Excertos do livro “Guerra
Nuclear – O Dia Anterior”, de Manlio Dinucci, sobre a criação e finalidade da NATO:
Em 29 de Agosto de 1949, a União
Soviética efectua a sua primeira explosão experimental de um engenho de
plutónio. Agora também a URSS tem a Bomba. Começa neste ponto, a corrida aos
armamentos nucleares entre as duas super potências.
Naquele mesmo ano, em 4 de Abril
de 1949, é fundada a NATO, compreendendo, durante a guerra fria, dezasseis
países: Estados Unidos da América, Canadá, Bélgica, República Federal da
Alemanha, Grã-Bretanha, Grécia, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Holanda,
Portugal, Espanha e Turquia. Através desta aliança, os EUA mantém o seu
domínio sobre os aliados europeus, usando a Europa como primeira linha no
confronto, também nuclear, com o Pacto de Varsóvia. Este último, (o Pacto de Varsóvia)
em 14 de Maio de 1955 (seis anos depois da NATO), compreende a União Soviética,
a Bulgária, a Checoslováquia, a Polónia, a República Democrática da Alemanha,
Roménia, Hungria, Albânia (de 1955 a 1968).
Enquanto se inicia o confronto
nuclear entre os EUA e a URSS, a Grã Bretanha e França, ambos membros da NATO,
diligenciam dotar-se de armas nucleares. A primeira a conseguir é a
Grã-Bretanha: enquanto colabora no programa nuclear dos Estados Unidos, inicia
em 1945 um programa próprio destinado à produção da bomba de plutónio. Embora
uma lei, aprovada em Washington em 1946, lhes impeça (ao menos oficialmente) de
aceder às informações sobre o desenvolvimento das armas nucleares americanas,
em 3 de Outubro de 1952, consegue efectuar na Austrália, a sua primeira
explosão experimental.
Isto aumenta a vantagem da NATO, que
aumenta posteriormente, quando, no dia 1 de Novembro do mesmo ano, os Estados
Unidos fazem explodir a sua primeira bomba H (de hidrogénio). No
da 1 de Março de 1954, os EUA conduzem o teste Bravo no atol de Bikini, no
Pacífico, fazendo explodir uma bomba H de 17 megaton, 1.300 vezes mais potente
do que a de Hiroshima. Naquele momento, os EUA têm quase 850 armas nucleares,
enquanto a URSS possui cerca de 50.
A «ofensiva de desarmamento» é lançada pela União Soviética de Gorbacev: em
15 de Janeiro de 1986, propõe não só eliminar os mísseis soviéticos e
americanos de alcance médio (o que é feito sucessivamente), mas de
estabelecer um programa global, em três fases, para a proibição da armas
nucleares em 2000.
Em Washington sabem, portanto,
que Gorbacev quer verdadeiramente o desarmamento, que ele quer, de facto, a
eliminação completa das armas nucleares. Mas sabem também que o
processo da perestroika, posto em movimento por Gorbacev em 1986, provocou uma
reacção em cadeia que está não só a desagregar o Pacto de Varsóvia, mas a
própria União Soviética.
A «Queda do Muro de Berlim», em
9 de Novembro de 1989, assinala o início do fim. Simultaneamente, a
desagregação da URSS e a profunda crise política e económica que aflige a
Rússia assinalam o fim da super potência capaz de rivalizar com a americana.
Nesta altura, o mundo está numa
encruzilhada. A decisão de qual dos dois caminhos escolher e seguir está
substancialmente nas mãos de Washington: de um lado está a possibilidade de
iniciar um verdadeiro processo de desarmamento, começando por estabelecer,
consoante as linhas da proposta de Gorbachev, um programa destinado à
eliminação completa das armas nucleares, que, se lançado conjuntamente por
Washington e Moscovo, poderia envolver, também, as outras potências nucleares;
do outro lado, está a possibilidade de aproveitar o desaparecimento da super
potência rival para aumentar a superioridade estratégica, incluindo a
superioridade nuclear, dos Estados Unidos da América, que permaneceu a única
super potência na cena mundial. Sem um instante de hesitação, Washington
tomou o segundo caminho.
A
expansão da NATO para Leste, em direcção à Rússia
No
mesmo ano – em 1999 – em que lança a guerra contra a Jugoslávia e anuncia
querer «conduzir operações de resposta às crises, não previstas no Artigo 5,
fora do território da Aliança», a
NATO inicia a sua expansão para Leste.
