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Friday, August 16, 2019

PT – CAPÍTULO TRÊS -- FULL SPECTRUM DOMINANCE

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ou
DOMÍNIO DA UNIVERSALIDADE




CAPÍTULO TRÊS

Controlar a China com a Democracia Sintética

O que acontece com a distribuição do poder em todo o território eurasiático,
será de importância decisiva para a superioridade global da América ... ”


- Zbigniew Brzezinski

‘Ideias diferentes para pessoas diferentes…’

A estratégia militar e geopolítica fundamental dos EUA para a República Popular da China nunca se desviou do seu objectivo central, durante todo o período de 1945 até 2008. No entanto, as suas tácticas variaram consideravelmente, entre o que poderia ser chamado de diplomacia do ‘Big Stick (grande cajado)  e a diplomacia do pau e da cenoura.O primeiro usava ameaças militares directas; o segundo envolvia algo um pouco mais sedutor, mas perigoso, a longo prazo, para a soberania chinesa. A estratégia americana global de “dividir e conquistar” permaneceu em todos os momentos.

Essa estratégia tinha as suas raízes nos axiomas da geopolítica, os axiomas do geógrafo real britânico Sir Halford Mackinder. Para Mackinder, o objectivo principal da política externa e da política militar, quer dos britânicos e mais tarde, quer dos Estados Unidos, era impedir uma unidade, natural ou não natural, entre as duas grandes potências dos territórios eurasiáticos - a Rússia e a China. (1)

A maioria das principais elites políticas americanas dentro e à volta do influente Council on Foreign Relations (CFR) foi instruída na estratégia geopolítica de Mackinder. Entre eles estava o antigo Embaixador de Pequim, Winston Lord, antigo conselheiro de Henry Kissinger, que preparou a mudança de política de Nixon para com a China, em 1972; o  antigo Director e Embaixador da CIA, em Pequim, George Herbert Walker Bush; e o amigo de longa data de Bush, desde a CIA, o Embaixador da China, James R. Lilley. Tanto o Secretário de Estado Henry Kissinger como o antigo Conselheiro da Segurança Nacional, Zbigniew Brzezinski, eram defensores da geopolítica de Mackinder. Por razões óbvias, a sua dívida com Mackinder raramente era admitida, de maneira clara. (2)

Os políticos americanos do pós-guerra provieram de um número relativamente pequeno de famílias privilegiadas. A maioria deles fazia parte do círculo influente que girava à volta da família Rockefeller, especialmente John D. III e o seu irmão, o banqueiro David Rockefeller. Foi esse grupo específico que determinou a política do período do pós-guerra entre EUA e China.

O seu objectivo era manter sempre uma estratégia de tensão em toda a Ásia e, particularmente, na Eurásia. Por exemplo, os EUA ameaçariam o Japão com a perda da sua protecção militar, se não seguissem os desejos políticos dos EUA, e seduziriam a China transferindo a manufactura norte-americana para a China e, ao mesmo tempo, iriam proporcionar, de facto,  lucros enormes aos fabricantes americanos.

Independentemente das tácticas usadas, o objectivo final da política americana para a China, era a manutenção do controlo sobre a China como o potencial colosso económico da Ásia – controlo sobre o seu desenvolvimento energético, sobre a sua segurança alimentar, sobre o seu desenvolvimento económico, sobre a sua política de defesa ... sobre o seu futuro.

Em 2007, o controlo da China pelos EUA estava a tornar-se cada vez mais difícil, dado que as forças militares dos Estados Unidos estavam excessivamente comprometidas com guerras mal preparadas e com as ocupações do Iraque e do Afeganistão.

A política de Washington, embora ainda baseada no avanço da hegemonia militar dos EUA, passou a disfarçar-se por trás de questões dos direitos humanos e da “democracia” como armas de guerra psicológica e económica, na  sua tentativa de conter e controlar a China e a sua política externa.

AFRICOM: A Estratégia do ‘Recurso à Guerra’ do Pentágono  

Em Novembro de 2006, a China acolheu uma cimeira sem precedentes sobre cooperação económica, investimento e comércio com, pelo menos, 45 Chefes de Estado africanos. Washington não demoraria a responder ao novo interesse da China pela África. Em Junho de 2007, a Administração Bush e altos funcionários do Pentágono tinham autorizado a criação de uma divisão especial para África, a AFRICOM, com o quartel general em Stuttgart, na Alemanha.

Por que é que, depois de ter negligenciado a África - a África do Sul, ou os territórios ricos em petróleo, da Nigéria, Angola e Moçambique - durante mais de cinco décadas, Washington colocava, agora,  uma prioridade tão alta em África? E por que é que o compromisso dos EUA exigia a despesa adicional de um comando militar autónomo para esse continente?

