FULL SPECTRUM DOMINANCE
ou
DOMÍNIO DA UNIVERSALIDADE
Uma Guerra na Geórgia—Putin Lança uma Bomba
Temos cerca de 50% da riqueza
mundial, mas apenas 6,3% da população… Nesta situação, não podemos deixar de
ser objecto de inveja e ressentimento. A nossa tarefa concreta, no próximo
período, é conceber um padrão de relações que nos permita manter essa posição
de disparidade sem prejuízo positivo para nossa segurança nacional. Para
fazê-lo, teremos de nos despojar de todo sentimentalismo e devaneio e a nossa
atenção terá de se concentrar, em toda a parte, nos nossos objectivos nacionais
imediatos. Hoje, não temos necessidade de criar a ilusão de que nos podemos dar
ao luxo de ser altruístas e de beneficiar o mundo. - George F. Kennan,
Memorando de Política do Departamento de Estado dos EUA, Fevereiro de 1948.(1)
Armas
de Agosto e Um Desses Números Divertidos
"Oito
oito oito" é um desses números interessantes, como 666 ou 911. Algumas
pessoas atribuem-lhe um enorme significado misterioso. Portanto, era mais ameaçador
do que o contrário que, no oitavo dia, do oitavo mês, do oitavo ano do novo
século, um pequeno território nas montanhas remotas do Cáucaso, da antiga União
Soviética, decidisse ordenar que o seu exército de trapos, marchasse contra um
território tão pequeno como o Luxemburgo, para reconquistá-lo em nome da
República da Geórgia alargada.
Naquele
dia, grande parte da atenção do mundo estava concentrada noutros lugar, em
Pequim, quando a China lançou o início notável das Olimpíadas de 2008. Muitos dirigentes
mundiais estavam em Pequim para presenciar este evento, incluindo o Presidente dos Estados
Unidos, George W. Bush, e o novo Primeiro Ministro da Rússia, Vladimir Putin.
A
notícia surpreendente de que o Exército da Geórgia tinha invadido a província
separatista da Ossétia do Sul, ao princípio, atraiu pouco interesse. No Ocidente, poucos tinham ouvido falar da Ossétia do Sul. A região era
remota e acreditava-se ser de pouca importância política.
O ataque da Geórgia, apoiado pelos EUA, em Agosto
de 2008, apanhou de surpresa o Ocidente, quando
a Rússia reagiu tão rapidamente em defesa dos ossétios.
Como
se viu, a pequena República da Geórgia e sua invasão à Ossétia do Sul, iriam
marcar o início da fase mais perigosa dos assuntos mundiais desde a Crise dos
Mísseis Cubanos, de Outubro de 1962, quando os dois adversários da Guerra Fria,
a União Soviética e os Estados Unidos, ficaram ‘olhos nos olhos’ e chegaram à
distância de um fio de cabelo, da guerra nuclear.
Alguns
começaram a temer uma repetição do que ocorreu no séc. XXI, das Armas de
Agosto, quando um acontecimento, igualmente remoto - o assassinato em Agosto de
1914, do herdeiro do trono da monarquia austro-húngara levado a cabo por um
assassino sérvio em Sarajevo - desencadeou o início da Primeira Grande Guerra,
na Europa.
Outros
falaram de uma Nova Guerra Fria, uma referência ao equilíbrio mútuo de terror
que dominou os assuntos mundiais desde, aproximadamente 1946, até à queda do
Muro de Berlim e ao colapso da União Soviética, em 1989-1990.
Essa
crise cubana de 1962, como alguns recordam, foi desencadeada por fotos de
reconhecimento dos EUA, que mostravam a construção de uma base de mísseis
soviéticos em Cuba, a cerca de 90 milhas da Florida. Tal base de mísseis daria
à Rússia a capacidade de lançar um ataque nuclear, em poucos minutos, contra o
território dos EUA, não permitindo que os bombardeiros nucleares dos EUA
tivessem tempo suficiente para responder.
O
que poucos no Ocidente disseram – excepto os que faziam parte do Pentágono e dos
mais altos círculos dos EUA e da NATO - foi que a instalação de mísseis
soviéticos em Cuba não foi uma provocação que surgiu do nada. Foi a resposta da
Rússia, por mais ineficaz e por mais imprudente que fosse, à decisão anterior
dos EUA de colocar os seus mísseis nucleares Thor e Júpiter na Turquia, o
membro da NATO que estava situado perigosamente, muito próximo dos locais
nucleares estratégicos soviéticos.
