GIULIETTO CHIESA

FREE JULIAN ASSANGE

WWIII + S SITE

 

CROATIAN   ENGLISH   GREEK   NEDERLANDS   POLSKI   PORTUGUESE   ROMANIAN  SPANISH  РУССКИЙ

What part will your country play in World War III?

By Larry Romanoff

The true origins of the two World Wars have been deleted from all our history books and replaced with mythology. Neither War was started (or desired) by Germany, but both at the instigation of a group of European Zionist Jews with the stated intent of the total destruction of Germany. The documentation is overwhelming and the evidence undeniable. (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11)

That history is being repeated today in a mass grooming of the Western world’s people (especially Americans) in preparation for World War IIIwhich I believe is now imminent

READ MORE

 
 

Saturday, August 4, 2018

REMEMBERING HIROSHIMA/RECORDANDO HIROSHIMA


Message From Hiroshima - Official Trailer from Cinema Libre Studio on Vimeo.

GUERRA NUCLEAR: O PRIMEIRO DIA
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
Autor: Manlio Dinucci



Capítulo 1
O NASCIMENTO DA BOMBA
1.1 O bombardeamento atómico de Hiroshima e Nagasaki

«Há dezasseis horas, um avião americano deixou cair uma bomba sobre Hiroshima, uma base importante do exército japonês. [ ] É uma bomba atómica. É uma consolidação da energia fundamental do universo. A força da qual o Sol extrai a sua energia»: assim anuncia o Presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, na declaração de 6 de Agosto de 1945.   Três dias depois, no discurso radiofónico de 9 de Agosto, explica que «a primeira bomba atómica foi lançada sobre Hiroshima, uma base militar, porque neste primeiro ataque queríamos evitar, o mais possível, o massacre de civis».

Na realidade, Hiroshima não é uma base militar, como também não é Nagasaki, a cidade japonesa sobre a qual os Estados Unidos lançaram a segunda bomba atómica, em 9 de Agosto, o mesmo dia em que o Presidente Truman pronuncia o discurso radiofónico.

A bomba atómica de urânio de 15 kiloton (igual à potência explosiva de 15 mil toneladas de TNT) lançada sobre Hiroshima, sarcasticamente designada de Little Boy (rapazinho), matou imediatamente e nos seis meses seguintes, cerca de 140.000 pessoas - civis, na esmagadora maioria. Mas outras pessoas morreram nos anos seguintes, depois dos efeitos das radiações, embora muitos dos sobreviventes, os hibakusha, tenham sofrido efeitos biológicos a longo prazo. O número total de vítimas da bomba de Hiroshima, nos decénios seguintes, é estimado em mais de meio milhão. A bomba  atómica de plutónio de cerca de 22 kiloton, lançada sobre Nagasaki, (humoristicamente denominada Fatman = gorducho), mata imediatamente e nos meses seguintes 75.000 pessoas, na grande maioria civis, aos quais se juntaram muitos outros nos anos seguintes, enquanto muitos dos sobreviventes, sofreram os efeitos biológicos a longo prazo.

A justificação oficial do bombardeamento atómico de Hiroshima e Nagasaki é que só assim os Estados Unidos podem forçar o Japão à rendição, sem ter de pagar um preço elevado em vidas americanas. Na realidade o Japão está no limite extremo e não há necessidade de recorrer à bomba atómica para impôr-lhe a rendição. A verdadeira razão é outra. Enquanto Truman está na Conferência de Potsdam (7 de Julho a 2 de Agosto de 1945), juntamente com Churchill e Stalin, é-lhe comunicado secretamente que, a 16 de Julho, foi detonada em New Mexico, a primeira bomba atómica. O Projecto Manhattan, conduzido no máximo segredo desde Junho de 1942, tinha alcançado a sua meta. Truman tem agora a possibilidade de acabar a guerra com o Japão da maneira mais favorável aos Estados Unidos, impedindo que a União Soviética participe na invasão do Japão, decidida em Potsdam e de expandir, desse modo, a sua influência à região do Pacífico.

Para isso, ordena secretamente que a bomba atómica seja utilizada o mais rápido possível.Em 24 de Julho, dois dias antes da Declaração de Potsdam, na qual se intima o Japão à rendição incondicional, são escolhidas secretamente, como possíveis objectivos, quatro cidades japonesas: Hiroshima (com mais de 250 mil habitantes), Nagasaki (cerca de 200 mil), Kokura e Niigata (cada uma com 150 mil). As condições meteorológicas mais favoráveis, em 6 de Agosto, fazem cair a primeira escolha em Hiroshima. Três dias depois, a escolha cai sobre Nagasaki.

