MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR
O PRIMEIRO DIA
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
2.4 A planificação
do ataque nuclear
Em 1965/1967, o arsenal americano atinge um máximo
superior a 31.000 armas nucleares, às quis se juntam mais 300 britânicas e 35
francesas, levando o arsenal global da NATO a mais de 31.500. A URSS supera as
8.000 armas nucleares, enquanto a China possui 25.
A par e passo com o crescimento do próprio arsenal,
o Pentágono desenvolve planos operacionais detalhados de guerra nuclear contra
a URSS e a China. Um portfólio/pasta de 800 páginas tornado público em 2015
pelo National Archives and Records Administration (NARA), o arquivo do governo dos EUA; contém uma lista (até àquele momento top secret)
de milhares de objectivos na URSS, Europa Oriental e China, que os EUA se
preparavam para destruir com armas nucleares, durante a guerra fria. Em
1959, o ano a que se refere a «target list» redigida em 1956, os EUA dispunham
de 12 mil ogivas nucleares e mais 80 britânicas, enquanto a URSS possuía cerca
de mil e a China ainda não tinha nenhuma.Sendo superior também nos meios de
transporte das mesmas armas nucleares (bombardeiros e mísseis), o Pentágono considera
viável, um ataque nuclear.
O plano
prevê a «destruição sistemática» de 1.100 campos de aviação e 1.200 cidades. Moscovo seria destruída com
180 bombas termonucleares; Leningrado, com 145; Pequim, com 23. Muitas «áreas
povoadas» seriam destruídas pelas « explosões nucleares ao nível do solo, para
aumentar a recaída/queda radioactiva. Entre estas, Berlim Oriental, cujo
bombardeamento nuclear comportaria «implicações desastrosas para Berlim Ocidental».
O plano não é levado a cabo, porque a União Soviética adquire rapidamente a
capacidade de atingir os Estados Unidos.
Apesar disso – referirá sucessivamente Paul
Johnstone, durante dois decénios (1949-1969), analista do Pentágono para a
planificação da guerra nuclear – entre os estrategas americanos está, naquele
período, «um consenso geral que, se bem que uma troca nuclear provocasse graves
danos aos Estados Unidos, com muitos milhões de mortos e uma capacidade baixa
imediata de sustentar a guerra, os EUA continuariam a existir como nação
organizada vital e, finalmente, prevaleceriam, enquanto a União Soviética não
seria capaz de fazê-lo.
No Pentágono, durante a guerra do Vietnam, há também
aqueles que querem usar armas nucleares tácticas contra as forças vietnamitas.Tal
possibilidade é examinada por um grupo de 40 cientistas consultores que, em
1966, redigem um relatório secreto com o título «Armas Nucleares Tácticas no
Sudeste Asiático». No contexto vietnamita, afirma o relatório, seria útil para
destruir os restantes aeroportos e pontes do Norte, as bases e os principais sistemas
de túneis do Viet Cong no Sul, mas seriam ineficazes contra as forças que se
movem de forma incerta na floresta. Mais ainda, se os EUA usassem primeiro, armas
nucleares tácticas, a União Soviética e a China poderiam fornecer ao Vietnam do
Norte, que podiam atingir com elas, as bases americanas no Sul. Uma vez
excedido o limiar nuclear, não se pode prever o resultado final, que, conclui o relatório, poderia também ser uma guerra
nuclear generalizada. Por todas estas razões, o grupo de cientistas desaconselha
o uso de armas nucleares tácticas na guerra do Vietnam.
No entanto, os EUA continuam, nos anos sessenta, a
deslcoar as suas bases avançadas na Europa, Turquia e Ásia, mísseis e caças bombardeiros
com capacidade nuclear que, por terem um raio menor de acção, dali podem
atingir a União Soviética, os outros países do Pacto de Varsóvia, bem como a
China. No período culminante, no final dos anos sessenta e início dos setenta,
os EUA têm cerca de 9.000 armas nucleares espalhadas fora do seu território:
cerca de 7.000 nos países europeus da NATO, 2.000 nos países asiáticos (Coreia
do Sul, Filipinas, Japão). Além dessas, têm 3.000 armas a bordo dos submarinos
e outras unidades navais que, a qualquer momento. Podem lançar contra a União
Soviética e outros países.
A URSS, que não tem bases avançadas fora do seu
território, próximas dos Estados Unidos
(de quem pode avizinhar-se, mas só com submarinos nucleares), procura
demonstrar que, se fosse atacada, poderia lançar uma represália devastadora.
Para confirmá-lo, faz explodir, num teste conduzido em 20 de Outubro de 1961, a
bomba de hidrogénio mais potente, jamais experimentada, a «Czar», de 58 megaton,
equivalente a quasi 4.500 bombas de Hiroshima.
A União Soviética prepara, ao mesmo tempo, uma nova
arma espacial: um míssil (R.360 Fobs) que, se colocado em órbita em volta da
Terra, pode atingir a qualquer momento, os EUA com uma ogiva nuclear de 5
megaton. Ao mesmo tempo, a meio dos anos sessenta, efectua testes de vôo de uma
arma ainda mais potente (Ur-500 Proton) uma bomba de hidrogénio orbital de
100-150 megaton.
A seguir
2.5 O Tratado do Espaço Exterior e o Tratado de Não-Proliferação
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