Tal
como aconteceu em Cuba em 1962, bem como na Geórgia, em 2008, a crise foi a
consequência directa de uma provocação agressiva iniciada pelos círculos
militares e políticos de Washington. (2)
Fim
De Uma Guerra Fria e Sementes de Outra Nova Guerra Fria
A
Guerra Fria terminou ostensivamente com a decisão de Mikhail Gorbachev, em Novembro
de 1989, de não enviar tanques soviéticos para a Alemanha Oriental, afim de bloquear o
crescente movimento pacifista de protesto contra o governo e deixar cair o Muro
de Berlim, o símbolo da “Cortina de Ferro” na Europa. A URSS estava falida, militar,
económica e politicamente.
A
Guerra Fria tinha acabado. O Ocidente, sobretudo os Estados Unidos da América -
o símbolo da liberdade, da democracia, da prosperidade económica para grande
parte do mundo, sobretudo para os povos dos antigos países comunistas da Europa
Oriental - tinha vencido.
Com
o fim da Guerra Fria, Washington proclamou que o seu objectivo era a
disseminação da democracia para aquelas partes do mundo que estavam rigidamente
confinadas dentro do sistema socialista soviético, pelo menos, desde o fim da
Segunda Guerra Mundial e, em muitos casos, desde a Revolução Russa de 1917.
A
democracia era a arma mais eficaz de Washington para aumentar o seu controlo sobre
as nações que surgiam do antigo bloco comunista na Europa. No entanto, a
palavra “democracia”, como as antigas famílias oligárquicas gregas bem sabiam,
era uma arma de dois gumes: poderia ser manipulada para apaziguar uma turba
enfurecida ou arremessada com fúria, contra os adversários políticos.
Tudo
o que era necessário, era controlar as técnicas para moldar a opinião pública e as
alavancas da mudança económica. Nestes requisitos, Washington estava bem
equipado; dominava a comunicação mediática global por meio de instrumentos como
a CNN e orquestrava a transformação económica por meio do controlo de
instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Washington iria espalhar a
democracia após o colapso da União Soviética. Mas seria um tipo especial de
democracia, se assim desejarem, uma “democracia totalitária”, aglomerando a
hegemonia económica, política e cultural americana sob o controlo militar da
NATO.
A
maior parte do mundo estava exultante com a oferta da democracia ao estilo
americano. Em Berlim, os alemães, do leste e do oeste, interpretaram a Ode à
Alegria, de Beethoven e dançaram no Muro. Na Polónia, na Checoslováquia, na
Hungria e em todas as nações ou regiões que tinham estado confinadas no lado
soviético da “Cortina de Ferro”, desde 1948, os cidadãos estavam eufóricos em
comemoração ao que acreditavam ser o começo de uma vida melhor, vida de
liberdade e prosperidade, a “American Way of Life”. Acreditavam na propaganda
que lhes fora instilada ao longo dos anos, pela Radio Free Europe/Rádio Europa
Livre e outros meios da comunicação mediática do governo americano e dos
governos ocidentais. O paraíso na terra estava prestes a chegar, ou eles
pensaram que seria assim.
A euforia foi de curta duração.
Quase imediatamente, Washington e os seus aliados ocidentais impuseram uma
forma de “terapia de choque” económica às antigas economias estatais
socialistas, de planeamento centralizado. O Fundo Monetário Internacional (FMI)
exigiu “reformas de mercado” imediatas. Este foi o código usado para a
transformação completa da totalidade dessas economias.
Os dirigentes do FMI não estavam
preparados para a complexidade da transformação do espaço económico interligado
de seis países do antigo Pacto de Varsóvia (Bulgária, Checoslováquia, Alemanha
Oriental, Hungria, Polónia, Roménia) e de quinze antigas repúblicas soviéticas.
Os tecnocratas do FMI, sob as ordens do Secretário do Tesouro dos EUA e antigo
banqueiro de Wall Street, Robert Rubin, exigiram a privatização imediata de
todas as indústrias estatais, a desvalorização do rublo russo e a
desvalorização de cada uma das outras seis moedas nacionais.(3)
A “terapia de choque” do FMI
(Políticas de Ajustamento Estrutural) abriu as portas do antigo bloco soviético
aos especuladores ocidentais detentores de dólares. Entre os que estavam em
debandada estavam o bilionário norteamericano de fundos de investimento, George Soros , o comerciante de metais fugitivo Marc Rich e bancos agressivos como Credit Suisse e
Chase. As políticas do FMI permitiram que eles pilhassem, literalmente, as
“Jóias da Coroa” da Rússia, a troco de centavos. O saque incluiu tudo desde
petróleo a níquel e desde alumínio a platina.