«A decisão de destruir Hiroshima e Nagasaki foi uma decisão política e não, uma decisão militar» ( ou seja, não foi ditada pela necessidade de derrotar militarmente o Japão), escreve a jornalista americana, Diana Johnstone. «A posse demonstrada dessa arma dava a Truman uma sensação de poder sentir-se livre para romper a promessa feita aos russos e de pressionar Moscovo, na Europa, de maneira ameaçadora. As bombas de Hiroshima e Nagasaki não mataram, apenas e sem motivo, centenas de milhares de civis. Elas abriram o caminho à Guerra Fria».

Os Estados Unidos procuram tirar a máxima vantagem do facto de, naquele momento, serem os únicos a possuir a arma atómica. Depois de tê-la definido, «a maior conquista que a ciência organizada já tinha realizado na História»,Truman sublinha na declaração de 6 de Agosto que, «mesmo não sendo habitual este governo esconder os seus conhecimentos à comunidade científica mundial, nas actuais circunstâncias, não se pretende divulgar os processos técnicos de produção.»

Ele sublinha, em seguida, que «a energia atómica pode exercer uma influência eficaz para a manutenção da paz mundial». O sentido é claro: dado que os Estados Unidos não pretendem divulgar os processos técnicos de produção, isto significa que serão eles, uma vez terminada a Segunda Guerra Mundial, a garantir a «paz mundial» servindo-se do monopólio das armas nucleares.

