Pages

Saturday, February 10, 2018

PT -- GUERRA NUCLEAR: O DIA ANTERIOR-- 1.2 OS EFEITOS DA EXPLOSÃO NUCLEAR SOBRE UMA CIDADE










MANLIO DINUCCI

GUERRA NUCLEAR
 O DIA ANTERIOR

De Hiroshima até hoje:

Quem e como nos conduzem à catástrofe



1.2 Os efeitos da explosão nuclear sobre uma cidade

A bomba de Hiroshima, à luz dos sucessivos desenvolvimentos de tais armamentos, aparece como a chave da era nuclear. Com um terço do urânio 235 usado para o LITTLE BOY, construíram-se, não muito tempo depois, dispositivos 8 a 9 vezes mais potentes que, se forem usados para activar uma bomba de hidrogénio, produzem uma explosão mil vezes mais destruidora. A relação potência-peso (a medida padrão de eficiência de um dispositivo explosivo), que na bomba de Nagaski é de cerca de 5.000, é elevada a 3.500.000. 
Para perceber quais são os efeitos destruidores de tais armas,  toma-se como exemplo, o de uma única explosão nuclear sobre uma cidade: a unidade adoptada para tais cálculos – efectuados sobre a base da experiência de Hiroshima e Nagasaki e das explosões nucleares experimentais – é, em geral, uma bomba de 1 megaton (MT), semelhante à explosão de uma tonelada de TNT (para cujo transporte, foi calculado ser necessário um comboio de mercadorias de 500 km de extensão). É uma arma cuja potência equivale a 75 bombas de Hiroshima.
No cálculo deve considerar-se, em primeiro lugar, os factores variáveis, dos quais depende o fluxo e o tipo de efeitos da explosão nuclear. Uma explosão no solo concentra uma onda de choque (onda de pressão do ar, produzida pela explosão) e calor, mais intensamente a nível do solo, reduzindo os efeitos, mas aumenta o dano da queda de partículas radioactivas no solo e incêndios. Uma humidade mais elevada da atmosfera reduz os danos dos incêndios, mas aumenta notavelmente a radioactividade. Durante o verão ou num clima quente, nota-se um maior número de queimados, pois que muitas pessoas encontram-se ao ar livre e com roupas ligeiras. Num dia feriado, regista-se maior número de vítimas, pelo encerramento dos escritórios, fábricas e escolas.
Calcula-se que a devastação máxima seria provocada pela detonação de uma bomba nuclear de 1 megaton a uma altitude de 2.000 metros, num dia feriado durante o horário de trabalho, num dia quente de verão límpido, seco e ventilado.
Os efeitos da explosão são calculados, com base numa série de anéis (coroas circulares compreendidas entre duas circunferências concêntricas de raios) em volta do ground zero, o hipocentro, o ponto da superfície terrestre sob a vertical da explosão. Cada um de nós, com um mapa e um compasso, pode calcular quais os efeitos que provocaria sobre o seu próprio território, a explosão de uma bomba nuclear de 1 megaton.
No primeiro anel, num raio de de 2,8 km do ground zero, a destruição e a letalidade são totais. A onda de choque, devida à compressão do ar a seguir à explosão, exerce uma pressão excessiva compreendida entre 20 a 200 psi (psi = libra-força por polegada quadrada), provocando o esmagamento, o colapso e a explosão mesmo dos edifícios mais sólidos em aço e cimento armado. A deslocação do ar, com ventos de 800 km/h, transforma-os em projecteis mortíferos. A irradiação térmica da esfera de fogo (esfera de gás incandescente produzida pela explosão nuclear), na ordem de mais de 27 milhões de graus Fahrenheit – cujo brilho a mais de 100 km de distância é 30 vezes mais intenso do que o Sol tropical ao meio dia – vaporiza as pessoas e as coisas na zona do hipocentro, derrete na área circundante o aço e o vidro, faz explodir o cimento. Todas as pessoas dentro deste anel, morrem quase instantaneamente: vaporizadas, esmagadas, carbonizadas. Dada a ausência de sobreviventes, não há problemas médicos.
No segundo anel, compreendido entre 2,8 e 4,2 km do ground zero, picos de pressão excessiva de 10 a 20 psi e ventos de 450-550 km/h, suficientes para lançar com força um homem de oitenta quilos a 100 metros de distância, provocam a morte a 50% dos habitantes por lesões de choque: caixas toráxicas esmagadas, fracturas do crânio, feridas penetrantes do tórax e do abdomen, lesões dos pulmões e de outros orgãos internos, lesões da medula espinal, lacerações múltiplas e hemorragias internas. Todas as pessoas expostas sofrem queimaduras de terceiro grau, a menos que se tenham refugiado num edifício que permaneça suficientemente inteiro (a irradiação térmica antecede a onda de choque). O calor faz evaporar os caixilhos de alumínio e incendiar as roupas.
