ou
DOMÍNIO DA UNIVERSALIDADE
Usando
os Direitos Humanos como Armamento: De Darfur para Mianmar e para o Tibete
“Muito
do que fazemos hoje foi feito secretamente há 25 anos, pela CIA.”
- Allen Weinstein, que ajudou a criar o National Endowment
for Democracy (NED) .(1)
Mianmar:
A Revolução Açafrão
Na época da decisão dos EUA,
de forçar a mudança de regime no Iraque - uma decisão realmente tomada antes
dos ataques de 11 de Setembro de 2001 - a política dos EUA já estava a começar
a mudar para a China. No entanto, como observado anteriormente, ao contrário da
política dos EUA em relação a uma Rússia economicamente enfraquecida, mas ainda
militarmente formidável, a política dos EUA em relação à China procurava seguir
o que algumas pessoas designavam como “poder brando”. As principais armas da
pressão dos EUA sobre a China seriam afirmações sobre 'democracia' e 'direitos
humanos'. Parecia paradoxal. Mas não era.
Uma aplicação importante da
nova ofensiva de direitos humanos contra a China, em Washington, concentrou-se
em Mianmar, no Tibete e em Darfur e, no sul do Sudão, rico em petróleo.
Uma grande campanha de
desestabilização de “direitos humanos” mobilizada pelos EUA, para tentar apertar
o cerco ao redor da China começou em Setembro/Outubro de 2007, visando Mianmar,
antiga colónia britânica, a Birmânia. (O governo dos EUA ainda prefere
designá-la como Birmânia, apesar da rejeição oficial desse nome pelo governo de
Mianmar.) Nessa época, a CNN publicou imagens de monges budistas vestidos de túnicas de cor açafrão correndo pelas ruas da antiga capital de Mianmar, Rangoon (Yangon ) e
clamando por mais democracia. Nos bastidores, no entanto, foi uma batalha de uma
consequência geopolítica enorme.
A tragédia de
Mianmar/Birmânia, cuja área do território era do tamanho do rancho de George W.
Bush, no Texas, foi que a sua população estava a ser usada como cenário humano,
num drama que havia sido idealizado em Washington. O espectáculo que se
desenrolava na CNN, fora escrito e produzido pelos esforços combinados da
National Endowment for Democracy (NED), da Open Society Institute de George
Soros, da Freedom House e da Albert Einstein Institution de Gene Sharp. Essas
ONGs funcionavam como activos militares e estavam ligadas aos serviços secretos
dos EUA. Foram usadas para treinar circunstâncias de mudanças de regime “não
violentas” em todo o mundo, em nome da agenda estratégica dos EUA. Eram as
mesmas ONGs e organizações que tinham sido usadas nas Revoluções Coloridas à
volta da Rússia - na Geórgia, na Ucrânia e na Sérvia.
A “Revolução Açafrão” da
Birmânia, tal como a “Revolução Laranja” da Ucrânia ou a “Revolução Rosa” da
Geórgia, foi um exercício bem orquestrado na mudança de regime conduzida por
Washington. Reproduzia os métodos e truques das Revoluções Coloridas anteriores:
usando os protestos de “bater e fugir” por “enxames” de grupos de budistas
usando mantos de açafrão; criação de blogs na internet e links para mensagens
de texto móveis entre grupos de protesto; instalação de células de protesto bem
organizadas, que se dispersavam e se reorganizavam sob comando.
A CNN errou num dado momento,
durante uma transmissão, em Setembro de 2007, mencionando a presença activa da
NED a apoiar os protestos em Mianmar.(2) Na verdade, o Departamento de Estado
dos EUA admitiu apoiar as actividades da NED em Mianmar. A NED era uma entidade
“privada,” financiada pelo governo dos EUA, como observado anteriormente, cujas
actividades foram projectadas para apoiar os objectivos da política externa dos
EUA. A ideia era realizar o que a CIA havia feito durante a Guerra Fria, mas
sob a capa de uma ONG aparentemente inocente.
Em 30 de Outubro de 2003, o Departamento
de Estado emitiu um comunicado de imprensa formal afirmando:
A restauração da democracia na Birmânia é
uma prioridade da política dos EUA no Sudeste Asiático. Para alcançar esse objectivo,
os Estados Unidos têm apoiado, regularmente, activistas da democracia e os seus
esforços dentro e fora da Birmânia ... Os Estados Unidos também apoiam
organizações como o Fundo Nacional para a Democracia, o Instituto Open Society
e Internews, a trabalhar dentro e fora da região, numa ampla série de actividades
de promoção da democracia.(3)
Um objectivo prioritário da
política dos EUA no sudeste da Ásia? Tudo soava mui nobre e discreto da parte
do Departamento do Estado. No entanto, as suas “actividades de promoção da
democracia”, tinham uma agenda oculta sinistra. Eram destinadas, directamente,
à estabilidade regional de Pequim, incluindo a estabilidade energética.
Tal como nos Balcãs e na Ásia
Central, o Departamento do Estado dos EUA recrutou e treinou líderes da
oposição de numerosas organizações anti governamentais, em Mianmar. Tinha
disponibilizado a enorme quantia (para Mianmar) de mais de 2,5 milhões de
dólares anuais para as actividades da NED, promovendo a mudança de regime em
Mianmar desde, pelo menos, 2003. Esta operação de mudança de governo, efectuada pelos EUA, a “Revolução Açafrão”, foi administrada - de acordo com a admissão do
próprio Departamento de Estado – principalmente, pelo Consulado dos EUA, na
cidade vizinha de Chiang Mai, na Tailândia, onde o governo era mais amistoso em
relação à presença militar e aos serviços secretos dos EUA.(4)
O Departamento de Estado e a
NED financiaram meios de comunicação de oposição importantes, incluindo o New
Era Journal, o Irrawaddy e a rádio Democratic Voice of Burma.(5)
O solista - ou, mais correctamente
talvez, o teórico - da mudança não violenta de regime pelos monges vestidos de
açafrão foi Gene Sharp,
fundador da Instituição Albert Einstein em Cambridge, Massachusetts. A Albert
Einstein Institution, de Sharp, era, como observado anteriormente, financiada
por um braço da NED do Congresso dos EUA; o seu objectivo era promover a
mudança de regime favorável aos EUA, em pontos-chave em todo o mundo. (6)
O Instituto de Sharp estava a
agir na Birmânia desde 1989, logo após o regime ter massacrado cerca de 3000
manifestantes, para silenciar a oposição. Funcionário especial da CIA e antigo adido
militar dos EUA em Rangoon, o Coronel Robert Helvey, especialista em operações
clandestinas, apresentou Sharp à Birmânia, em 1989. Helvey queria que Sharp
treinasse a oposição birmanesa em tácticas não-violentas.
De acordo com a Instituição, o
livro de Sharp, From Dictatorship to
Democracy/Da Ditadura para a Democracia, foi “originalmente publicado em
1993, na Tailândia, para distribuição entre os dissidentes birmaneses. O livro From Dictatorship to Democracy, foi
então espalhado em várias partes do mundo. É uma introdução séria ao uso de acções
não violentas para derrubar as ditaduras ”. (7)
Na época da tentativa da Revolução Açafrão, em 2007, o Financial Times de Londres, descreveu o papel de
Gene Sharp nos eventos de Mianmar, que a Instituição de Sharp citou na íntegra,
no seu site. Segundo o The Financial
Times:
Nos últimos três anos, activistas da ‘comissão
de desafio político’ do movimento exilado, treinaram cerca de 3.000 colegas
birmaneses de todas as classes sociais - incluindo várias centenas de monges
budistas - em filosofias e estratégias de resistência não violenta e
organização comunitária. Estas ‘workshops’(cursos de curta duração), realizados
em áreas de fronteira e atraindo pessoas de toda a Birmânia, foram percebidas
como ‘treinando os treinadores’, que regressavam a casa e partilhavam essas ideias
com outros, que ansiavam por mudanças.
Esta preparação - juntamente com apoio
material de telemóveis/telefones celulares - ajudou a estabelecer as bases para
que monges budistas dissidentes, em Setembro,determinassem um boicote religioso
contra a junta militar, antecipando os maiores protestos anti governamentais, em
duas décadas. Durante 10 dias terríveis, monges e cidadãos leigos, enfurecidos
pelo agravamento do empobrecimento e da repressão generalizada, foram
despejados nas ruas em números que chegaram a cerca de 100 mil pessoas antes do
regime esmagar as manifestações, matando pelo menos 15 e prendendo milhares de
pessoas.
A inspiração para o treino foi o sr.
Sharp, cujo "From Dictatorship to Democracy" - um manual curto e
teórico de luta não violenta contra regimes repressivos - foi publicado em
birmanês, em 1994 e começou a circular entre exilados e, clandestinamente,
entre os dissidentes dentro do país. Alguns foram presos durante anos, só por
possuí-lo.(8)
O diário financeiro também
salientou que:
Gene Sharp, educado em Oxford e teórico de
Harvard sobre a resistência pacífica à repressão, instou os rebeldes a adoptarem
meios não-violentos para combater a junta militar. O seu assistente, o Coronel
aposentado Robert Helvey, um adido militar americano em Rangoon nos anos 80,
explicou como usar o planeamento de estilo militar e criar estratégias para a
oposição pacífica.(9)
Curiosamente, Sharp também
esteve na China poucos dias antes dos acontecimentos dramáticos na Praça
Tiananmen, em Junho de 1989. Alguém perguntou: Foi apenas uma coincidência? (10)
A questão relevante era: Por
que é que o governo dos EUA tinha um interesse tão grande em fomentar a mudança
de regime em Mianmar, em 2007? Obviamente, tinha pouco a ver com a democracia, com
a justiça ou com os direitos humanos da população que estava a ser oprimida nesse país.
O Iraque e o Afeganistão eram testemunhas suficientes do facto de que o hino de
Washington à ‘democracia’ era cobertura de propaganda para outra agenda.
A questão era: O que motivaria
esse envolvimento num lugar tão remoto como Mianmar?
Incontestavelmente, a resposta
era - o controlo geopolítico; em última análise, o controlo das rotas marítimas estratégicas do Golfo Pérsico até ao Mar do Sul da China. O litoral de Mianmar fornecia
transporte e acesso naval a uma das vias marítimas mais estratégicas do mundo, o
Estreito de Malaca, a passagem estreita entre a Malásia e a Indonésia.
O Pentágono tentava militarizar
esta região desde 11 de Setembro de 2001, sob o pretexto de se defender de um
possível 'ataque terrorista'. Como não se concretizou, eles mudaram para
alegada 'defesa contra piratas'. Os EUA trataram de conseguir uma base aérea em
Banda Aceh, a Base da Força Aérea Sultan Iskandar Muda, na extremidade norte da
Indonésia. No entanto, os governos da região, incluindo Mianmar, recusaram
veementemente os esforços dos EUA para militarizar a região. Um relance a um
mapa confirmava a importância estratégica de Mianmar.