1.2 Os efeitos da explosão nuclear sobre uma cidade

A bomba de Hiroshima, à luz dos sucessivos desenvolvimentos de tais armamentos, aparece como a chave da era nuclear. Com um terço do urânio 235 usado para o LITTLE BOY, construíram-se, não muito tempo depois, dispositivos 8 a 9 vezes mais potentes que, se forem usados para activar uma bomba de hidrogénio, produzem uma explosão mil vezes mais destruidora. A relação potência-peso (a medida padrão de eficiência de um dispositivo explosivo), que na bomba de Nagaski é de cerca de 5.000, é elevada a 3.500.000. 
Para perceber quais são os efeitos destruidores de tais armas,  toma-se como exemplo, o de uma única explosão nuclear sobre uma cidade: a unidade adoptada para tais cálculos – efectuados sobre a base da experiência de Hiroshima e Nagasaki e das explosões nucleares experimentais – é, em geral, uma bomba de 1 megaton (MT), semelhante à explosão de uma tonelada de TNT (para cujo transporte, foi calculado ser necessário um comboio de mercadorias de 500 km de extensão). É uma arma cuja potência equivale a 75 bombas de Hiroshima.
No cálculo deve considerar-se, em primeiro lugar, os factores variáveis, dos quais depende o fluxo e o tipo de efeitos da explosão nuclear. Uma explosão no solo concentra uma onda de choque (onda de pressão do ar, produzida pela explosão) e calor, mais intensamente a nível do solo, reduzindo os efeitos, mas aumenta o dano da queda de partículas radioactivas no solo e incêndios. Uma humidade mais elevada da atmosfera reduz os danos dos incêndios, mas aumenta notavelmente a radioactividade. Durante o verão ou num clima quente, nota-se um maior número de queimados, pois que muitas pessoas encontram-se ao ar livre e com roupas ligeiras. Num dia feriado, regista-se maior número de vítimas, pelo encerramento dos escritórios, fábricas e escolas.
Calcula-se que a devastação máxima seria provocada pela detonação de uma bomba nuclear de 1 megaton a uma altitude de 2.000 metros, num dia feriado durante o horário de trabalho, num dia quente de verão límpido, seco e ventilado.
Os efeitos da explosão são calculados, com base numa série de anéis (coroas circulares compreendidas entre duas circunferências concêntricas de raios) em volta do ground zero, o hipocentro, o ponto da superfície terrestre sob a vertical da explosão. Cada um de nós, com um mapa e um compasso, pode calcular quais os efeitos que provocaria sobre o seu próprio território, a explosão de uma bomba nuclear de 1 megaton.
No primeiro anel, num raio de de 2,8 km do ground zero, a destruição e a letalidade são totais. A onda de choque, devida à compressão do ar a seguir à explosão, exerce uma pressão excessiva compreendida entre 20 a 200 psi (psi = libra-força por polegada quadrada), provocando o esmagamento, o colapso e a explosão mesmo dos edifícios mais sólidos em aço e cimento armado. A deslocação do ar, com ventos de 800 km/h, transforma-os em projecteis mortíferos. A irradiação térmica da esfera de fogo (esfera de gás incandescente produzida pela explosão nuclear), na ordem de mais de 27 milhões de graus Fahrenheit – cujo brilho a mais de 100 km de distância é 30 vezes mais intenso do que o Sol tropical ao meio dia – vaporiza as pessoas e as coisas na zona do hipocentro, derrete na área circundante o aço e o vidro, faz explodir o cimento. Todas as pessoas dentro deste anel, morrem quase instantaneamente: vaporizadas, esmagadas, carbonizadas. Dada a ausência de sobreviventes, não há problemas médicos.
No segundo anel, compreendido entre 2,8 e 4,2 km do ground zero, picos de pressão excessiva de 10 a 20 psi e ventos de 450-550 km/h, suficientes para lançar com força um homem de oitenta quilos a 100 metros de distância, provocam a morte a 50% dos habitantes por lesões de choque: caixas toráxicas esmagadas, fracturas do crânio, feridas penetrantes do tórax e do abdomen, lesões dos pulmões e de outros orgãos internos, lesões da medula espinal, lacerações múltiplas e hemorragias internas. Todas as pessoas expostas sofrem queimaduras de terceiro grau, a menos que se tenham refugiado num edifício que permaneça suficientemente inteiro (a irradiação térmica antecede a onda de choque). O calor faz evaporar os caixilhos de alumínio e incendiar as roupas.
No terceiro anel, compreendido entre 4,2 e 7 km do ground zero, pressões excessivas de 5 psi, suficientes para exercer uma pressão de 180 toneladas contra uma parede de um edifício de dois andares e ventos de 280 km/h danificam gravemente mesmo os edifícios mais sólidos. Fragmentos de cimento, aço, vidro viajam a velocidades letais. O calor, cerca de 40 calorias por centímetro quadrado, derrete o asfalto das estradas, incendeia a madeira e os tecidos no interior das habitações. Predominam ainda as lesões produzidas pela onda de choque. Ao mesmo tempo, todas as pessoas ao ar livre, sofrem queimaduras de terceiro grau. A maior parte das pessoas expostas indirectamente à esfera de fogo, ficam temporariamente cegas pelo brilho: muitas referem queimaduras da retina com cegueira parcial ou total, muitas ficam surdas pela ruptura dos tímpanos.
No quarto anel, compreendido entre 7 e 7,8 km do ground zero, pressões excessivas de 4 psi e ventos de 250 km/h – uma força maior do que a de um furacão - destroem as casas de tijolos, mas deixam de pé os edifícios mais sólidos, os quais, no entanto, alimentam os incêndios provocados pela irradiação térmica (25 calorias por cm2, suficientes para incendiar tecidos e provocar queimaduras de terceiro grau sobre a pele desprotegida), e a detonaçãode tubos de gás, gasolina e gasóleo.
No quinto anel, compreendido entre 7,8 e 10 km do ground zero, pressões excessivas de 3 psi e ventos de 160 km/h são ainda bastante fortes para empurrar as pessoas para fora dos edifícios. O calor é ainda suficientemente forte para provocar queimaduras de terceiro grau em 80% das pessoas que não estão resguardadas e de incendiar erva e folhas secas, jornais e vestuário de nylon. A percentagem de mortos, nesta área, reduz-se a cerca de 5%, mas a dos feridos graves permanece alta: cerca de 45%. Como no quarto anel, também neste desenvolvem-se incêndios violentos.
No sexto anel, compreendido ente 10 a 13, 6 km do ground zero, pressões excessivas de 2 psi e ventos de 100-130 km/h são ainda bastante fortes para partir os vidros das janelas e transformar os detritos mais pequenos em projecteis letais, derrubar cerca de 30 % das árvores e de postes de iluminação, danificar as casas de tijolos. O calor, de 5-7 calorias por centímetro quadrado, provoca queimaduras de terceiro grau a uma pessoa em cada cinco, que estejam ao ar livre e queimaduras de segundo grau em 70% da população dessa área.
Os efeitos destruidores da irradiação térmica e da onda de choque de uma bomba nuclear de 1 megaton estendem-se, em seguida, circularmente até cerca de 14 km do ground zero. Se a bomba que explodir for um engenho de 2 megaton, a área de destruição e mortalidade total estende-se num raio de 4,8 km em volta da ground zero e é aquela em que se relatam queimaduras de terceiro grau na epiderme exposta, até um raio de 17 km. Se explodir uma bomba de 20 megaton, a área de destruição e mortalidade estende-se num raio de cerca de 14 km do ground zero e os efeitos destruidores vão até um raio de 60 km. Engenhos ainda mais potentes provocam, proporcionalmente, destruições num raio ainda maior. 
Mas não é suficiente. Se, como é muito provável, numa grande cidade atingida por uma explosão nuclear, se cria uma «tempestade de fogo» - um incêndio enorme, intenso mas estacionário, que envolve temperaturas superiores a 800º C, absorvendo o ar frio e criando ventos de 300 km/h – a área letal aumenta 50 vezes e o número de queimados aumenta enormemente. 
Aos efeitos da irradiação térmica e da onda de choque juntam-se os das radiações. Não é em tal alto grau que a irradiação nuclear inicial – um intenso fluxo de neutrões e raios gama – aumenta o número das vítimas, na medida em que as pessoas expostas são mortas pela irradiação térmica e pela onda de choque antes da irradiação nuclear instantânea. 
Só no caso de explosão de um engenho de radiação intensificada (a bomba de neutrões), a área da irradiação letal de neutrões e raios gama é mais alargada do que a da irradiação térmica e da onda de choque.
1.3  Os efeitos da chuva radioactiva
O maior número de vítimas é provocado pelo fallout, ou seja, a recaída ou chuva radioactiva. Cerca de metade dos materiais radioactivos produzidos pela explosão nuclear, voltam a cair no solo dentro de vinte e quatro horas: a outra metade, constituída por partículas mais leves, espalha-se na atmosfera. Depois da explosão no solo de uma bomba de 1 megaton, as pessoas que permanecem ao ar livre ficam expostas a doses mortais de radiações – radiações gama externas, produzidas por materiais radioactivos e radiações beta pelo contacto do fallout sobre a pele – numa área de cerca de 2.000 quilómetros quadrados e a doses perigosas numa área de 10.000 km2.
Um número crescente de pessoas, que permanecem aparentemente ilesas, começam a apresentar sintomas indicadores do síndroma da radiação. No caso de síndromas que afectam o sistema nervoso central, causada por forte radiação, a vítima é afectada por enxaqueca, seguida rapidamente por um estado de sonolência, profunda letargia e apatia, um tremor generalizado e perda de coordenação muscular, entra num estado de coma, acompanhado de convulsões e a morte ocorre dentro de 48 horas.Não existindo nenhum tratamento possível, o resultado é fatal.
No caso de síndroma gastrointestinal, provocado por irradiação aguda, a vítima é atingida por náuseas, vómitos, diarreia hemorrágica, acompanhada de um estado grave de desidratação  e febre alta. No espaço de uma ou duas semanas verifica-se a morte por enterite, septicemia, toxemia ou desequilíbrio dos líquidos orgânicos.
Um síndroma hematopoiético, devido a doses menores, provoca na vítima, uma fase inicial de náusea e vómito, que se prolonga por 24 horas, à qual se segue uma semana de incubação em que o indivíduo parece normal. Neste ponto inicia-se um estado de mal-estar difuso, acompanhado de febre e de forte diminuição dos glóbulos brancos em circulação. Petéquias e hemorragias das gengivas não tardam a manifestar-se, enquanto cai o número das plaquetas sanguíneas e se determina um estado de anemia devido a insuficiência medular e hemorragias. Dependendo do grau de exposição e da extensão das lesões da medula óssea, a pessoa pode restabelecer-se em algumas semanas ou alguns meses, ou caso contrário, morrer por hemorragia ou septicemia, devido à supressão das defesas imunitárias.

