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Quem e como nos conduzem à catástrofe
6.4 A segunda guerra contra o Iraque.
O plano dos Estados Unidos de atacar e ocupar o Iraque torna-se evidente quando, depois da ocupação do Afeganistão, em Novembro de 2001, o Presidente Bush o coloca, em 2002, no primeiro lugar entre os países que fazem parte do «Eixo do Mal».
Depois da primeira guerra do Golfo, em 1991, o Iraque foi submetido a um férreo embargo que, em dez anos, provocou cerca de um milhão de mortos, dos quais, cerca de meio milhão eram crianças. Um massacre provocado, mais do que a desnutrição crónica e a falta de medicamentos, pela carência de água potável e pelas consequentes doenças infecciosas e parasitárias. Os Estados Unidos – demonstram-no documentos vindos à luz mais tarde – executaram um plano preciso: primeiro bombardearam as instalações de depuração e os aquedutos para provocar uma crise hídrica e, assim, impedir com o embargo, que o Iraque pudesse importar os sistemas de depuração. As consequências sanitárias eram previstas, claramente, desde o início e programadas de modo a acelerar o colapso do Iraque. Outras vítimas são provocadas, nos anos seguintes à primeira guerra, pelos projecteis de urânio empobrecido, usados maciçamente pelas forças americanas e aliadas, quer nos bombardeamentos aéreos, quer nos terrestres.
No entanto, a segunda guerra contra o Iraque, revela-se ainda mais difícil de encorajar do que a que foi levada a cabo em 1991. Ao contrário de então, o Iraque de Saddam Hussein não cometeu nenhuma agressão e respeita a Resolução 1441 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, permitindo aos inspectores da ONU entrar em todos os sítios para verificar a existência eventual de armas de destruição em massa (que não foram encontradas). Consequentemente, torna-se mais difícil aos Estados Unidos, criar uma motivação «legal» para a guerra e, nesta base, obter uma aprovação internacional análoga à de 1991.
No entanto, a Administração Bush decide ir até ao fim. Em seguida, apresenta ao Conselho de Segurança da ONU uma série de «provas» recolhidas pela CIA, que depois foram demonstradas serem falsas, sobre a presumível existência de um grande arsenal de armas químicas e bacteriológicas na posse do Iraque, e sobre uma presumível capacidade de construir num breve espaço de tempo, armas nucleares. Visto que o Conselho de Segurança se recusa a autorizar a guerra, a Administração Bush, simplesmente, ignora-o.
A guerra inicia-se em 20 de Março de 2003 com o bombardeamento aéreo de Baghdad e outros centros, pela aviação americana e britânica e com o ataque terrestre efectuado pelos marines, que entram no Iraque pelo Kuwait. Em 9 de Abril, as tropas americanas ocupam Baghdad. A operação, denominada «Iraqi Freedom», é apresentada como «guerra preventiva» e «exportação da democracia». Deste modo, é posto em acção o princípio enunciado na Quadrennial Defense Review Report, do Pentágono (30 de Setembro de 2001): «As forças armadas americanas, sob a direcção do Presidente, devem manter a capacidade de impor a vontade dos Estados Unidos a qualquer adversário, incluindo Estados e entidades não estatais, mudar o regime de um Estado adversário ou ocupar um território estrangeiro, enquanto os objectivos estratégicos dos Estados Unidos não estiverem realizados».
Mas, acima da «vontade dos Estados Unidos», está a vontade dos povos de resistir. É o que acontece no Iraque, onde as forças de ocupação americanas e aliadas – compreendendo as italianas, empenhadas na operação «Antiga Babilónia» - encontram uma resistência que não esperavam enfrentar. Para impedi-la, o Iraque é posto a ferro e fogo por outro milhão e meio de soldados, que o Pentágono desloca em rotação, juntamente com centenas de milhares de militares contratados, usando qualquer meio: desde bombas de fósforo contra a população de Falluja às torturas nas prisões de Abu Ghraib. Provocando cerca de um milhão de vítimas civis, juntem-se-lhes as vítimas da primeira guerra contra o Iraque e as do embargo, forçando mais de dois milhões de iraquianos a abandonar as suas casas e outros tantos a refugiar-se na Síria e na Jordânia.
Uma guerra que deixa o país devastado, com uma desocupação superior a 50%, com metade dos médicos que tinha antes da invasão, com um terço das crianças afectadas por subnutrição, às quais se juntam as crianças atingidas por malformação genética devido às armas de urânio empobrecido e outras usadas pelo Pentágono. Uma guerra que os Estados Unidos pagam com 4.500 mortos e mais de 30.000 feridos entre os militares, 30% dos quis regressam a casa com problemas psíquicos. Custou 1.000 biliões de dólares, aos quais se juntam cerca de 4 mil biliões de dólares de despesas indirectas, como as de ajuda aos veteranos.
Dado que a resistência iraquiana bloqueia a máquina bélica americana e aliada, Washington recorre à política antiga mas sempre eficaz «divide et impera», fazendo concessões a alguns agrupamentos shiitas e curdos para isolar os sunitas. No caso da operação não ser bem sucedida, Washington tem preparado um plano de reserva: desagregar o Iraque (como já fez com a Federação Jugoslava) de modo a poder controlar a zona petrolífera e outras áreas de interesse estratégico, através de acordos com grupos de poder locais. No Curdistão iraquiano, onde operam desde 2003, forças especiais americanas, Washington liga a si o governo regional curdo de Masoud Barzani, com o qual a ExxonMobil conclui um contrato avultado para a exploração petrolífera, contornando o governo de Baghdad.
Baseada nessa estratégia a NATO intervém oficialmente e participa na guerra de facto, com as suas forças e estruturas. Em 2004 é instituída a «Missão NATO de treino», com o objectivo declarado de «ajudar o Iraque a criar forças armadas eficientes.» De 2004 a 2011, são treinados em 2.000 cursos especiais levados a cabo nos países da Aliança, milhares de militares e polícias iraquianos que chegam dotados de armas doadas por esses mesmos países. Ao mesmo tempo, a NATO envia para o Iraque, instrutores e conselheiros, compreendendo os italianos, para «ajudar o Iraque a criar um sector próprio de segurança, com orientação democrática e durável» e para «estabelecer uma parceria a longo prazo, da NATO com o Iraque».
A seguir:
6.5 A guerra contra a Líbia.
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
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