Um
pequeno punhado de empresários russos - na maioria antigos membros do Partido
Comunista ou funcionários da KGB – apoderou-se dos valiosos activos de
matérias-primas de propriedade do Estado, durante a era corrupta de Yeltsin e
tornaram-se bilionários da noite para o dia. Eles foram referidos com precisão
na comunicação mediática como “oligarcas” russos - homens cuja riqueza
permitiria que eles se tornassem os novos senhores da Rússia pós-comunista - os
donos do dinheiro. Mas havia um problema: a sua nova riqueza era designada em
dólares. Os novos oligarcas da Rússia
estavam amarrados, segundo Washington acreditava, ao Ocidente e,
especificamente, aos Estados Unidos. A estratégia de Washington foi apoderar-se
do controlo da Rússia pós-soviética, assumindo o controlo dos seus novos
oligarcas bilionários.
Como consequência lógica das
políticas draconianas do FMI impostas à Rússia durante a década de 1990, o
desemprego explodiu e os padrões de vida desmoronaram. Mais chocante ainda é o
facto de que a expectativa de vida dos homens russos caiu para 56 anos durante
esse período. Os idosos ficaram sem pensão ou atendimento médico adequado em
muitos casos. As escolas foram fechadas; as habitações ficaram
em ruínas; o alcoolismo, a toxicodependência e a SIDA/AIDS espalharam-se entre
a juventude russa.
As exigências do FMI incluíam
uma redução drástica dos subsídios estatais numa economia onde todos os
serviços sociais necessários, desde os Centros de Dia à assistência médica,
eram fornecidos gratuitamente ou a custo nominal pelo Estado. A população russa
foi novamente submetida a grande aflição, meio século depois de terem dado mais
de vinte e três milhões dos seus melhores jovens cidadãos para combater, para
que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha pudessem dominar o mundo do pós-guerra.
Como muitos russos constataram, a terapia de choque económico foi uma maneira
estranha do Ocidente demonstrar gratidão pelo fim do Pacto de Varsóvia.
O
último dirigente soviético, Mikhail Gorbachev, tentou revitalizar o interior do
Estado soviético com a Glasnost e a Perestroika, que falharam. Em troca de Gorbachev, ter permitindo ao
Ocidente, através do controverso FMI, ditar os termos da transformação
económica em “paraíso capitalista”, a administração do Presidente dos EUA,
George H.W. Bush, tinha oferecido uma promessa a Gorbachev. Especificamente, a
promessa oficial era, que os Estados Unidos não estenderiam a NATO para Leste,
a fim de não englobar {nessa organização
militar} os países recém-libertados do antigo Pacto de Varsóvia (4).
Gorbachev, na sua boa fé,
confiou nessa promessa do governo Bush, como sendo a política oficial. E assim
parecia. No entanto, no caos do momento, Gorbachev esqueceu-se, aparentemente,
de obter a promessa de Bush por escrito. As memórias em Washington eram boas,
mas convenientemente curtas quando lhes convinha, como demonstram os
acontecimentos posteriores.
Em
resposta a essa promessa solene dos EUA, a antiga União Soviética, agora uma
Rússia vastamente reduzida, prometera a Washington e à NATO que desmantelaria
sistematicamente o seu formidável arsenal nuclear. Para esse fim, a Duma russa
havia ratificado o Tratado Start II que fornecia um calendário para a redução
das armas nucleares activas já instaladas. Estabeleceram que a ratificação
dependesse tanto dos EUA como da Rússia, aderindo ao Tratado de Mísseis
Antibalísticos de 1972 (Tratado ABM), que proibia o uso de um escudo de defesa
antimísseis activo ambas as partes. (5) {Nota da
Trad. Este quesito é muito importante, porque é a base do abandono do Tratado
INF em 2 de Agosto de 2019,visto que os EUA alegam que a Rússia instalou os
misseis cruzeiro com base em terra 9M729 (como relatou o ‘The New York Times', em 14
de Fevereiro de 2017, mas os EUA tinham instalado o Sistema Aegis Ashore na
Roménia que foi declarado operacional em 12 Maio de 2016 e desde 2002 diligenciam fazer o mesmo na Polónia e na República Checa}
Em
13 de Dezembro de 2001, George W. Bush notificou a Rússia da retirada dos
Estados Unidos, do Tratado ABM. Foi a primeira vez, na História recente, que os
Estados Unidos se retiraram de um importante tratado internacional sobre armas.