A
mesma engloba os três primeiros países do antigo Pacto de Varsóvia: Polónia,
República Checa e Hungria.
Em
seguida, em 2004, estende-se a outros sete países: Estónia, Letónia, Lituânia
(já parte da URSS); Bulgária, Roménia, Eslováquia (já parte do Pacto de
Varsóvia; Eslovénia (já parte da Federação Jugoslava). Na cimeira de Bucareste,
em Abril de 2008, fica decidida a entrada da Albânia, no ano seguinte (antigo
membro do Pacto de Varsóvia) e Croácia (já parte da Federação Jugoslava).
Ao
fazê-los entrar na NATO, Washington liga pouco estes países à Aliança, mas,
sim, directamente aos EUA. A Roménia e a Bulgária colocam de imediato à
disposição dos Estados Unidos, as importantes bases militares de Costanza e
Burgas, no Mar Negro.
A
República Checa garante a disponibilidade do seu território para deslocação de
rampas de mísseis do «escudo anti-missil» USA.
A
Lituânia, antes mesmo de entrar na NATO, começa a adquirir armamentos
norte-americanos, a partir de 60 mísseis Stinger, num valor de 30 milhões de
dólares.
A
Polónia compra, em 2002, 48 caças F-16 da empresa bélica americana, Lockheed
Martin e, para pagá-los, utiliza um empréstimo feito aos EUA de quase 5 biliões
de dólares(com interesses não só financeiros, mas, também, políticos).
Sob
a orientação de Washington, a Bulgária procede a uma drástica purga nas suas
forças armadas, eliminando milhares de oficiais (considerados não totalmente
confiáveis) para substitui-los por 2.000 oficiais jovens e fidedignos, formados
por instrutores americanos e capazes de falar um óptimo inglês, de facto,
americano.
Deste
modo, os EUA reforçam ainda mais, a sua influência na Europa. Dos dez países da
Europa Central e Oriental, que entram na NATO, entre 1999 e 2004, sete entram
na União Europeia, entre 2004 e 2007: à União Europeia, que se alarga para
Leste, os EUA sobrepõem a NATO, que se estende igualmente para Leste, na
Europa. O verdadeiro objectivo da operação, é revelado pelos funcionários do
Pentágono: os dez países da Europa Central e Oriental entrados na NATO – como
eles declaram em 2003 - «estão a assumir posições relevantes pró-EUA –
reduzindo eficazmente a influência das potências da velha Europa, como a
Alemanha e a França. Assim, revela-se claramente, o desenho estratégico de
Washington: incentivar os novos membros do Leste, para estabelecer na NATO
relações de força ainda mais favoráveis aos Estados Unidos e, assim, isolar a
«velha Europa» que poderia, um dia, tornar-se autónoma.
A
expansão da NATO, para Leste, além do mais, tem outras implicações. Englobando
não só os países do Pacto de Varsóvia, mas também as três repúblicas bálticas
que, em tempos, fizeram parte da URSS, a NATO chega às fronteiras da Federação
Russa. Não obstante as garantias de Washington sobre as intenções pacíficas da
NATO, ela constitui uma ameaça, também nuclear, para a Rússia.
Para
tranquilizar a Rússia, a NATO afirma «não ter intenções, nem planos, de
instalar armas nucleares nos territórios dos novos membros» da Europa Central e
Oriental. Quanto vale esse compromisso, demonstra o facto da NATO,
depois de ter prometido solenemente, não manter unidades de combate no território
dos países da Europa Central e Oriental, no processo de entrar ou já entrados
na Aliança, logo a seguir usa a base aérea húngara de Taszar, como o principal
centro logístico das forças americanas a operar nos Balcãs.
O
compromisso de não instalar armas nucleares nos países da Europa Central e
Oriental é desmentido pelo facto de que, entre as armas nucleares mantidas
pelos EUA, na Europa, no quadro da NATO, estão «bombas nucleares
para aviões de dupla capacidade». Visto que os aviões deste tipo, como os F-16
da Força Aérea dos EUA e os 48 comprados pela Polónia, estão em funcionamento
nos países da Europa Central e Oriental que entraram na NATO, a sua presença
nestas bases avançadas, constitui uma ameaça nuclear potencial, nas fronteiras
da Rússia.
