Paz versus Clima
Peter
Koenig
Tradução: Amigos do Brasil
“Como é possível que Greta e seus jovens
nada tenham a dizer sobre seus irmãos e irmãs jovens na Síria, no Iêmen, na
Palestina, no Iraque, no Sudão, no Afeganistão e em muitos outros locais de
conflitos e pobreza extrema, que estão sendo mortos a torto e a direito pela
máquina de matar USA/NATO, pela fome, por doenças relacionadas à guerra, e por
estados vassalos dos EUA, pelas próprias nações das quais vêm os jovens ricos,
para protestar contra mudanças no clima, mas NÃO para protestar contra a
guerra? Quando acordarão para a realidade? Talvez nunca, ou só quando já for
tarde demais – quando também eles já estiverem sendo bombardeados não pelo
‘clima’, mas pelas guerras criadas e mantidas pela ganância sem fim dos
neoliberais.”
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Na 2ª-feira, 23 de setembro, a ONU em New York hospeda uma reunião especial
sobre Mudança do Clima. Houve manifestações massiva, predominantemente de
jovens, de dezenas de milhares, muitas das quais em New York, uma delas
liderada por Greta Thunberg, ativista sueca de 16 anos, patrocinada
principalmente por Soros e seu clã, para viajar pelo mundo e mandar os líderes
mundiais agir sobre a mudança do clima – impedir que o clima mude, fazer parar
de uma vez por todas qualquer mudança no clima. Outro movimento de
adolescentes, com o mesmo objetivo, chamados “6ªs-feiras pró
Futuro”, teve origem na Alemanha. Os estudantes fazem greve todas as 6ªs-feiras
– o que significa literalmente não ir à escola, para, com essa ‘atitude’ deter
a mudança do clima.
Os respingos para todos os lados parecem imensos. No sábado, grupos de jovens
reuniram-se com o secretário-geral da ONU, António Guterres, incumbidos de
informar ao secretário-geral de que a Mudança do Clima é a questão política
mundial número UM. Mr. Guterres não discordou, é problema
chave e tem de ser atacado, e líderes mundiais tiveram de se comprometer para
fazer alguma coisa. A Assembleia Geral da ONU dedicará parte de seu programa à
Mudança do Clima.
Para aí. Calma. – Mudança do Clima problema número UM?! – E a PAZ?
– Ninguém está não indo à escola para lutar pela PAZ? NEM Guterres, cujo dever
e cuja missão é liderar o mundo na direção de resolver conflitos e fazer PAZ –
essa é a própria razão de existir da ONU, foi fundada para isso. Para fazer a
PAZ. Não para fazer o clima: para fazer a PAZ.
Será que esses jovens ocidentais, a maioria dos quais quadros da elite,
passaram por lavagem cerebral, de tal modo que não sabem ver que o mundo tem
outras prioridades, por exemplo, pôr fim às matanças em guerras lançadas e
instigadas pelos EUA em todo o planeta?
Como é possível que nada tenham a dizer sobre seus irmãos e irmãs jovens na
Síria, no Iêmen, na Palestina, no Iraque, no Sudão, no Afeganistão e em muitos
outros locais de conflitos e pobreza extrema, que estão sendo mortos a torto e
a direito pela máquina de matar USA/NATO, pela fome, por doenças
relacionadas à guerra, e por estados vassalos dos EUA, pelas próprias nações
das quais vêm os jovens ricos, para protestar contra mudanças no clima, mas NÃO
para protestar contra a guerra? Quando acordarão para a realidade? Talvez
nunca, ou só quando já for tarde demais – quando também eles já estiverem sendo
bombardeados pelas guerras criadas e mantidas pela ganância sem fim dos
neoliberais.
Será que esses jovens sabem que essas guerras e conflitos, combatidas
diretamente ou por forças USA/NATO que guerreiam por procuração e já mataram
entre 20 e 25 milhões de pessoas depois da 2ª Guerra Mundial, e entre 12 e 15
milhões só a partir de 11/9?
Fazer parar esse morticínio é mais importante e urgente do que ‘militar’ a
favor de interromper uma mudança que a arrogante espécie humana não tem meios
para interromper, pela suficiente razão de que o clima muda sempre, há 4
bilhões de anos da existência da Mãe Terra.
Mas é típico da arrogância da humanidade [da classe que governa o país e as
matanças] crer e, sobretudo, induzir as massas a crer que nós – de fato, que
eles! – teriam o poder de influenciar o clima da Mãe Terra. E quem fala de Mãe
Terra fala de Universo, porque tudo está conectado, e se quisermos examinar bem
de perto, temos de considerar nosso sol, que tem enorme influência sobre o
clima, muito mais do que gostamos de admitir, nosso sol, fonte da vida na
terra, somado à água. Esses são os bens a proteger. E temos de trabalhar pela
PAZ.