O destino daqueles que, encontrando-se no raio de destruição da bomba nuclear, tiveram a má sorte de não morrer imediatamente, descrevem-no os sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki por tê-lo visto com os seus próprios olhos.  Michito Ichimaru - um estudante de Medicina que, no momento da explosão da bomba sobre Nagasaki, se encontra a dois quilómetros e meio do hipocentro, não tendo podido ir para a aula devido ao descarrilamento de um eléctrico – conta «À 11 da manhã, enquanto estava no quarto com um companheiro de estudos, senti o ruído de um B-29 que passava sobre as nossas cabeças. Pouco depois, o ar acendeu-se com uma luz amarela brilhante e sentimos um enorme golpe de vento. Aterrorizados, precipitámo-nos para nos  escondermos no gabinete. Mais tarde, quando me recuperei, vi que no tecto se tinha produzido um buraco, todos os vidros se tinham quebrado e uma lasca tinha-me feito uma ferida no ombro, que sangrava. Ao sair, vi que o céu de azul se tinha tornado negro e tinha começado a cair uma chuva negra. Pouco depois, tentei chegar à minha Escola de Medicina, em Urakami, mas não consegui por causa dos incêndios que surgiam por toda a parte. Encontrei muitas pessoas que regressavam de lá. Tinham as roupas rasgadas e farrapos de pele que pendiam do corpo. Vagueavam como fantasmas.