Seria o “terrorismo” razão suficiente para que os EUA instalassem um comando militar separado, abrangendo um alcance impressionante de cerca de 53 países, no subcontinente africano? Não. A criação do AFRICOM foi a resposta de Washington à sua perda de controlo, cada vez maior, das matérias primas de África. Foi a China e não o terrorismo,  a razão não declarada da nova preocupação militar dos EUA sobre África.

Em 1º de Outubro de 2008, no meio do caos do colapso dos mercados financeiros dos Estados Unidos, o Pentágono lançou o seu novo Comando Militar, o USAFRICOM ou simplesmente o AFRICOM.

O Comando dos Estados Unidos para África (AFRICOM) era um novo Comando Unificado de Combate, do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Era responsável pelas operações e relações militares dos EUA, com 53 nações africanas.

Guerras dos Recursos: A “Estratégia da Modernização do Exército de 2008”

A explicação completa para esta nova instalação militar está no documento do Pentágono, Estratégia de Modernização do Exército de 2008. Este documento afirmava que o objectivo da estratégia do Exército dos EUA era abranger e dominar todo o universo, não apenas o mundo. Apelou para “um Exército expedicionário de qualidade de campanha capaz de dominar todo o espectro do conflito, a qualquer momento, em qualquer ambiente e contra qualquer adversário - durante longos períodos de tempo.(3) O documento prosseguia, “O Exército deve  concentrar os seus esforços a equipar-se e a modernizar-se, com dois fins de apoio mútuo - restabelecer o equilíbrio e alcançar o domínio de espectro total. ”(4)

Nenhum outro exército na História, teve objectivos tão ambiciosos.

Muito significativo, a Modernização do Exército previa que os Estados Unidos, pelo menos nos próximos “trinta a quarenta anos”, estariam envolvidos em guerras contínuas para controlar as matérias primas.

Além do mais, numa referência clara à China e à Rússia, o plano estratégico do Pentágono declarava: “Enfrentamos um regresso potencial às ameaças tradicionais de segurança colocadas pelos novos parceiros, pois competimos globalmente para esgotar os recursos naturais e os mercados estrangeiros” (5).

Em termos de crescimento económico, o único “parceiro emergente” do planeta, em 2008, foi a China, que estava a lutar e a remexer a Terra à procura de fontes seguras de petróleo, metais e outras matérias-primas para assegurar as  suas projecções de crescimento dramático.

Em termos de fornecimentos militares e de energia, o único potencial “parceiro emergente” seria a Rússia. A Rússia desempenhou um papel estratégico no fornecimento de praticamente todos os recursos vitais necessários para uma economia industrial avançada – tudo desde petróleo e gás até metais e matérias primas. A Rússia era o principal fornecedor dos Estados no sul da África, de recursos estratégicos que não estavam sob o controlo directo dos Estados Unidos. O papel crescente da Rússia em África, foi um factor importante  que determinou a política militar de confronto de Washington, de usar a NATO para cercar a Rússia, desde 1991.

A principal preocupação, nos círculos políticos do Pentágono e de Washington, era que a Rússia e a China aprofundassem a sua cooperação económica e até mesmo militar, provavelmente no âmbito da Organização de Cooperação de Shangai. Se tal acontecesse, como afirmou Zbigniew Brzezinski, a supremacia global dos Estados Unidos seria, necessariamente, desafiada.(6)

A Estratégia de Modernização do Exército de 2008, do Pentágono, era uma extensão da doutrina elaborada pelo solitário arquitecto estratégico futurista do DOD (Departamento da Defesa), Andrew  Marshall. Marshall, um analista experiente da RAND Corporation, trazido para o Pentágono, em 1973, tinha sido nomeado pelo Presidente Nixon para liderar um Gabinete Estratégico de Avaliações da Net, especialmente criado no Pentágono. Marshall recebeu um estatuto único e inédito na cadeia de comando: ele reportava-se apenas ao Secretário de Defesa, sem intermediários, na cadeia de comando do Pentágono.

Ao longo dos anos, Marshall, ainda encarregado da estratégia a longo prazo do Pentágono, apesar dos seus 87 anos de idade, criou grupos de discípulos para estabelecer a sua designada Revolução em Assuntos Militares (RMA). Ele contava entre os seus protegidos, Dick Cheney, Donald Rumsfeld, Paul Wolfowitz, Richard Perle e vários outros falcões de guerra. Foi Marshall que convenceu Rumsfeld e Cheney, em 2001, de que as instalações estratégicas de defesa antimísseis balísticos nas fronteiras da Rússia dariam aos Estados Unidos, a tão sonhada Superioridade Nuclear, a capacidade de lançar um ‘first strike’ contra a Rússia e destruir a sua capacidade de retaliação. (7)

A procura da Primazia/Supremacia Nuclear pelos EUA foi a verdadeira razão pela qual a Rússia reagiu tão fortemente, em Agosto de 2008, a uma provocação aparentemente periférica na Ossétia do Sul; também estava por trás, o desejo dos EUA de englobar a Ucrânia na NATO.