Gritar e clamar por algo para cujo encaminhamento a humanidade nada pode fazer
é perda de energia, sim, mas também é modo eficaz de desviar as atenções para
bem longe da questão real: Como fazer parar a guerra e construir a PAZ mundial.
Mas ainda que se pudesse influenciar o clima, assumamos por um instante que
pudéssemos mudar o rumo do clima, – você, Greta e os jovens das 6ªs-feiras – e
talvez também você, Mr. Guterres – sabem que essas guerras que
matam milhões de pessoas são as maiores geradoras de CO2 e de gases de efeito
estufa, muitas vezes maiores que outras causas ‘climáticas’. Falar de paz é
apontar o dedo diretamente contra o complexo militar USA/NATO.
E sabem que, até hoje, nunca, em nenhuma das conferências mundiais ‘de clima’ –
em nenhum desses eventos elegantes, cheios de glamour, nos quais
discursam autoridades, todos prometem mundos e fundos e ninguém cumpre o que
promete –, nenhuma dessas conferências mundiais ‘de clima’, nenhuma, jamais
reconheceu que a poluição causada pelas guerras é problema gravíssimo?
– Ora! Se não é permitido falar contra as guerras e a favor da paz, que
utilidade teriam esses ‘eventos’?
Sabem também que a meia dúzia de enormes conferências ‘de clima’, que custam
fortunas e dão resultado zero, jamais conseguiram mudar coisa alguma, por pouco
que fosse, no clima? – Em primeiro lugar, porque aquelas ‘autoridades’ nada
podem fazer, porque não têm poder algum sobre a Mãe Terra – por sorte! E em
segundo, porque as autoridades, especialmente no ocidente, os que chamamos
‘nossos líderes’, dormem em cama de casal com os principais poluidores
empresariais e financistas? Foram criados por esses poluidores em tempo
integral, pelas indústrias geradoras de lucros obscenos; lucros que jamais se
conheceriam sem o uso descontrolado de hidrocarbonos. Nossos “líderes” (sic)
jamais se atreveriam a dizer uma palavra séria, que fosse, sobre legislação que
impedisse aquela gente de envenenar o ar que todos respiramos. Não. Never.
Não no ocidente dominado pelo setor privado turbo-capitalista.
Em todas essas conferências, o Armageddon está escrito no muro – demora 5, 10,
de 30 anos não passa! Seja como for, já se passaram mais de 20 anos desde a
primeira Conferência sobre o Clima patrocinada pela ONU em Kyoto, Japão, em
dezembro de 1997 – e até hoje só falamos, só repetimos os mesmos slogans – e
sempre disseminando o mesmo medo – e a temperatura média insiste em subir 3
graus, 5 graus, e, isso, quando a lei só permite que a temperatura suba 2,5
graus, dizemos NÓS – OS Masters of the Universe. UAU! – Pensando
bem, é arrogância. É arrogância.
CONTUDO, caso ainda não saibam, queridos seguidores de Greta e pessoal das
6ªs-feiras, e até você, Mr. Guterres, a PAZ é mais importante,
sinceramente, que mudanças no clima. PAZ é e tem mesmo de ser o item número UM
de nossa agenda política, da agenda da ONU. O clima será o que tiver de ser,
conosco ou sem nós; sim, o clima muda, muda sem parar. Mas a verdade é que nós,
humanos, no pé em que o mundo está hoje, não podemos impedir que o clima mude.
A única coisa que esse frenesi ‘climático’ faz é uma chuva de novos impostos,
taxas que poluidores pagam para continuar poluindo, mas quem paga os impostos
não são os poluidores: somos você e eu. As empresas são ou logo passarão a ser
isentas desses impostos.
Significa que mais trilhões de dólares serão extraídos dos pobres de baixo e
bombeados para os ricos de cima, como sempre acontece quando o ocidente
controlado pela finança quer ordenhar mais capital social acumulado extraído da
classe trabalhadora pelos que vivem de rendas. – Para essa operação o ‘clima’ é
excelente ferramenta. Mr. Soros, você acertou mais uma. Mas
você, Mr. Guterres, foi eleito para conduzir o mundo, pelo
sistema da ONU, até a PAZ, não para ensinar o clima a não mudar muito...