No terceiro anel, compreendido entre 4,2 e 7 km do ground zero, pressões excessivas de 5 psi, suficientes para exercer uma pressão de 180 toneladas contra uma parede de um edifício de dois andares e ventos de 280 km/h danificam gravemente mesmo os edifícios mais sólidos. Fragmentos de cimento, aço, vidro viajam a velocidades letais. O calor, cerca de 40 calorias por centímetro quadrado, derrete o asfalto das estradas, incendeia a madeira e os tecidos no interior das habitações. Predominam ainda as lesões produzidas pela onda de choque. Ao mesmo tempo, todas as pessoas ao ar livre, sofrem queimaduras de terceiro grau. A maior parte das pessoas expostas indirectamente à esfera de fogo, ficam temporariamente cegas pelo brilho: muitas referem queimaduras da retina com cegueira parcial ou total, muitas ficam surdas pela ruptura dos tímpanos.
No quarto anel, compreendido entre 7 e 7,8 km do ground zero, pressões excessivas de 4 psi e ventos de 250 km/h – uma força maior do que a de um furacão - destroem as casas de tijolos, mas deixam de pé os edifícios mais sólidos, os quais, no entanto, alimentam os incêndios provocados pela irradiação térmica (25 calorias por cm2, suficientes para incendiar tecidos e provocar queimaduras de terceiro grau sobre a pele desprotegida), e a detonaçãode tubos de gás, gasolina e gasóleo.
No quinto anel, compreendido entre 7,8 e 10 km do ground zero, pressões excessivas de 3 psi e ventos de 160 km/h são ainda bastante fortes para empurrar as pessoas para fora dos edifícios. O calor é ainda suficientemente forte para provocar queimaduras de terceiro grau em 80% das pessoas que não estão resguardadas e de incendiar erva e folhas secas, jornais e vestuário de nylon. A percentagem de mortos, nesta área, reduz-se a cerca de 5%, mas a dos feridos graves permanece alta: cerca de 45%. Como no quarto anel, também neste desenvolvem-se incêndios violentos.
No sexto anel, compreendido ente 10 a 13, 6 km do ground zero, pressões excessivas de 2 psi e ventos de 100-130 km/h são ainda bastante fortes para partir os vidros das janelas e transformar os detritos mais pequenos em projecteis letais, derrubar cerca de 30 % das árvores e de postes de iluminação, danificar as casas de tijolos. O calor, de 5-7 calorias por centímetro quadrado, provoca queimaduras de terceiro grau a uma pessoa em cada cinco, que estejam ao ar livre e queimaduras de segundo grau em 70% da população dessa área.
Os efeitos destruidores da irradiação térmica e da onda de choque de uma bomba nuclear de 1 megaton estendem-se, em seguida, circularmente até cerca de 14 km do ground zero. Se a bomba que explodir for um engenho de 2 megaton, a área de destruição e mortalidade total estende-se num raio de 4,8 km em volta da ground zero e é aquela em que se relatam queimaduras de terceiro grau na epiderme exposta, até um raio de 17 km. Se explodir uma bomba de 20 megaton, a área de destruição e mortalidade estende-se num raio de cerca de 14 km do ground zero e os efeitos destruidores vão até um raio de 60 km. Engenhos ainda mais potentes provocam, proporcionalmente, destruições num raio ainda maior. 
Mas não é suficiente. Se, como é muito provável, numa grande cidade atingida por uma explosão nuclear, se cria uma «tempestade de fogo» - um incêndio enorme, intenso mas estacionário, que envolve temperaturas superiores a 800º C, absorvendo o ar frio e criando ventos de 300 km/h – a área letal aumenta 50 vezes e o número de queimados aumenta enormemente. 
Aos efeitos da irradiação térmica e da onda de choque juntam-se os das radiações. Não é em tal alto grau que a irradiação nuclear inicial – um intenso fluxo de neutrões e raios gama – aumenta o número das vítimas, na medida em que as pessoas expostas são mortas pela irradiação térmica e pela onda de choque antes da irradiação nuclear instantânea. 
Só no caso de explosão de um engenho de radiação intensificada (a bomba de neutrões), a área da irradiação letal de neutrões e raios gama é mais alargada do que a da irradiação térmica e da onda de choque.

A seguir

1.3  Os efeitos da chuva radioactiva/fallout

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos


No comments:

Post a Comment

Note: Only a member of this blog may post a comment.