A
«nova missão» da NATO é oficializada na Cimeira de Setembro de 2014, no
País de Gales, lançando o «Readiniess Action Plan», cujo objectivo
oficial é de «responder, rápida e firmemente, aos novos desafios à segurança»,
atribuídos à «agressão militar da Rússia contra a Ucrânia» e ao «aumento do
extremismo e dos conflitos sectários no Médio Oriente e no Norte de África». O
plano é definido pelo Secretário Geral da NATO, Jens Stoltenberg, como «o
maior reforço da nossa defesa colectiva desde o fim da guerra fria».
Em
apenas três meses, a NATO quadriplica os caça-bombardeiros, duplica a
capacidade convencional e nuclear, implantada na região báltica (antes parte da
URSS); envia radares aéreos AWACS para a Europa Oriental e aumenta o número dos
navios de guerra no Mar Báltico, Mar Negro e no Mediterrâneo; instala na
Polónia, Estónia, Letónia e Lituânia forças terrestres americanas, britânicas e
alemãs; intensifica os exercícios conjuntos na Polónia e nos Países Bálticos,
aumentando-os para mais de 200.
A
partir desse momento, a pressão USA/NATO sobre a Rússia cresce em progressão
geométrica.Em quatro anos, de 2014 a 2018, os EUA gastam 10 biliões de dólares
na «Iniciativa de Segurança da Europa» (ERI), cujo objectivo oficial é
«aumentar a nossa capacidade de defender a Europa contra a agressão russa».
Quase metade da despesa serve para potenciar o «pré-posicionamento estratégico»
USA na Europa, ou seja, os depósitos de armamento que, colocados em posição
avançada, permitem «uma rápida deslocação das forças armadas no teatro bélico».
Outra grande parte é destinada a «aumentar a presença, com base rotativa, das
forças americanas em toda a Europa». As porções restantes servem para o
desenvolvimento das infra-estruturas das bases na Europa para «aumentar a prontidão
da acção USA», à potencialização dos exercícios militares e ao treino para
«aumentar a prontidão e a capacidade de interacção das forças da NATO».
Os
fundos da ERI – esclarece o Comando Europeu dos Estados Unidos - são apenas uma
parte dos que estão destinados à «Operação Atlantic Resolve, que demonstra a
capacidade USA de responder às ameaças contra os aliados». No âmbito dessas
operações, é transferida de Fort Carson (Colorado), para a Polónia,em Janeiro
de 2017, a 3ª Brigada couraçada, composta de 3.500 homens, 87 tanques, 18
obuseiros de auto-lançamento, 144 veículos de combate Bradley, mais 400 Humvees (Veículos
Automóveis Multifunções de Alta Mobilidade) e 2.000 veículos de
transporte. A 3ª Brigada couraçada será substituída a seguir por outra unidade,
assim as forças couraçadas americanas são permanentemente deslocadas no
território polaco. Os seus departamentos são transferidos, para treinos e
exercícios, para outros países de Leste, sobretudo para a Estónia, Letónia,
Lituânia, Bulgária, Roménia e mesmo Ucrânia, ou seja, são continuamente instalados à volta da Rússia.
Sempre
no contexto de tais operações, é transferida para a base de Illesheim (na
Alemanha) de Fort Drum (em New York), a 10ª Brigada Aére de Combate, com mais
de 2.000 homens e uma centena de helicópteros de guerra. De Illesheim, duas
'task force' são enviadas para «posições avançadas» na Polónia,
Roménia e Letónia. Nas bases de Ämari (Estónia) e Graf Ignatievo (Bulgária),
são distribuídos caça-bombardeiros USA e NATO, compreendendo Eurofighter
italianos, para o «patrulhamento aéreo» do Báltico. A operação prevê, também,
«uma presença continuada no Mar Negro», na base aérea de Kogalniceanu (Roménia)
e na de treino de Novo Selo (Bulgária).
O
General Curtis Scaparrotti, Chefe do Comando Europeu dos EUA e, ao mesmo tempo,
Comandante Supremo Aliado na Europa, assegura que «as nossas forças estão
preparadas e posicionadas para barrar a agressão russa». Um contingente USA é
posicionado na Polónia oriental, no designado «Suwalki Gap», um trecho de
terreno plano com cerca de cem quilómetros de comprimento que, avisa a NATO,
«seria uma passagem perfeita para os tanques russos». É, assim, desenterrado o armamento da
propaganda da velha guerra fria: o dos tanques russos prontos a invadirem a Europa. Agitando o fantasma de uma ameaça do Leste, que não
existe, chegam de facto à Europa os tanques dos Estados Unidos.