O Estreito de Malaca, ligando
os oceanos Índico e Pacífico, era a rota marítima mais curta entre o Golfo
Pérsico e a China. Era o principal
ponto de estrangulamento na Ásia.
Mais de 80% de todas as importações
de petróleo da China eram enviadas por navios-tanque passando pelo Estreito de
Malaca. O ponto mais estreito era o Canal Phillips, no Estreito de Singapura,
com apenas 1,5 milhas de largura. Os super tanques
transportavam mais de 12 milhões de barris de petróleo por dia através dessa passagem estreita, a maioria a caminho do mercado de energia que mais cresce no
mundo: a China.
Se o Estreito de Malaca fosse
fechado, quase metade da frota de navios-tanque do mundo seria obrigada a
navegar milhares de quilómetros mais longe. Fechar o Estreito, faria subir,
imediatamente, os custos de frete em todo o mundo. Mais de 50.000 navios por
ano transitavam pelo Estreito de Malaca.
Quem controlasse as vias marítimas nesse
ponto estratégico - a região desde Mianmar até Banda Aceh, na Indonésia -
controlaria o fornecimento de energia da China e, portanto,a sua linha de vital
de comunicação.
Logo que se tornou evidente para
a China, que os EUA estavam a desenvolver uma militarização unilateral dos
campos petrolíferos do Médio Oriente, a partir de 2003, Pequim validou bastante
o seu envolvimento em Mianmar. A energia chinesa e a protecção militar, e não
as preocupações com os direitos humanos, impulsionaram a sua política.
Pequim utilizou biliões de
dólares em assistência militar em Mianmar, incluindo aviões de combate e
transporte, tanques e veículos blindados, navios de guerra e mísseis terra-ar.
A China construiu caminhos de ferro e estradas e obteve permissão
para posicionar as suas tropas em Mianmar. A China, de acordo com fontes da
defesa indiana, também construiu uma grande instalação de vigilância electrónica
nas Ilhas Coco, em Myanmar, e construiu bases navais para aceder ao Oceano
Índico.
Mianmar era parte integrante
do que alguns no Pentágono designavam como o “colar de pérolas” da China, o seu
projecto estratégico de estabelecer bases militares em Mianmar, na Tailândia e
no Camboja para suster o controlo dos Estados Unidos sobre o ponto de
estrangulamento do estreito de Malaca. Havia também energia no território e no
mar de Myanmar e em grande quantidade.
O petróleo e o gás tinham sido
produzidos em Mianmar desde que os britânicos fundaram a Rangoon Oil Company em
1871, mais tarde designada como Burmah Oil Co. O país produzia gás natural desde a
década de 1970 e na década de 1990 concedeu concessões de gás à Elf Total da
França e à Premier Oil, do Reino Unido, no Golfo de Martaban. Mais tarde, a
Texaco e a Unocal (agora Chevron)também obtiveram concessões em Yadana e
Yetagun. Só Yadana tinha uma reserva de gás estimada em mais de 5 triliões de
pés cúbicos com uma duração de vida esperada de, pelo menos, 30 anos. O Yetagun
foi estimado em cerca de um terço do gás do campo de Yadana. Em 2004, foi
descoberto um novo campo enorme de gás, o campo Shwe, na costa de Arakan.
Em 2002, tanto a Texaco como a
Premier Oil retiraram-se do projecto Yetagun devido à pressão do governo do
Reino Unido e das ONGs. A Petronas da Malásia comprou 27% da participação da
Premier. Em 2004, Mianmar estava a exportar o gás de Yadana, através de um
oleoducto para a Tailândia, avaliado anualmente em 1 bilião de dólares para o
regime de Mianmar.
Em 2005, a China, a Tailândia
e a Coreia do Sul investiram na expansão do sector do petróleo e do gás de
Mianmar, com a exportação de gás para a Tailândia a aumentar 50%. A exportação
de gás em 2007 era a fonte de receita mais importante de Mianmar. Yadana foi
desenvolvida em conjunto por Elf Total, Unocal, PTT-EP da Tailândia e pela empresa
estatal de Mianmar MOGE, dirigida pela Elf Total francesa. A Yadana fornecia
cerca de 20% das necessidades de gás natural da Tailândia.
O campo de Yetagun era
dirigido pela Petronas da Malásia juntamente com a MOGE e a japonesa Nippon Oil
e a PTT-EP. O gás era canalizado para terra, onde estava ligado ao gasoducto
Yadana. O gás do campo de Shwe entraria em funcionamento a partir de 2009. A
China e a Índia estavam em forte disputa sobre as reservas de campo de gás de
Shwe.
A Índia Perdeu, a China Ganhou
No verão de 2007, pouco antes
de Washington lançar a sua ‘Revolução Açafrão,’ Mianmar tinha assinado um
Memorando de Entendimento com a PetroChina para fornecer grandes volumes de gás
natural das reservas do campo de gás de Shwe, na Baía de Bengala. O contrato
tinha uma duração de 30 anos. A Índia, que se tornou parceira de cooperação
militar de Washington, foi a principal perdedora.
Mianmar já tinha dado à Índia
uma participação importante em dois blocos offshore para desenvolver gás que
teria sido transmitido via oleoducto, através de Bangladesh, para a economia
indiana, esfomeada de energia. No entanto, as disputas políticas entre a Índia
e Bangladesh levaram os planos indianos a um impasse.
Pequim aproveitou o impasse. A
China superou habilmente a Índia com uma oferta para investir biliões na
construção de um oleoducto estratégico entre a China e Mianmar, passando pelo
porto de Sittwe, na Baía de Bengala, até Kunming, na província chinesa de
Yunnan - um trecho de mais de 2.300 quilómetros. A China também planeou uma
refinaria de petróleo em Kunming.
Os oleoductos Mianmar-China
permitiriam que o petróleo e o gás fossem transportados da África (Sudão e
outras fontes) e do Médio Oriente (especialmente Irão e Arábia Saudita) sem necessidade de atravessar o vulnerável ponto
de estrangulamento do Estreito de Malaca. Mianmar tornar-se-ia a ‘ponte’ da
China, ligando Bangladesh e os países a ocidente da China continental, independentes
de possíveis movimentos futuros de Washington para controlar o Estreito. Essa
ponte seria um desastre geopolítico para os EUA que Washington estava
determinado a impedir por todos os meios.
A ‘Revolução Açafrão’, de
2007, foi essa tentativa. No entanto, não alcançou o seu objectivo. Em Maio de
2008, foi feita outra tentativa para desestabilizar o regime em Mianmar, quando
o devastador ciclone Nargis atingiu o país, causando milhares de mortos à sua
passagem. A Administração Bush ameaçou enviar tropas militares sob o pretexto
de fornecer socorro internacional ao país, usando o argumento humanitário para
maximizar a pressão sobre o regime, num momento de crise genuína.
Em Julho de 2008, o Presidente
Bush renovou o seu pedido para que o regime de Mianmar libertasse a líder da
oposição Aung San Suu Kyi da
prisão domiciliar. Bush declarou à imprensa: “Estou profundamente preocupado
com esse país” .(11) No entanto, a sua sinceridade foi posta em dúvida, porque
o mundo analisava o seu histórico no Iraque e o seu apoio à tortura de prisioneiros
em Guantánamo e noutros lugares, apesar das críticas mundiais e do Direito
Internacional que a proíbe.
Porém, a manobra humanitária
foi uma clara tentativa de Washington de usar o veículo dos ‘direitos humanos’
como arma de mudança de regime em Mianmar e uma extensão do que só poderia ser
chamado de imperialismo americano.
A
Perigosa Mudança de Aliança da Índia
Não era de admirar que a China
estivesse a tomar precauções. Desde que a Administração Bush decidiu, em 2005,
recrutar a Índia para o Novo Quadro do Pentágono sobre as Relações de Defesa
EUA-Índia, a Índia foi empurrada para uma aliança estratégica com Washington,
explicitamente para conter a influência crescente da China na Ásia.
O Secretário da Defesa, Donald
Rumsfeld, havia encomendado um estudo de Andrew Marshall, ao Office of Net
Assessments, do Pentágono. O relatório intitulava-se “As Relações Militares
Índia-EUA: Expectativas e Percepções”. Foi lançado em Outubro de 2002.
Aproximadamente quarenta funcionários seniores dos EUA e cerca do mesmo número
de funcionários indianos em serviço e aposentados, foram entrevistados para esse
estudo. Entre as observações do relatório estava a de que as forças armadas
indianas poderiam ser usadas “para operações de baixo custo na Ásia, como
operações de manutenção da paz, operações de busca e salvamento…”. O estudo
concluía:
Queremos
um amigo em 2020 que seja capaz de ajudar os militares dos EUA a lidar com uma
ameaça chinesa. Não podemos negar que a Índia criará uma força contrária à
China.(12)
Em Outubro de 2002, o
relatório do Pentágono afirmava ainda que a razão para a aliança de defesa
Índia-EUA seria ter um “parceiro capaz, que pudesse assumir mais
responsabilidade pelas operações de baixo custo” na Ásia, ou seja, operações de
baixo custo direccionadas à China e “em última análise, fornecer base e acesso
para a projecção do poder dos EUA”, também apontado à China. Washington estava a negociar,
discretamente, uma base em território indiano como parte do novo acordo, uma
grave violação do estatuto tradicional não alinhado da Índia.
O relatório do Pentágono
repetiu o documento da Estratégia da Segurança Nacional, da Administração Bush, de Setembro de 2002, declarando que os
EUA não permitiriam que qualquer outro país igualasse ou superasse a sua força
militar. Anunciou que os EUA usariam o seu poder militar para dissuadir
qualquer potencial aspirante. A revisão estratégica apontou a China como a
potência com capacidade de poder ameaçar a hegemonia dos EUA na região.
No que dizia respeito à Índia,
o relatório afirmava:
Os Estados Unidos efectuaram uma
transformação no seu relacionamento bilateral com a Índia, baseados na
convicção de que os interesses dos EUA exigem um forte relacionamento com a
Índia. Somos as duas maiores democracias, comprometidas com a liberdade
política protegida por governos representativos. A Índia também está a caminhar
para uma liberdade económica mais ampla.(13)
Para suavizar os laços
militares, o governo Bush ofereceu à Índia o fim das suas sanções nucleares de
30 anos e a venda de tecnologia nuclear avançada dos EUA, legitimando a
violação aberta da Índia ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear, ao mesmo tempo
que Washington acusava o Irão de violar esse mesmo Tratado - um exercício de
hipocrisia política, para dizer o mínimo.
Incrivelmente, logo que os
monges de Mianmar, vestidos com túnicas de cor açafrão saíram às ruas, o
Pentágono iniciou exercícios navais conjuntos, entre os EUA e a Índia, o
Malabar 07, juntamente com as forças armadas da Austrália, do Japão e de Singapura.