Esta diligência foi levada a cabo para abrir a porta à criação da Agência de
Defesa contra Mísseis dos EUA (6).
Uma
Rússia exausta tinha dissolvido o Pacto de Varsóvia, organização equivalente à
NATO. Tinha retirado as tropas da Europa Oriental e outras regiões da antiga
União Soviética. Os estados satélites da União Soviética e até mesmo as antigas
repúblicas soviéticas foram incitadas a declarar-se países independentes -
embora geralmente com promessas e lisonjas ocidentais de uma possível adesão à
nova União Europeia. A República da Geórgia era um desses novos países, apesar
da Geórgia ter sido parte integrante de um império russo que remontava aos dias
dos Czares, muito antes da Revolução de 1917.
“Vencemos!”
Apesar
das promessas solenes e, ao que tudo indica, dos acordos oficiais de Washington
de não expandir a NATO para Leste, George H.W. Bush e mais tarde o Presidente
Bill Clinton, voltaram atrás nas suas promessas. Eles atraíram, um por um, os
países do antigo Pacto de Varsóvia para o que viria a tornar-se numa nova NATO,
em expansão para Leste.
George
Herbert Walker Bush era o herdeiro de uma família rica, de Nova Inglaterra, que
fez fortuna ao longo de décadas, primeiro com investimentos no Reich de Hitler
e que depois continuou por meio de poderosos alinhamentos com as indústrias de
petróleo e armamentos Rockefeller. “Vencemos”, bradou, como se saudasse uma
vitória no NFL Super Bowl e não o findar de uma competição militar e política
que deteve, muitas vezes, num estado crítico, o destino de todo o planeta.
Como
um observador descreveu a nova arrogância americana em Washington, no início
dos anos 90 e a administração de George H.W. Bush: “As viagens presidenciais ao
exterior assumiram as armadilhas das expedições imperiais, ofuscando em escala
e requesitos de segurança, as circunstâncias de qualquer outro estadista ... A
consagração da América como líder mundial [era] em alguns aspectos, a
recordação da auto-coroação de Napoleão”. (7)
O
autor desses comentários críticos não era um estranho ou se alguém que se
opunha ao poder americano. Era Zbigniew Brzezinski, antigo Conselheiro de Segurança
Nacional do Presidente Jimmy Carter e estratega perito em política externa de
vários presidentes e assessor de muitos, incluindo do candidato à presidência,
Barack Obama.
Brzezinski
era um estudante atento do mestre da geopolítica anglo-americana, Sir Halford
Mackinder. Ele conhecia bem os perigos da arrogância imperial no auge do
império. Essa arrogância, em sua opinião, causou o colapso do Império
Britânico, aparentemente no auge, entre o final do século XIX e a eclosão da
Primeira Guerra Mundial.
Brzezinski
advertiu que tal arrogância dominadora por parte de Washington, um século
depois, poderia levar a uma crise semelhante da hegemonia americana. A América,
alertou, poderia perder o estatuto de “Superpotência Única” ou de “Império
Americano” - o termo preferido dos falcões neoconservadores como William
Kristol, editor do Weekly Standard e Robert Kagan, associado sénior do Carnegie
Endowment. for International Peace.
Zbigniew
Brzezinski foi um dos arquitectos da guerra do Afeganistão contra a União
Soviética, no final dos anos 1970. Ao provocar e depois ao planear aquela
guerra, na qual o governo dos EUA treinou Osama bin Laden e outros radicais
islâmicos com técnicas avançadas de guerra irregular e de sabotagem, Brzezinski
fez mais do que talvez qualquer outro estratega do pós-guerra, com a possível
excepção de Henry Kissinger, para expandir o domínio americano através da força
militar.
Brzezinski
não era um sentimental. Era um imperialista americano veemente, que em
Washington era designado como “realista”. Sabia que a dominação imperial
americana, mesmo quando se disfarçava sob o nome de democracia, precisava de dar
cuidadosa atenção aos seus aliados para manter o poder global e controlar o que
ele denominou como o tabuleiro de xadrez – a Eurásia. As outras potências
deveriam ser administradas e manobradas de modo a impedir o aparecimento de
rivais no domínio dos Estados Unidos. Neste contexto, no seu livro, amplamente
debatido, de 1997, The Grand Chessboard, Brzezinski referiu-se repetidamente
aos aliados dos EUA, incluindo até mesmo à Alemanha e ao Japão, como os “vassalos”
da América. (8)
Brzezinski
não teve nenhum confronto com o objectivo final visível da política externa Bush-Cheney - a saber, um Século Americano
global, uma versão americanizada do governo imperial. Ao contrário, Brzezinski
diferia apenas na sua visão dos meios para atingir esse objectivo.
