MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR
O PRIMEIRO DIA
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
2.6 Os
mísseis balísticos com ogivas múltiplas independentes
Quando as palavras correspondem os factos,
demonstram-no os Estados Unidos que, apenas dois anos após ter assinado o TNP,
começaram a distribuir os ICBM Minuteman III com ogiva nuclear MIRV (Multiple indipendently targetable
reentry vehicle) : cada míssil transporta três «veículos de retorno», ou seja, três ogivas nucleares
que, lançadas no apogeu da trajectória balística, ao tornar a entrar na
atmosfera, dirigem-se, independentemente, sobre os respectivos
objectivos. Com a tecnologia MIRV, cada míssil está, a partir deste momento,
capaz de atingir mais objectivos, distantes uns dos outros, multiplicando assim
a sua mortandade. Também a União Soviética lança, pouco depois, mísseis de
ogivas MIRV, são os R-36M/SS-18 Satan, cada um armado de 8-10 ogivas nucleares
independentes.
Desenvolve-se uma competição análoga no campo dos
mísseis balísticos lançados do mar. Já a partir de 1964, os Polaris americanos
da terceira geração, chegam armados, cada um, de três ogivas nucleares
independentes: isso permite a um único submarino atingir com os seus 16
mísseis, 48 objectivos. Em 1969, a União Soviética reduz a vantagem nos
confrontos dos EUA, instalando nos seus próprios submarinos, mísseis mais
eficientes, os R-27/SS-N-6 Serb: um submarino nuclear da classe Yankee pode
transportar 16 daqueles mísseis e lançá-los quando está submerso. Alguns anos
depois, em 1975, são instalados os mísseis R-27 MIRV, cada um com três ogivas
independentes. Neste ponto, também um único submarino soviético pode atingir
48 objectivos a mais de 3.000 km de distância.
Entretanto, no início de 1971, os EUA começam
a distribuir os novos mísseis SLBM Poseidon C3, aumentando a sua vantagem: cada
míssil pode transportar até 14 ogivas nucleares independentes. Isto
significa que um único submarino com os seus 16 mísseis, pode atingir 200
objectivos. A URSS responde, distribuindo
em 1974, nos seus submarinos da classe Delta, os mísseis R-29/SS-N-8 Sawfly,
com um alcance de 9.000 km, e sucessivamente os R-29 RM/SS-N-23 Skif, cada um
com 4-10 ogivas MIRV. Um único submarino soviético pode, assim, atingir, com os
seus 16 mísseis, até 160 objectivos. No entanto, os EUA, passam, neste ponto,
para uma nova geração de mísseis lançados do mar, os Trident C-4, que começam a
instalar nos seus submarinos em 1979. Um único submarino, armado de 24 mísseis
Trident com ogivas MIRV, pode atingir 200 objectivos.
Perto do fim dos anos setenta, a URSS ultrapassa os
EUA em número de armas nucleares: mais de 26.000 em confronto às 24.000 dos
Estados Unidos, segundo as estimativas relativas a 1978. A Grã-Bretanha,
naquele ano, possui 500 armas nucleares; a França, 230; a China, 190.
De geração em geração, os mísseis balísticos
intercontinentais tornam-se cada vez mais precisos: O seu CEP (provável erro
circular, dentro do qual caiem metade das ogivas nucleares) restringe-se a 4 km, a menos de 500 metros.
Além dos mísseis balísticos intercontinentais (com
um alcance superior a 5.500 km), os EUA e a URSS distribuem mísseis balísticos
de menor alcance: alcance intermédio (3.000-5.500 km), alcance médio
(1.000-3.000 km) e curto alcance (até 1.000 km). Estes mísseis com ogivas
nucleares, quando se avizinham dos objectivos, podem ter efeitos análogos aos
dos mísseis intercontinentais.
A seguir:
2.7 A
bomba N
Tradutora: Maria Luisa de
Vasconcellos
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