Marshall foi o arquitecto da estratégia desastrosa do “campo de batalha electrónico” de Rumsfeld, na guerra do Iraque - usando soldados “em rede” ligados à Internet e equipados com reconhecimento por GPS. No entanto, quando as críticas obrigaram o Presidente a abandonar Rumsfeld, Marshall permaneceu no Pentágono, intocado; tal era o seu poder.

Os EUA preparam a “guerra perpétua dos recursos”

A Estratégia da Modernização do Exército de 2008, revelou uma série de princípios estratégicos profundamente significativos e pressupostos operacionais que já tinham sido adoptados como doutrina oficial, pelos militares dos EUA. Na sua introdução, previu um futuro pós-Guerra Fria de “guerra perpétua”.

O oficial do Pentágono responsável pelo documento, General Stephen Speakes, afirmou no Prefácio:

Este documento de 2008 é radicalmente diferente dos elaborados nos anos anteriores. Este ano, chegamos ao cerne das questões com uma breve descrição da nossa estratégia de modernização - com os fins, meios e maneiras de como pretendemos usar o Army Equipping Enterprise para chegar ao fim do estado definido como: Soldados equipados com os melhores equipamentos disponíveis, fazendo do Exército, o poder terrestre mais dominante no mundo, com a capacidade total do espectro.

A América está empenhada numa era de conflitos constantes que continuarão a destacar a nossa força. Para vencer essa luta, necessitamos de um Exército que esteja permanentemente bem equipado - que tenha o que é necessário para os soldados cumprirem as suas missões através do espectro total do conflito.(8)

O documento do Pentágono salientava: “Entramos numa era de conflito permanente. . . um ambiente de segurança muito mais problemático e imprevisível do que o enfrentado durante a Guerra Fria.

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 Condutas de Petróleo no Médio Oriente e Bases Militares


Descrevia as principais características de uma era planeada de guerra contínua, incluindo a retórica habitual sobre terroristas usando armas de destruição em massa. Significativamente e pela primeira vez, desde o Memorando Estratégico-200 da Segurança Nacional, de Henry Kissinger, durante a Administração Ford, o Exército dos EUA declarava que entre as suas “missões” oficiais, estava o controlo do crescimento da população, em países ricos em matérias primas.(9)

O documento de 2008 citava o ‘crescimento da população’ como a ameaça predominante à segurança dos EUA e dos seus aliados, e exigia que as guerras controlassem os recursos das matérias primas. Relacionou estes dois aspectos:

O crescimento da população - especialmente em países menos desenvolvidos - exporá o “aumento da juventude” às ideologias anti-governamentais e radicais que, potencialmente, ameaçam a estabilidade do governo.

A competição pelos recursos induzida por populações a crescer e economias em expansão consumirá quantidades cada vez maiores de alimentos, água e energia. Os estados ou entidades que controlam esses recursos irão desenvolvê-los como parte do seu cálculo de segurança. (ênfase adicionada-w.e.) (10)


As duas prioridades oficiais do Pentágono - controlar o “aumento da juventude” da população, em países em desenvolvimento, ricos em recursos, e impedir que China e a Rússia controlem a comida, a água e a energia, do mundo em desenvolvimento - foram os motivos para a criação do AFRICOM.

Nunca antes a política externa dos EUA havia contemplado ou imaginado que tal força seria necessária; os Estados Unidos pensavam que controlavam os recursos da África. Mas, semanas depois da recepção de Pequim aos chefes de mais de 40 países africanos, em 2006, George W. Bush assinou a Ordem Presidencial, criando o AFRICOM.

Durante a Guerra Fria, o controlo da África pelos EUA e da sua vasta riqueza mineral, dependiam dos assassinatos e das guerras civis que os USA alimentavam secretamente, ou a cooperação de antigas potências coloniais brutais como a Grã-Bretanha, França, Portugal ou Bélgica. A elite de Washington ficou mais do que alarmada ao ver 43 chefes de Estado africanos tratados com respeito e dignidade pela China, que lhes ofereceu biliões de dólares em acordos comerciais, em vez de condições do FMI ou programas de austeridade impostos pelos EUA. (11)

De Darfur, onde a petrolífera estatal chinesa ganhou uma grande concessão de exploração de petróleo do governo do Sudão, até à Nigéria, Chade e África do Sul, Washington tentava combater a influência chinesa a crescer em toda a África.

