70 anos depois, o Apelo de Estocolmo continua atual
Fim às armas nucleares
18.03.2020
70 anos depois, o
Apelo de Estocolmo continua atual | Fim às armas nucleares
... Exigimos o
estabelecimento de um vigoroso controlo internacional para a aplicação dessa
medida de interdição. Consideramos que o governo que primeiro utilizar a arma
atómica, não importa contra que país, cometerá um crime contra a humanidade e
será tratado como criminoso de guerra. Pedimos a todos os homens de boa vontade
no mundo inteiro que assinem este apelo.»
Há 70 anos, mais
precisamente a 15 de março de 1950, foi lançado pelo Comité Mundial dos
Partidários da Paz - embrião do Conselho Mundial da Paz, nascido no final desse
mesmo ano - o Apelo de Estocolmo, petição mundial
pela interdição das armas atómicas.
Entre os primeiros
subscritores encontravam-se destacadas personalidades da cultura, da ciência e
da arte daquele tempo, como: Frédéric Joliot-Curie, Charlie Parker, Dmitri
Shostakovich, George Bernard Shaw, Henri Matisse, Henri Wallon, Leonard
Bernstein, Louis Aragon, Marc Chagall, Pablo Neruda, Pablo Picasso, Simone
Signoret, Thomas Mann, Yves Montand e muitos outros.
O teor do Apelo encontrou
eco entre os povos do mundo, chocados com o horror dos criminosos
bombardeamentos atómicos norte-americanos sobre Hiroxima e
Nagasáqui, em agosto de 1945, e preocupados com a crescente tensão que marcava
o seu tempo. Depois da esperança aberta na efetivação de um mundo de
paz com a vitória sobre o nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial, na
viragem para década de 50 as preocupações eram imensas. E
justificadas.
A Guerra Fria foi
a resposta dos EUA e restantes potências ocidentais à impressionante vaga
libertadora do pós-guerra e às impetuosas conquistas políticas, económicas,
sociais, culturais e nacionais então alcançadas: a chantagem nuclear, a corrida
aos armamentos, a disseminação de tropas, bases e equipamentos militares em
vários pontos do mundo, a ingerência e a agressão, foram alguns dos seus
instrumentos. A criação da NATO, em abril de 1949, instituiu a lógica de
blocos político-militares, afastando o projeto de criação de um sistema de
segurança coletivo na Europa assente nas Nações
Unidas. Particularmente em Berlim e na Coreia, fazia-se
sentir uma nova ameaça de guerra.
As assinaturas para
o Apelo foram recolhidas em todo o mundo - nas fábricas e nos
serviços, nos campos e nos mercados, nas escolas e nas universidades, nas
associações e nos clubes, nas praças, avenidas e ruas. Nalguns países, como
Portugal sob a ditadura fascista de Salazar, houve que iludir e enfrentar
perseguições e a repressão; noutros, o Apelo foi assumido
abertamente em grandes ações públicas.
Em todo o
mundo, assinaram o Apelo centenas de milhões de
pessoas de diferentes profissões, áreas de
intervenção, opções políticas e confissões religiosas. O Apelo
de Estocolmo transformou-se num imenso clamor mundial pela paz e o
desarmamento, fundamental para travar os ímpetos mais agressivos dos
que promovem a guerra e a chantagem nuclear.
Nas décadas que
se seguiram, após o impressionante impacto do Apelo
de Estocolmo e de muitas outras campanhas e ações do
movimento mundial da paz, foram celebrados importantes acordos e
tratados visando o desarmamento e o desanuviamento nas relações
internacionais. A ameaça de guerra nuclear, nunca totalmente afastada,
ficava assim mais distante.
Nos últimos anos, a
fisionomia geopolítica do mundo alterou-se profundamente. Ao desaparecimento do
Pacto de Varsóvia não correspondeu o desmantelamento da NATO, mas, pelo
contrário, o seu reforço e alargamento. A promessa de um mundo mais seguro,
terminada a Guerra Fria, não se cumpriu: as guerras de agressão
promovidas pelos EUA, a NATO e os seus aliados sucedem-se em vários pontos do
mundo, assim como ingerências e bloqueios económicos contra países soberanos;
as despesas militares não param de aumentar; a militarização atinge cada vez
mais esferas da vida e o próprio Cosmos; os EUA desrespeitam importantes
acordos internacionais que continham os armamentos nucleares; em redor da China
e da Rússia, os EUA erguem bases, instalações e contingentes militares e frotas
navais.
Considerando a
dimensão e poder dos arsenais nucleares existentes, uma guerra nuclear entre as
principais potências não se limitaria a reproduzir o horror vivido em
Hiroxima e Nagasaki há 75 anos, antes o multiplicaria por muito: milhões de
seres humanos morreriam no momento das explosões e nos meses seguintes, devido
aos efeitos da radiação sobre a saúde e ambiente, que persistiriam durante
muitos anos. As consequências seriam catastróficas, incluindo o chamado inverno
nuclear. Tal guerra, a ocorrer, comprometeria seriamente a sobrevivência da
própria humanidade.
Atualmente, estima-se existirem cerca
de 14 mil ogivas nucleares no mundo, nos arsenais de nove países (EUA,
Federação Russa, Reino Unido, França, China, Israel, Índia, Paquistão e a
República Popular Democrática da Coreia). Outros cinco (Alemanha, Bélgica,
Itália, Holanda e Turquia) albergam formalmente armas nucleares dos EUA, que no
seu conceito estratégico admitem o uso de armas nucleares num primeiro ataque,
posição que a NATO acompanha.
Perante esta tão
grave situação, é urgente pôr fim às armas nucleares, que constituem uma das
mais sérias ameaças que pende sobre toda a Humanidade.
Seguindo o exemplo
de há 70 anos dos promotores do Apelo de Estocolmo, há
que unir o maior número de pessoas nesta exigência: da defesa e do
restabelecimento de acordos e tratados que visam a contenção e o
desarmamento nuclear; da rejeição de uma nova escalada armamentista e da
instalação de novas armas nucleares, incluindo dos EUA na
Europa; assim como, da assinatura e ratificação pelos Estados
do Tratado de Proibição de Armas Nucleares, adotado a 7 de julho de 2017
por uma conferência das Nações Unidas - a sua entrada em
vigor constituirá um passo importante para salvaguardar a paz e a
segurança neste mundo que é a nossa casa comum.
Direção Nacional do
CPPC
--
Flávio Gonçalves
Divulgação Literária
e Discográfica | Cronista | Tradutor | Jornalista Freelancer | PRAVDA.ru
Literature and Music Reviews | Columnist |
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