

2.1 O confronto nuclear USA-URSS
Apenas um mês, após o bombardeamento de Hiroshima e Nagasaki, em Setembro de 1945, no Pentágono já calculavam que seriam precisas 200 bombas nucleares contra um inimigo da dimensão da Rússia. Em 5 de Março de 1946, o discurso de Winston Churchill sobre a «cortina de ferro» abre oficialmente a ‘guerra fria’. 
Logo a seguir, no dia 1 e 25 de Julho de 1946, Os EUA efectuavam os dois primeiros ensaios nucleares (Able e Baker), no atol de Bikini (Ilha Marshall, Oceano Pacífico) para verificar os efeitos sobre um grupo de navios em desarmamento e milhares de cobaias. Participam na operação, denominada Crossroads, mais de 40.000 militares e civis americanos, com mais de 250 navios, 150 aviões e 25 mil detectores de radiações.
Em 1949, o arsenal americano aumenta para cerca de 170 bombas nucleares. Neste ponto os EUA estão seguros de poder ter, dentro em breve, bombas nucleares suficientes para atacar a União Soviética. Elas podem ser transportadas pelas super fortalezas voadoras B-29, usadas no bombardeamento de Hiroshima e Nagasaki.
No entanto, naquele mesmo ano, desvanece-se o sonho americano de conservar o monopólio das armas nucleares. Em 29 de Agosto de 1949, a União Soviética efectua a sua primeira explosão experimental de um engenho de plutónio. Agora também a URSS tem a Bomba. Começa neste ponto, a corrida aos armamentos nucleares entre as duas super potências.
Naquele mesmo ano, em 4 de Abril de 1949, é fundada a NATO, compreendendo, durante a guerra fria, dezasseis países: Estados Unidos da América, Canadá, Bélgica, República Federal da Alemanha, Grã-Bretanha, Grécia, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Holanda, Portugal, Espanha e Turquia. Através desta aliança, os EUA mantém o seu domínio sobre os aliados europeus, usando a Europa como primeira linha no confronto, também nuclear, com o Pacto de Varsóvia. Este último, em 14 de Maio de 1955 (seis anos depois da NATO), compreende a União Soviética, a Bulgária, a Checoslováquia, a Polónia, a República Democrática da Alemanha, Roménia, Hungria, Albânia (de 1955 a 1968).
Não se sabe com exactidão, o número de armas nucleares que se acumula nos arsenais dos EUA, na União Soviética e noutros países. Os números que fornecem são baseados em estimativas, retidos apenas os mais confiáveis, publicados pela Federação dos Cientistas Americanos (FAS) no Boletim dos Cientistas Atómicos Americanos. 
Na fase inicial, os EUA mantêm uma vantagem nítida: entre 1949 e 1951 o arsenal deles era cerca de 170 a 440 armas nucleares, e o do arsenal soviético de 1 a 25. Valendo-se de tal superioridade, o Pentágono começa a distribuir armas nucleares e prepara planos para o seu emprego eventual. Em Setembro de 1950, três meses depois da explosão da guerra da Coreia, transfere para a ilha de Guam (Micronésia, Oceano Pacífico) dez bombardeiros com bombas nucleares a bordo. Em 1951, o comando americano prepara  uma retaliação nuclear contra as forças soviéticas na Manchúria, caso atacassem na Coreia.
Enquanto se inicia o confronto nuclear entre os EUA e a URSS, a Grã Bretanha e França, ambos membros da NATO, diligenciam dotar-se de armas nucleares. A primeira a conseguir é a Grã-Bretanha: enquanto colabora no programa nuclear dos Estados Unidos, inicia em 1945 um programa próprio destinado à produção da bomba de plutónio. Embora uma lei, aprovada em Washington em 1946, lhes impeça (ao menos oficialmente) de aceder às informações sobre o desenvolvimento das armas nucleares americanas, em 3 de Outubro de 1952, consegue efectuar na Austrália, a sua primeira explosão experimental.
Isto aumenta a vantagem da NATO, que aumenta posteriormente, quando, no dia 1 de Novembro do mesmo ano, os Estados Unidos fazem explodir a sua primeira bomba H (de hidrogénio). No da 1 de Março de 1954, os EUA conduzem o teste Bravo no atol de Bikini, no Pacífico, fazendo explodir uma bomba H de 17 megaton, 1.300 vezes mais potente do que a de Hiroshima. Naquele momento, os EUA têm quase 850 armas nucleares, enquanto a URSS possui cerca de 50.
Os EUA também estão em vantagem no campo dos bombardeiros estratégicos: em 1955, começam a distribuir os bombardeiros B-52, especialmente concebidos para o ataque nuclear. Podem voar 14.000 km, à velocidade de 1.000 Km/h, a uma altitude de 15.000 metros, transportando 30 toneladas de bombas. De 1945 a 1961, construíram 744. Grupos de B-52 do Comando Aéreo Estratégico, armados de bombas nucleares, são mantidos em vôo vinte e quatro horas sobre vinte e quatro, prontos para o ataque.
Ao mesmo tempo, em 22 de Novembro de 1955, a União Soviética faz explodir a sua primeira bomba H, centenas de vezes mais potente do que a de Hiroshima e, no início de 1957, distribui o bombardeiro estratégico TU-95 Bear [Urso](segundo a designação ocidental), também concebido para o ataque nuclear: pode transportar por uma distância de 13.000 km, 12 toneladas de bombas. É inferior, no que respeita a capacidade, mas não menos temível: é um Tu-95V que, no teste de 31 de Novembro de 1961, lança uma bomba H de 60 megaton, cuja potência equivale a 4.600 bombas de Hiroshima.
Entre 1955 e 1960, o arsenal dos EUA aumenta de 2.400 para 18.600 armas nucleares; o soviético, de 200 para 1.600 armas nucleares; o britânico, de 10 para 100. Também fazem parte deste último país, desde 1957, bombas H.