Finalidade
O
plano é claro. Depois de ter provocado com o putsch da Praça Maidan,
um novo confronto com a Rússia, Washington (não obstante a mudança de
Administração do Presidente Obama pela do Presidente Trump) segue a mesma
estratégia: transformar a Europa na primeira linha de uma nova guerra fria, com
vantagem para os interesses dos Estados Unidos e para as suas relações de
forças com as maiores potências europeias.
Na
instalação no flanco oriental – compreendendo forças couraçadas,
caça-bombardeiros, navios de guerra e unidades de mísseis nucleares –
participam as potências europeias da NATO, como demonstra o envio de tropas
francesas e de tanques britânicos para a Estónia. Fala-se, neste período, de um
«exército» europeu, mas no encontro dos Ministros de Defesa da União Europeia,
em Abril de 2017, em Malta, o Secretário Geral da NATO, Stoltenberg, esclarece
em que termos: «Ficou claramente estabelecido, da parte da União Europeia, que
o seu objectivo não é constituir um novo exército europeu ou estrutura de
comando em competição com a NATO, mas algo que seja complementar ao que a NATO
faz».
O
Art. 42 do Tratado da União Europeia estabelece que «a política da União respeita
as obrigações de alguns Estados membros, os quais consideram que a sua defesa
comum se realiza através da Organização do Tratado do Atlântico Norte». Visto
que são membros da Aliança, 22 dos 28 países da União Europeia (21 em 27 com a
saída da Grã Bretanha da UE), torna-se evidente o predomínio da NATO. Para
evitar equívocos, o protocolo nr. 10 sobre a cooperação instituída pelo art. 42
sublinha que a NATO «permanece o fundamento da defesa colectiva» da União
Europeia, e que «um desempenho mais forte da União em matéria de segurança e
defesa, contribuirá para a vitalidade de uma Aliança Atlântica renovada». O
bastão do comando permanece, portanto, do Comandante Supremo Aliado na Europa,
um general americano nomeado pelo Presidente dos Estados Unidos.
Para
reforçar mais ainda, a sua influência na Europa, os Estados Unidos promovem a
«Iniciativa dos três Mares», que é lançada em Julho de 2017, na ocasião da
visita do Presidente Trump a Varsóvia.
A Polónia, definida pela Casa Branca
como um país «fiel aliado NATO e um dos mais intímos amigos da América» é a
ponta de lança da estratégia USA/NATO que arrastou a Europa para uma nova
guerra fria com a Rússia. Aos olhos de Washington, ela tem todas as
características para assumir outra tarefa exigente, a de orientar a «Iniciativa
Três Mares», um novo projecto que reúne 12 países compreendidos entre o Mar
Báltico, o Mar Negro e o Mar Adriático: Polónia, Lituânia, Letónia, Estónia,
Hungria, República Checa, Austria, Bulgária, Roménia, Croácia, Eslováquia e Eslovénia.
Estes países são membros da União Europeia e ao mesmo tempo, todos eles,
excepto a Austria, são membros da NATO sob comando USA, mais ligados a
Washington do que a Bruxelas. O objectivo oficial do novo projecto é «ligar as
economias e as infra-estruturas da Europa Central e Oriental, de Norte a Sul,
alargando a cooperação nos sectores da energia, dos transportes, das
comunicações digitais e da economia, em geral, para tornar a Europa
Central e Oriental mais segura e competitiva». Os EUA pensam isso.
No seu
discurso na Conferência dos Três Mares, o Presidente Trump «concentra-se no
desenvolvimento das infra-estruturas e na segurança energética, evidenciando,
entre outras, as primeiras expedições do LNG (gás natural liquefeito) americano
para a Polónia.». Um terminal no porto báltico de Swinoujscie, custando cerca
de um bilião de dólares, permite à Polónia importar LNG americano na medida
inicial de 5 biliões de metros cúbicos/ano. Através deste e de outros
terminais, entre os quais um projectado na Croácia, o gás proveniente dos USA
ou de outros países através de companhias americanas, será distribuído através
de gasodutos especiais para toda a «região dos Três Mares». O objectivo do
plano é claro: atacar a Rússia, fazendo diminuir a sua exportação de gás na
Europa (objectivo realizável apenas se a exportação do gás USA, mais cara do
que o russo, for incentivada com fortes subsídios estatais) ligar ainda mais
aos EUA, a Europa Central e Oriental, não só militarmente, mas também
economicamente, em concorrência com a Alemanha e outras potências europeias.