“Facto
sintomático da supremacia da América, na primeira década e meia”, observou Brzezinski,
“foi a presença mundial de forças militares dos EUA e a frequência crescente de
seu envolvimento em operações de combate ou coercivas. Instalados em todos os
continentes e dominando todos os oceanos, os Estados Unidos não tinham nenhum
parceiro político ou militar”. (9)
Uma
área onde as forças militares dos EUA estavam a ser instaladas era a República
Soviética da Geórgia, onde, pelo menos, desde Setembro de 2003 o governo Bush tinha
estado a prestar assistência militar directa e aconselhamento ao país, pequeno
mas estratégico, que havia declarado a sua independência da União Soviética em
1990. (10)
Os
acontecimentos de Agosto de 2008, na Geórgia, não podiam ser compreendidos sem
a década de 1990 e a história da expansão USA/NATO até às portas de Moscovo. A
Administração de George Bush, Senior havia quebrado a promessa feita à Rússia
de não expandir a NATO para Leste.
Agora, em 2008, outra Administração Bush estava a colocar uma pressão enorme
sobre a União Europeia e sobre os governos europeus para admitirem as duas
antigas repúblicas soviéticas, a Geórgia e a Ucrânia, na NATO.
Essa
nova expansão da NATO veio na peugada de um anúncio ousado, no início de 2007,
do governo dos Estados Unidos de que planeava instalar bases avançadas de
mísseis e estações de radar em dois antigos países do Pacto de Varsóvia, agora
membros da NATO: Polónia e República Checa. (11)
A
Administração Bush alegou que a decisão de colocar a sua infraestrutura
fraudulenta, designada como ‘Defesa’ contra Mísseis Balísticos na Polónia e na
República Checa seria supostamente para se defender contra “Estados desonestos
como o Irão”. (12) Esta afirmação produziu uma resposta mais forte do Kremlin.
Como verdadeiro facto militar não era, de modo algum, defensivo, mas sim, uma grande
vantagem ofensiva para Washington, em qualquer futuro confronto militar com
Moscovo.
A
NATO colocou as suas forças de linha de frente nas nossas fronteiras……[I] É
óbvio que a expansão da NATO não tem qualquer relação com a modernização da
própria Aliança ou com a garantia da segurança na Europa. Pelo contrário,
representa uma provocação grave que reduz o nível de confiança mútua. E temos o
direito de perguntar: Contra quem é pretendida esta expansão? E o que aconteceu
às garantias que os nossos parceiros ocidentais fizeram, depois da dissolução
do Pacto de Varsóvia? (13)
Estas
palavras francas do Presidente da Rússia desencadearam uma tempestade de
protestos da comunicação mediática e dos políticos ocidentais. Vladimir Putin,
um antigo oficial de carreira da KGB que havia dirigido por pouco tempo, o FSB
(a organização sucessora da KGB para os serviços secretos sobre o estrangeiro),
poderia ser acusado de muitas coisas. Ele subiu, claramente, ao topo da
pirâmide do poder da Rússia não por ser um “tipo simpático”. No entanto, algo de que Vladimir Putin não poderia ser acusado, era de ser estúpido, especialmente quando os interesses vitais russos estavam ameaçados.
Pela
primeira vez, desde o fim da União Soviética, em 1991, a comunicação mediática
ocidental falou de uma nova Guerra Fria entre o Ocidente e a Rússia. No
entanto, o discurso do Presidente russo tornou público e aberto, de
facto, um processo que nunca terminou, mesmo com a queda do Muro de Berlim, em
Novembro de 1989.
As
Origens da Cortina de Ferro
A
Guerra Fria começou no final da década de 1940, entre outros acontecimentos, com
a criação formal da Organização do Tratado do Atlântico Norte, mas mesmo com o
colapso da União Soviética em 1989-90, ela realmente nunca tinha terminado. Foi
esse o facto, que foi tão desconfortável no discurso de Putin e tão difícil de
ser digerido pelos ouvintes ocidentais.
Com
efeito, Putin expôs as implicações perigosas da estratégia de expansão da NATO após
a Guerra Fria como sendo um cerco à Rússia e não como uma garantia de transição
pacífica para a democracia ao estilo ocidental, para as nações da antiga União
Soviética.