Em 1960, os países da NATO que possuem armas nucleares são três, quando a França faz explodir em 13 de Fevereiro, no Sahara, a primeira bomba nuclear de plutónio. A França chega à Bomba, começando em 1953, com um plano quinquenal de desenvolvimento da energia atómica destinado, oficialmente, à produção de energia eléctrica. Os reactores nucleares produzem, não só electricidade, mas também uma quantidade de plutónio, na ordem de 50 Kgs/ano, suficiente para construir 6-8 bombas. Isto é tornado possível pelo programa militar que, lançado secretamente em 1956, permite-lhe efectuar em Fevereiro de 1960 a primeira explosão nuclear experimental.

2.2 Os mísseis balísticos intercontinentais

Inicia-se, neste período, a distribuição dos transportadores nucleares mais mortíferos: os mísseis balísticos intercontinentais, lançados de terra (ICBM).

O primeiro ICBM americano é o Atlas, que é exibido numa série de testes em 1957-58: tendo um alcance de 12.000 km, pode atingir com a sua ogiva nuclear, qualquer objectivo no interior da União Soviética. A URSS desenvolve, no mesmo período, o seu primeiro ICBM, o R-7/SS-6 Sapwood, que, tendo um alcance de 10.000 km, pode atingir, por sua vez, os EUA com uma ogiva nuclear de 3-5 megaton.

Em 1961, os EUA possuem um ICBM mais desenvolvido, o Titan II. No mesmo ano, a URSS dispõe de um novo míssil, o R-16/SS-7 Saddler. Com um alcance de 13.000 km e uma ogiva nuclear até 6 megaton.

Os Estados Unidos continuam, em simultâneo, um programa que prevê a produção em massa e a distribuição de um novo ICBM, simples e confiável, capaz de destruir objectivos de qualquer tipo: é o Minuteman, que um consórcio de cinco indústrias constrói em quatro modelos sucessivos, um melhorado em relação ao outro. Na primeira fase, pensa-se instalar parte dos mísseis em rampas de lançamento móveis, que deveriam circular, continuamente, ao longo da rede ferroviária, de modo a fugir a um eventual ataque soviético.

Depois de ser efectuada uma série de provas em 1960, decide-se instalá-los todos em silos (poços reforçados, contendo a rampa de lançamento), espalhados no território à distância de 5-11 km uns dos outros. Os silos, em grupos de dez, estão ligados aos centros de controlo de lançamento, em bunkers subterrâneos reforçados, em cada um dos quais, vinte e quatro horas sobre vinte e quatro, estão dois oficiais prontos a lançar os mísseis, logo que seja recebida a ordem. Os primeiros Minuteman tornaram-se operacionais em 1961.

Como resposta, a União Soviética dispõe do ICBM R-36, designado no Ocidente como SS-9 Scarp, com um alcance de 12.000 kms, uma ogiva de 12-18 megaton: são destinados a atacar os 100 centros de controlo de lançamento dos 1.000 mísseis Minuteman, espalhados nos Estados Unidos.

Prosseguem, a par e passo, o desenvolvimento e a distribuição dos mísseis balísticos lançados do mar (SLBM)  O primeiro é o americano Polaris A1, testado em 20 de Julho de 1960, quando foi lançado de um submarino em imersão, o George Washington. Em Novembro do memo ano, o George Washington torna-se operacional. É o primeiro submarino do mundo a propulsão nuclear, armado de mísseis balísticos para o ataque nuclear. Pode avizinhar-se submerso da União Soviética ou da China e, ao lançar os seus 16 mísseis Polaris, pode atingir qualquer objectivo sobre esses territórios.

Em 1961, são armados de mísseis Polaris de segunda geração (A2) seis submarinos de ataque nuclear. Os Polaris A2 são substituídos pelos Polaris A3, no início de 1964, pois têm uma dimensão menor e um alcance maior (mais 4.000 km).

Também a União Soviética constrói mísseis balísticos lançados de submarinos: os R-21/SS-N-5 Serb, que se tornam operacionais em 1963. Contudo, são inferiores aos americanos, dado que têm um alcance menor (1.400 km) e cada submarino «só» pode levar três.

A Grã-Bretanha inicia, em 1955, o desenvolvimento de um míssil balístico de alcance intermédio (4.000 km) armado de uma ogiva nuclear, sucessivamente, a partir de 1968, distribui uma força de quatro submarinos armados de mísseis Polaris, fornecidos pelos EUA. Também a França constrói uma série de transportadores nucleares: o bombardeiro supersónico Mirage IV, que começa a ser distribuído em 1964; os mísseis balísticos lançados do solo, S-2 e Pluton, e o M-20 lançado do mar, que na primeira metade dos anos 70, formam o nervo da force de frappe.

A seguir:
2.3 A crise dos mísseis em Cuba e a introdução da China entre as potências nucleares

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos


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