MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR
O PRIMEIRO DIA
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
Capítulo 2
A CORRIDA AOS ARMAMENTOS NUCLEARES
2.1 O confronto nuclear USA-URSS
Apenas um mês, após o bombardeamento de Hiroshima e
Nagasaki, em Setembro de 1945, no Pentágono já calculavam que seriam precisas 200
bombas nucleares contra um inimigo da dimensão da Rússia. Em 5 de Março de
1946, o discurso de Winston Churchill sobre a «cortina de ferro» abre
oficialmente a ‘guerra fria’.
Logo a seguir, no dia 1 e 25 de Julho de 1946, Os EUA
efectuavam os dois primeiros ensaios nucleares (Able e Baker), no atol de
Bikini (Ilha Marshall, Oceano Pacífico) para verificar os efeitos sobre um
grupo de navios em desarmamento e milhares de cobaias. Participam na operação,
denominada Crossroads, mais de 40.000 militares e civis americanos, com mais de 250 navios, 150
aviões e 25 mil detectores de radiações.
Em 1949, o arsenal americano aumenta
para cerca de 170 bombas nucleares. Neste ponto os EUA estão seguros de poder
ter, dentro em breve, bombas nucleares suficientes para atacar a União
Soviética. Elas podem ser transportadas pelas super fortalezas voadoras B-29,
usadas no bombardeamento de Hiroshima e Nagasaki.
No entanto, naquele mesmo ano, desvanece-se o sonho
americano de conservar o monopólio das armas nucleares. Em 29 de Agosto de
1949, a União Soviética efectua a sua primeira explosão experimental de um
engenho de plutónio. Agora também a URSS tem a Bomba. Começa neste ponto, a
corrida aos armamentos nucleares entre as duas super potências.
Naquele mesmo ano, em 4 de Abril de 1949, é fundada a
NATO, compreendendo, durante a guerra fria, dezasseis países: Estados Unidos da
América, Canadá, Bélgica, República Federal da Alemanha, Grã-Bretanha, Grécia,
Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Holanda, Portugal, Espanha e Turquia.
Através desta aliança, os EUA mantém o seu domínio sobre os aliados europeus,
usando a Europa como primeira linha no confronto, também nuclear, com o Pacto
de Varsóvia. Este último, em 14 de Maio de 1955 (seis anos depois da NATO),
compreende a União Soviética, a Bulgária, a Checoslováquia, a Polónia, a
República Democrática da Alemanha, Roménia, Hungria, Albânia (de 1955 a 1968).
Não se sabe com exactidão, o número de armas nucleares
que se acumula nos arsenais dos EUA, na União Soviética e noutros países. Os
números que fornecem são baseados em estimativas, retidos apenas os mais
confiáveis, publicados pela Federação dos Cientistas Americanos (FAS) no
Boletim dos Cientistas Atómicos Americanos.
Na fase inicial, os EUA mantêm uma vantagem nítida: entre
1949 e 1951 o arsenal deles era cerca de 170 a 440 armas nucleares, e o do
arsenal soviético de 1 a 25. Valendo-se de tal superioridade, o Pentágono começa
a distribuir armas nucleares e prepara planos para o seu emprego eventual. Em
Setembro de 1950, três meses depois da explosão da guerra da Coreia, transfere para
a ilha de Guam (Micronésia, Oceano Pacífico) dez bombardeiros com bombas
nucleares a bordo. Em 1951, o comando americano prepara uma retaliação nuclear contra as forças
soviéticas na Manchúria, caso atacassem na Coreia.
Enquanto se inicia o confronto nuclear entre os EUA e a
URSS, a Grã Bretanha e França, ambos membros da NATO, diligenciam dotar-se de
armas nucleares. A primeira a conseguir é a Grã-Bretanha: enquanto colabora no
programa nuclear dos Estados Unidos, inicia em 1945 um programa próprio
destinado à produção da bomba de plutónio. Embora uma lei, aprovada em
Washington em 1946, lhes impessa (ao menos oficialmente) de aceder às
informações sobre o desenvolvimento das armas nucleares americanas, em 3 de
Outubro de 1952, consegue efectuar na Austrália, a sua primeira explosão
experimental.
Isto aumenta a vantagem da NATO, que aumenta
posteriormente, quando, no dia 1 de Novembro do mesmo ano, os Estados Unidos
fazem explodir a sua primeira bomba H (de hidrogénio). No da 1 de Março de
1954, os EUA conduzem o teste Bravo no atol de Bikini, no Pacífico, fazendo
explodir uma bomba H de 17 megaton, 1.300 vezes mais potente do que a de
Hiroshima. Naquele momento, os EUA têm quase 850 armas nucleares, enquanto a
URSS possui cerca de 50.
Os EUA também estão em vantagem no campo dos bombardeiros
estratégicos: em 1955, começam a distribuir os bombardeiros B-52, especialmente
concebidos para o ataque nuclear. Podem voar 14.000 km, à velocidade de 1.000 Km/h,
a uma altitude de 15.000 metros, transportando 30 tonelads de bombas. De 1945 a
1961, construíram 744. Grupos de B-52 do Comando Aéreo Estratégico, armados de
bombas nucleares, são mantidos em vôo vinte e quatro horas sobre vinte e
quatro, prontos para o ataque.
Ao mesmo tempo, em 22 de Novembro de 1955, a União
Soviética faz explodir a sua primeira bomba H, centenas de vezes mais potente
do que a de Hiroshima e, no início de 1957, distribui o bombardeiro estratégico
TU-95 Bear [Urso](segundo a designação ocidental), também concebido para o
ataque nuclear: pode transportar por uma distância de 13.000 km, 12 toneladas
de bombas. É inferior, no que respeita a capacidade, mas não menos temível: é
um Tu-95V que, no teste de 31 de Novembro de 1961, lança uma bomba H de 60
megaton, cuja potência equivale a 4.600 bombas de Hiroshima.
Entre 1955 e 1960, o arsenal dos EUA aumenta de 2.400
para 18.600 armas nucleares; o soviético, de 200 para 1.600 armas nucleares; o
britânico, de 10 para 100. Também fazem parte deste último país, desde 1957, bombas
H.
Em 1960, os países da NATO que possuem armas nucleares
são três, quando a França faz explodir em 13 de Fevereiro, no Sahara, a
primeira bomba nuclear de plutónio. A França chega à Bomba, começando em 1953,
com um plano quinquenal de desenvolvimento da energia atómica destinado,
oficialmente, à produção de energia eléctrica. Os reactores nucleares produzem, não só electricidade, mas também uma quantidade de plutónio, na ordem
de 50 Kgs/ano, suficiente para construir 6-8 bombas. Isto é tornado possível
pelo programa militar que, lançado secretamente em 1956, permite-lhe efectuar
em Fevereiro de 1960 a primeira explosão nuclear experimental.
A seguir:
2.2 Os mísseis balísticos intercontinentais
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