ou
DOMÍNIO DO ESPECTRO TOTAL
CAPÍTULO ONZE -- Parte 2
Africom,
China e Guerras de Recursos/Matérias Primas
Apenas
algumas semanas após o Presidente George W. Bush assinar a Ordem que criou o
AFRICOM, o novo comando militar dos EUA dedicado à África, vários
acontecimentos sinistros eclodiram no continente rico em minerais. Essas
ocorrências sugeriam que um programa importante da Presidência Obama seria
concentrar os recursos dos EUA - militares e outros – para lidar com as quatro áreas
principais de África: a República do Congo; o Golfo da Guiné, rico em petróleo;
a região de Darfur, rica em petróleo, no sul do Sudão; e cada vez mais, a “ameaça
de pirataria” da Somália às rotas marítimas, no Mar Vermelho e no Oceano Índico.
(21)
O
continente africano contém o que a maioria dos geólogos acredita ser a riqueza
mineral mais abundante do planeta. Com a China, a Rússia, a Índia e outros
'rivais' potenciais dos EUA a começar a desenvolver laços com várias nações
africanas e com as suas matérias-primas, a resposta de Washington foi clara –
prevalecer pela força militar.
A
República Democrática do Congo tinha sido renomeada de República do Zaire, em
1997, quando as forças de Laurent Désiré Kabila (pai do Presidente Joseph
Kabila) tinham terminado os trinta e dois anos do reinado de terror de Mobutu. Os
moradores continuaram a designar o país como Congo-Kinshasa.
O Grande Vale da
Fenda (Rift), em África, possui a maior concentração de matérias primas do
mundo e, consequentemente, é a causa das guerras pelo controlo das mesmas.
A
região de Kivu, no Congo, era o deposito geológico de alguns dos maiores
minerais estratégicos do mundo. A fronteira oriental que circunda o Ruanda e o Uganda fica na margem leste do Grande Vale do Rift Africano, considerado pelos
geólogos, como um dos mais ricos depósitos de minerais à face da Terra. A
Grande Fenda foi a maior ruptura na superfície terrestre, estendendo-se por
mais de 4.000 milhas, desde o Líbano até ao Canal de Moçambique, na parte sul do
continente, contendo talvez o solo vulcânico mais fértil e a maior concentração
mineral do planeta. Para quem a controlava, essa região era muito literalmente, uma mina de ouro. (22)
A
República Democrática do Congo continha mais da metade do cobalto do mundo.
Possuía um terço dos diamantes e, de maneira extremamente significativa, três
quartos dos recursos mundiais de columbite-tantalite ou “coltan” - um
componente primário dos microchips de computador e das placas de circuito impresso,
essenciais para telefones móveis, computadores portáteis e outros
dispositivos electrónicos modernos. (23)
A
American Mineral Fields, Inc., uma empresa fortemente envolvida na promoção da
adesão ao poder de Laurent Kabila, em 1996, estava, na época do seu
envolvimento na guerra civil do Congo, sediada em Hope, Arkansas, cidade natal
do então Presidente Bill Clinton. Os principais accionistas incluíam associados
de longa data de Clinton, regressando aos seus dias como governador do
Arkansas.
Vários
meses antes da queda do ditador do Zaire, Mobutu Sese Seko, apoiado pela
França, Laurent Kabila renegociou os contratos de mineração com várias empresas
de mineração americanas e britânicas, incluindo a American Mineral Fields. O
domínio corrupto de Mobutu foi encaminhado para um fim sangrento com a ajuda do
Fundo Monetário Internacional, dirigido pelos EUA, que cortou o financiamento num
momento crítico. (24)
Washington
não estava totalmente à vontade com Laurent Kabila, que foi, finalmente,
assassinado em 2001, em circunstâncias sombrias. Num estudo divulgado em Abril de
1997, apenas um mês antes do Presidente Mobutu deixar o país, o FMI recomendou
“interromper, completa e abruptamente, a emissão de moeda” como parte de um
programa económico de “recuperação”. Essa circunstância teve o efeito de acabar
com o controlo de Mobutu sobre o dinheiro do país.