A ‘questão climática’ já rendeu trilhões em impostos; são trilhões que andam
diretamente para os bancos, e se converterão em mais um derivativo a ser
inflado como bolha-monstro cujo único futuro garantido é explodir um dia – e
todo o sistema colapsará outra vez. Sabemos dessas bolhas, mas nem por isso
paramos de inventar novas e novas bolhas. Quem se lembra de perguntar, ou se
interessa mesmo por saber, o que será feito dos trilhões arrecadados ‘contra’ a
mudança climática? Como serão aplicados para impedir que o clima mude?
Ninguém está realmente preocupado. No momento em que nós judeu-cristãos
governados pela culpa eterna pagamos nossos impostos e dívidas, nossa
consciência vira-se de lado e dorme em paz. E lá ficamos, dormindo o sono dos
justos, mesmo que nada mude ou não mude. Seja o clima, seja qualquer coisa, que
continua como sempre foi.
Há ideias muito melhores, Mr. Guterres, se você quiser mesmo
trabalhar para a PAZ e para proteger o meio ambiente: que tal uma conferência
mundial para proibir em todo o mundo o uso de plásticos, uso, fabricação,
venda, compra, tudo, um mundo completamente sem plásticos. Gastam-se bilhões
diariamente em plásticos, e só se recicla menos de 5%. O resto acaba no mar, no
estômago de peixes e pássaros – até no nosso corpo, na forma de microplástico.
Que as Gretas e os jovens das 6as-feiras trabalhem para impedir que
se fabriquem embalagens plásticas desnecessárias. Por que? Porque será
empreitada dificílima, porque será preciso convencer toda a indústria de
embalagens, toda a indústria de alimentos – e será preciso convencer as Nestlés
e Coca-Colas do mundo a alterar seus ‘conceitos’– talvez até tenham de voltar a
vender água em garrafas de vidro. Não bastasse o uso de garrafas plásticas, a
venda de água engarrafada, como sabemos, já é absoluta calamidade
socioambiental em muitos países, inclusive nos EUA.
Você, Mr. Guterres, poderia também exigir que o ocidente
parasse de desperdiçar 30% ou mais de todo o alimento produzido. Desperdiçar,
sim, porque é comida descartada como lixo, mesmo que esteja perfeitamente boa
para consumo. Mas descartar comida como lixo dá mais lucro que fazer a comida
chegar a quem tem fome. Inventem aí uma Resolução da ONU que proíba especular
com comida, grãos – o que baratearia os preços do alimento e evitaria parte
considerável da fome que mata crianças e adultos e velhos pelo mundo. São
medidas que, todas essas, trabalham na direção da PAZ.
Que tal? Que lhes parece uma abordagem que promova simultaneamente a PAZ e a
necessidade de todos trabalharem para preservar o meio ambiente? Esse, sim,
seria movimento extraordinário – jovens pela PAZ e por uma distribuição mais
justa da comida e por medidas sérias de preservação do meio ambiente. Mr. Soros
e seus aliados talvez não gostem. De fato, discursar contra a mudança
climática, fazer muita propaganda de um suposto ‘bem’, como se alguém
acreditasse seriamente que jovens das 6as-feiras poderiam impedir
que o clima planetário mude, – é um meio poderoso para fazer não ver as guerras em
curso, que matam – milhões e milhões – para assegurar lucros e poder sempre
crescentes, e, também, para garantir a hegemonia dos poluidores, sobre os povos
e os recursos do planeta.
Crianças, vão à ONU exigir PAZ e outros direitos alcançáveis, mas sempre,
sempre, para exigir PAZ. Não é fácil, mas é objetivo pelo qual é digno lutar e
que nós, a humanidade consciente, podemos, sim, alcançar.*******
* Peter
Koenig é economista e analista de geopolítica, especializado em
questões de recursos hídricos e meio ambiente. Trabalhou por mais de 30 anos no
Banco Mundial e na Organização Mundial da Saúde em todo o mundo, no campo da
preservação do meio ambiente e uso da água. É conferencista regular em
universidades nos EUA, Europa e América do Sul. Escreve regularmente para Global Research; ICH; RT; Sputnik; PressTV; The
21st Century; Greanville Post; TeleSUR; The
Saker Blog, New Eastern Outlook (NEO) e outras páginas de
Internet. É autor de Implosion – An Economic Thriller about War, Environmental
Destruction and Corporate Greed – romance-documentário baseado em
experiências de seus 30 anos de Banco Mundial, em viagens por todo o
planeta. Também é co-autor
de The World
Order and Revolution! – Essays from the Resistance. Peter Koenig é Pesquisador
Associado do Centre for Research on Globalization.
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