Tendo identificado como sendo  uma ameaça, o aumento das populações no mundo em desenvolvimento, o documento da estratégia do Pentágono de 2008 destacou mudanças específicas de paradigma, na maneira como as guerras futuras deveriam ser conduzidas:

Recentemente, o Exército revelou sua doutrina mais actual, as FM 3-0 Operations, que fornece um plano para operar num futuro incerto e serve como o principal impulsionador as mudanças nas nossas organizações, treino, desenvolvimento de líderes, políticas abrangendo o pessoal, as instalações e o desenvolvimento de material.

O FM 3-0 institucionaliza como os comandantes empregam operações ofensivas, defensivas e de estabilidade ou apoio civil simultaneamente. O FM 3-0 reconhece o facto de que as operações do séc. XXI exigirão que os soldados se envolvam com as populações e com culturas diversas, em vez de evitá-las.(12).

Em certo sentido, o Pentágono estava a anunciar, oficialmente, o fim do “síndroma da guerra do Vietname”, que preconizava que os soldados dos EUA não fossem colocados em risco, restringindo o combate, principalmente, a ataques aéreos, como aconteceu nas guerras do Iraque e do Afeganistão, no início de 2002. 

Os “Direitos Humanos” Como Arma de Guerra

Ao contrário da política americana de atemorização militar contra a ameaça potencial da Rússia, a política dos EUA sobre o desabrochamento económico da China na Ásia, em África e mais além, incorporou armas de guerra inesperadas - 'Direitos Humanos' e 'Democracia'. Raramente usados como armas de guerra, a 'Democracia' e os 'Direitos Humanos' foram uma versão do Séc. XXI, das Guerras do Ópio de 1840 - tácticas destinadas a forçar a China a abrir-se ao domínio pleno da Super Potência dos EUA.(13) Claro que era algo que o governo chinês não aceitava de maneira nenhuma.

Entre 1999 e 2006, o governo dos Estados Unidos “disponibilizou ou autorizou cerca de 110 milhões de dólares para programas relacionados com a democracia na China”, segundo um relatório oficial do Congresso dos EUA. (14)

O relatório da Pesquisa do Congresso acrescentava:

A lei das somas garantidas para o ano financeiro 2000 (PL 106- 113) forneceu 1 milhão de dólares às ONGs americanas (para preservar as tradições culturais e promover o desenvolvimento sustentável e a conservação ambiental) no Tibete, como também 1 milhão de dólares para apoiar pesquisas sobre a China e autorizou ESF para as ONGs promoverem a democracia na China. Para o ano fiscal de 2001 (P.L. 106-429), o Congresso autorizou até 2 milhões de dólares para o Tibet. No ano fiscal de 2002 (página 107-115), o Congresso disponibilizou 10 milhões de dólares para a assistência a actividades de apoio à democracia, direitos humanos e Estado de Direito na China e em Hong Kong, incluindo 3 milhões de dólares para o Tibet. No ano fiscal de 2003 (páginas 108-7), o Congresso forneceu  15 milhões para programas relacionados com a democracia na China, incluindo 3 milhões para o Tibete e 3 milhões para o National Endowment for Democracy (NED) .(15)

De acordo com este relatório, a ajuda dos EUA, destinada pelo Congresso para promover a democracia na China, incluindo o Tibete, subiu de 2.435.000 de dólares no ano fiscal de 2000, para 33.695.000  de dólares no ano fiscal de 2006. Foi um aumento de mais de 1400% em seis anos. Era óbvio que Washington estava cada vez mais empenhado em promover a sua versão especial de “democracia” na China, especialmente no Tibete.

Significativamente, em 2004, dentro do Departamento de Estado dos EUA, “o Gabinete de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho tornou-se o principal administrador dos programas democráticos da China”. (16) Esse Departamento estava sob o domínio da Subsecretária para a Democracia e Assuntos Globais do Departamento de Estado, dos EUA, dirigido pela Dr. Paula J. Dobriansky. Como o site oficial do Departamento de Estado dos EUA observou:

Desde sua nomeação em 2001, a Subsecretária Dobriansky também trabalhou, simultaneamente, como coordenadora especial para as questões tibetanas. Nessa função, ela é a pessoa apontada pelo governo dos EUA em questões de política do Tibete, incluindo: apoio ao diálogo entre os chineses e o Dalai Lama ou os seus representantes; promoção dos direitos humanos no Tibete; e esforços para preservar a identidade cultural, religiosa e linguística única do Tibete. (17)