Os EUA mostraram o poder da sua 7ª
Frota, instalando os porta-aviões USS
Nimitz e USS Kitty Hawk, os
cruzadores de mísseis guiados USS Cowpens
e USS Princeton, e nada menos que
cinco destróieres com mísseis guiados.(14)
O perigo da mudança de regime
apoiada pelos EUA em Mianmar, juntamente com a crescente projecção do poder
militar de Washington na Índia e noutros aliados na região, era claramente um
factor na política de Pequim em relação à junta militar de Mianmar.
Dentro da própria Índia houve
uma profunda divisão entre os líderes do país e no Parlamento, sobre a nova
aliança estratégica com Washington. A cisão foi tão grande que, em Janeiro de
2008, o Primeiro Ministro da Índia, Manmohan Singh, fez a sua primeira visita
oficial à China, onde declarou:
“Deixei claro para a liderança chinesa que a
Índia não faz parte de nenhum designado ‘esforço de contenção da China’. (15)
Não era claro, se ele estava a ser sincero. O que ficou claro, é que o seu
governo estava a sentir-se pressionado quer por Washington, quer por Pequim.
Como era frequentemente o
caso, de Darfur a Caracas e a Rangoon, o apelo de Washington a favor da ‘democracia’
e dos ‘direitos humanos’ tinha que ser tomado com, pelo menos, um grande grão
de sal (tinha de ser aceite, mantendo cepticismo sobre a verdade desse facto). Na maioria
das vezes, o gosto era mais do que amargo; era desagradável.
Foi esse o caso das operações
de ‘democracia’ e dos ‘direitos humanos’ de Washington em Darfur, no sul do Sudão,
uma região de importância estratégica fundamental para o fornecimento de
petróleo à China.
Sudão:
O Significado de Darfur
Uma coisa curiosa, foi o momento certo da campanha de direitos humanos, na província de Darfur, no sul do Sudão, perto da fronteira com o Chade, que o Secretário de Estado, Colin Powell, denominou como ‘genocídio’. A enorme campanha de ‘direitos humanos,’ apoiada por Hollywood começou logo depois do governo sudanês, em Cartum, anunciar que tinham descobertas enormes reservas de petróleo em potencial naquela região. As companhias petrolíferas chinesas estavam envolvidas na descoberta.
Antes dessa descoberta do petróleo, os Estados Unidos estavam a armar e a treinar rebeldes contra Cartum, no sul do Sudão, incluindo o falecido John Garang, treinado na conhecida Escola das Américas, em Fort Benning, na Geórgia.(16) Foi nessa região onde, em 1999, a companhia petrolífera estatal chinesa começou a construir uma grande conduta para levar o petróleo para um novo porto, em Port Sudan. De Port Sudan era embarcado para alimentar o crescimento económico da China.
Nem a descoberta de enormes reservas de petróleo em Darfur, nem o facto de que Cartum havia concedido amplos direitos de exploração à companhia estatal de petróleo da China, foram mencionados em declarações do governo dos EUA ou na comunicação mediática americana. Nem Washington mencionou que, secretamente, tinha fornecido armas a Idriss Deby, o ditador do vizinho Chade, e que encorajava Deby a lançar ataques militares, em Darfur.
Depois Washington responsabilizou Deby pelos ataque em Cartum, declarando que faziam parte de um ‘genocídio’ sistemático do Sudão contra os povos cristãos de Darfur. Como será demonstrado, a alegação de genocídio foi uma grande charada orquestrada, outro exercício de uma nova ofensiva americana de ‘direitos humanos’, tão brutal, violenta e impulsionada pelo petróleo, como a Operação Choque e Terror, no Iraque. (17)
A concentração da atenção dos EUA em Darfur, uma parte proibida ressequida pelo sol, no sul do Sudão, exemplifica a nova Guerra Fria do Pentágono, pela qual a China, devido à extrema necessidade de petróleo para alimentar o seu crescimento, levou Pequim a embarcar numa política agressiva - ironicamente – da diplomacia do dólar.
Com mais de 1,8 trilião de dólares, principalmente em reservas de dólares dos EUA no Banco Nacional Popular da China, a partir de excedentes comerciais de exportação, Pequim estava activamente empenhada na geopolítica do petróleo. A África foi um dos principais alvos da sua procura de petróleo. Em África, a região central entre o Sudão e o Chade era uma prioridade para os EUA, porque era uma região de vastos reservatórios inexplorados de petróleo.
Em 2007, a China estava a extrair de África, cerca de 30% da suas importações de petróleo bruto - era claramente o motivo para a extraordinária série de iniciativas diplomáticas da China, que deixaram Washington furioso.
A Diplomacia Económica Eficiente de Pequim
O governo de Pequim começou a usar créditos em dólares para obter acesso à vasta riqueza de matérias primas de África, deixando o jogo típico de controlo de Washington, por meio do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) fora de questão. Quem precisava do doloroso remédio do FMI, quando a China dava condições fáceis e construía estradas e escolas?
Em Novembro de 2007, quando Pequim recebeu a sua cimeira extraordinária, a China, literalmente, lançou a passadeira vermelha a 43 chefes de Estado africanos. Entre eles, estavam incluídos os dirigentes da Argélia, da Nigéria, do Mali, de Angola, da República Centro-Africana, da Zâmbia e da África do Sul.
A China tinha acabado de concluir um acordo de petróleo que a ligava à Nigéria e à África do Sul, duas das maiores nações do continente. A Corporação Nacional de Petróleo Offshore da China (CNOOC) iria extrair petróleo da Nigéria através de um consórcio, que também incluía a South African Petroleum Co, dando acesso à China, a cerca de 175.000 barris por dia, em 2008. Foi um acordo de 2,27 biliões de dólares, que deu à CNOOC, controlada pelo Estado, 45 % de participação de um grande campo de petróleo off-shore, na Nigéria.
Anteriormente, Washington considerava a Nigéria como sendo um activo das grandes empresas petrolíferas anglo-americanas, ExxonMobil, Shell e Chevron.
A China foi muito generosa a dispensar ajuda a alguns dos Estados devedores mais pobres de África; fê-lo através de empréstimos em condições favoráveis sem juros, ou como concessões definitivas. Os empréstimos foram para infraestruturas, que incluíam rodovias, hospitais e escolas - em contraste com as exigências brutais de austeridade do FMI e do Banco Mundial. Em 2006, a China destinou mais de 8 biliões de dólares para a Nigéria, Angola e Moçambique. Entretanto,o Gana estava a negociar um empréstimo chinês de electrificação no montante de 1,2 biliões de dólares.
Em contraste, o Banco Mundial emprestou apenas 2,3 biliões de dólares para toda a África subsariana. Ao contrário do Banco Mundial, que é, de facto,um braço da política económica externa dos EUA, a China, sabiamente, não impôs nenhuma garantia aos seus empréstimos.
A diplomacia chinesa relacionada ao petróleo em África, conduziu à acusação bizarra de Washington, de que Pequim estava a tentar “garantir o petróleo nas fontes”, (18) algo com que a política externa de Washington estava preocupada há, pelo menos, um século. Nenhuma fonte de petróleo foi mais o centro da atenção do conflito petrolífero China-EUA do que o Sudão, devidos às vastas reservas de Darfur.
A Riqueza de Petróleo do Sudão
A Companhia Nacional de Petróleo da China (CNPC) tornou-se o maior investidor estrangeiro no Sudão, com cerca de 5 biliões de dólares em desenvolvimento de campos de petróleo. Desde 1999, a China investiu pelo menos 15 biliões de dólares no Sudão. É co-proprietária com o governo sudanês, de 50% de uma refinaria de petróleo perto de Cartum. Os campos de petróleo estavam concentrados no sul, local de uma longa guerra civil - uma guerra civil secretamente financiada, em parte, pelos Estados Unidos, para dividir o sul do Sudão, rico em petróleo, do norte islâmico de Cartum.
A CNPC construiu um oleoducto desde o sul do Sudão para um novo terminal em Port Sudan, no Mar Vermelho, onde o petróleo era carregado em petroleiros com destino à China. Em 2006, o Sudão tornou-se na quarta maior fonte de petróleo estrangeiro da China; em 2007, 8% do petróleo da China provinha do sul do Sudão. A China comprava de 65 a 80% da produção de 500.000 barris/dia, do Sudão.
Em 2006, a China superou o Japão como segundo maior importador mundial de petróleo, depois dos Estados Unidos, importando 6,5 milhões de barris por dia de ouro negro. Com a procura do petróleo a crescer cerca de 30% ao ano, a China ultrapassaria claramente, em poucos anos, os EUA na procura de importação de petróleo. Essa realidade foi a força motriz por trás da política externa de Pequim em África, bem como a estratégia de combate do Pentágono através do AFRICOM, e a campanha de ‘genocídio’ do Departamento de Estado, no Darfur.
O Jogo do Genocídeo de Darfur
A CNPC da China detinha os direitos do "Bloco 6", que ocupava a região sudanesa de Darfur, perto da fronteira com o Chade e a República Centro-Africana. Em Abril de 2005, quando o Sudão anunciou que havia encontrado petróleo no sul de Darfur, estimou-se que seria capaz de bombear 500 mil barris por dia quando desenvolvido. A imprensa mundial esqueceu-se de relatar esse fato vital ao discutir o conflito de Darfur que se desenvolveu posteriormente.
O genocídio era o tema preferido e Washington era o maestro da orquestra. Curiosamente, enquanto todos os observadores neutros reconheceram que Darfur tinha visto um deslocamento e miséria humana, enorme e trágico, com dezenas de milhares ou até mesmo 300.000 mortes nos últimos anos, somente Washington e as ONGs próximas usaram a carga emocional do termo ‘genocídio’ para descrever a situação no Darfur. (19)
Se os EUA conseguissem a aceitação popular da acusação de genocídio, ela abriria a possibilidade de usá-la como pretexto para intervenção drástica de mudança de regime pela NATO - isto é, Washington - nos assuntos soberanos do Sudão e, claro, e nas suas relações de petróleo com a China.
O Ministro da Informação do Sudão, Abdel Basit Sabdarat, disse ao Los Angeles Times em 2005, que os EUA pressionaram Cartum para limitar as suas ligações com as companhias petrolíferas chinesas. “Mas recusamos tais pressões”, disse ele. “A nossa parceria com a China é estratégica. Não podemos simplesmente dissolvê-la porque os americanos nos pediram que o fizessemos”. (20)
Ao fracassar na sua tentativa de pressionar o Sudão para romper os laços com a China, Washington virou directamente os direitos humanos e outras armas contra Cartum. Lançaram uma campanha impressionante para ‘salvar Darfur’. O tema do genocídio estava a ser usado, com o apoio de estrelas de Hollywood como George Clooney, para orquestrar o caso para uma ocupação, de facto, da NATO na região. Sem surpresa, o governo sudanês recusou educadamente aceitar o ataque à sua soberania.