«No dia seguinte consegui alcançar Urakami. Restavam, unicamente, as estruturas em cimento e ferro. Avizinhando-me da escola, vi cadáveres negros e carbonizados, que mostravam o branco dos ossos. Dentro do edifício escolar destruído, encontrei alguns dos meus companheiros ainda com vida, mas incapazes de se moverem. Mesmo os mais fortes estavam caídos por terra.Falei com eles e disseram-me que iriam recuperar, mas, na realidade, todos morreram dentro de poucas semanas. Nunca mais posso esquecer o olhar daqueles olhos nem o som daquelas vozes. Subi a pequena colina atrás da escola. As árvores tinham perdido a folhagem, a colina verde tinha-se tornado castanha. Encontrei muitos estudantes, médicos e enfermeiras e alguns pacientes fugidos do hospital. Estavam muito fracos e sedentos, gritavam: «Dá-me, água, água, suplico-te». Tinham as roupas em farrapos, sujas e ensanguentadas. O seu estado era gravíssimo. Levei amigos pela colina abaixo, carregando-os nos meus ombros. Servindo-me de um carrinho puxado por uma bicicleta, levei-os para casa.Morreram todos dentro de poucos dias. Alguns amigos morreram com febre elevada, em delírio. Outros lamentavam-se de um mal estar geral, e tinham diarreia com sangue. Em todas as escolas públicas que visitei, encontrei muitos sobreviventes levados para lá, por pessoas com saúde. É impossível descrever o horror daquela cena. Recordo-me das vozes que gritavam de dor e e um fedor terrível. Eu lembro-me disto como sendo o inferno. Também todas estas pessoas morreram em poucas semanas.»

O testemunho deste estudante de Medicina indica o que mais tarde será cientificamente verificado. A International Physicians for the Prevention for Nuclear War ( A Associação Internacional de Médicos para a Prevenção da Guerra Nuclear) – fundada em 1980 pelo americano, Bernard Lown e pelo soviético, Evgueni Chazov e premiada, em 1985, com o Prémio Nobel da Paz, pela sua «informação credível» sobre as consequências da guerra nuclear – demonstra que, depois de um bombardeamento nuclear, a assistência médica às vítimas das radiações consiste, unicamente, em aliviar o seu sofrimento enquanto estão a morrer, a prestar-lhes «a última ajuda»

Com efeito, depois de um bombardeamento nuclear, seria muito difícil, se não impossível, assistir os feridos graves e os moribundos. Médicos e enfermeiros, que restassem na zona, apesar de saberem o perigo mortal das radiações, deveriam trabalhar na condição caótica de uma cidade destruída e em chamas, com os poucos medicamentos que restassem, privados de energia eléctrica e de telecomunicações. O impulso electromagnético, produzido pela explosão nuclear, de facto, colocaria fora de uso todos os aparelhos eléctricos e electrónicos não protegidos. Num ataque em grande escala, bastaria uma explosão nuclear a uma altitude de 100 km para colocar fora de uso esses aparelhos, num raio de 1.000 km.

Em 1945, o jovem Michito Ichimaru, enquanto assiste impotente, à morte dos amigos pelo efeito da «chuva negra» radioactiva, não pode saber que tantas outras pessoas morreram sucessivamente, também em zonas longínquas, sempre por causa do bombardeamento nuclear de Hiroshima e Nagasaki. As partículas radioactivas, que a explosão de uma bomba nuclear dispersa na estratosfera, tornam a cair no solo depois de algumas semanas, depositando-se num círculo amplo em volta da Terra, à mesma latitude da explosão. A percentagem de radioactividade desta recaída intermédia aumenta,  se o engenho nuclear é de potência menor, pois que grande parte das partículas radioactivas produzidas pela explosão fica na troposfera, mais sujeita a turbulência e, depois de ter dado várias voltas em torno da Terra, torna a cair no solo. Depois de alguns meses ou anos, também as outras partículas radioactivas tornam a cair sobre toda a Terra.