Assim, o objectivo do plano, é criar dentro da Europa, uma macro região (a dos
Três Mares) de soberania limitada, directamente sob a influência USA, que
acabe, de facto, com a União Europeia e se alargue à Ucrânia e mais
além.
A
máquina bélica USA, a mais potente jamais vista na História, requer uma despesa
militar de longe superior ao gasto de todos os outros países. O orçamento do
Pentágono para o ano fiscal de 2018 sobe a 700 biliões de dólares, mais de
quanto gastam os outros nove países que figuram na lista dos dez com as maiores
despesas militares do mundo: China, Arábia Saudita, Rússia, Grã-Bretanha,
Índia, França, Japão, Alemanha e Coreia do Sul.
Para
a aprovação do orçamento do Pentágono é decisivo o voto por unanimidade, da
Comissão dos Serviços Armados, formada por 14 senadores republicanos e 13
democratas. A Comissão sublinha que «os Estados Unidos devem reforçar a
dissuasão da agressão russa: a Rússia continua a ocupar a Crimeia, a criar
instabilidade na Ucrânia, a minar os nossos aliados NATO, a violar o Tratado
INF de 1987 sobre as forças nucleares de raio intermédio e a apoiar o regime de
Assad na Síria». Acusa, também a Rússia de conduzir «um ataque sem precedentes
aos nossos interesses e valores fundamentais», em particular, através de «uma
campanha decidida a minar a democracia americana». Com tais motivações a
coligação dos dois partidos justifica o reforço de
toda a máquina bélica americana.
Para
o orçamento do Pentágono referente a 2018, o Congresso autoriza 60 biliões a
mais do que o que foi pedido pela Administração Trump. Adicionando outros
orçamentos de carácter militar, entre os quais o do Departamento para os
Assuntos dos Veteranos (que se ocupa dos militares na reserva) e o das armas
nucleares, inscrito no Departamento da Energia – as despesas militares totais
dos Estados Unidos montam a cerca de 1 trilião de dólares, ou seja, um quarto
do orçamento federal.
Esta
trama extensa e profunda de interesses forma o complexo militar-industrial
americano, cujos lucros e poderes aumentam na medida em que aumentam as tensões
e as guerras. Confirma-o o facto de que, enquanto os seus lucros eram
diminutos, depois do fim da Guerra Fria, cresceram fortemente após o 11 de
Setembro.
O complexo militar-industrial influi em todos os níveis, desde a Casa
Branca aos simples Estados, sobre as escolhas políticas que conduzem à guerra,
escolhas que, na realidade, são feitas por grupos restritos representativos dos
poderes máximos (económico-financeiros, políticos, militares), verdadeiras
cúpulas acima das instituições, que se reúnem informal e secretamente para
discutir e decidir a estratégia. Através das suas ligações estreitas com a
Comunidade dos Serviços Secretos (Inteligência), o complexo militar-industrial
tem na mão todos os instrumentos para provocar tensões internacionais e
consequentes intervenções militares, com o apoio das grandes cadeias de
comunicação social mediática e da consequente maioria da opinião pública
interna e internacional. Em poucas palavras, o complexo militar-industrial é um
organismo tentacular que, para viver e desenvolver-se, tem necessidade de usar
como oxigénio, a guerra. E visto que a força militar é necessária aos grandes
grupos financeiros e às multinacionais para manter a sua supremacia no mundo,
não é só o complexo militar-industrial, mas todo o sistema económico e
financeiro dominante, no qual se baseiam os Estados Unidos da América, a ter
necessidade da guerra e, em última análise, também da guerra nuclear.
A
pressão militar USA no Mar da China Meridional e na Península Coreana, dirigida
contra a China, a guerra USA/NATO no Afeganistão, Médio Oriente e África, o
empurrão USA/NATO na Ucrânia e o consequente confronto com a Rússia, caem na
mesma estratégia de contraste à parceria russo-chinesa e à sua tentativa de
remodelar a ordem económica e política global. Na mesma estratégia está o plano
de minar os BRICS a partir de dentro, elevando a direita ao poder em Brasília e
em toda a América Latina. É confirmado pelo comandante do US Southern Command,
cuja área de operações compreende a América do Centro e Sul: numa audiência
no Senado acusa a Rússia e a China de exercer uma «influência maligna»
na América Latina, para também fazer avançar aí «a sua visão de uma ordem
internacional alternativa».
