A Arte da guerra
Três Triliões de Dólares
no Poço Sem Fundo Afegão
no Poço Sem Fundo Afegão
Manlio Dinucci
Na
Declaração de Londres (3 de Dezembro de 2019), os 29 países da NATO reafirmaram
“o empenho na segurança e na estabilidade, a longo prazo, do Afeganistão”. Uma semana
depois, de acordo com a “Lei da Liberdade de Informação” (usada para esvaziar, depois
de vários anos, alguns esqueletos dos
armários, de acordo com a conveniência política), o Washington Post tornou públicas 2.000 páginas de documentos que “revelam
que as autoridades americanas enganaram o público sobre a guerra do Afeganistão”.
Essencialmente, ocultaram os efeitos desastrosos e também as implicações económicas,
de uma guerra em curso há 18 anos.
Os
dados mais interessantes que surgem são os dos custos económicos:
Ø Para as operações militares,
foram desembolsados 1.5 triliões de dólares, cifra que “permanece opaca” - por
outras palavras, subestimada - ninguém sabe quanto despenderam na guerra os
serviços secretos ou quanto custaram, realmente, as empresas militares privadas, os mercenários
recrutados para a guerra (actualmente, cerca de 6 mil).
Ø Visto que “a guerra foi
financiada com dinheiro tomado de empréstimo”, os juros atingiram 500 biliões, o
que eleva a despesa para 2 triliões de dólares.
Ø Acrescentam-se a esta
verba, outros custos: 87 biliões para treinar as Forças afegãs e 54 biliões
para a “reconstrução”, grande parte dos quais “foram perdidos devido à
corrupção e aos projectos fracassados”.
Ø Pelo menos, outros 10
biliões foram gastos na “luta contra o tráfico de drogas”, com o bom resultado
de que a produção de ópio aumentou fortemente: hoje o Afeganistão fornece 80%
da heroína aos traficantes de drogas do mundo.
Ø Com os juros que continuam
a acumular-se (em 2023, chegarão a 600 biliões) e o custo das operações em
curso, a despesa supera, amplamente, os 2 triliões.
Ø Também é preciso
considerar o custo da assistência médica aos veteranos, saídos da guerra com ferimentos
graves ou inválidos. Até agora, para os que combateram no Afeganistão e no
Iraque, foram despendidos 350 biliões que, nos próximos 40 anos, subirão para
1.4 triliões de dólares.
Visto que mais da metade dessa
verba, é gasta com os veteranos do Afeganistão, o custo da guerra, para os EUA,
sobe para cerca de 3 triliões de dólares.
Após 18 anos de guerra e um número não
quantificável de vítimas entre os civis, ao nível militar, o resultado é que “os
Taliban controlam grande parte do país e o Afeganistão permanece uma das
principais áreas de proveniência de refugiados e migrantes”.
Portanto,
o Washington Post conclui que, dos
documentos vindos a público, surge “a dura realidade dos passos falsos e dos
fracassos do esforço americano em pacificar e reconstruir o Afeganistão”. Desta
maneira, o prestigioso jornal, que demonstra como as autoridades americanas “enganaram
o público”, por sua vez engana o público, ao apresentar a guerra como “um
esforço americano para pacificar e reconstruir o Afeganistão”.
O
verdadeiro objectivo da guerra conduzida pelos EUA no Afeganistão, na qual a
NATO participa, desde 2003, é o controlo dessa área de importância estratégica
fundamental na encruzilhada entre o Médio Oriente, a Ásia Central, Meridional e
Oriental, sobretudo, na periferia da Rússia e da China.
Nesta
guerra participa a Itália, sob o comando USA, desde que o Parlamento autorizou,
em Outubro de 2002, o envio do primeiro contingente militar, a partir de Março
de 2003. A despesa italiana, subtraída ao erário público, tal como a dos EUA, é
estimada em cerca de 8 biliões de euros, à qual se junta vários custos indirectos.
Para
convencer os cidadãos, atingidos pelos cortes nas despesas sociais, de que são
necessários outros fundos para o Afeganistão, diz-se que eles servem para
trazer melhores condições de vida ao povo afegão. E os Frades do Sagrado
Convento de Assis deram ao Presidente Mattarella, a “Lâmpada da Paz, de São Francisco”, reconhecendo assim, que “a Itália, com as missões dos seus
militares, colabora activamente para promover a paz em todas as partes do
mundo.”
il manifesto, 17 de Dezembro de 2019
http://www.natoexit.it/en/home-en/ -- ENGLISH
http://www.natoexit.it/ -- ITALIANO
DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT,
em todos os países europeus da NATO
Para uma frente internacional NATO EXIT,
em todos os países europeus da NATO
Manlio Dinucci
Geógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.