Calcula-se que numa cidade de um milhão de habitantes – onde todos, no momento da explosão, se encontrassem dentro dos edifícios com um factor de protecção igual a 5 (ou seja, capaz de reduzir a um quinto, a dose de radiações que receberiam se estivessem no exterior) – a recaída local de uma explosão nuclear de 1 megaton a nível do solo provocaria cerca de 230.000 vítimas, 85.000 das quais morreriam no decurso dos primeiros meses. Com um factor de protecção igual a 1,5 - as vítimas da radiação intensa seriam 510.000, 190.000 das quais morreriam nos primeiros meses; como consequência a longo prazo, 30.000 pessoas morreriam de tumores malignos provocados pelas radiações, e outras 9.000 poderiam transmitir danos genéticos aos seus próprios descendentes.

Ainda mais amplos seriam os efeitos do bombardeamento nuclear de uma central nuclear, que aumentaria enormemente a quantidade de radionuclídeos de longo prazo. Se um reactor fosse atingido por uma bomba nuclear, a sua radioactividade espalhar-se-ia juntamente com a da bomba. Dado que ela contém uma quantidade relativamente pequena de compostos radioactivos de curto prazo, a sua destruição não contribuiria sensivelmente para o aumento da radioactividade do ambiente, na primeira semana. Os efeitos mais graves seriam a longo prazo, enquanto a destruição do reactor provocaria a dispersão de quantidades de Estrôncio-90   e Césio-137, cuja radioactividade perdura por muito mais tempo e espalha-se por uma área muito mais vasta.

A população das áreas expostas à recaída intermédia seriam sujeitas a irradiação interna, principalmente por causa do Iodo-131, contido no leite dos animais que tivessem pastado em zonas contaminadas. Atingiria principalmente as crianças e os fetos das mulheres grávidas, que teriam a tiróide danificada. Radionuclídeos como o Estrôncio-90 e o Césio-137 exporiam os habitantes da zona contaminada ao perigo de radiações a longo prazo.

1.4 O inverno nuclear

Durante mais de trinta anos depois do bombardeamento atómico de Hiroshima e Nagasaki, cientistas de todo o mundo concentraram os seus estudos sobre os efeitos de uma simples explosão nuclear: irradiação térmica, onda de choque, queda radioactiva local, intermédia e a longo prazo. Só no início dos anos oitenta, começaram a indagar sobre as consequências de um uso em vasta escala de armas nucleares. Os modelos científicos que elaboraram, fornecem-nos – embora com diferenças notáveis uns dos outros, uma indicação fundamental inequívoca. Uma guerra nuclear provocaria não só o que aconteceu em Hiroshima e Nagasaki multiplicado por mil ou um milhão, mas algo ainda mais grave: a desorganização dos equilíbrios climáticos e dos eco-sistemas.

Num conflito nuclear em vasta escala, desenvolver-se-iam, ao mesmo tempo, em áreas urbanas e florestais, milhares de incêndios violentos, cada um dos quais estendido até centenas de quilómetros. Não tendo tido nunca, incêndios  deste tipo e de tão vastas proporções, é difícil estimar com exactidão, a quantidade de fumo que seria emitida. De qualquer maneira, acredita-se que até a combustão de uma pequena parte dos materiais inflamáveis provocaria consequências gravíssimas.

Bastaria a combustão de um terço de mais de 10 biliões de toneladas de madeira e de papel – concentrados nas áreas urbanas e industriais -  da América do Norte, Europa e Rússia – para produzir uma quantidade de fumo estimada, desde dezenas de toneladas e, ulteriormente, mais centenas de milhões de toneladas, constituída por um quarto ou um terço de carbono elementar amorfo.

A combustão dos materiais inflamáveis concentrados nas áreas urbanas e industriais – madeira, papel, petróleo, gasolina, querosene, gasóleo, produtos químicos, materiais plásticos, fibras sintéticas, borracha, asfalto e outros – produziria centenas de milhões de toneladas de fumo muito fuliginoso, constituído por mais de 50% de carbono elementar amorfo.

Os incêndios de grandes áreas florestais, na ordem de dezenas o centenas de milhares de km2, adicionariam, em quantidade variável dependendo da estação e do tipo de vegetação, outras dezenas de milhões de toneladas de fumo, o qual teria, em relação ao produzido pelos incêndios urbanos, um coeficiente mais elevado de absorção da radiação solar.