O governo dos EUA usou repetidamente o termo ‘genocídio’ em referência a Darfur. Foi o único governo a fazê-lo. A Secretária de Estado Adjunta dos EUA, Ellen Sauerbrey, Chefe do Departamento da População, dos Refugiados e da Migração, disse, durante uma entrevista online ao USINFO, em Novembro de 2006: “O actual genocídio em Darfur, no Sudão - uma violação grosseira dos direitos humanos - está entre as principais questões internacionais de interesse para os EUA”.(21) A Administração Bush insistia que o genocídio estava a acontecer em Darfur, desde 2003, apesar do facto de que uma missão da ONU, de cinco pessoas liderada pelo juiz italiano Antonio Cassese, relatar em 2004 que, embora estivessem a ser cometidos ‘graves abusos dos direitos humanos’, o genocídio não tinha sido consumado em Darfur. Portanto, requereu julgamentos de crimes de guerra.(22)
Comerciantes da Morte
Os Estados Unidos, actuando através dos seus representantes no Chade, Eritreia e Estados vizinhos, treinaram e armaram o Exército de Libertação do Povo do Sudão (SPLA). Um indivíduo, chamado John Garang, formado na Escola de Forças Especiais das Américas dos EUA, em Fort Benning, na Geórgia, dirigiu o SPLA até à sua morte, em Julho de 2005.(23)
Ao espalhar armas, primeiro no sudeste do Sudão e depois, desde a descoberta do petróleo em Darfur, naquela região, Washington alimentou os conflitos que levaram dezenas de milhares de pessoas à morte e vários milhões de pessoas que foram expulsas das suas casas. A Eritreia, um Estado cliente de facto dos EUA, recebeu e apoiou o SPLA, o grupo de oposição NDA, e tanto os rebeldes da Frente Oriental como os de Darfur.
Na região de Darfur, no Sudão, dois grupos rebeldes - o Movimento Justiça e Igualdade (JEM) e o Exército de Libertação do Sudão (SLA) estavam a lutar contra o governo de Cartum, do Presidente Omar al-Bashir.
Em Fevereiro de 2003, o SLA, supostamente com armas encobertas por intermédio de procuradores do Pentágono, lançou ataques a posições do governo sudanês na região de Darfur.(24) O Secretário Geral do SLA, Minni Arkou Minnawi, pediu a luta armada, acusando o governo de ignorar Darfur. O objectivo do SLA era criar um Sudão democrático unido.(25) Por outras palavras, mudança de regime em Cartum.
O Senado dos EUA adoptou uma resolução, em Fevereiro de 2006, que solicitava tropas da NATO em Darfur, bem como uma força de paz da ONU mais forte, com um mandato robusto. Um mês depois, o Presidente George W. Bush pedia forças adicionais da NATO, em Darfur.
Genocídeo, Ou Petróleo?
Entretanto, o Pentágono estava ocupado a treinar oficiais militares africanos nos Estados Unidos, assim como treinou oficiais latino-americanos e os seus esquadrões da morte, durante décadas. O seu programa de Educação e Formação Militar Internacional recrutou oficiais militares do Chade, Etiópia, Eritreia, Camarões e da República Centro-Africana.
Muitas das armas que alimentaram a matança, em Darfur e no sul, foram trazidas através de 'mercadores da morte' privados como Victor Bout, um conhecido antigo agente da KGB que, após o colapso da União Soviética, encontrou protecção e um novo lar nos Estados Unidos. Bout tinha sido acusado repetidamente de vender armas em toda a África. As autoridades do governo dos EUA, significativamente, deixaram as suas operações de venda de armas no Texas e na Florida intactas, apesar do facto de ele estar na lista dos procurados pela Interpol, por lavagem de dinheiro.
A ajuda americana ao desenvolvimento África da Subsariana, incluindo o Chade, foi diminuída drasticamente nos últimos anos, enquanto aumentou a ajuda militar. A razão era, obviamente, o petróleo e a disputa por matérias primas estratégicas. Descobriu-se que as enormes reservas de petróleo do sul do Sudão, desde o Alto Nilo à fronteira do Chade, eram conhecidas dos executivos americanos do sector petrolífero muito antes de serem conhecidas pelo governo sudanês.
O Projecto para o Sudão de 1974, da Chevron
As grandes petrolíferas americanas conheciam a vasta riqueza petrolífera do Sudão, pelo menos, desde o início dos anos 70. Em 1979, Jafaar Nimeiry, o então chefe de Estado do Sudão, rompeu relações com os soviéticos e convidou a Chevron para desenvolver a indústria petrolífera do Sudão. O Embaixador da ONU, George H. Bush, falou pessoalmente a Nimeiry sobre fotos de satélite, que indicavam petróleo no Sudão. Nimeiry mordeu a isca e convidou a Chevron. Provou-se que esta iniciativa foi um erro fatal. Desde então, as guerras sobre o petróleo do Sudão foram a consequência.
A Chevron gastou 1,2 biliões de dólares a explorar e a testar no sul do Sudão e, em 1979, encontrou grandes reservas de petróleo em Abu Jabra. Esse petróleo desencadeou o que foi designado como a segunda guerra civil do Sudão, em 1983. A Chevron foi alvo de repetidos ataques e assassinatos e suspendeu o projecto em 1984. Em 1992, a Chevron vendeu as suas concessões petrolíferas sudanesas. Então, sete anos depois, em 1999, a China começou a desenvolver os campos abandonados da Chevron, com resultados notáveis
.
Mas a Chevron não estava longe do Darfur, mesmo em 2007.
O Petróleo do Chade e a Política das Condutas
A antiga companhia petrolífera de Condoleezza Rice, a Chevron, mudou-se para o vizinho Chade, do outro lado da fronteira com a região de Darfur, no Sudão. No início de 2007, juntamente com a ExxonMobil, a Chevron concluiu um oleoducto de 3,7 biliões de dólares que transportaria 160.000 barris por dia de Doba, no centro do Chade, perto de Darfur, através dos Camarões, até Kribi, no Oceano Atlântico. O petróleo era destinado às refinarias dos EUA.
Para concretizar o oleoducto, os gigantes do petróleo dos EUA trabalharam com o ‘Presidente vitalício’ do Chade, Idriss Deby, um déspota corrupto que tinha sido acusado de facultar armas fornecidas pelos EUA aos rebeldes do Darfur. Deby aderiu à Iniciativa Pan Sahel de Washington, dirigida pelo US-European Command do Pentágono, para treinar as suas tropas para combater o ‘terrorismo islâmico’. A Iniciativa Pan Sahel, precursora do comando AFRICOM, usou as Forças Especiais do Exército dos EUA para treinar unidades militares do Mali. Mauritânia, Níger e Chade.
Fornecido com ajuda militar dos EUA, em treino e armas e usando os seus Guardas Presidenciais de elite recrutados de Darfur, Deby lançou o ataque inicial, em 2004, que desencadeou o grande conflito em Darfur. As fronteiras entre o Chade e o Darfur são praticamente inexistentes. Deby forneceu às tropas de elite veículos todo-terreno, armamento e armas antiaéreas para ajudar os rebeldes de Darfur, que combatiam o governo de Cartum, no sudoeste do Sudão.
Assim, o apoio militar dos EUA a Deby foi a alavanca do banho de sangue em Darfur. Cartum retaliou e o desastre que se seguiu foi desencadeado com uma força total e devastadora.(26)
Então Washington e as suas ONGs entraram em plena acção, acusando Cartum de genocídio, como pretexto para trazer tropas da ONU e da NATO para os campos de petróleo de Darfur e do sul do Sudão. O petróleo e não a miséria humana, estava por trás do novo interesse de Washington em Darfur.
A campanha do ‘genocídio de Darfur’ começou, significativamente, na mesma altura em que o oleoducto Chad-Camarões da Chevron começou a fluir. Os EUA tinham, agora, uma base militar no Chade para ir atrás do petróleo de Darfur e, potencialmente, para se apoderarem das novas fontes de petróleo da China, se as tropas de manutenção da paz da NATO pudessem ser introduzidas.’
Os objectivos militares dos EUA em Darfur - e o Corno de África mais amplamente - estavam a ser servidos pelos EUA e pela NATO, para apoiar as tropas da União Africana (UA) em Darfur, a organização sucessora da Organização da Unidade Africana que incluía mais de 50 Estados africanos como membros . A NATO forneceu o apoio terrestre e aéreo às tropas da UA que foram categorizadas como ‘neutras’ e ‘forças de paz’.
No início de 2008, o Sudão estava em guerra em três frentes - contra o Uganda, contra o Chade e contra a Etiópia. Cada um desses países tinha uma significativa presença militar dos EUA, e programas militares dos EUA em andamento. A guerra no Sudão envolveu operações secretas dos EUA e facções ‘rebeldes’ treinadas pelos EUA vindas do sul do Sudão, do Chade, da Etiópia e do Uganda.
Em Maio de 2008, mercenários apoiados pelo Chade, comandados por Khalil Ibrahim, Chefe do Movimento de Justiça e Igualdade (JEM), conseguiram lançar um ataque ousado directamente na capital sudanesa, Cartum, antes de serem repelidos. O governo sudanês acusou o Chade de estar por trás da provocação.
The London Times confirmou as ligações directas entre o Chade de Deby e o JEM:
O Chade e o Sudão acusam-se, um ao outro, de apoiar movimentos rebeldes rivais para desestabilizar os seus regimes. Embora os combatentes do JEM neguem o apoio do Chade, as suas ligações com o presidente Déby - que é da mesma tribo Zaghawa como o líder do JEM - são bem conhecidas. Em Fevereiro, as forças do JEM viajaram de Darfur para o Chade para proteger o Sr. Déby dos rebeldes que chegavam à capital, Ndjamena. Rebeldes do Chade são vistos, habitualmente, no lado sudanês da fronteira, a comprar suprimentos na capital do oeste de Darfur, El Geneina. No mês passado, o The Times viu rebeldes do Chade a falar em francês - uma revelação inadvertida em Darfur - e dirigindo livremente pelo mercado da cidade as suas carrinhas de caixa aberta.(27)
Deby Também olha para a China
O oleoducto financiado pelos EUA e pelo Banco Mundial, do Chade até à costa dos Camarões, fazia parte de um esquema muito mais grandioso de Washington para controlar as riquezas petrolíferas da África Central, do Sudão ao Golfo da Guiné. Dizia-se que o cinturão geológico tinha reservas de petróleo numa escala que rivalizaria com a região rica de petróleo, do Golfo Pérsico.
Mas o antigo amigo de Washington, Deby, do Chade, a certa altura começou a sentir-se insatisfeito com a sua pequena parcela de lucros do petróleo controlado pelos Estados Unidos. Quando ele e o seu parlamento decidiram, no início de 2006, obter mais das receitas do petróleo para financiar operações militares e reforçar o seu exército, o novo Presidente do Banco Mundial - e arquitecto da guerra no Iraque - Paul Wolfowitz, suspendeu os empréstimos ao Chade.