Washington,
o chefe de facto da NATO, tinha estado
a avançar firmemente a sua superioridade militar sobre a Rússia, desde o
colapso da União Soviética. Com as instalações da Defesa contra Mísseis Balísticos
projectadas para a Polónia e a para a República Checa, a situação chegou ao
ponto em que a Rússia se sentiu obrigada a reagir abertamente e sem rodeios.
O que se estava a desenvolver
claramente, nos primeiros anos do novo milénio, era a expansão militar
agressiva dos Estados Unidos. Sob camadas de desinformação calculada e
campanhas efectivas de propaganda sobre a disseminação da democracia ao estilo
dos EUA nas antigas repúblicas soviéticas e nos países do bloco oriental, os
Estados Unidos estavam a aproximar-se de um confronto militar diferente de
qualquer outro mundo desde a Guerra Fria.
O
principal arquitecto da política original de “contenção” da Guerra Fria foi George
F. Kennan, Director do Departamento do Planeamento da Política dos EUA. Em
1948, num memorando de política interna classificado como Top Secret, ele
delineou os objectivos de política externa dos Estados Unidos que estava a
criar o império do pós-guerra conhecido como o Século Americano.
A
tese de Kennan, finalmente tornada pública, era incrivelmente clara:
Temos cerca de 50% da riqueza
mundial, mas apenas 6,3% da população… Nesta situação, não podemos deixar de
ser objecto de inveja e ressentimento. A nossa tarefa concreta, no próximo
período, é conceber um padrão de relações que nos permita manter essa posição
de disparidade sem prejuízo positivo para nossa segurança nacional. Para
fazê-lo, teremos de nos despojar de todo sentimentalismo e devaneio e a nossa
atenção terá de se concentrar, em toda a parte, nos nossos objectivos nacionais
imediatos. Hoje, não temos necessidade de criar a ilusão de que nos podemos dar
ao luxo de ser altruístas e de beneficiar o mundo. (14)
Os
principais planeadores do pós-guerra da América estiveram envolvidos, em 1939,
no Projecto de Estudos de Guerra e Paz, do Conselho das Relações Estrangeiras
de Nova York. A sua estratégia tinha sido criar um tipo de império informal, no
qual a América surgiria como a potência hegemónica não desafiada, numa nova
ordem mundial a ser administrada através da recém-criada Organização das Nações
Unidas.(15)
Os
arquitectos da ordem global dominada pelos Estados Unidos, no pós-guerra,
optaram explicitamente por não denomina-los de “império”. Em vez disso, os
Estados Unidos projectariam o seu poder imperial sob o disfarce de “libertação”
colonial, apoio à “democracia” e à “liberdade”.
Foi um dos golpes de propaganda mais eficazes e diabólicos dos tempos modernos.
Enquanto
os Estados Unidos fossem a maior economia do mundo e os dólares americanos
fossem procurados como moeda de reserva mundial de facto, essa charada
funcionou. Enquanto a Europa Ocidental, o Japão e a Ásia dependessem da protecção
militar dos EUA, o Império Americano poderia efectivamente retratar-se como
sendo o farol da liberdade para as nações recém-independentes da África e da
Ásia.(16)
Uma
barricada Leste-Oeste genuinamente temível surgiu, quando tanques, bombardeiros
e armas de destruição em massa foram colocadas em posição, à volta das
economias socialistas do Pacto de Varsóvia, depois de 1948, bem como a nova República
Popular da China e a Jugoslávia de Tito, separando-os do ‘Mundo livre’,
dominado pelos EUA.
Foi
durante esse período - entre o famoso discurso de Churchill, em Fulton, no Missouri, em 1946 e a criação formal da Organização do Tratado do Atlântico Norte, em Abril de 1949 - que a Eurásia foi efectivamente colocada para além do alcance das
políticas económicas dos EUA. A Eurásia - o vasto tesouro geopolítico que se
estende desde o rio Elba, na Alemanha, até ao Adriático, passando por Sófia,
Bulgária, através do Mar Negro, do Mar Cáspio, passando pela Ásia Central e
pela China, foi desvinculado da influência directa do investimento de capital
dos EUA e, na sua maior parte, para além do alcance das políticas económicas
dos EUA.