Esta enorme quantidade de fumo fuliginoso – constituído de partículas com diâmetro de 01, a 1 micron, formado de uma mistura de carbono elementar amorfo, hidrocarbonetos condensados, detritos minúsculos e outras substâncias – seria transportado rapidamente para a atmosfera, a uma altitude de 10-15 km, por violentas correntes ascendentes geradas pelos incêndios. Se bem que uma parte caísse no solo,  depois de algum tempo, com as precipitações atmosféricas, uma outra parte ficaria muito tempo suspensa na atmosfera, exercendo uma forte acção absorvente da radiação solar.

No hemisfério Norte, no período que vai da Primavera ao início do Outono,  a temperatura média da superfície poderia cair de 20ºC para -40ºC dentro de poucos dias, provocando fortes perturbações. Nas latitudes médias, a temperatura média de verão à superfície poderia cair a níveis outonais ou de princípio de inverno por períodos de semanas ou mais. Nas zonas interiores dos continentes poderia existir períodos caracterizados por temperaturas muito rígidas, de pleno inverno. Fortes correntes de ar frio poderiam dirigir-se para o sul, para regiões onde raramente ou nunca, há condições de gelo.

O manto de fumo poderia permanecer na atmosfera durante um ou mais anos, e determinar à escala mundial, um arrefecimento a longo prazo com a duração de anos, com um declínio de vários graus das temperaturas médias, em particular depois dos oceanos terem arrefecido significativamente. Em tais condições, poderia verificar-se uma notável redução da precipitação.

Um outro fenómeno que se produziria na estratosfera, poderia ter graves efeitos biológicos e ecológicos. Os óxidos de azoto gerados pela explosão nuclear, atingindo a estratosfera, catalisariam reacções químicas que, dentro de alguns meses, poderiam reduzir de 10 a 30% a camada de ozono. Como consequência, a radiação ultravioleta biologicamente activa, logo que se reduzisse o manto de fumo, atingiria a superfície terrestre com maior intensidade.

Outros efeitos resultariam da emissão nas camadas baixas da atmosfera de grandes quantidades de monóxido de carbono, óxido de azoto e de enxofre, ácido clorídrico e de outras substâncias, produzidas pela combustão de milhares de toneladas de produtos de celulose e combustíveis fósseis. Tais substâncias, algumas das quais muito tóxicas, poderiam se nocivas, directa ou indirectamente, para muitas formas de vida.

As consequências de todos estes fenómenos seriam devastadoras. O declínio da radiação solar e da temperatura teria um impacto imediato sobre a possibilidade de sobrevivência dos sobreviventes, os quais, privados em grande parte, de abrigos adequados, de combustíveis e de energia eléctrica, deveriam de enfrentar durante semanas ou meses, temperaturas baixíssimas em condições de obscuridade e grandes tumultos climáticos.

Efeitos a médio e longo prazo, também irreversíveis, aconteceriam na vegetação, em particular na das zonas tropicais e subtropicais, que pode existir apenas dentro de uma faixa muito restrita de temperatura e iluminação. Ao mesmo tempo, o fitoplancton e o zooplancton seriam destruídos, quer pela queda das radiações, quer pelo aumento das radiações ultravioletas, produzindo efeitos chocantes em todo os eco-sistemas marinhos.

A agricultura também seria gravemente atingida. Ao verificar-se episódios, mesmo de breve duração, de congelamento durante a estação de maturação, duração insuficiente da própria estação de maturação, falta de temperatura para o crescimento trariam a perda de colheitas completas. Tal possibilidade é demonstrada não só em experiências de laboratório, mas também do estudo de grandes erupções vulcânicas.

A erupção do Tambora, na Indonésia, em 1815, projectou na estratosfera 150 quilómetros cúbicos de matéria pulverizada. No ano seguinte, em 1816, foi definido como «o ano sem verão»: Na América do Norte e na Europa nevou em Junho e houve temperaturas baixíssimas em Julho e Agosto; seguiu-se uma grande carestia, a qual, provavelmente, favoreceu a epidemia de cólera que, surgiu em Bengala, chegou primeiro ao Cáucaso e, em seguida, à Europa e à América.

De grande duração, pior seria esta situação, se caísse sobre a Terra o «inverno nuclear».

Os aprovisionamentos de cereais, seriam suficientes em teoria, para manter a vida dos sobreviventes durante alguns anos, só nos maiores produtores, mas mesmo nesses países, em rapina devido a convulsões sociais, seria praticamente impossível um funcionamento regular dos sistemas de distribuição. No resto do mundo, compreendendo a maioria dos países e das populações, as reservas alimentares durariam poucas semanas ou poucos meses. Como consequência, se a produção alimentar fosse interrompida durante uma ou mais estações e ao mesmo tempo fossem interrompidas as importações, não haveria comida suficiente para manter os sobreviventes vivos.