Paula Dobriansky recebeu o doutoramento da Universidade de Harvard em assuntos militares e políticos soviéticos. Foi indicada para o Departamento de Estado, assumindo o cargo de Vice Presidente sénior e Directora do Gabinete de Washington do Conselho de Relações Exteriores, onde foi a primeira pesquisadora sénior de estudos russos e euro-asiáticos de George F. Kennan. Também foi distinguida com uma Medalha de Serviço Democrático, pelo National Endowment for Democracy (NED) e com o Prémio Jeanne Kirkpatrick, do Instituto Republicano Internacional. 'Tanto o NED quanto o IRI, como documentado anteriormente, foram os principais veículos do Departamento de Estado dos EUA para promover mudanças de regime a favor dos EUA, em todo o mundo.

Os vínculos de Dobriansky ao NED não eram acidentais. A sua biografia oficial constatava que ela tinha desempenhado o cargo de Vice Presidente do NED antes de vir para o Departamento de Estado, além de trabalhar como membro do Conselho de Directores da Freedom House, chefiada em 2006 pelo antigo Director da CIA, James Woolsey, que também incluía Zbigniew Brzezinski. Além do mais, Dobriansky tinha sido membro sénior do Instituto Hudson, um dos mais argutos ‘think-tanks’ neo-conservadores e defensores de uma política militar agressiva, de Washington.

Paula Dobriansky também era membro de outro ‘think-tank’ neoconservador, o Projecto para um Novo Século Americano (PNAC).(18) Nesse cargo, Dobriansky, ecoando a PNAC, “defendeu o papel único da América, na preservação e ampliação de uma ordem internacional amigável à nossa segurança, à nossa prosperidade e aos nossos princípios ”. (19)

Dobriansky também assinou a carta do PNAC, de 26 de Janeiro de 1998, dirigida ao Presidente Bill Clinton, que instava o Presidente a atacar o Iraque naquela época, quase cinco anos antes da Operação Choque & Terror, argumentando que a contenção havia falhado. A carta do PNAC afirmava, sem rodeios:

A única estratégia aceitável é aquela que elimina a possibilidade do Iraque ser capaz de usar ou ameaçar usar armas de destruição em massa. A curto prazo, significa a disposição de empreender uma acção militar, já que a diplomacia está a , claramente, a falhar. A longo prazo, significa afastar do poder, Saddam Hussein e o seu regime.(20)

Os outros co-signatários de Dobriansky, da Carta Aberta do PNAC, sobre o Iraque incluíam uma lista de pessoas notáveis,  altos funcionários na Administração pós-Clinton, de George W. Bush, a saber: o Secretário da Defesa, Donald Rumsfeld; o Representante do Comércio dos EUA, mais tarde Director do Banco Mundial, Robert Zoellick; o Vice Secretário de Estado, Richard Armitage; o Vice Secretário da Defesa, Paul Wolfowitz e, posteriormente, Presidente do Banco Mundial;o Subsecretário de Estado, John Bolton; o Secretário Adjunto da Defesa, Peter Rodman; e os altos funcionários do Conselho da Segurança Nacional, Elliott Abrams e Zalmay Khalilzad.( 21)

Sem surpresa, no seu cargo no Departamento de Estado, Dobriansky era uma defensora pública agressiva das Revoluções Coloridas (financiadas pelo governo dos EUA). Dobriansky gostava de citar o discurso da tomada de posse, de George W. Bush, a pedir a difusão de “movimentos e instituições democráticas em todas as nações e culturas ... [e] terminar com a tirania no nosso mundo” .(22) No final de Fevereiro de 2005, ao reagir às manifestações anti-Síria no Líbano, Dobriansky afirmou: “Como o Presidente observou em Bratislava, na semana passada, houve uma revolução rosa na Geórgia, uma revolução laranja na Ucrânia e, recentemente, uma revolução roxa no Iraque. No Líbano, vemos um impulso crescente para uma revolução do cedro”. (23)

A função de Paula Dobriansky depois de 2004 foi, entre outras coisas, controlar as actividades e as organizações do Departamento de Estado dos EUA, incluindo as ONGs americanas, no Tibete. A concentração da atenção no Tibete, fazia parte, claramente, de uma estratégia de Washington a longo prazo, para aumentar a pressão sobre Pequim.

Democracia e Matérias Primas

Os principais alvos dos EUA na nova “Guerra do Ópio” contra a China, eufemisticamente denominada “promoção da democracia”, foram as fontes vitais de matérias primas para a China. Especificamente, os EUA atacaram Mianmar, Sudão e a própria China - através das organizações do Dalai Lama no Tibete e da seita “religiosa” do Falun Gong, dentro da China. Para atingir os seus objectivos, os serviços secretos clandestinos dos EUA recorreram a um arsenal de ONGs que eles haviam construído cuidadosamente, usando o grito de guerra das “violações dos Direitos Humanos” e o enfraquecimento da “democracia”.