Em Agosto de 2006, depois de Deby ter ganho a reeleição, criou a própria companhia de petróleo do Chade, a SHT, e ameaçou expulsar a Chevron e também a Petronas da Malásia, por não pagarem os impostos exigidos. Ele exigiu uma participação de 60% do oleoducto do Chade. Finalmente, chegou a um acordo com as empresas de petróleo, mas já estavam a soprar os ventos de mudança.
Deby também enfrentava uma oposição interna crescente de um grupo rebelde do Chade, o United Front for Change, conhecido pelo seu nome em francês como FUC, que ele alegava estar a ser financiado, secretamente, pelo Sudão. O FUC instalou-se em Darfur.
Nesta situação instável, Pequim apareceu no Chade com baldes de dinheiro de ajuda, na mão. Anteriormente, em Janeiro de 2006, o Presidente chinês, Hu Jintao, tinha feito uma visita de Estado ao Sudão e aos Camarões, além de outros Estados africanos. Durante esse ano, de facto, os líderes da China visitaram não menos de 48 Estados africanos. Tal atenção a África de um Chefe de Estado não africano, não tinha precedentes.
Em Agosto de 2006, Pequim recebeu o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Chade para conversações e para retomar os laços diplomáticos formais que tinham sido cortados, em 1997. A China começou a importar petróleo do Chade, bem como do Sudão.
Tendo em mente que Washington considerava Deby ‘um dos deles’, esse acontecimento não foi bem recebido em Washington.
Em Abril de 2007, o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Chade, Allawi, anunciou em Pequim que as negociações sobre o aumento da participação da China no desenvolvimento do petróleo do Chade estavam a “progredir bem”. Referindo-se aos termos da China para o desenvolvimento do petróleo, ele disse:
Os chineses são abertos; eles fazem parcerias em que todos ganham. Como dizem, não se trata de monopólios. São parcerias muito mais equivalentes do que aquelas a que estamos acostumados a ter.(29)
Ironicamente, a presença económica chinesa no Chade, foi mais eficiente a acalmar os combates e a reduzir o deslocação da população em Darfur do que qualquer presença das tropas da União Africana ou da ONU, jamais poderiam conseguir. Isto não era bem-vindo para algumas pessoas em Washington e na sede da Chevron, pois significava que as empresas de petróleo dos EUA não conseguiriam garantir o petróleo.
Chade e Darfur faziam parte de um esforço chinês significativo para assegurar o petróleo na fonte, em toda a África. O petróleo - ou, mais precisamente, o controlo do petróleo nas suas fontes - também foi o factor primordial que determinou a política dos EUA em África, à medida que a actividade da China se expandia.
O interesse de George W. Bush em África, incluía uma nova base militar dos EUA em São Tomé e Príncipe, a 240 km do Golfo da Guiné, da qual poderia controlar os campos de petróleo de Angola no sul, até à República Democrática do Congo, Gabão e Guiné Equatorial. Camarões e Nigéria.(30) Aquela era exactamente a mesma área em que a China também concentrara a sua actividade diplomática e de investimento.
“O petróleo da África Ocidental tornou-se de interesse estratégico nacional para nós”, afirmou o Secretário de Estado Adjunto dos EUA para a África, Walter Kansteiner, em 2002.(31)
As acções dos Estados Unidos, em Darfur e no Chade, eram extensões da política do Iraque, mas através de outros meios - em vez de agressão militar directa, um inflamar insensível de violência interna. Mas o controlo do petróleo - todo o petróleo, em toda a parte - era o objectivo. A China estava a desafiar esse controlo ‘em toda a parte’, especialmente em África. Foi uma Nova Guerra Fria não declarada, mas muito real - sobre o petróleo.
Tibete: É Libertado um Velho Activo da CIA
No início de 2008, o ‘establishment dos EUA’ determinou que era o momento de uma grande escalada de pressão sobre a China, desencadeando, desta vez, desestabilização dentro do território chinês, na Província Autónoma do Tibet.
Foi um momento extremamente sensível nas relações EUA-China. Os mercados financeiros dos Estados Unidos estavam extremamente dependentes do investimento dos dólares excedentes da China na dívida do governo dos EUA, nos títulos do Tesouro, e também nos títulos imobiliários Freddie Mac e Fannie Mae. A agitação do Tibete foi marcada para o período que antecedia as Olimpíadas de Pequim. Ao abanar as chamas da violência no Tibete, sob essas condições voláteis, indicava que Washington havia decidido fazer um jogo geopolítico de alto risco com Pequim.
A intromissão dos EUA no Tibete foi iniciada pelo governo Bush nos meses anteriores, coincidindo com a sua interferência no Sudão e em Mianmar, e incluía a ‘entente’ militar especial com a Índia, dirigida contra a China. No final de 2004, o Secretário de Defesa dos EUA, Rumsfeld, propôs à Índia um novo nível de cooperação militar e estratégica, ao actualizar a “Minuta Acordada sobre as Relações de Defesa de 1995”. Mais tarde, fontes militares e diplomáticas dos EUA admitiram que o seu objectivo estratégico era o papel económico crescente da China, na Ásia.(32)
A operação do Tibete ganhou luz verde em Outubro de 2007, quando George Bush concordou em encontrar-se com o Dalai Lama, pela primeira vez publicamente, em Washington. O Presidente dos Estados Unidos estava bem ciente da enormidade de tal insulto à China, o seu maior parceiro comercial. Bush então aprofundou a afronta a Pequim, ao participar na cerimónia de Washington, concedendo ao Dalai Lama a Medalha de Ouro do Congresso.
A decisão de Bush, filho de um antigo Embaixador dos EUA em Pequim, foi deliberada. Ele estava bem ciente de que a presença do Presidente dos Estados Unidos numa cerimónia oficial do governo dos EUA, em homenagem ao Dalai Lama, seria percebida como um sinal do apoio crescente dos EUA ao movimento de independência do Tibete.
Imediatamente após os monges tibetanos se revoltarem, em Março de 2008, o entusiasmo do apoio pró-Tibete de George Bush, Condoleezza Rice, do francês Nicolas Sarkozy e da alemã Angela Merkel, atingiu o absurdo. Embora a Chanceler Merkel tenha anunciado que não compareceria às Olimpíadas de Pequim, ela pronunciou declarações contraditórias sobre se esse facto seria para protestar contra o tratamento que Pequim fazia aos monges tibetanos, ou se seria devido a compromissos anteriores. Não importava; a publicidade em torno do “debate” bastava para dar a impressão de um protesto internacional. Na verdade, Angela Merkel planeou primeiro, não comparecer às Olimpíadas.
O anúncio de Merkel foi seguido de outro, do Primeiro Ministro da Polónia, o pró-Washington Donald Tusk, dizendo que ele também permaneceria afastado, juntamente com o Presidente Checo pró-EUA, Vaclav Klaus. Não estava claro se eles também não tinham planeado ir, em primeiro lugar, mas os seus anúncios criaram cabeçalhos mediáticos melodramáticos.
A onda de protestos violentos e ataques de monges tibetanos contra moradores chineses de etnia Han no Tibete, começou em 10 de Março, quando várias centenas de monges marcharam em Lhasa, pedindo a libertação de outros monges supostamente detidos por celebrar o recebimento da Medalha do Congresso dos EUA, pelo Dalai Lama, no mês de Outubro anterior. O primeiro grupo de monges foi acompanhado por outros monges que protestavam contra o governo de Pequim e comemoravam o 49º aniversário de uma revolta tibetana anterior, contra o domínio chinês.
O Jogo Geopolítico do Tibete
Como o próprio governo chinês foi rápido a salientar, a súbita erupção de violência anti-chinesa no Tibete, uma nova fase no movimento liderado pelo exilado Dalai Lama, foi programada de maneira suspeita. Foi, nitidamente, uma tentativa para tentar pôr em evidência o histórico dos direitos humanos de Pequim, na véspera da Olimpíada de Agosto de 2008, um acontecimento percebido na China, como uma grande afirmação da chegada de uma China recentemente próspera, ao cenário mundial.
Os protagonistas do plano de fundo, na tentativa da ‘Revolução Carmesim’ do Tibete, confirmaram que Washington tinha estado a preparar outra das suas vergonhosas Revoluções Coloridas, desta vez promovendo protestos públicos destinados a infligir o máximo constrangimento a Pequim.
Os protagonistas no terreno, dentro e fora do Tibete, foram as agências habituais envolvidas nas desestabilizações do regime patrocinado pelos EUA, incluindo o Departamento de Estado, a National Endowment for Democracy (NED). No caso do Tibete, a Freedom House da CIA também estava envolvida. A sua Presidente, Bette Bao Lord - esposa de Winston Lord, antigo Embaixador dos EUA na China e Presidente Council on Foreign Relations - desempenhou uma função na Comissão Internacional para o Tibete.
O Planalto Tibetano é a fonte de sete Grandes Hidrovias Navegáveis
O Primeiro Ministro chinês, Wen Jiabao, acusou o Dalai Lama de orquestrar a mais recente insurreição para sabotar os Jogos Olímpicos “a fim de alcançar o seu objectivo indescritível”, um Tibete livre. As paradas para a China e para Washington eram enormes.
Bush telefonou ao seu colega chinês, o Presidente Hu Jintao, a pressionar para haver conversações entre Pequim e o exilado Dalai Lama. A Casa Branca disse que Bush “levantou as suas preocupações sobre a situação no Tibete e encorajou o governo chinês empenhar-se num diálogo essencial com os representantes do Dalai Lama e permitir o acesso de jornalistas e diplomatas”. (33)
Os Amigos Bizarros do Dalai Lama
No Ocidente, a imagem do Dalai Lama havia sido tão cuidadosamente promovida que, em muitos círculos, particularmente naqueles que se consideravam politicamente progressistas, ele era considerado quase um Deus. Enquanto a vida espiritual do Dalai Lama era outra questão, era relevante notar que o tipo de pessoas que se aglomeravam em torno da pessoa do 14º Dalai Lama não usufruíam da melhor reputação em termos de compaixão ou justiça para com os seus semelhantes.
O Dalai Lama viajou em círculos políticos conservadores bastante extremos, já em 1930. Naquela época, os nazis alemães, incluindo o chefe da Gestapo, Heinrich Himmler, e outros líderes do Partido Nazista, consideravam o Tibete como o local sagrado dos sobreviventes da perdida Atlântida e a origem de sua “raça nórdica pura”.