O ‘Eixo Geográfico’ da História
Desconhecido da maior parte do mundo, o objectivo da política externa dos EUA era assegurar sempre o controlo total, económico e militar, sobre a Rússia. Através das suas inúmeras instituições estabelecidas pelo Pentágono, CIA, Agência da Segurança Nacional, Agência dos Serviços Secretos/Inteligência da Defesa e numerosas agências de serviços secretos especializadas - o ‘establishment’ da política externa dos EUA funcionou com a finalidade de assegurar o controlo total sobre a Rússia, acima de todos os outros objectivos.
Mesmo quando os Estados Unidos e a União Soviética ainda eram aliados formais na guerra para derrotar a Alemanha, os Estados Unidos começaram a preparar-se para a guerra com a União Soviética. No verão de 1945, na época da Conferência em Potsdam, que concluiu a Segunda Guerra Mundial e poucos dias após o primeiro teste bem-sucedido da bomba atómica no deserto do Novo México, o Pentágono dos Estados Unidos estava a desenvolver, secretamente, a nova política americana de inflingir o primeiro ataque - 'striking the first blow' – numa guerra nuclear. O primeiro plano para usar todos os recursos numa guerra convencional contra a União Soviética, chamado TOTALITY, foi elaborado pelo General Dwight Eisenhower por ordem do Presidente Truman, em 1945. (17)
O primeiro plano de uma guerra nuclear contra a União Soviética, incluindo um ataque preventivo, foi concluído logo depois, pela Comissão de Conjunta dos Serviços Secretos/Intelligence Committee, dentro do Estado-Maior Conjunto, dois meses após Hiroshima e Nagasaki. (18)
Não havia sentimentalismo em Washington sobre as exigências da guerra. Era estritamente comercial - o negócio de estabelecer a supremacia americana incontestada - orgulhosamente designada como o “Século Americano”. Segundo o mentor britânico da geopolítica, Sir Halford Mackinder, a Rússia representava o “eixo geográfico da História”(19) Num documento de política muito importante, em 1904, perante a Royal Geographic Society, em Londres, Mackinder afirmava inequivocamente que o controlo sobre a Rússia determinaria quem controlaria ou poderia comandar as vastas extensões da Eurásia e, por extensão, o mundo inteiro. O Foreign Office britânico concordou inteiramente com ele.
Há mais de um século, Mackinder estava convencido de que, enquanto a Europa se expandia para a Índia, para África e para outros territórios coloniais, o Estado russo, estabelecido na Europa Oriental e na Ásia Central, expandia-se para sul e leste, organizando uma vasta extensão de recursos naturais e humanos. Ele previu, que esse espaço enorme, em breve, estaria coberto por uma rede de ferroviária, aumentando muito a mobilidade e o alcance estratégico do poder terrestre, pela primeira vez na História.
Contra esse pano de fundo geo-histórico, Mackinder identificou o núcleo norte-centro da Eurásia como o “Estado eixo” ou o “coração” da política mundial. Ele colocou a Alemanha, a Áustria, a Turquia, a Índia e a China - terras imediatamente adjacentes à região do eixo - num “crescente interior” ao redor da “Heartland”/região central vital ou do Estado eixo.
Advertiu que, “O excesso de equilíbrio do poder a favor do Estado eixo, resultante da sua expansão sobre os territórios marginais da Eurásia, permitiria o uso de vastos recursos continentais para a construção de uma frota e então, o império do mundo estaria à vista.(20)
Como Mackinder percebeu, uma aliança russo-alemã, ou um império sino-japonês que conquistasse a Rússia, seria capaz de lutar pela hegemonia mundial. Em ambos os casos, “a orla oceânica seria acrescentada aos recursos do grande continente”, criando as condições geopolíticas necessárias para produzir uma grande potência que estaria a cima de todas as outras, tanto em terra como no mar.
A política externa britânica, desde a guerra russo-japonesa de 1904 até a criação da NATO em 1949, tinha sido obviamente baseada na análise de Mackinder. Dedicava-se a impedir, a todo custo, o aparecimento de um poder coeso, no eixo euro-asiático centrado na Rússia e capaz de desafiar a hegemonia global britânica.
O Destino Manifesto da América: o Controlo da Eurásia
No entanto, neste ínterim, as partes opostas de Mackinder do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, estavam a desenvolver as suas próprias ideias sobre o que designavam como ‘destino inequívoco da América’ - um império global americano. A América tinha conquistado os seus territórios ocidentais até ao Oceano Pacífico, e alcançou a vitória na sua disputa desigual com a Espanha, em 1898. A conquista das Filipinas, longe das costas americanas, na sua primeira guerra declaradamente imperial, deu ao ‘establishment’ político e financeiro da América, a sua primeira experiência de como poderia ser o poder imperial global.