Essa abordagem fazia parte de um método altamente eficiente de “guerra branda”, desenvolvido desde a década de 1980 pelas agências de serviços secretos dos EUA, para desarmar e desestabilizar regimes considerados “não comparticipantes”. Os países a serem alvos foram destacados e repetidamente acusados - copiosamente pela comunicação mediática internacional, orientados pela CNN e pela BBC, como violadores dos “Direitos Humanos”.  Obviamente, a definição de direitos humanos, foi inventada pelo país acusador, os Estados Unidos, que permaneceu imune a acusações semelhantes. Foi um jogo controlado em que agências dos EUA, desde o Departamento de Estado até à comunidade dos serviços secretos, trabalhavam atrás da fachada de um punhado de ONGs extremamente influentes, teoricamente “neutras” e “não-partidárias”.

Na década de 1980, durante a presidência de Ronald Reagan, as agências de inteligência dos Estados Unidos e o Departamento de Estado gastaram biliões de dólares para criar uma elaborada e sofisticada rede global de ONGs e organizações ostensivamente filantrópicas. As ONGs e as “fundações” serviriam a estratégia dos EUA como um flanco nos seus esforços para colocar todo o planeta sob o Domínio do Espectro Total. Um pesquisador australiano desse processo, Michael Barker, designou-o como “o Projecto para um Novo Humanitarismo Americano, uma ofensiva de direitos humanos”. (24)

O projecto evoluiu no alvorecer do novo século, como uma das armas mais eficazes para alargar  a influência do domínio global americano. Também conseguira evitar uma investigação séria  da comunicação mediática na imprensa ocidental. Barker descreveu a instalação combinada de várias organizações de fachada de “direitos humanos e pró-democracia” que os Estados Unidos financiaram, desde o National Endowment for Democracy até à Human Rights Watch e aos Open Society Institutes:

A colecção ampla de activistas preocupados que se aglutinam dentro do Projecto para um Novo Humanitarismo Americano ajuda a perpetuar o imperialismo, fornecendo-lhe “cobertura moral” e validando o abandono do Estado de Direito a favor do benefício enganoso dos direitos humanos.(25)

Foi esta, a arma desencadeada por Washington para forçar a mudança de regime em Mianmar, uma desestabilização modelada nas revoluções coloridas, que Washington usou para trazer déspotas corruptos, amigos de Washington, para o poder na Geórgia e na Ucrânia, em 2004.

Tornar-se-ia conhecida como a “Revolução do Açafrão” em Mayanmar, em referência às túnicas de açafrão dos monges budistas protestantes. No Tibete, foi designada de “Revolução Carmesim”. No Sudão, foi apelidada, simplesmente, de “genocídio”. Em cada caso, o poder do Pentágono e dos serviços secretos dos Estados Unidos, em coordenação com o Departamento de Estado e com as organizações não governamentais como a National Endowment for Democracy, estavam envolvidos no “armamento” dos direitos humanos para alargar o controlo dos interesses dos EUA e evitar o aparecimento de “parceiros emergentes”, especificamente a China e a Rússia.

Notas de rodapé:

1 By far the most influential foreign policy strategist of both Great Britain and later the United States from 1904 until his death in 1947, Halford Mackinder formulated the famous Heartland Theory which argued that the geography of the heart of the Eurasian continent, centered on Russia, was the key threat to Britain’s continued domination. An ardent British imperialist, Mackinder wrote a little-known but enormously influential policy recommendation for the emerging American empire in the magazine of the New York Council on Foreign Relations, its July 1943 issue, titled The Round War and the Winning of the Peace. In that article, as it was clear the United States would emerge as the successor to the British Empire as global hegemon, Mackinder cites his landmark 1904 thesis, The Geographical Pivot of History, describing the threat to British hegemony of a unification of either Germany with Russia (something British diplomacy avoided by encouraging Hitler to march east). He then went on to argue that were another power to replace that central or ‘pivot’ role as he termed it, of Russia as Heartland, the effect for British hegemony would be equal: ‘Were the Chinese, for instance…to overthrow the Russian Empire and conquer its territory, they might constitute the yellow peril (sic) to the world’s freedom just because they would add an oceanic frontage to the resources of the great continent.’ While in 1943 Mackinder and his US colleagues who drafted the United Nations structure, saw China playing a key role as a counter to the Soviet Union Heartland, that changed significantly when the Peoples’ Republic of China was established in October 1949. US policy then shifted to containment using a fabricated war in Korea beginning 1950 and the Vietnam or Second Indochina War which began in 1959 and ended in humiliating defeat for the United States in 1975. The shift in policy that began with the 1972 Nixon-Kissinger trip to Beijing was an attempt to influence China through economic dependency on US and Western investment and capital goods. By the end of the Century, some circles in the US elites began to fear that economic strategy risked creating an economic superpower in Asia that the United States could not control. Beginning the Bush-Cheney Administration in 2001 US China policy began a marked shift to a more aggressive confrontation course. The US NATO bombing of the Chinese Embassy in Belgrade in May 1999 was a deliberate strike to signal changing US policy, ever so gradually, towards China.

