ou
DOMÍNIO DO ESPECTRO TOTAL
CAPÍTULO
ONZE -- Parte 1
Full
Spectrum Dominance ou Loucura Completa?
‘Potencialmente,
o cenário mais perigoso seria uma grande coligação da China, Rússia e talvez
do Irão, uma coligação 'anti-hegemónica' unida não pela ideologia, mas por
queixas complementares ...
Para
evitar essa contingência ... será necessário uma exibição da prontidão
geo-estratégica dos EUA, simultaneamente, nos perímetros ocidental, leste e sul da Eurásia, . '
- Zbigniew Brzezinski, Conselheiro do candidato
Obama (1)
Geopolitica Euroasiática
Durante
os oito anos da presidência de Bush, a escala das despesas militares dos EUA
passou por uma transformação radical. O orçamento oficial anual do Pentágono,
incluindo as guerras do Iraque e do Afeganistão e as suas consequências
sangrentas, aumentou para além de todos os precedentes. No ano fiscal de 2001,
antes da declaração da Guerra ao Terror influenciar as despesas, o Pentágono
gastou 333 biliões de dólares em armas e mão-de-obra em todo o mundo para “defender a
democracia” e acima de tudo, o que foi definido como os “interesses da
segurança nacional” dos EUA. Em 2009, a soma anual mais do que duplicou, quando
as despesas do Iraque e do Afeganistão foram incluídas, subiu para 711 biliões
de dólares. (2)
Em
comparação com o resto das despesas militares no mundo, os montantes gastos por
Washington foram ainda mais impressionantes. Os Estados Unidos eram, de longe,
o líder global em despesas militares: em 2008, despenderam mais do que os 45
países que, juntos, tinham os maiores gastos do mundo. O Pentágono e o orçamento
correspondente representavam 48% do total das despesas militares do mundo,
quase metade de cada dólar militar. Comparados com os rivais em potência, os
EUA empregaram nas suas forças armadas quase seis vezes mais que a China, dez
vezes mais do que a Rússia e quase cem vezes mais que o Irão. A China, com o
segundo maior orçamento de defesa do mundo, gastou 122 biliões ou,
aproximadamente, um sexto da despesa militar dos EUA.
Quando
os orçamentos militares combinados dos Estados Unidos e de todos os seus aliados
da NATO, bem como dos principais aliados no Pacífico - Japão, Coreia do Sul e
Austrália - foram totalizados, a aliança dominada pelos EUA gastou anualmente
1,1 trilião nas suas forças armadas combinadas, representando 72% do total
mundial de despesas militares. (3) Se apenas os dólares e os equipamentos
fossem o único critério, o mundo seria, há muito tempo, uma colónia impotente sob o Domínio Total do Espectro dos EUA.
A
extensão das bases militares permanentes dos EUA, durante esse período de oito
anos, expandiu-se enormemente do Médio Oriente para a Ásia Central, para o
Afeganistão, Paquistão e por toda a África. O Pentágono tinha instalado todas
as armas do seu arsenal: conquista militar bruta, no Iraque; mudança de regime
de “poder brando” para as ditaduras pró-EUA, nas antigas repúblicas soviéticas da
Ucrânia e da Geórgia; e apoio a "Estados falidos" como o Kosovo.
O
foco estratégico dessa esmagadora formação militar dos EUA foi o controlo de
possíveis rivais no continente eurasiático, mais precisamente, da Rússia e da
China.
O
bizarro reconhecimento diplomático de Washington, da pequena província
separatista do Kosovo, nos Balcãs, foi o indício da sua determinação em usar
todo e qualquer meio para expandir o seu alcance militar a áreas estratégicas
vitais do mundo após 2001.
No
início de 2008, a pequena região do Kosovo, adjacente à Sérvia, declarou a sua
'independência'. O Presidente Bush, então a visitar a Tanzânia, não perdeu
tempo em declarar: “Agora, os Kosovares são independentes”. Washington
reconheceu formalmente o Kosovo como um país independente logo depois, apesar
das objecções de vários governos da União Europeia. Não parecia incomodar o
Departamento de Estado dos EUA que a independência do Kosovo e o seu
reconhecimento violassem abertamente as resoluções da ONU para o Kosovo,
fazendo da ONU uma farsa e violando o Direito Internacional.(4)
O
controlo USA/NATO sobre o Kosovo foi um passo importante no controlo da Europa
Central
O
novo regime de Kosovo foi conduzido pelo Primeiro Ministro Hashim Thaci, um
homem de 39 anos identificado pela Interpol e pelos relatórios dos serviços
secretos alemães do BND como um criminoso, um chefe do crime organizado do
Kosovo encarregado de tráfico de drogas, extorsão e prostituição. Esses factos
eram bem conhecidos em Washington. Não parecia importar. De facto, era
precisamente o contrário.