Tenzin Gyatso, nascido em 1935, era o nome do menino que, aos 11 anos, já era designado como Dalai Lama. Nessa tenra idade, ele foi ajudado por Heinrich Harrer, membro fanático do Partido Nazi e oficial da temida Schutzstaffel, a SS, de Heinrich Himmler. Longe da imagem inocente de Harrer retratada no popular filme de Hollywood ‘Sete Anos no Tibete’, de Brad Pitt, Harrer juntou-se voluntariamente à SS, a Guarda Pretoriana do Führer e participou nos incêndios concretizados contra as sinagogas judaicas durante o terror da Kristallnacht, em 1938. De acordo com relatos de testemunhas oculares, Harrer continuou a ser um nazi dedicado até ao fim da guerra. Em 1944, Harrer escapou de um campo de concentração britânico e fugiu para o Tibete, onde se tornou o tutor designado do jovem Dalai Lama para “o mundo fora do Tibete” .(34) Permaneceram amigos até Harrer morrer em 2006, aos 93 anos de idade.(35)
Essa amizade foi notável no contexto de outros amigos do Dalai Lama. Em Abril de 1999, apoiado por Margaret Thatcher e pelo antigo Embaixador da China nos EUA, o Director da CIA e Presidente, George H.W. Bush, o Dalai Lama, exigiu que o governo britânico libertasse Augusto Pinochet, o antigo ditador fascista do Chile e antigo cliente da CIA que tinha sido colocado em prisão domiciliar durante a visita a Inglaterra. O Dalai Lama pediu que Pinochet não fosse extraditado para Espanha, onde seria julgado por crimes contra a Humanidade. O Dalai Lama também cultivou laços estreitos com Miguel Serrano, chefe do Partido Socialista Nacional do Chile, proponente de algo designado como “hitlerismo esotérico” .(37)
Além do mais, tinha sido revelado em documentos oficiais do governo dos EUA que, desde 1959, o Dalai Lama tinha estado rodeado e financiado, em parte significativa, por vários serviços secretos dos EUA e do Ocidente, e o seu bando de ONGs.(38)
Foi a agenda desses amigos de Washington, do Dalai Lama, que foram relevantes para as revoltas e distúrbios no Tibete, em Março de 2008.
A NED de Novo. . .
O autor Michael Parenti observou no seu estudo, Friendly Feudalism: The Tibet Myth/Feudalismo Amistoso: O Mito do Tibete, que “durante os anos 50 e 60, a CIA apoiou activamente a causa tibetana com armas, treino militar, dinheiro, apoio aéreo e todo tipo de ajuda”. (39)
Segundo Parenti, a Sociedade Americana para uma Ásia Livre, uma frente da CIA, publicou a causa da resistência tibetana ao recrutar o irmão mais velho do Dalai Lama, Thubtan Norbu, para desempenhar um papel activo no grupo. O segundo irmão mais velho do Dalai Lama, Gyalo Thondup, estabeleceu uma operação de serviços secretos em conjunto com a CIA, em 1951. Posteriormente foi transformado numa unidade de guerrilha treinada pela CIA cujos recrutas foram lançados de pára-quedas no Tibet.(40)
Documentos não confidenciais dos serviços secretos americanos, disponibilizados no final da década de 1990 revelaram que: durante grande parte da década de 1960, a CIA forneceu ao movimento tibetano de exílio 1,7 milhões de dólares por ano para operações contra a China, incluindo um subsídio anual de 186.000 dólares para o Dalai Lama.(41)
Em 1959, a CIA ajudou o Dalai Lama a fugir para Dharamsala, na Índia, onde vive desde então. Ele continuou a receber milhões de dólares de apoio até 2008, não da CIA, mas de uma organização da CIA que soava mais inofensiva, a National Endowment for Democracy (NED) financiada pelo Congresso dos EUA.(42)
A NED, como descrito acima, foi fundamental em toda a desestabilização de Revolução Colorida apoiada pelos EUA, da Sérvia à Geórgia, da Ucrânia à Mianmar. Os seus fundos foram usados para apoiar a comunicação mediática da oposição e campanhas de relações públicas globais para popularizar os seus candidatos preferidos da oposição.
A NED havia sido fundada pela Administração Reagan no início dos anos 80, por recomendação de Bill Casey, Director da Agência Central de Inteligência de Reagan, após uma série de exposições altamente publicitadas de assassinatos da CIA e desestabilizações de regimes hostis. A NED foi planeada para se posicionar como uma ONG independente, afastada das agências da CIA e do governo, de modo a ser, presumivelmente, menos visível. O primeiro presidente em exercício da NED, Allen Weinstein, comentou com o Washington Post que “muito do que nós [a NED] fazemos hoje, foi feito secretamente há 25 anos pela CIA”. (43)
Como historiador das actividades dos serviços secretos americanos, William Blum declarou:
A NED desempenhou um papel importante no caso Irão-Contra, dos anos 80, financiando componentes-chave do 'Projecto Democracia', sombrio e ilegal, de Oliver North. Essa rede privatizou a política externa dos EUA, travou guerras, distribuiu armas e drogas e empenhou-se em actividades ilegais. Em 1987, um porta-voz da Casa Branca declarou que os participantes da NED ‘executam o Projecto Democracia’. (44)
A organização mais proeminente a favor do Dalai Lama do Tibet, na tentativa de desestabilização de 2008, foi a Campanha Internacional pelo Tibete (ICT), fundada em Washington, em 1988.
Pelo menos, desde 1994, a ICT estava a receber fundos do NED. A ICT concedeu o seu prémio anual ‘Luz da Verdade’, em 2005, a Carl Gershman, fundador da NED. Outros vencedores do prémio ICT incluíam a Fundação Alemã Friedrich Naumann e o líder checo, Vaclav Havel. A Directoria do ICT foi preenchida com antigos funcionários do Departamento de Estado dos EUA, incluindo Gare Smith e Julia Taft. (45)
Outra organização anti-Pequim muito activa era o Students for Free Tibet (SFT), sediada nos Estados Unidos, fundada em 1994, na cidade de Nova York como um projecto da Comissão Tibetana dos EUA e da ICT financiada pela NED. A SFT era mais conhecida por ter desenrolado uma faixa de 450 pés no topo da Grande Muralha na China, pedindo um Tibete livre e acusando Pequim de alegações de genocídio totalmente sem fundamento, contra o Tibete. Aparentemente, foi um bom drama para mobilizar estudantes americanos e europeus ingénuos, a maioria dos quais nunca esteve no Tibete.
‘O Levantamento do Povo Tibetano’ Made In USA
O Students for Free Tibet (SFT) estava entre as cinco organizações que, em 4 de Janeiro de 2008, proclamaram o início de uma ‘revolta do povo tibetano’ e estabeleceram um gabinete temporário especial, encarregado de coordenar e financiar a revolta.
Harry Wu, um proeminente defensor do Dalai Lama na agitação contra Pequim, tornou-se famoso pelo seu papel num documentário polémico da BBC, no qual alegou que a China estava a traficar órgãos humanos, extraídos de prisioneiros executados da China. O documentário da BBC tornou-se motivo de controvérsia pelas suas inúmeras imprecisões.(46) No entanto, não contente com esse nível de distorção, Wu aumentou as suas acusações, em 1996, alegando falsamente que tinha “filmado um prisioneiro cujos rins foram removidos através de uma cirurgia enquanto ele estava vivo e, depois, o prisioneiro foi retirado e baleado. A fita foi transmitida pela BBC ”. (47)
O documentário da BBC não mostrou nada do que foi alegado por Wu, mas o dano estava feito. Quantas pessoas é que verificaram os arquivos antigos da BBC? Wu, um professor aposentado de Berkeley que deixou a China após a prisão como dissidente, era chefe da Laogai Research Foundation, uma organização isenta de impostos cujo fonte principal de financiamento também era a NED.(48)
Entre os projectos relacionados, a NED, financiada pelo governo dos EUA, também apoiou o jornal The Tibet Times, dirigido pela base do Dalai Lama no exílio, em Dharamsala, na Índia. A NED também financiou o Tibet Multimedia Center para aquilo que eles descreveram como “disseminação de informação que aborda a luta pelos direitos humanos e democracia no Tibet”. Também estavam sediados em Dharamsala. A NED também financiou o Centro Tibetano de Direitos Humanos e Democracia. (49)
Resumindo, as impressões digitais do Departamento de Estado e da comunidade dos serviços secretos dos EUA estiveram em todos os tumultos do movimento ‘Free Tibet’ e dos ataques aos chineses de etnia Han, de Março de 2008. A pergunta a ser feita era por quê e, especialmente, por quê naquele momento?
O Tesouro de Minerais do Tibete
O Tibete era de importância estratégica para a China, não apenas pela sua localização geográfica na fronteira com a Índia - o mais novo aliado anti-China de Washington, na Ásia - mas também porque o Tibete era um tesouro de minerais e petróleo. O Tibete continha alguns dos maiores depósitos de urânio e bórax do mundo, metade do lítio do mundo, os maiores depósitos de cobre da Ásia, enormes depósitos de ferro e mais de 80.000 minas de ouro. As florestas do Tibete continham a maior reserva de madeira à disposição da China. A partir de 1980, cerca de 54 biliões de árvores foram derrubadas lá. O Tibete também possuía algumas das maiores reservas de petróleo da região.(50)
Ao longo da fronteira entre a Região Autónoma do Tibete e a Região Autónoma Uigur de Xinjiang, também havia uma vasta região petrolífera e mineral na Bacia Qaidam, conhecida como a 'bacia do tesouro'. A Bacia contava com 57 tipos diferentes de recursos minerais com reservas comprovadas, incluindo petróleo, gás, carvão, sal bruto, potássio, magnésio, chumbo, zinco e ouro. Esses recursos minerais tinham um valor económico potencial estimado em 15 triliões de yuans ou seja, 1,8 triliões de dólares. As reservas comprovadas de potássio, lítio e sal bruto dessa bacia eram as maiores da China.
Estrategicamente, o Tibete talvez fosse a fonte de água mais valiosa do mundo. Situado como estava, no ‘tecto do mundo’, o Tibete era a fonte de sete dos maiores rios da Ásia, que forneciam água a 2 biliões de pessoas. Como Henry Kissinger poderia muito bem ter dito, ’Aquele que controlar a água do Tibete tem uma poderosa alavanca geopolítica sobre toda a Ásia’, especialmente sobre a China.
Mas o principal interesse de Washington no Tibete, na Primavera de 2008, parecia ser o seu potencial para agir como alavanca para desestabilizar e chantagear o governo de Pequim.