Num memorando transmitido
em Outubro de 2017 às Forças Armadas dos Estados Unidos, o Secretário da
Defesa, Jim Mattis, faz uma verdadeira declaração de guerra: «Somos um
Departamento em guerra. Devemos estar preparados para enfrentar uma situação de
segurança global cada vez mais complexa, caracterizada por um declínio
acelerado da gestão da ordem internacional baseada em regras. A Rússia violou
as fronteiras das nações vizinhas e quer ter poder de veto sobre as decisões
económicas, diplomáticas e de segurança dos seus vizinhos. A China é um
adversário estratégico a longo prazo, que atemoriza os seus vizinhos enquanto
aumenta as tensões no mar da China Meridional. Para a segurança e a
estabilidade global, é necessário que as nossas Forças Armadas permaneçam a
força de combate mais potente do mundo. Devemos dar prioridade a um dissuasor
nuclear seguro e fiável, colocar em campo uma força convencional decisiva e
manter uma capacidade fundamental de conduzir uma guerra não-convencional». No
final da proclamação, antes da assinatura, o Chefe do Pentágono escreve à mão,
em letras maiúsculas, «CHARGE!» («CARREGAR!»).
Os
Estados Unidos da América são o único país a ter uma presença militar à escala
global, em cada continente e região do mundo. O Pentágono é directamente
proprietário de 4.800 bases e outras instalações militares, quer nos USA, quer
no estrangeiro, compreendendo 560.000 edifícios e estruturas (tipo
estruturas ferroviárias, oleodutos e pistas de aeroportos). Segundo os
dados oficiais do Pentágono, os Estados Unidos têm cerca de 800 bases e outras
instalações militares em mais de 70 países, sobretudo em volta da Rússia e da
China, muitas mais em uso ou secretas. Essas bases servem para uma rotação
contínua de forças, que são aumentadas rapidamente com as transferidas das
bases dos Estados Unidos, para concentrá-las em determinados teatros bélicos.
Os países onde são distribuídas tropas americanas, compreendendo aqueles que
não têm bases militares, são mais de 170. Entre militares,
empregados civis e familiares, o Pentágono mantém permanentemente no
estrangeiro cerca de meio milhão de cidadãos americanos.
O
Poder dominante baseia a sua força não só em instrumentos políticos, económicos
e militares, mas sobre o controlo da mente, propósito possível através de um
aparelho mediático globalmente difundido que, sobretudo através da televisão,
induz a acreditar que existe apenas aquilo que se vê e não existe o que não se
vê.
O
controlo da mente através do aparelho mediático dominante permite, por um lado,
tranquilizar a opinião pública escondendo as ameaças reais, por outro lado,
alarmá-la, fazendo abrir, de vez em quando, hologramas de inimigos perigosos
(hoje novamente o adversário russo, personificado por Putin), para, deste modo,
justificar políticas de rearmamento, operações militares e guerras. E,
sempre em função do controlo da mente, acreditar-se no espectáculo de que,
depois de ter sustentado as guerras que demolindo Estados na totalidade (o
último, o Estado da Líbia), provocaram êxodos de massas, hoje estão na primeira
fila para acolher de braços abertos, as vítimas dessas mesmas guerras.
Fala-se
nos círculos restritos dos «viciados no trabalho», no «sal e pimenta» (em
referência à cor do cabelo) dos quais os jovens estão em grande parte
ausentes. Trata-se de sair do fechado, encontrando formas e idiomas
para fazer compreender que o tempo se está a esgotar, que é necessário
movermo-nos enquanto estamos a tempo. Por outras palavras, levar as
pessoas a reagir, como baseados no institnto de sobrevivência reagiriam os
habitantes de um condomínio se vissem que alguém acumular explosivos no porão
de arrumos comum. Pelo contrário, quase ninguém reage, porque a maioria
desconhece ou não sabe do que se trata, enquanto os Estados Unidos acumulam
explosivos nucleares debaixo dos nossos pés.
O
que devemos fazer, está nas mãos de cada um de nós. É necessário que cada um
faça qualquer coisa, mesmo que seja pequena, mas que seja real, para trazer
atrasar o relógio do Apocalipse. É o caminho obrigatório
através do qual passa cada escolha para o futuro. O relógio do Apocalipse
está a assinalar, apenas, as horas de um mundo sem futuro.
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