Hashim
Thaci era o protegido pessoal da Secretária de Estado do Presidente Clinton,
Madeleine Albright, durante a década de 1990, quando era um mero criminoso de
30 anos. De acordo com várias fontes de inteligência/serviços secretos, a
relação aparentemente íntima entre Albright, então na casa dos sessenta anos e
o elegante e jovem Thaci, não se resumia apenas a bons pontos de diplomacia. (5)
Thaci, cujo nome de guerra era Snake, teria ordenado a morte dos seus
concorrentes no KLA. (6) Ele também teria financiado a compra de armas para o
Exército de Libertação do Kosovo, através do tráfico de drogas -
especificamente o comércio de heroína - nos Balcãs. (7)
O
chamado Exército de Libertação do Kosovo (KLA) foi apoiado, desde o início,
pela Agência de Inteligência de Defesa dos EUA e pelo MI6 britânico e, segundo
informações, também pelo BND alemão. (8) Durante a guerra da NATO contra a
Sérvia, em 1999, o KLA foi apoiado, directamente, pela NATO.
O
Kosovo, anteriormente parte da Jugoslávia e depois da Sérvia, estava a ser
transformado num Estado cliente da NATO, administrado, de facto, por um
traficante de drogas conhecido internacionalmente, a fim de proporcionar aos
militares dos EUA um controlo sem restrições sobre todo o Médio Oriente e
sobre os Balcãs.
Então,
a questão era a seguinte: Por que razão Washington, a NATO, a União Europeia e o governo alemão estavam tão ansiosos para legitimar a desanexação do Kosovo?
A
resposta não era difícil de encontrar. Um Kosovo administrado internamente por
redes criminosas organizadas era fácil de controlar pela NATO. Assegurava um Estado
fraco que era muito mais fácil de influenciar e ser dominado pela NATO. Era a
peça principal num local estrategicamente crítico.
Imediatamente
após o bombardeio da Sérvia, em 1999, o Pentágono apoderou-se de uma parcela de
1.000 acres de território do Kosovo, em Uresevic, perto da fronteira da
Macedónia e concedeu um contrato à Halliburton (quando Dick Cheney era o CEO)
para construir uma dos maiores bases militares americanas em
todo o mundo, Camp Bondsteel. Mais tarde, foi revelado que Camp Bondsteel era
um local de prisões ilegais de tortura da CIA. (10)
A
dependência de Thaci das boas graças dos EUA e da NATO, assegurava que o governo
de Thaci fizesse o que lhe era dito em questões de política externa importante.
Essa circunstância garantia aos EUA uma grande vantagem militar, consolidando a sua
presença permanente no sudeste da Europa, estrategicamente vital. Foi um passo
importante na consolidação do controle da NATO sobre a Eurásia, especialmente
sobre a Rússia e deu aos EUA um grande impulso a seu favor no equilíbrio de
poder europeu.
Não
admira que Moscovo não tenha gostado desse desenvolvimento. O Kosovo fazia
parte de um projecto do Pentágono muito maior e mais perigoso para militarizar
toda a região, o “Médio Oriente Alargado”, como o Pentágono o designava. A
Rússia observou o papel instrumental dos EUA na definição da política da
vizinha Geórgia e do seu presidente escolhido a dedo, Mikhail Saakashvili, não
apenas em relação à adesão à NATO, mas para provocar o ataque militar, em Agosto
de 2008, que ameaçara reiniciar a Guerra Fria, ou algo ainda pior.
O Jogo Militar Louco da Geórgia
Em
Agosto de 2008, após meses de tensões crescentes, o Presidente da Geórgia, Mikhail
Saakashvili, ordenou a invasão da província separatista da Ossétia do Sul. A sua
decisão não foi um acto individual. Tinha-se encontrado com o antigo estratega
de Bush, Karl Rove, na Ucrânia, três semanas antes da invasão e, durante esse
período, teve contacto frequente por telefone com o candidato republicano à
presidência, John McCain, que ele, supostamente, conhecia bem. (11) Saakashvili
também se reuniu com a Secretária de Estado, Condoleezza Rice, em Tbilisi, em
10 de Julho, um dia após Rice ter assinado um acordo com a República Checa,
permitindo aos EUA instalar no seu território radares avançados de defesa
contra mísseis balísticos. Rice, uma especialista em assuntos russos, por
natureza, apoiou, de acordo com os relatos, o plano de Saakashvili de lançar o
ataque enquanto reivindicava, publicamente, distância. (12)
Dias
após o início da guerra, Saakashvili e o seu Ministro da Defesa, David
Kezerashvili, cidadão com dupla nacionalidade, com passaporte israelita e
fluente em hebraico, disseram à imprensa que os militares da Geórgia deviam uma
dívida a Israel por armar e treinar as suas forças. Além do mais, o Ministro da
Reintegração da Geórgia, Temur Yakobashvili, também fluente em hebraico,
aumentou o constrangimento dos oficiais de Tel Avive ao afirmar à Rádio do
Exército de Israel: “Israel deve orgulhar-se das suas Forças Armadas, que
treinaram os soldados georgianos”. (13)
Esta
declaração pública, proferida em hebraico logo após o início do conflito,
levantou mais do que algumas sobrancelhas nos círculos diplomáticos europeus.