1 Sendo, de longe, o estratega mais influente da política externa da Grã-Bretanha e depois dos Estados Unidos, de 1904 até sua morte em 1947, Halford Mackinder formulou a famosa Heartland Theory, que argumentava que a geografia do coração do continente eurasiático, centrada na Rússia, era a principal ameaça ao comínio continuo dominação da Grã-Bretanha. Fervoroso imperialista britânico, Mackinder escreveu uma recomendação política pouco conhecida, mas extremamente influente, para o império americano emergente,  na revista do Conselho dos Negócios Estrangeiros, de Nova York, na sua edição de Julho de 1943, intitulada The Round War e a Winning of the Peace. Nesse artigo, como ficou claro, os Estados Unidos iriam emergir como o sucessor do Império Britânico, como potência hegemónica global, Mackinder cita sua tese histórica de 1904, ‘O Eixo Geográfico da História’, descrevendo a ameaça à hegemonia britânica de uma unificação da Alemanha com a Rússia (algo que a diplomacia britânica evitou encorajando Hitler a marchar para Leste). Então passou a argumentar que havia outro poder para substituir o papel central ou "eixo," como ele chamou, da Rússia como Heartland, o efeito para a hegemonia britânica seria o mesmo: "Estavam os chineses, por exemplo, para derrubar o Império Russo e conquistar o seu território? Eles podem constituir o perigo amarelo (sic) para a liberdade do mundo só porque adicionariam uma fachada oceânica aos recursos do grande continente.” Quando, em 1943,  Mackinder e os seus colegas dos EUA que elaboraram a estrutura das Nações Unidas, perceberam que a China tinha um papel importante como contrapeso à União Soviética, situação que mudou significativamente quando a República Popular da China foi estabelecida em Outubro de 1949. Então a política dos EUA  transformou-se na contenção, usando uma guerra fabricada, na Coreia, no início de 1950 e no Vietnam ou a Segunda Guerra da Indochina, que começou em 1959 e terminou com uma derrota humilhante para os Estados Unidos, em 1975. A mudança na política, que começou com a viagem de Nixon-Kissinger, em 1972, a Pequim, foi uma tentativa de influenciar a China por meio da dependência económica dos investimentos e capitais dos EUA e do Ocidente. No final do século, alguns círculos das elites americanas começaram a temer que a estratégia económica pudesse criar uma superpotência económica na Ásia, que os Estados Unidos não pudessem controlar. Ao começar a Administração Bush-Cheney, em 2001, a política da China dos EUA iniciou uma mudança acentuada para uma vertente de confronto mais agressivo. O bombardeamento USA/NATO à Embaixada da China em Belgrado, em Maio de 1999, foi um golpe deliberado para assinalar a mudança da política dos EUA, de forma cada vez mais gradual, em relação à China.


2 In his revealing 1997 book, The Grand Chessboard: American Primacy and its Geostrategic Imperatives, Brzezinski, who was a life-long Polish revanchist against Russia, openly praised Mackinder, though, amusingly enough, he carelessly misstated his first name as Harold instead of Halford Mackinder. In the book, Brzezinski, a decades-long part of the Rockefeller faction and in 2008 foreign policy adviser to Barack Obama, wrote, “…the three grand imperatives of imperial geostrategy are to prevent collusion and  maintain security dependence among the vassals (sic), to keep tributaries pliant and protected, and to keep the barbarians from coming together.” (Brzezinski, Op. Cit., p.40.). For Brzezinski, the most worrisome ‘barbarians’ he sought to prevent coming together were the two Eurasian powers, China and Russia.

