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Saturday, April 28, 2018

PT -- GUERRA NUCLEAR: 4.1 O mundo numa encruzilhada

MANLIO DINUCCI

“Copyright Zambon Editore”


GUERRA NUCLEAR
O DIA ANTERIOR
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe

ÍNDICE

Capítulo 4

AS GUERRAS DEPOIS DA GUERRA FRIA

4.1  O mundo numa encruzilhada

Na segunda metade dos anos oitenta, o clima da Guerra Fria começa a mudar. O primeiro sinal do degelo é o Tratado sobre as Forças Nucleares Intermédias (INF Treaty), assinado em Washington, em 8 de Dezembro de 1987: baseados no mesmo, os EUA empenham-se em eliminar, entre outros, os mísseis balísticos Pershing 2, instalados na Alemanha Ocidental e os misseis de cruzeiro, lançados de terra, instalados na Grã Bretanha, Itália, Alemanha Ocidental, Bélgica e Países Baixos; a União Soviética compromete-se em eliminar os misseis balísticos SS-20, instalados no seu próprio território. Em Maio de 1991, são eliminados, no total, 2.692 mísseis desta categoria.

O Tratado INF é o primeiro acordo que estabelece não só um 'plafond' à instalação de uma categoria específica de mísseis nucleares, mas a eliminação de todos os mísseis de tal categoria. O limite do tratado consiste no facto de que, elimina os mísseis nucleares de alcance intermédio e curto, lançados de terra, mas não dos que são lançados do mar e do ar, que ficam no seus postos, nos navios, submarinos e aviões.

Este resultado importante é devido, substancialmente, à «ofensiva de desarmamento» lançada pela União Soviética de Gorbacev: em 15 de Janeiro de 1986, propõe não só eliminar os mísseis soviéticos e americanos de alcance médio (o que é feito sucessivamente), mas de estabelecer um programa global, em três fases, para a proibição das armas nucleares em 2000. Washington não considera factível a proposta soviética, confirma-o Colin Powell que, depois de ter sido, de 1987 a 1989, conselheiro do Presidente para a Segurança Nacional, ocupa, em 1993, o cargo de Presidente do Estado Maior Conjunto/Chairman of the Joint Chiefs of Staff, o mais alto nível da hierarquia militar. Num breve ensaio na revista Foreign Affairs, Powell refere: «Quando era Conselheiro do Presidente Reagan para a Segurança Nacional, ele e o Presidente Mikhail Gorbacev encontraram-se cinquenta vezes em três anos, e eu estive presente em três dessas ocasiões.O líder soviético falava de revolução pacífica, falava de paz mundial. Quanto mais falava e mais escutávamos, mais compreendíamos. Recordo uma reunião na qual a minha reacção não pode ser exprimidas senão com estas palavras: «Meu Deus, faça isso seriamente!». Em Washington sabem, portanto, que ele quer verdadeiramente o desarmamento, que ele quer, de facto, a eliminação completa das armas nucleares.Mas sabem também que o processo da perestroika, posto em movimento por Gorbacev em 1986, provocou uma reacção em cadeia que está não só a desagregar o Pacto de Varsóvia, mas a própria União Soviética.

A «Queda do Muro de Berlim», em 9 de Novembro de 1989, assinala o início do fim. No dia 1 de Julho de 1991, dissolve-se o Pacto de Varsóvia: os seis países da Europa Central e Oriental que faziam parte dele, não são mais aliados da URSS. No dia 26 de Dezembro de 1991, dissolve-se a própria União Soviética: em vez de um único Estado, formam-se 15. O desaparecimento da URSS e do seu bloco de alianças cria, na região europeia e centro-asiática, uma situação geopolítica inteiramente nova. Simultaneamente, a desagregação da URSS e a profunda crise política e económica que aflige a Rússia assinalam o fim da super potência capaz de rivalizar com a americana.

Nesta altura, o mundo está numa encruzilhada. A decisão de qual dos dois caminhos escolher e seguir está substancialmente nas mãos de Washington: de um lado está a possibilidade de iniciar um verdadeiro processo de desarmamento, começando por estabelecer, consoante as linhas da proposta de Gorbachev, um programa destinado à eliminação completa das armas nucleares, que, se lançado conjuntamente por Washington e Moscovo, poderia envolver, também, as outras potências nucleares; do outro lado, está a possibilidade de aproveitar o desaparecimento da super potência rival para aumentar a superioridade estratégica, incluindo a superioridade nuclear, dos Estados Unidos da América, que permaneceu a única super potência na cena mundial. Sem um instante de hesitação, Washington tomou o segundo caminho.

«O Presidente Bush pegou nesta segunda mudança histórica», conta Colin Powell, no Foreign Affairs. «O Presidente, coadjuvado pelos seus conselheiros e pelo Secretário da Defesa, traçaram uma nova estratégia da segurança nacional e construíram uma estratégia militar para sustentá-la. Em seguida, em Agosto de 1990, enquanto o Presidente Bush fazia o seu primeiro anuncio público sobre a nova maneira da América enfrentar a questão da segurança nacional, Saddam Hussein atacou o Kuwait. A sua brutal agressão fez com que puséssemos em prática a nova estratégia, exactamente no momento em que começávamos a publicá-la. Todos os americanos poderiam assim, ver a nossa estratégia validada pela guerra».

A seguir:

4.2  Golfo: A primeira guerra depois da Guerra Fria
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

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