Israel tinha vendido à Geórgia cerca de 200 milhões de dólares em equipamentos
desde 2000, incluindo drones pilotados remotamente, foguetes, equipamentos de
visão nocturna, sistemas electrónicos sofisticados e treino militar por antigos oficiais israelitas. (14)
O
Vice-Chefe do Estado Maior da Rússia, Coronel General Anatoly Nogovitsyn, acusou
Israel de fornecer armas à Geórgia e de entregar sistemas de armas, incluindo
oito tipos de aviões não tripulados e cerca de 100 minas anti-tanque. A
presença israelita na Geórgia consistia em Forças Especiais da IDF, pessoal da
Força Aérea israelita, destacamentos dos Serviços Secretos Mossad e outros
grupos israelitas, incluindo mercenários – todos a trabalhar em cooperação completa
com as forças americanas - para treinar e equipar as novas forças armadas da
Geórgia.
Ao
mesmo tempo, acusou Nogovitsyn, Israel estava a preparar-se para mover alguns dos seus aviões de ataque
para a Geórgia, instalá-los em aeródromos controlados por Israel no sul da
Geórgia, armá-los e equipá-los para um ataque a Teerão.
Deve notar-se que a distância de Tel Avive a Teerão é de 1.600 km, e a
distância do sul da Geórgia a Teerão é de 1.149 km. Os tanques antiderrapantes adicionam 600-800 milhas à
faixa geral.
De
acordo com um relatório de Brian Harring no TBRNews.org,
o ataque aéreo israelita tinha como objectivo edifícios do governo iraniano com
um grupo israelita a atingir os locais onde as principais autoridades iranianas
estavam a trabalhar, outro grupo atacaria as residências da liderança superior
iraniana e outros bombardeariam qualquer laboratório identificado onde
estivesse a ser realizado trabalhos nucleares. Um segundo vôo destinava-se a
atacar poços de petróleo, oleodutos e terminais de petróleo do Golfo Pérsico. Uma vez concluído o ataque duplo, os aviões seguiriam em direcção a Israel e seriam reabastecidos no ar, por um avião tanque
americano.
Após
a invasão russa da Geórgia e da desintegração do exército georgiano, um
satélite espião russo avistou um comboio de Humvees americanos a descer a autoestrada
em direcção ao porto georgiano de Poti, então ocupado pelas tropas russas,
informou Harring. O comboio, cheio de um grupo de tropas especiais da Geórgia, foi
capturado. Os veículos estavam carregados com explosivos plásticos, armas de
fogo silenciosas e, para agradável surpresa dos serviços secretos militares
russos, com uma grande quantidade de documentos secretos da NATO sobre a sua
tecnologia de satélite altamente secreta.
Parece
que os georgianos comandavam os veículos dos EUA para fugir aos russos,
totalmente inconscientes do seu conteúdo.
As
notáveis fugas de segurança de fontes americanas e israelitas foram enviadas para
Moscovo para serem avaliadas. Putin então teve uma excelente oportunidade de
causar estragos nos seus inimigos georgianos, esmagar as suas forças armadas,
capturar a vasta provisão de equipamentos militares americanos armazenados na
Geórgia e forçar os americanos e os israelitas a sair do país sob circunstâncias
humilhantes. As unidades russas também assumiram o controlo de parte do oleoduto
vital do Trans-Cáucaso, apoderaram-se das antigas províncias russas separatistas
e estabeleceram um limite figurativo para além do qual nenhum outro avanço seria
aceite.
