MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR
O PRIMEIRO DIA
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
4.9 O «Novo Modelo de Defesa» da Itália
Ao participar com as suas bases e as suas forças armadas na guerra contra
a Jugoslávia, visto que a mesma não tinha levado a cabo nenhuma acção agressiva, nem
contra a Itália, nem contra outros membros da NATO, e responsabilizando-se a
conduzir operações não previstas no Artº 5, fora do território da Aliança, a
Itália confirma ter adoptado uma nova política militar e, simultaneamente, uma
nova política estrangeira. Esta, usando como instrumento a força militar,
viola o princípio constitucional, estabelecido no Artº 11, que refere: «A Itália repudia a
guerra como instrumento de ofensa à liberdade dos outros povos e como meio de
resolução de litígios internacionais».
É o designado «Novo Modelo de Defesa», já adoptado pela Itália, seguindo a
reorientação estratégica dos EUA quando, durante o sexto governo Andreotti, ela
participa na Guerra do Golfo: em Janeiro de 1991 os Tornados da Aeronáutica Italiana,
efectuam 226 saídas, num conjunto de 589 horas de vôo, bombardeando os objectivos
indicados pelo comando americano. É a primeira guerra em que participa a
República Italiana.
Pouco depois da guerra do Golfo, durante o sétimo governo Andreotti, o
Ministério da Defesa publica, em Outubro de 1991, o relatório Modello di Difesa/Lineamento di sviluppo delle FF.AA. negli anni ’90. O documento reconfigura a colocação geo-estratégica da Itália, definindo-a
«elemento central da área geo-estratégica que se estende, principalmente, desde
o Estreito de Gibraltar até ao Mar Negro, ligando-se, através do Suez, ao Mar
Vermelho, ao Corno de África e ao Golfo Pérsico». Considerada a «significativa
vulnerabilidade da Itália», sobretudo para o aprovisionamento petrolífero, «os
objectivos permanentes da política de segurança italiana, configuram-se na
tutela dos interesses nacionais, nas acções mais alargadas de tais termos, onde
for necessário», em particular, os interesses que «incidam directamente sobre o
sistema económico e sobre o desenvolvimento do sistema produtivo, como condição
indispensável para a conservação e progresso da estrutura política e social actual da nação».
Em 1993 – quando a Itália participava na operação militar lançada pelos
EUA na Somália, enquanto o governo de Amato sucede ao de Ciampi – O Estado
Maior da Defesa declara que «é necessário estar prontos para nos projectarmos a
longo alcance» para defender, em toda a parte,
os «interesses vitais», a fim de «garantir o progresso e o bem estar
nacional, mantendo a disponibilidade das fontes e vias de abastecimento dos
produtos energéticos e estratégicos».
Em 1995, durante o governo Dini, o Estado Maior da Defesa dá um mais um passo
em frente, afirmando que «a função das Forças Armadas transcende o estreito
âmbito militar para assegurar, também, a medida do estatuto e do papel do país
no contexto internacional».
Em 1996, durante o governo Prodi, este conceito é mais desenvolvido na
47ª sessão do Centro dos Altos Estudos da Defesa. «A política da Defesa – afirma
o General Angioni – torna-se um instrumento da política de segurança e, assim, da
política estrangeira».
Esta política anti-constitucional, introduzida através de decisões
aparentemente técnicas, de facto, acaba institucionalizada, passando pelo Parlamento
que, na esmagadora maioria, se desinteressa ou não sabe o que realmente está a
acontecer.
A seguir:
Tradutora: Maria Luísa de
Vasconcellos
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