A desnutrição, as doenças galopantes e o caos que dominaria em quase toda a parte, provocariam o declínio global da espécie humana


No comments:

Post a Comment

Note: Only a member of this blog may post a comment.

Manifestações

2007 Speech

UKRAINE ON FIRE

Discurso do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, na manhã do dia 24 de Fevereiro de 2022

Discurso do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, Tradução em português




Presidente da Rússia, Vladimir Putin: Cidadãos da Rússia, Amigos,

Considero ser necessário falar hoje, de novo, sobre os trágicos acontecimentos em Donbass e sobre os aspectos mais importantes de garantir a segurança da Rússia.

Começarei com o que disse no meu discurso de 21 de Fevereiro de 2022. Falei sobre as nossas maiores responsabilidades e preocupações e sobre as ameaças fundamentais que os irresponsáveis políticos ocidentais criaram à Rússia de forma continuada, com rudeza e sem cerimónias, de ano para ano. Refiro-me à expansão da NATO para Leste, que está a aproximar cada vez mais as suas infraestruturas militares da fronteira russa.

É um facto que, durante os últimos 30 anos, temos tentado pacientemente chegar a um acordo com os principais países NATO, relativamente aos princípios de uma segurança igual e indivisível, na Europa. Em resposta às nossas propostas, enfrentámos invariavelmente, ou engano cínico e mentiras, ou tentativas de pressão e de chantagem, enquanto a aliança do Atlântico Norte continuou a expandir-se, apesar dos nossos protestos e preocupações. A sua máquina militar está em movimento e, como disse, aproxima-se da nossa fronteira.

Porque é que isto está a acontecer? De onde veio esta forma insolente de falar que atinge o máximo do seu excepcionalismo, infalibilidade e permissividade? Qual é a explicação para esta atitude de desprezo e desdém pelos nossos interesses e exigências absolutamente legítimas?

Read more

ARRIVING IN CHINA

Ver a imagem de origem

APPEAL


APPEAL TO THE LEADERS OF THE NINE NUCLEAR WEAPONS' STATES

(China, France, India, Israel, North Korea, Pakistan, Russia, the United Kingdom and the United States)

中文 DEUTSCH ENGLISH FRANÇAIS ITALIAN PORTUGUESE RUSSIAN SPANISH ROMÂNA

manlio + maria

MOON OF SHANGHAI site

LR on CORONAVIRUS

LARRY ROMANOFF on CORONAVIRUS

Read more at Moon of Shanghai

World Intellectual Property Day (or Happy Birthday WIPO) - Spruson ...


Moon of Shanghai

L Romanoff

Larry Romanoff,

contributing author

to Cynthia McKinney's new COVID-19 anthology

'When China Sneezes'

When China Sneezes: From the Coronavirus Lockdown to the Global Politico-Economic Crisis

manlio

James Bacque

BYOBLU

irmãos de armas


Subtitled in PT, RO, SP

Click upon CC and choose your language.


manlio

VP




Before the Presidential Address to the Federal Assembly.



The President of Russia delivered
the Address to the Federal Assembly. The ceremony took
place at the Manezh Central Exhibition Hall.


January
15, 2020


vp

President of Russia Vladimir Putin:

Address to the Nation

Address to the Nation.

READ HERE


brics


Imagem

PT -- VLADIMIR PUTIN na Sessão plenária do Fórum Económico Oriental

Excertos da transcrição da sessão plenária do Fórum Económico Oriental

THE PUTIN INTERVIEWS


The Putin Interviews
by Oliver Stone (
FULL VIDEOS) EN/RU/SP/FR/IT/CH


http://tributetoapresident.blogspot.com/2018/07/the-putin-interviews-by-oliver-stone.html




TRIBUTE TO A PRESIDENT


NA PRMEIRA PESSOA

Um auto retrato surpreendentemente sincero do Presidente da Rússia, Vladimir Putin

CONTEÚDO

Prefácio

Personagens Principais em 'Na Primeira Pessoa'

Parte Um: O Filho

Parte Dois: O Estudante

Parte Três: O Estudante Universitário

Parte Quatro: O Jovem especialista

Parte Cinco: O Espia

Parte Seis: O Democrata

Parte Sete: O Burocrata

Parte Oito: O Homem de Família

Parte Nove: O Político

Apêndice: A Rússia na Viragem do Milénio


contaminação nos Açores



Subtitled in EN/PT

Click upon the small wheel at the right side of the video and choose your language.


convegno firenze 2019