‘A não-violência como forma de guerra’
Os acontecimentos no Tibete, depois de 10 de Março de 2008, foram cobertos pela comunicação mediática ocidental com pouca atenção à precisão ou à verificação cruzada independente. A maioria das fotos publicadas nos jornais europeus, americanos e na TV, acabou não sendo realmente fotos ou filmes da opressão militar chinesa contra os lamas ou monges tibetanos. Provou-se que, na maioria dos casos, eram fotos da Reuters ou da AFP, de chineses de etnia Han, a ser espancados por monges tibetanos que operavam em organizações paramilitares treinadas. Em alguns casos, algumas estações de TV alemãs publicaram imagens em vídeo de espancamentos que nem sequer eram do Tibete, mas sim, da polícia nepalesa, em Katmandu.(51)
A cumplicidade da comunicação mediática ocidental nesta charada, ressaltou, simplesmente, o facto de que as acções em torno do Tibete, faziam parte de um esforço de desestabilização bem orquestrado por parte de Washington. Repetindo o mesmo padrão das desestabilizações instigadas e manipuladas, anteriormente, nos Estados Unidos, a comunicação mediática de destaque, não mencionou o envolvimento da omnipresente NED, bem como da Albert Einstein Institution, de Gene Sharp, que conhecemos em Mianmar. Como discutido anteriormente, a Albert Einstein Institution especializou-se em ‘não-violência como forma de guerra’ .(52)
A interferência na China através dessa instituição, remonta há muitos anos, através do Coronel Robert Helvey, já mencionado, veterano de 30 anos da Defense Intelligence Agency, que aplicara as suas técnicas no incentivo aos protestos estudantis na Praça Tiananmen, em Junho de 1989. O Coronel Helvey tem trabalhado com a Albert Einstein Institution e com a Open Society Foundation, de George Soros, pelo menos, desde meados da década de 1980. A respeito das operações dos EUA na China, acredita-se que ele esteja a agir como conselheiro do Falun Gong, sobre técnicas semelhantes de desobediência civil. (53)
Entre muitos aspectos que ligam a Albert Einstein Institution aos serviços secretos militares dos EUA, também estava o general Edward Atkeson, que serviu no Conselho de Administração original da instituição. Foi Atkeson, antigo Chefe Adjunto dos Serviços Secretos do Exército dos EUA, na Europa, que supostamente, foi o primeiro a ‘sugerir o nome de 'defesa baseada em civis' a Gene Sharp". (54)
Como observado anteriormente, a Instituição Sharp havia desenvolvido as principais tácticas usadas pelos EUA nos seus ‘golpes pós-modernos’, as novas desestabilizações ‘brandas’, mudanças não violentas de regime e o que veio a ser chamado de ‘Revoluções Coloridas’, nos países coincidentemente localizados na proximidade de rivais dos EUA, a China e a Rússia. De todas essas tácticas, a principal foi a aplicação de tecnologias de comunicações electrónicas. Com o aparecimento da Internet e o uso generalizado de telemóveis/telefones celulares, o Pentágono dos EUA refinou uma forma inteiramente nova de mudança de regime e desestabilização política. Como Jonathan Mowat, o pesquisador do fenómeno por trás da onda das Revoluções Coloridas, descreveu:
… O que estamos a ver é a aplicação civil da doutrina ‘Revolução nos Assuntos Militares’ do Secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, que depende da instalação de pequenos grupos altamente móveis, ‘habilitados’ pelos serviços secretos e pelas comunicações em ‘tempo real’. Os esquadrões de soldados que se apoderam dos quarteirões da cidade com a ajuda de telas de vídeo do ‘capacete de inteligência’, que lhes dão uma visão instantânea do seu ambiente, constituem o lado militar. Bandas de jovens que convergem em cruzamentos direccionados, em diálogo constante através de telemóveis/telefones celulares, constituem a aplicação civil da doutrina.
Esse paralelo não deve surpreender, visto que as forças armadas dos EUA e a Agência de Segurança Nacional subsidiaram o desenvolvimento da Internet, dos telefones móveis e das plataformas de software. Desde o início, estas tecnologias foram estudadas e experimentadas com o objectivo de encontrar o uso ideal num novo tipo de guerra.
A ‘revolução’ na guerra, que estes instrumentos novos permitem, foi levada ao extremo por vários especialistas em guerra psicológica. Embora estes militares utopistas tenham trabalhado em altos cargos (por exemplo, na RAND Corporation) durante longo tempo, até certo ponto, eles só controlaram algumas das estruturas de comando mais importantes do aparelho militar dos EUA com a vitória dos neoconservadores no Pentágono, de Donald Rumsfeld. (55)
Controlar o Gigante Chinês
Os agentes operadores de Washington usaram e refinaram as técnicas de 'não-violência revolucionária', organizadas através da NED, para instigar uma série de golpes políticos 'democráticos' ou 'suaves' como parte da estratégia mais ampla dos EUA - que tentaria impedir a China de ter acesso às suas reservas externas de petróleo e de gás. A tentativa de Washington em desestabilizar a China, usando o Tibete, fazia parte de um padrão explícito. Além dos esforços de uma ‘Revolução Açafrão’ em Mianmar e da tentativa de levar a NATO a apoderar-se dos campos petrolíferos da China, em Darfur e bloquear o acesso da China aos recursos petrolíferos estrategicamente vitais, em África, incluía também, tentativas de fomentar problemas no Uzbequistão e no Quirguistão, como também interromper o gasoducto, novo e vital de energia, da China para o Cazaquistão.
As antigas rotas comerciais asiáticas conhecidas como A Grande Rota da Seda passavam por Tashkent, no Uzbequistão, e Almaty, no Cazaquistão, por razões geográficas óbvias. Eram acessíveis numa região que estava cercada de grandes cadeias de montanhas. O controlo geopolítico do Uzbequistão, do Quirguistão e do Cazaquistão permitiria aos Estados Unidos controlar qualquer possível rota de oleoducto entre a China e a Ásia Central, assim como o cerco da Rússia visava controlar o oleoducto e outros laços entre a Rússia e a Europa Ocidental.
Além do mais, a China dependia dos fluxos ininterruptos de petróleo do Irão, da Arábia Saudita e de outros países da OPEP. A militarização do Iraque pelos EUA e as ameaças de ataque ao Irão colocaram militarmente em risco o acesso da China ao petróleo. No final de 2007, estava a tornar-se evidente que a China, juntamente com a Rússia, estavam no topo da lista dos alvos estratégicos para as operações hostis do Pentágono, do Departamento de Estado dos EUA e das agências de serviços secretos.
Por trás da estratégia de cercar a China
Neste contexto, o artigo de Zbigniew Brzezinski, de 1997, na Foreign Affairs, a revista do Council on Foreign Relations, foi novamente significativo. O ‘pedigree’ da política externa de Brzezinski deve ser recordado, por ter sido um protegido de David Rockefeller na década de 1970, e um seguidor do geoestratega britânico, Sir Halford Mackinder, até à sua função de grande Conselheiro de Política Externa, do candidato presidencial, Barack Obama. Brzezinski foi uma das figuras mais influentes nos círculos de inteligência/serviços secretos e política externa dos EUA. Em 1997, escreveu de maneira reveladora:
A Eurásia é o lar da maioria dos Estados politicamente positivos e dinâmicos do mundo. Todos os aspirantes históricos ao poder global, tiveram origem na Eurásia. Os aspirantes mais populosos do mundo à hegemonia regional, a China e a Índia, estão na Eurásia, assim como todos os potenciais adversários políticos ou económicos à superioridade americana. Depois dos Estados Unidos, as próximas seis maiores economias e detentoras das maiores despesas militares estão lá, assim como todas as potências nucleares do mundo, com excepção de uma das mais encobertas. A Eurásia é responsável por 75% da população mundial; 60 por cento do seu PIB e 75 % dos seus recursos energéticos. Colectivamente, o poder potencial da Eurásia obscurece até o da América.
A Eurásia é o super continente axial do mundo. Um poder que dominasse a Eurásia exerceria influência decisiva sobre duas das três regiões economicamente mais produtivas do mundo, a Europa Ocidental e a Ásia Oriental. Uma observação do mapa também sugere que um país dominante na Eurásia controlaria quase que automaticamente o Médio Oriente e a África. Com a Eurásia agora a funcionar como o tabuleiro de xadrez geopolítico decisivo, já não basta moldar uma política para a Europa e outra para a Ásia. O que acontece com a distribuição do poder na massa de terra eurasiática será de importância decisiva para a supremacia global da América ... (56 )(ênfase acrescentada).
Esta declaração, escrita bem antes do bombardeio da antiga Jugoslávia e das ocupações militares dos EUA no Afeganistão e no Iraque, revelou que a política dos EUA nunca foi destinada a livrar aqueles países da tirania. Era sobre a hegemonia global e não sobre a democracia.
Sem surpresa, a China não estava convencida de que, permitir a Washington usufruir um poder tão esmagador, fosse do interesse nacional da China, assim como a Rússia não pensava que aumentaria a paz se permitisse que a NATO engolisse a Ucrânia e a Geórgia ou se os EUA colocassem os seus mísseis à volta da Rússia, alegadamente ‘para se defender contra a ameaça dum ataque nuclear iraniano aos Estados Unidos’.
A desestabilização liderada pelos EUA no Tibete fazia parte de uma mudança estratégica de grande significado. Chegou no momento em que a economia e o dólar dos EUA, ainda a moeda de reserva do mundo, estavam na pior crise desde a década de 1930. Foi significativo que o governo dos EUA tenha enviado o banqueiro de Wall Street e antigo presidente da Goldman Sachs, Henry Paulson, a Pequim, no meio dos seus esforços para constranger Pequim sobre o Tibete. Washington estava literalmente a brincar com fogo. A China tinha ultrapassado, há muito, o Japão como sendo o maior detentor mundial de reservas em moeda estrangeira. Em Julho de 2008, as reservas da China, em dólares dos EUA estavam estimadas em mais de 1,8 triliões de dólares, a maior parte delas investidas em instrumentos de dívida do Tesouro dos EUA ou títulos da Fannie Mae ou da Freddie Mac. Paulson sabia muito bem que Pequim poderia decidir desvalorizar o dólar, vendendo apenas uma pequena parte de sua dívida americana no mercado.
No final de 2008, a super potência global, Estados Unidos da América, estava cada vez mais parecida com o Império Britânico do final da década de 1930 - um império global em declínio terminal. O império americano, no entanto, apesar de entrar em espiral na mais grave crise financeira desde a Grande Depressão da década de 1930, ainda parecia determinado a impor a sua vontade a um mundo cada vez mais afastado de tal controlo absolutista. O mundo - ou pelo menos os seus principais protagonistas fora de Washington, da Rússia à China, da Venezuela à Bolívia e mais além - estava a começar a pensar em alternativas melhores. Para o Pentágono, essas agitações tornaram o trabalho do Domínio do Espectro Total mais urgente do que nunca. O poder declinante do Século Americano dependia, cada vez mais, do controlo militar directo, um controlo que o Pentágono tentou estabelecer através de uma rede mundial de bases militares americanas.
Notas de rodapé:
3 US Department of State Bureau of East Asian and Pacific Affairs, Report on Activities to Support Democracy Activists in Burma as Required by the Burmese Freedom and Democracy Act of 2003, October 30, 2003 (http://www.state.gov/p/eap/rls/rpt/burma/26017.htm ).
