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Saturday, April 28, 2018

PT -- GUERRA NUCLEAR: 4.2 Golfo: A primeira guerra depois da Guerra Fria

MANLIO DINUCCI

“Copyright Zambon Editore”


GUERRA NUCLEAR
O DIA ANTERIOR
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe



4.2  Golfo: A primeira guerra depois da Guerra Fria

O Iraque de Saddam Hussein que, invadindo o Kuwait em 2 de Agosto de 199 dá um motivo aos Estados Unidos para pôr em prática a nova estratégia «exactamente no momento» em que é lançada, é o mesmo Iraque que, até há pouco, era apoiado pelos Estados Unidos. Nos anos oitenta, os EUA tinham-no ajudado na guerra contra o Irão de Khomeini, naquele momento, o «inimigo número um» para os interesses dos Estados Unidos na região do Médio Oriente. O Pentágono não só forneceu armamento ao Iraque (entre outros, helicópteros militares, usados em 1988 para atacar os curdos com armas químicas) mas, secretamente, encarregou mais de 60 funcionários do DIA (Defense Intelligence Agency)de ajudar o comando iraquiano, fornecendo-lhe fotos de satélites sobre a distribuição das forças iranianas, planos tácticos para as batalhas e indicações dos objectivos a atingir nos ataques aéreos. Sob as instruções de Washington, também o Kuwait ajudou o Iraque de vários modos, fornecendo-lhes fotos de satélites sobre a distribuição das forças iranianas, planos tácticos para as batalhas e a indicação dos objectivos a atingir nos ataques aéreos. Sob instruções de Washington, o Kuwait ajudou mesmo o Iraque de várias maneiras, fornecendo-lhe empréstimos avultados para a aquisição de armamentos.

Mas, uma vez terminada a guerra contra o Irão, em 1988, Estados Unidos começaram a temer que o Iraque, graças, também, à ajuda soviética, adquirisse um papel dominante na região. Recorrem, de novo, à antiga, mas sempre actual política de «divide et impera». A atitude do Kuwait também muda, de acordo, pois exige o reembolso imediato da dívida contraída por Bagadad e, explorando o campo Rumaila que se estende nos dois territórios, eleva a sua produção de petróleo acima da cota estabelecida pela OPEP. Deste modo, provoca uma queda de preço do petróleo bruto que prejudica, sobretudo, o Iraque, saído da guerra com um enorme e custoso equipamento militar e um débito externo de mais de 70 biliões de dólares, 40 dos quais ao Kuwait, Arábia Saudita e outras monarquias do Golfo. Neste ponto, Saddam Hussein decide fugir do impasse «tornando a anexar» o território do Kuwait que, fundamentado nas fronteiras traçadas em 1922 pelo pro-cônsul britânico, Sir Percy Cox, bloqueia o acesso do Iraque ao Golfo.

Quando o Iraque se prepara para invadir o Kuwait, os EUA (que conhecem detalhadamente o plano) fazem crer a Baghdad que querem ficar fora do litígio. Em 19 de Julho de 1990, enquanto 100.000 soldados iraquianos estão já reunidos nas fronteiras com o Kuwait, Washington aconselha o governo kuwaitiano a cancelar o estado de alerta das suas forças armadas. Em 25 de Julho, quando os satélites militares americanos mostram que, agora, a invasão já está iminente, a Embaixatriz americana, April Glasbie, encontra-se com Saddam Hussein, ao qual assegura ter recebido, directamente do Presidente dos Estados Unidos, instruções de procurar melhores relações com o Iraque. Além do mais, especifica que os Estados Unidos não têm nenhuma opinião sobre os conflitos inter-árabes, como a disputa de fronteira entre o Iraque e o Kuwait. Uma semana depois, no dia 1 de Agosto de 1990, Saddam Hussein ordena a invasão, cometendo um colossal erro de cálculo político. 

Os Estados Unidos rotulam o antigo aliado como inimigo número um e, formada uma coligação internacional, enviam para o Golfo uma força de 750.000 homens, dos quais 70% são americanos, sob as ordens do General Norman Schwarzkopf, Comandante do U.S. Central Command (o Comando Central Americano, responsável pelas operações no Médio Oriente). 

Faz parte da distribuição militar – surgirá mais tarde, em documentos desclassificados – o porta aviões USS America  com a sua divisão de armas nucleares (W Division), dotada de bombas B61 e bombas de profundidade B 57

Em 17 de Janeiro de 1991 tem início a operação «Tempestade do Deserto». Acaba de ser lançada contra o Iraque aquela que é definida como a mais intensa campanha de bombardeamento da História»: em 43 dias, a aviação americana e a aliada efectuam, com 2.800 aviões, mais de 110.000 saídas, lançando 250.000 bombas, entre as quais as bombas de fragmentação que lançam totalmente, mais de 10 milhões de sub-munições. Em 23 de Fevereiro, as tropa da coligação, compreendendo 520.00 soldados, lançam a ofensiva terrestre que, depois de cem horas de carnificina, termina em 28 de Fevereiro com um «cessar-fogo temporário», proclamado pelo Presidente Bush.

Ninguém sabe com exactidão quantos são os mortos iraquianos na guerra de 1991: segundo uma estimativa, cerca de 300.000. entre militares e civis, seguramente muitos mais. O Wall Street Journal relata que «as forças terrestres aliadas, enquanto avançavam, usavam bulldozers para enterrar milhares de inimigos mortos nas trincheiras». Numa entrevista, o Coronel Anthony Moreno e outros militares americanos confirmam que milhares de soldados  iraquianos são sepultados vivos nas trincheiras com tanques, transformados em bulldozers, aplicando na parte dianteira grandes lâminas dentadas: «Colocando os nossos veículos sobre as trincheiras, era possível cobrir, em poucas horas, milhares e milhares de valas. Os iraquianos não tinham salvação: se fugiam das trincheiras, eram varridos pelo fogo dos blindados que avançavam, se ficavam dentro das trincheiras, eram sepultados pelos tanques-bulldozers. No fim do ataque, das trincheiras cobertas, brotavam braços e pernas dos iraquianos sepultados vivos».

Quantos foram os iraquianos sepultados, já mortos ou ainda vivos, permanece um segredo guardado nos arquivos do Pentágono. Ou melhor, ninguém se preocupou em contá-los. Pelo contrário, contam-se meticulosamente as perdas da coligação na operação «Tempestade do Deserto»: 148 soldados americanos mortos em combate e 138 em situações de não combate, mais 91 aliados. O Pentágono sublinha, em tons triunfantes, que nunca, num campo de batalha, um exército infligiu ao inimigo tão grandes perdas, pagando um tão baixo preço de vidas.

A guerra do Golfo de 1991 distingue-se das outras, combatidas pelos Estados Unidos, no período seguinte ao segundo conflito mundial. É a primeira guerra em vasta escala que Washington não motiva com a necessidade de conter a ameaçadora avançada do comunismo, justificação que esteve na base de todas as intervenções americanas precedentes, no «terceiro mundo», desde a guerra da Coreia à do Vietnam, da invasão de Grenada à operação contra a Nicarágua. É a primeira guerra depois da Guerra Fria, através da qual os Estados Unidos não só reforçam a sua presença militar e influência política na área estratégica do Golfo onde se encontra a maior parte das reservas petrolíferas do mundo, mas – como explica Colin Powell– colocam em prática e confirmam a nova estratégia, exactamente  no momento, em que a mesma é lançada.

A seguir:
4.3  As armas de urânio empobrecido 
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos


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