Mikhail Gorbachev R.I.P.
30 de Agosto de 2022 | Categorias: Artigos & Colunas | Etiquetas:
Mikhail Gorbachev R.I.P. (Rest in Peace = Descanse em Paz)
Por Paul Craig Roberts
Mikhail Gorbachev foi o primeiro Presidente da União Soviética e o último governante soviético. Foi o melhor da geração mais jovem de membros do Partido Comunista que compreendeu, tal como o Presidente dos EUA, Ronald Reagan, a futilidade da Guerra Fria e a ameaça desnecessária do Armagedão/massacre nuclear. Gorbachev também percebeu que as repressões e as dificuldades dos anos soviéticos eram desnecessárias e ele, juntamente com os seus conselheiros, alguns dos quais conheci e com quem participei em conferências, tentou reformar o sistema soviético. Foi obviamente um grande homem e um dirigente sincero dos povos soviéticos.
O Presidente Reagan apercebeu-se da grandeza de Gorbachev. Reagan percebeu também que Gorbachev estava limitado na sua capacidade de pôr fim à Guerra Fria devido a elementos desconfiados do Politburo. O plano do Presidente Reagan, no qual participei, era salvar a economia dos EUA da *"estagflação"[É um cenário de inflação, estagnação do desenvolvimento económico e aumento do desemprego.] e depois exercer pressão sobre a União Soviética através de uma ameaça de corrida às armas - Guerra das Estrelas - a fim de reforçar a posição de Gorbachev a favor do fim da Guerra Fria, do que sujeitar a economia soviética a lutar contra uma corrida às armas, confrontada perante uma economia americana revitalizada.
Reagan, apesar da oposição da CIA e do complexo militar e de segurança dos EUA, levou a cabo o seu plano não para ganhar a Guerra Fria, mas como Reagan salientou repetidamente a todos os envolvidos, para pôr fim à Guerra Fria. Nenhum de nós, incluindo Reagan, tinha qualquer ideia do colapso soviético. O nosso objectivo era impedir um conflito injustificado que ameaçava a Humanidade com o Armagedão, isto é, com o massacre nuclear.
O que não percebemos foi que elementos da linha dura do Partido Comunista Soviético pensavam que Gorbachev estava a fazer demasiadas concessões ao Ocidente demasiado cedo, sem concessões e garantias recíprocas suficientes. Ao que tudo indica, o próprio Gorbachev não se apercebeu disso.
Reagan procedeu com prudência. Convidou Gorbachev para a Casa Branca. Reagan convenceu o distinto pianista americano, Van Cliburn, à data já aposentado, a actuar para Gorbachev na Casa Branca. Van Cliburn tinha ganho, com a aprovação de Khrushchev, o concurso internacional inaugural Tchaikovsky em Moscovo, em 1958. Além das composições clássicas de compositores russos, Van Cliburn presenteou Gorbachev com obras do folclore russo. O Presidente Reagan proibiu absolutamente qualquer referência depreciativa à União Soviética. Nada, nem mesmo a CIA, impediu o fim da Guerra Fria.
Após o fim do segundo mandato de Reagan, eu tinha menos ligação com o seu sucessor, o anterior Vice Presidente, George H. W. Bush, mas sei por um facto incontestável, que o Secretário de Estado, James Baker, garantiu a Gorbachev que se ele, Gorbachev, permitisse a unificação da Alemanha, a NATO não se deslocaria um centímetro para Leste. Não há dúvida sobre este acontecimento, apesar dos desmentidos dos neoconservadores americanos e dos funcionários do regime de Clinton.
A União Soviética ruiu, não graças a Reagan, mas porque os comunistas da linha dura, como é compreensível, perturbados pela confiança de Gorbachev na palavra de Washington, tentaram um golpe e colocaram Gorbachev sob prisão domiciliária. Foi este erro de cálculo que provocou o colapso do governo soviético e a ascensão de Ieltsin, que, intencionalmente ou não, estava essencialmente sob o controlo de Washington.
Gorbachev, acreditando, tal como Reagan, na futilidade da Guerra Fria, acreditou que o conflito tinha terminado. O erro de Gorbachev foi o de não compreender Washington. Um Presidente americano pode fazer um acordo que pode ser rescindido por um sucessor. Esta situação é válida mesmo que existam documentos assinados, mas na ausência de documentos assinados, o regime corrupto de Clinton pôde alegar a inexistência de um acordo, segundo o qual a NATO não se deslocaria para as fronteiras da Rússia.
Tendo em conta que o regime democrata Clinton derrubou o fim da Guerra Fria de Reagan-Gorbachev, através de uma Nova Guerra Fria, agora grandemente expandida sob o regime do democrata Biden, a tolerância do Kremlin em relação às intenções agressivas declaradas do Ocidente contra a Rússia é perturbadora. Como pode alguém no Kremlin tornar a acreditar numa palavra do que Washington diz?
Na Rússia, Gorbachev não é visto como o notável dirigente que ele foi. Na América, os patriotas ignorantes que agitam bandeiras, baseiam erradamente o seu orgulho no facto de Reagan ter ganho a Guerra Fria.
Tanto quanto eu posso dizer, é que, na qualidade de participante, nenhum dos lados compreende o que aconteceu.
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