2 No seu livro revelador de 1997, The Grand Chessboard: American Primacy and its Geostrategic Imperatives/O Grande Tabuleiro de Xadrez: A Primazia Americana e seus Imperativos Geoestratégicos,” Brzezinski, que era um revanchista polaco contra a Rússia, elogiou abertamente Mackinder, embora, tenha trocado o seu primeiro nome como Harold em vez de Halford Mackinder. No livro, Brzezinski, a decades-long part of the Rockefeller faction and in 2008 foreign policy adviser to Barack Obama/Brzezinski, uma longa parte das décadas da facção Rockefeller e, em 2008, assessor de política externa de Barack Obama, escreveu: “... os três grandes imperativos da geoestratégia imperial são evitar conluio e manter a dependência de segurança entre os vassalos (sic), manter os tributários flexíveis e protegidos e impedir que os bárbaros se unam. ”(Brzezinski, Op. Cit., p.40.). Para Brzezinski, os “bárbaros” mais preocupantes que ele procurou evitar que se unissem, foram as duas potências eurasiáticas, a China e a Rússia.

3 Stephen M. Speakes, Lt. Gen., 2008 ARMY MODERNIZATION STRATEGY, 25 July 2008, Department of the Army, Washington D.C., 7. https://apps.dtic.mil/dtic/tr/fulltext/u2/a494621.pdf (este PDF demora alguns minutos a abrir)

4 Ibid., 9.
5 Ibid., 5,6.
6 Brzezinski, Op. Cit.

7 See Chapter Seven: A Revolution in Military Affairs? Para uma lista completa dos protegidos de Marshall.

8 Ibid., Foreword.

9 Para uma descrição mais detalhada do documento de Kissinger de 1975, NSSM-200, see F. William Engdahl, Seeds of Destruction: The Hidden Agenda of Genetic Manipulation, pp.56-60.

10 Ibid., 6.

11 China Daily, “China offers package of aid measures for Africa,” November 4, 2006, in www.chinadaily.com.cn.

12 Ibid., 7.
13 During the 1840’s, the private British merchant company, the British East India Company, backed by the military power of the Royal Navy, launched a series of military operations to literally force opium addiction on the Chinese population as a part of a colonialization strategy that left the Chinese state bankrupt and morally devastated. By the 1880’s China had an estimated 40 million addicts. It was far the most lucrative business in the world for the select City of London and US merchants and banks. The scars of that humiliation according to discussions with numerous Chinese intellectuals still shape Chinese perceptions of Western morality.

13 Durante a década de 1840, a empresa mercantil britânica privada, a Companhia Britânica das Índias Orientais, apoiada pelo poder militar da Marinha Real, lançou uma série de operações militares para forçar literalmente o vício de ópio na população chinesa como parte de uma estratégia de colonialização, que deixou o Estado chinês falido e moralmente devastado. Na década de 1880, a China tinha cerca de 40 milhões de dependentes do ópio. Foi de longe o negócio mais lucrativo do mundo para a selecta cidade de Londres e para os comerciantes e bancos dos EUA. As cicatrizes desta humilhação, de acordo com discussões com numerosos intelectuais chineses, ainda moldam as percepções chinesas sobre a moralidade do Ocidente.

14 Thomas Lum, US-Funded Assistance Programs in China, Congressional Research Service, Washington, D.C., RS22663, May 18, 2007.

15 Ibid., CRS-3.
16 Ibid., CRS-3.

17 US Department of State, Under Secretary for Democracy and Global Affairs. http://www.state.gov/g/.

18 See Appendix A for details on the PNAC, which included as members Dick Cheney, Jeb Bush, Donald Rumsfeld and Paul Wolfowitz when PNAC issued a controversial September 2000 report, Rebuilding America’s Defenses, which among other items called for regime change against Saddam Hussein, one year prior to September 11, 2001, and for US missile defense.

Veja o Apêndice A para detalhes sobre o PNAC, que incluía como membros Dick Cheney, Jeb Bush, Donald Rumsfeld e Paul Wolfowitz quando o PNAC emitiu um relatório controverso, em Setembro de 2000, Reconstruindo as Defesas da América, que entre outros assuntos, exigia a mudança de regime contra Saddam Hussein, um ano antes de 11 de Setembro de 2001 e que pedia também a defesa antimíssil dos EUA.

19 Right Web, “Profile: Paula Dobriansky,” http://rightweb.irconline.org/profile/1120.html

20 Project for the New American Century, “Letter to President Bill Clinton,” January 26, 1998, http://web.archive.org/web/20070810113947/ www.newamericancentury.org/iraqclintonletter.htm 

21 Ibid.

22 Bureau of International Information Programs, U.S. Department of State: http://usinfo.state.gov. http://usinfo.org/wf-archive/2005/050510/epf204.htm
 
23 Timothy Garton Ash, “Cedar Revolution,” Guardian [UK], March 3, 2005 https://www.theguardian.com/politics/2005/mar/03/foreignpolicy.syria

24 Michael Barker, “The Project for a New American Humanitarianism,” Swans Commentary, August 25, 2008 (www.swans.com/library/art14/barkero4.html ).


25 Ibid.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com

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