por DAVID KRIEGER
Opinion Contributor
03/05/19
A verdade mais impressionante e assustadora sobre a era
nuclear é a seguinte: as armas nucleares são capazes de destruir a civilização
e a vida mais complexa do planeta, mas quase nada está a ser feito a este respeito.
A Humanidade está a namoriscar com a extinção e está a sentir a “agonia das rãs”.
É como se a espécie humana tivesse sido colocada num caldeirão de água morna -
metaforicamente em relação aos perigos nucleares e literalmente no que diz
respeito à mudança climática - e parecesse estar calma dentro da água, enquanto
a temperatura sobe em direcção ao ponto de ebulição. Neste artigo, concentro a
minha atenção no caldeirão metafórico de aquecimento da água, a caminho da
fervura, representando os perigos nucleares crescentes que são confrontados por
toda a Humanidade.
Por mais perturbador que seja, não há virtualmente nenhuma
vontade política da parte das nações que possuem arsenais nucleares de alterar
esta situação perigosa; e, apesar das obrigações legais de negociar de boa fé,
o fim da corrida armamentista nuclear e o desarmamento nuclear, não há grande
esforço entre os países detentores de armas nucleares e os países sob o guarda-chuva nuclear (países da NATO) para atingir o zero nuclear.
Enquanto os países sem armas nucleares negociaram o Tratado sobre a Proibição
de Armas Nucleares (TPNW) e estão a diligenciar estabelecer a entrada em vigor deste
Tratado, os países que possuem armas e aqueles que se abrigam sob a sua protecção
nuclear, não apoiaram o novo Tratado.
Os nove países com armas nucleares boicotaram, na totalidade,
as negociações internacionais sobre a proibição e eliminação das armas
nucleares. Além do mais, cada um desses países está a modernizar o seu arsenal
nuclear, desperdiçando recursos valiosos em armas que nunca deverão ser usadas
e fazem-no enquanto as necessidades básicas de biliões de pessoas em todo o
mundo, não são tidas em consideração nem cumpridas. Apesar desta situação
injusta e deplorável, a maioria dos 7 biliões de pessoas no planeta,tem uma
atitude tolerante e acomodada, em relação às armas nucleares, o que só adiciona
combustível ao fogo sob o caldeirão das rãs.
Na era nuclear, a Humanidade é desafiada como nunca jamais aconteceu.
A nossa tecnologia e, especialmente, as nossas armas nucleares, podem destruir-nos,
bem como todos que nos são queridos. Mas antes de podermos responder a estes
perigos gigantescos, devemos primeiro despertar a consciência para os mesmos. A
complacência está enraizada na apatia, na conformidade, na ignorância e na negação
- uma receita para o desastre. Se quisermos prevalecer sobre as nossas
tecnologias, devemos passar da apatia à empatia; da conformidade ao pensamento
crítico; da ignorância à sabedoria; e da negação ao reconhecimento do perigo.
Mas como vamos fazê-lo?
A solução é a educação – uma educação que promova a
participação; uma educação que force os indivíduos e as nações a enfrentar a verdade
sobre os perigos da era nuclear. Precisamos de uma educação que leve à acção
que permita à Humanidade sair do caldeirão metafórico com a água a aquecer,
antes que seja tarde demais.
A educação pode apresentar-se de muitas formas, mas deve
começar por uma análise sólida dos perigos actuais e pelas críticas à falta de
progresso na contenção dos perigos da era nuclear.
Ø
Precisamos
de uma educação que esteja enraizada no bem comum.
Ø
Precisamos
de uma educação que forneça uma plataforma para as vozes dos sobreviventes de
Hiroshima e Nagasaki.
Ø
Precisamos
de uma educação que torne clara a instabilidade e a natureza perigosa da
dissuasão nuclear.
Ø
Precisamos
de uma educação que desafie a arrogância suprema dos dirigentes que acreditam
que o ‘status quo’ nuclear global pode sobreviver indefinidamente, em face da
maldade e da falibilidade humana.
Temos necessidade de uma educação que possa romper os laços
da insanidade nuclear e levar o mundo à acção. Se quisermos saltar do caldeirão
de água sempre a aquecer, evitar o desastre e alcançar o porto seguro do zero
nuclear, temos de nos esforçar para que as pessoas falem e exijam muito mais dos
seus dirigentes.
David Krieger é um dos fundadores da Nuclear Age Peace
Foundation, e preside à mesma, desde 1982. É o autor e editor de muitos livros
sobre os perigos nucleares, incluindo “ZERO: The Case for Nuclear Weapons Abolition = ZERO: O caso da Abolição das Armas
Nucleares".
Tradutora: Maia Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
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