Kabila,
como sucessor de Mobutu, tinha incomodado os seus apoiantes americanos ao
renunciar aos acordos para vender concessões de mineração e ao recusar-se a aceitar
propostas do FMI para pagar as enormes dívidas do país ocorridas durante a
governação de Mobutu. O Kabila mais velho tinha fortalecido laços com a China
logo após assumir o cargo, ao viajar para Pequim, onde foi calorosamente
recebido pelas autoridades chinesas. (25)
As
privatizações exigidas pelo FMI dos activos estatais de mineração teriam aberto
as portas às empresas de mineração norte-americanas ou outras empresas relacionadas, para assumir o controlo dos principais activos minerais do país. Poucos meses
depois de assumir o poder em Kinshasa, o novo governo de Laurent Kabila recebeu ordens do FMI para congelar os salários do serviço público com o objectivo
de “restaurar a estabilidade macroeconómica”, uma medida que o tornaria cativo
dos 'protectores' estrangeiros do seu próprio governo. Desgastado pela
hiper-inflação, o salário médio do sector público caiu para o equivalente a um
dólar por mês. A atracção da ajuda económica “sem encargos” da China, em
contraste com as exigências do FMI, era clara.
Segundo
o pesquisador canadiano Michel Chossudovsky, as exigências do FMI equivaliam a manter toda a população numa situação de pobreza abismal. Elas
impediram, desde o início, uma reconstrução económica significativa do
pós-guerra, alimentando assim a continuação da guerra civil congolesa na qual
quase dois milhões de pessoas morreram. Laurent Kabila foi sucedido pelo seu
filho, Joseph Kabila, que se tornou o primeiro presidente democraticamente eleito
do Congo e que parecia manter um olhar mais atento sobre o bem-estar dos
seus compatriotas do que o seu pai.
Logo
que o AFRICOM se tornou operacional, em 1 de Outubro de 2008, novas crises
gigantescas eclodiram na província de Kivu, na República Democrática do Congo,
em Kabila. (26) O elemento comum que liga Kivu a Darfur, no sul do Sudão, era
que ambas as regiões eram estrategicamente vitais para o fluxo futuro de
matérias primas para a China.
A
política de Washington era simples: tentar entrar numa posição de “negação
estratégica”, o termo militar usado para a capacidade de cortar os fluxos vitais de
minerais e petróleo para um rival potencial, como a China.
De
acordo com a Comissão Internacional de Resgate, mais de 5.400.000 civis congoleses morreram ao longo de uma guerra que
prosseguia no Congo desde 1996, tornando as guerras na República Democrática do
Congo no conflito mais mortal do mundo desde a Segunda Guerra Mundial. (27) Curiosamente, ao contrário, do que aconteceu no caso de Darfur, não foi ouvido nenhum clamor de genocídio em Washington, sobre esse número impressionante de mortes na República
do Congo - de magnitude mais elevada do que os números citados como prova de
genocídio, em Darfur.
A
maioria das mortes ocorreu na parte oriental da República Democrática do Congo
(RDC), onde o líder rebelde Laurent Nkunda continuava a travar uma guerra de
recursos contra o governo democraticamente eleito e reconhecido
internacionalmente, do Presidente Joseph Kabila. Laurent Nkunda alegava que
estava a proteger a minoria étnica tutsi da República Democrática do Congo
contra os remanescentes do exército ruandês hutu que fugiram para a República
Democrática do Congo após o genocídio ruandês em 1994. (28)
Laurent
Nkunda era um tutsi étnico, assim como o seu patrono, o ditador norte-americano do Ruanda, Paul Kagame. Os soldados da paz da ONU não relataram as atrocidades contra
a minoria Tutsi na região nordeste do Kivu, rica em minerais. Fontes congolesas
relataram que os ataques contra congoleses
de todas as etnias eram uma ocorrência diária na região e que as tropas de Laurent Nkunda eram responsáveis pela
maioria desses ataques. (29)