Segundo
Harring, um relatório da GRU da Rússia, datado de 3 de Setembro de 2008, dizia
respeito a um aspecto de um enorme conjunto de documentos dos serviços secretos
americanos e israelitas, encontrados abandonados na Geórgia por ambas as
unidades de inteligência americanas e israelitas. Os documentos revelaram que
o equipamento electrónico dos EUA, capturado em Poti por unidades russas
spesnatz, foi parcialmente fabricado em Odessa, na Ucrânia, sob licença dos
EUA. A Ucrânia não era membro da NATO, mas equipamentos militares sensíveis da
NATO estavam a ser fabricados num país não pertencente à NATO. O relatório
russo continuou afirmando que os militares da Geórgia não só abandonaram
“quantidades significativas” de equipamentos valiosos, mas também comprometeram
totalmente as redes dos serviços secretos americanas e israelitas,
estabelecidas na Geórgia com a finalidade de espionagem electrónica no Irão, na
Rússia e na Turquia. (16)
Israel
alegou que não era um grande fornecedor de armas da Geórgia, insistindo que os
EUA e a França tinham fornecido a maioria das armas a Tbilisi. O Debka, um
serviço de notícias israelita com laços estreitos com o Mossad, equivalente da
CIA em Israel, informou:
O interesse de Israel no conflito,
a partir de fontes militares exclusivas da [Debka]: Jerusalém possui um forte
interesse nos oleodutos e gasodutos do Mar Cáspio que atingem o porto
terminal turco de Ceyhan, em vez da rede russa. Negociações intensas estão em
andamento entre Israel, Turquia, Geórgia, Turquemenistão e Azerbaijão, para que
os oleodutos cheguem à Turquia e daí ao terminal de petróleo de Israel em
Ashkelon e ao porto de Eilat no Mar Vermelho. A partir daí, os super petroleiros
podem transportar o gás e o petróleo para o Extremo Oriente através do Oceano
Índico. (17)
De
qualquer forma, Israel anunciou, prontamente, a suspensão de todas as vendas de
armas à Geórgia. De acordo com fontes diplomáticas, Israel temia que a Rússia
retaliasse, vendendo mísseis anti-mísseis avançados ao Irão. (18) Meses depois,
uma Comissão Parlamentar Especial de Inquérito, da Ucrânia, investigou
alegações de venda ilegal de armas à Geórgia pelo Presidente pró-NATO da
Ucrânia, Viktor Yushchenko . A comissão concluiu que o Presidente estava envolvido,
pessoalmente, na venda ilegal de armas e na subnotificação fraudulenta do seu
valor às autoridades fiscais da Ucrânia. (19)
A
Ucrânia tinha fornecido armas à Geórgia mesmo após do início da guerra com a
Rússia. Valery Konovaliuk, chefe da Comissão Parlamentar Ucraniana de
Investigação Ad Hoc, declarou à imprensa que a Comissão tinha documentos a confirmar
que a Ucrânia continuava a fornecer armas à Geórgia, mesmo após o término do
conflito com a Rússia. Alegou que certos documentos indicavam que munições e
armas de artilharia, disfarçadas de ajuda humanitária, foram enviadas para
Batumi, em 22 de Setembro de 2008, muito depois do fim do conflito.
Na
época, estava a armar, claramente, até aos dentes, o seu vizinho e colega
candidato à NATO, a Geórgia de Saakashvili e o Presidente da Ucrânia, Viktor
Yushchenko, que também estava a pedir para aderir à NATO, totalmente apoiado
por Washington. Não é de surpreender que a Alemanha e a França estivessem
ansiosas por admitir dois candidatos instáveis à NATO, onde “um ataque contra um
é um ataque contra todos”, o que significa que eles podiam enfrentar uma guerra
futura contra a Rússia, iniciada pela minúscula Geórgia.
A
Comissão da Ucrânia também descobriu que houve peculato nas receitas da venda
de armas, com grandes somas que não chegaram às contas do Tesouro do Estado e
do Ministério da Defesa. Segundo os cálculos, a Ucrânia vendeu 2 biliões de
dólares de armas, ao longo de três anos, enquanto foram declarados,
oficialmente, 840 milhões de dólares. Presume-se que o resto, encheu os bolsos
de Yushchenko e dos amigos. (20)
Os
regimes da Ucrânia e da Geórgia, de facto,
clientes de Washington, após 2004, estavam a ser expostos como ditaduras
criminosas disfarçadas, comportando-se como 'democracias'. Ambos os Estados
eram, realmente, formas de 'democracia' totalitária em que as leis eram
irrelevantes quando, apoiados pelos EUA, impediam os objectivos de Yushchenko, na
Ucrânia, ou de Saakashvili, na República da Geórgia.
Enquanto
Washington se empenhava em aquecer os Balcãs e a Ucrânia contra a Rússia, também
estava a subir a parada contra a China na guerra pelo petróleo e pelas
matérias-primas estratégicas que se desenvolvia então em África.
A seguir:
Africom, China e
Guerras de Recursos/Matérias Primas
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
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