4 Ibid.
5 Ibid.
6 Gene Sharp publicly claimed that his work was strictly independent of US Government involvement. However his activities over a period of years suggested the opposite. As one detailed account of his work reported: “Sharp's strategies of civilian-based defense—organized nonviolent non-cooperation and defiance—were dramatically applied during the Baltic states' secession from the Soviet Union. His book, Civilian-Based Defense: A Post Military Weapons System, helped shape the region's predominantly nonviolent liberation struggles. According to Sharp, in 1990 Audrius Butkvicius, then secretary of defense for Lithuania, obtained a smuggled copy of the book, which had yet to be published and was still in page-proof form. Butkvicius circulated 50 photocopied versions to states throughout the Soviet Union, including neighboring Latvia and Estonia. That year, Sharp and Bruce Jenkins, a research assistant at the Albert Einstein Institution, made several trips to the three Baltic capitals where Civilian-Based Defense was adapted as government policy.” (cited in Claire Schaeffer-Duffy, “Honing nonviolence as a political weapon,” National Catholic Reporter, Oct 21, 2005.
6 Gene Sharp afirmou publicamente, que o seu trabalho era estritamente independente do envolvimento do governo dos EUA. No entanto, as suas actividades durante anos, sugeriram o contrário. Como descreveu um relato detalhado do seu trabalho: “As estratégias de defesa civil baseadas na Sharp - a não-cooperação não-violenta organizada e o desafio - foram aplicadas dramaticamente durante a secessão dos estados bálticos da União Soviética. O seu livro, Defesa Civil: Um sistema de armas pós-militar, ajudou a moldar as lutas de libertação predominantemente não-violentas da região. Segundo Sharp, em 1990, Audrius Butkvicius, então Secretário da Defesa da Lituânia, obteve uma cópia contrabandeada do livro, que ainda não havia sido publicado e ainda estavaa ser compilado. Butkvicius circulou 50 versões fotocopiadas nos Estados da União Soviética, incluindo a vizinha Letónia e a Estónia. Naquele ano, Sharp e Bruce Jenkins, um assistente de pesquisa da Albert Einstein Institution, fizeram várias viagens às três capitais do Báltico, onde a Defesa Civil foi adaptada como política governamental. ”(Citado em Claire Schaeffer-Duffy,“ Aperfeiçoar a não-violência como arma política ”, National Catholic Reporter, 21 de outubro de 2005.
8 Amy Kazmin, “Defiance undeterred: Burmese activists seek ways to oust the junta,” Financial Times, London, December 6 2007. Curiously, though Mr Sharp protested his organization’s innocence from any involvement with the US Government in destabilizing the Burmese regime, he posted the Financial Times article on his own website.Curiosamente, embora Sharp tenha protestado a inocência da sua organização de ter qualquer envolvimento com o governo dos EUA para desestabilizar o regime birmanês, publicou o artigo do Financial Times no seu site.
9 Ibid.
11 Agence France Press, “Bush Urges Myanmar to free Suu Kyi,” July 6, 2008.
12 Juli A. Mac Donald, Indo-US Military Relationship: Expectations And Perceptions, Office of the Secretary of Defense – Net Assessment, October 2002.
13 Condoleezza Rice, et al, The National Security Strategy of the United States, Washington, September 2002.
14 US 7th Fleet Public Affairs, Navy News Stand, “Exercise Malabar 07-2 Kicks Off,” Story Number: NNS070907-13, Navy News Stand, 9/7/2007.
18 Quoted in Loro Horta, ''China and Angola Strengthen Bilateral Relationship,” PINR, 23 June, 2006.
26 International Crisis Group, “Darfur: Revitalizing the Peace Process,” Africa Report, No. 125, April 30, 2007, p.1. On the role of Chad’s Deby the report states: “Chad’s role has complicated the conflict. The Zaghawa elements of the insurgency have enjoyed relatively consistent support from the Zaghawa-dominated government there. Though President Deby, himself a Zaghawa, initially cooperated with Khartoum against the rebellion, his government now gives the rebels open and sizeable support. In response, the NCP has been arming Chadian rebel groups, with the aim of overthrowing Deby and cutting off the SLA and JEM rear bases.”Sobre o papel do Chade, do Presidente Deby, o relatório afirma: “O papel do Chade complicou o conflito. Os elementos Zaghawa da insurreição têm gozado de apoio relativamente consistente do governo dominado pelo Zaghawa. Embora o Presidente Deby, ele próprio um Zaghawa, tenha inicialmente cooperado com Cartum contra a rebelião, agora o seu governo oferece aos rebeldes um apoio considerável e aberto. Em resposta, o PCN tem armando grupos rebeldes do Chade, com o objectivo de derrubar Deby e cortar as bases de retaguarda do SLA e do JEM. ”
27 Rob Crilly, “Sudan cuts ties with Chad after Darfur rebels reach Khartoum,” The Times (London), May 12, 2008.
28 The World Bank, Report No. PID7288, Cameroon-(Chad)Petroleum Development and Pipeline Project, Implementation Agencies:Subsidiaries of Exxon, Shell and Elf, June 23, 1999.
34 Rainer Amstaedter, “Der schmale Grat der Erinnerung: Zwischen Hitler und Himalaya,” DATUM - Seiten der Zeit, January 2006 (http://www.datum.at/0106/stories/1476613/ ). Amstaedter conducted thorough research in the NSDA archives and interviews with former associates of Harrer to document the actual active Nazi past of Harrer who ‘conveniently’ forgot details of his SS days. The Wikipedia biography of Harrer omits any mention of the SS past, as well, preferring the Hollywood romanticized and sanitized version, evidently.. Amstaedter conduziu uma pesquisa completa nos arquivos da NSDA e entrevistas com antigos associados de Harrer para documentar o verdadeiro passado da actividade nazi de Harrer que esqueceu ‘convenientemente,’ detalhes dos seus dias na SS. A biografia da Wikipédia sobre Harrer também omite qualquer menção ao passado na SS, preferindo, evidentemente, a versão romantizada e higienizada de Hollywood.
36 Nicholas Goodrick-Clarke, Black Sun: Aryan Cults, Esoteric Nazism and the Politics of Identity (New York: New York University Press, 2001), 177.
37 Goldner, Colin, Mönchischer Terror auf dem Dach der Welt Teil 1: Die Begeisterung für den Dalai Lama und den tibetischen Buddhismus, March 26, 2008, excerpted from Dalai Lama: Fall eines Gottkönigs (Alibri Verlag, April 2008) http://www.jungewelt.de/2008/03- 27/006.php .
38 Jim Mann, “CIA Gave Aid to Tibetan Exiles in ’60s, Files Show,” Los Angeles Times, September 15, 1998 (http://articles.latimes.com/1998/sep/15/news/mn22993 ). Mann reported on the release of classified CIA documents that among other items stated: “For much of the 1960s, the CIA provided the Tibetan exile movement with $1.7 million a year for operations against China, including an annual subsidy of $180,000 for the Dalai Lama, according to newly released U.S. intelligence documents. The money for the Tibetans and the Dalai Lama was part of the CIA’s worldwide effort during the height of the Cold War to undermine Communist governments, particularly in the Soviet Union and China. In fact, the U.S. government committee that approved the Tibetan operations also authorized the disastrous Bay of Pigs invasion of Cuba. The documents, published last month by the State Department, illustrate the historical background of the situation in Tibet today, in which China continues to accuse the Dalai Lama of being an agent of foreign forces seeking to separate Tibet from China. The CIA’s program encompassed support of Tibetan guerrillas in Nepal, a covert military training site in Colorado, “Tibet Houses” established to promote Tibetan causes Weaponizing Human Rights: Darfur to Myanmar to Tibet 125 in New York and Geneva, education for Tibetan operatives at Cornell University and supplies for reconnaissance teams.’ Mann continued citing the declassified text of the CIA as released by the US State Department, ‘The purpose of the program … is to keep the political concept of an autonomous Tibet alive within Tibet and among foreign nations, principally India, and to build a capability for resistance against possible political developments inside Communist China,’ explains one memo written by top U.S. intelligence officials.”Mann relatou a divulgação de documentos confidenciais da CIA que, entre outros assuntos, afirmava: “Em grande parte da década de 1960, a CIA forneceu ao movimento tibetano de exilados 1,7 milhões de dólares por ano para operações contra a China, incluindo um subsídio anual de 180.000 dólares ao Dalai Lama, de acordo com documentos dos serviços secretos/inteligência dos EUA divulgados recentemente. O dinheiro para os tibetanos e para o Dalai Lama fazia parte do esforço da CIA em todo o mundo, durante o auge da Guerra Fria, para minar os governos comunistas, particularmente na União Soviética e na China. Na verdade, a comissão do governo dos EUA que aprovou as operações tibetanas também autorizou a desastrosa invasão da Baía dos Porcos em Cuba. Os documentos, publicados no mês passado pelo Departamento de Estado, ilustram os antecedentes históricos da situação no Tibete de hoje, na qual a China continua a acusar o Dalai Lama de ser um agente das forças estrangeiras que tentam separar o Tibete da China. O programa da CIA englobava o apoio às guerrilhas tibetanas no Nepal, um local de treino militar secreto no Colorado, “Casas Tibetanas” criadas para promover causas tibetanas em Nova York e Genebra, educação de agentes tibetanos na Universidade Cornell e suprimentos para equipas de reconhecimento’. Mann continuou a citar o texto desclassificado da CIA divulgado pelo Departamento de Estado dos EUA: “O objectivo do programa é manter o conceito político de um Tibete autónomo, dentro do Tibete e entre as nações estrangeiras, principalmente a Índia, e construir uma capacidade de resistência contra possíveis desenvolvimentos políticos dentro da China comunista’, explica um memorando escrito por altos funcionários de inteligência/serviços secretos dos EUA”.
40 Ibid.
41 Mann, Jim, “CIA funded covert Tibet exile campaign in 1960s,” The Age (Australia), Sept. 16, 1998.
42 Parenti, “Friendly Feudalism: The Tibet Myth.”
43 David Ignatius, “Innocence Abroad: The New World of Spyless Coups,” The Washington Post, September 22, 1991.
46 Seth Faison, “China Says Detained American Rights Advocate Admits Falsifying Documentaries,” The New York Times, July 28, 1995.
47 Morgan Strong, “China Maverick Harry Wu,” Playboy, February 1996.
49 Barker, Op. cit.
51 Colin Goldner, Mönchischer Terror auf dem Dach der Welt Teil 2: Krawalle im Vorfeld der Olympischen Spiele, Op. cit.
53 Ibid.
54 Ibid.
55 Ibid.
56 Zbigniew Brzezinski, “A Geostrategy for Eurasia,” Foreign Affairs, 76:5, September/October 1997
A seguir:
Capítulo 4
O Império das Bases -- As Bases do Império
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
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