O caos político na República Democrática do Congo intensificou-se em Setembro de 2008, quando o Primeiro Ministro desse país, Antoine Gizenga, de 83 anos, se demitiu. Então, inesperadamente, em Outubro, o Comandante da Operação de Manutenção de Paz das Nações Unidas no Congo, de nacionalidade espanhola, Tenente General Vicente Diaz de Villegas, demitiu-se após cerca de sete semanas no cargo. Declarou falta de confiança na liderança do Subsecretário Geral da ONU, Alan Doss. Disse ao jornal espanhol El Pais: “Senti que o meu dever era demitir-me, para chamar à atenção e não para assumir a responsabilidade das possíveis consequências [da aplicação do Plano de Separação.]” (30) Esse Plano de Separação da ONU era, com efeito, separar a província de Kivu da República Democrática do Congo, uma medida que enfraqueceria gravemente a RDC e teria, entre outras, consequências para a China.(31)
Joseph Kabila, o primeiro Presidente democraticamente eleito da República Democrática do Congo, estava a negociar um importante acordo comercial de 9 biliões de dólares, entre a RDC e a China, algo pelo qual Washington não se sentia, obviamente, feliz. Em Abril de 2008, Kabila tinha dado uma entrevista ao jornal belga, Le Soir, onde declarou que a China era agora, o parceiro comercial e de desenvolvimento mais importante do Congo, prometendo que a sua influência se expandiria ainda mais à custa da Europa. A entrevista ocorreu depois de uma delegação do governo belga ter levantado preocupações sobre os direitos humanos e a corrupção, durante uma visita oficial ao Congo, que o Presidente Kabila considerou arrogante e ofensiva. O registo colonial da Bélgica sobre violações dos direitos humanos no Congo, não era exemplar.(32)
Kabila
foi citado como tendo dito que o Congo havia feito uma “escolha irreversível” ao apontar a China como parceiro preferido, em vez da Europa e da Bélgica,
antigo dono colonial do Congo. (33)
Pouco
depois da entrevista de Kabila ao Le Soir,
Nkunda lançou a sua nova ofensiva. Nkunda era um guarda-costas de longa data do
presidente Kagame, do Ruanda, que tinha sido treinado em Fort Leavenworth, no Kansas.
Todos os sinais indicavam um papel pesado, embora secreto, dos EUA nos assassinatos
do Congo pelos homens de Nkunda. O próprio Nkunda era um antigo oficial do
Exército congolês, professor e pastor adventista, da Igreja do Sétimo Dia. Mas,
graças ao treino em Fort Leavenworth, ele tornou-se mais conhecido por
matar.
As
forças bem equipadas e relativamente disciplinadas de Nkunda eram,
principalmente, do país vizinho do Ruanda, onde os técnicos militares dos
EUA tinham operado. Uma parte dessas forças tinha sido recrutada na população
minoritária tutsi, da província congolesa de Kivu do Norte. Os suprimentos, o financiamento
e o apoio político para o exército rebelde congolês vieram do Ruanda. De acordo
com a revista American Spectator, “o Presidente Paul Kagame, do Ruanda, tem
sido um apoiante de Nkunda de longa data, que, originalmente, era um oficial dos serviços
secretos implicado na queda do dirigente do Ruanda, do governo despótico
hutu, sobre o seu país”.
A
Agência de Notícias do Congo tornou público que não era para proteger os seus irmãos
nativos tutsis que Nkunda estava a lutar, mas sim:
"Os seus verdadeiros
motivos... são ocupar a província rica em minerais do Norte do Kivu, roubar os seus
recursos e actuar como um exército mercenário, no leste do Congo, para o
governo do Ruanda, liderado pelos tutsis, em Kigali. O Presidente Kagame quer uma posição no
leste do Congo para que o seu país possa continuar a beneficiar da pilhagem e a
exportar minerais como a columbita-tantalita (Coltan). Hoje, muitos
especialistas da região concordam que os recursos são a verdadeira razão pela
qual Laurent Nkunda continua a criar o caos na região com a ajuda de Paul Kagame.(35)
O
Coltan era um metal vital que controlava o fluxo de electricidade em todos
os telefones celulares do mundo, o que significava que a sua importância
estratégica na década anterior, tinha aumentado enormemente. Uma organização missionária
religiosa dinamarquesa declarou que o
controlo sobre os lucros das minas da empresa DR Congo Coltan, era uma das
principais causas dos constantes conflitos sangrentos, nesse país. A região
possuía as maiores reservas mundiais desse mineral importante. (36).
A seguir:
Genocídio Hutu e Tutsi: O Papel dos EUA
A seguir:
Genocídio Hutu e Tutsi: O Papel dos EUA
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.