Quase concomitante com o ensaio de Mackinder sobre a geopolítica eurasiática, em 1904, Brooks Adams, um propagandista americano influente, previu o advento de um império mundial americano e a conquista pelos Estados Unidos de todo o espaço geopolítico da Eurásia.(21) Descendente de uma das mais respeitadas famílias da elite, que remontam aos fundadores dos EUA, Adams influenciou profundamente os dirigentes americanos da sua época, incluindo os seus amigos mais íntimos, os Presidentes Theodore Roosevelt e Woodrow Wilson.
Durante a Guerra Fria, no início dos anos 1950, as ideias de Brooks Adams, particularmente a sua justificação de um império global americano conquistando o continente eurasiático, foram evocadas como o guia político para o planeamento da Guerra Fria nos EUA.(22)
Adams havia promovido uma política de expansionismo agressivo destinada a transformar a Ásia numa colónia americana, dando aos Estados Unidos uma fronteira vasta e recém-adquirida, na Ásia. A conquista das Filipinas pelos EUA, em 1898, na Guerra Hispano-Americana, foi concebida como o primeiro passo desse processo. Esse expansionismo, uma espécie de “Destino Manifesto” global americano, permaneceu como a meta consciente, embora não mencionada, dos estrategas de vanguarda da política externa, durante toda a Guerra Fria e para além dela.
Os arquitectos americanos do poder do pós-guerra - centrados em torno do poderoso Conselho de Relações Exteriores, da Fundação Rockefeller e, acima de tudo, da facção Rockefeller na política e na economia dos EUA - tinham adoptado como sua, a visão geopolítica de Mackinder. Os principais estrategas da facção Rockefeller, incluindo Henry Kissinger e, mais tarde, Zbigniew Brzezinski, ambos integrados na poderosa facção Rockefeller da política dos EUA, foram treinados na geopolítica de Mackinder.
No livro, ‘The Grand Chessboard’, Brzezinski anunciou a vitória dos EUA na Guerra Fria, contra o seu adversário geopolítico vitalício, a Rússia Soviética. No entanto, na sua opinião sobre os supostos aliados da América na Europa Ocidental, expressou a arrogância do poder. Ele declarou:
Resumindo, para os Estados Unidos, a geoestratégia eurasiática envolve a gestão intencional dos Estados geoestrategicamente dinâmicos ... Para colocá-la numa terminologia que remonta à era mais brutal dos antigos impérios, os três grandes imperativos da geoestratégia imperial são - evitar conspirações e manter a dependência da segurança entre os vassalos, manter os tributários flexíveis e protegidos e impedir que os bárbaros se unam.(23)
Brzezinski declarava abertamente o ponto de vista tácito das elites políticas vitoriosas dos Estados Unidos em relação às nações da União Europeia e da Eurásia, na senda da sua vitória na Guerra Fria. Traduzido em linguagem simples, Brzezinski afirmou que o estatuto único de superpotência dos Estados Unidos seria mantido, para evitar “conspirações” - uma palavra grosseira para designar a cooperação bilateral - entre os Estados soberanos da Eurásia. Com efeito, significava impedir que os países da Eurásia desenvolvessem os seus próprios pilares de defesa ou estruturas de segurança independentes da NATO, controlada pelos EUA. Os "bárbaros" foram uma referência clara de Brzezinski à Rússia, à China e às nações da Ásia Central.
Mackinder transmite o Projecto da Guerra Fria aos EUA
Durante a Segunda Guerra Mundial, o mentor intelectual de Brzezinski, Mackinder, tinha sido convidado pelo ‘Foreign Affairs’, o prestigiado jornal do Council on Foreign Relations, para delinear os seus pensamentos sobre a geopolítica do pós-guerra.
O artigo resultante, publicado em 1943, previa a chegada da Guerra Fria. Mesmo antes do resultado da Segunda Guerra Mundial ser claro, Mackinder escreveu:
A conclusão é inevitável: se a União Soviética surgir desta guerra como conquistadora da Alemanha, ela deve ser classificada como a maior potência terrestre do mundo. Além do mais, ela será o Poder em posição defensiva, estrategicamente mais forte. A Heartland (Rússia e China)é a maior fortaleza natural da Terra. Pela primeira vez na História, está guarnecida por uma guarnição suficiente tanto em número como em qualidade.(24)
Em 1919, num trabalho preparado para os representantes britânicos nas negociações de paz de Versalhes, Mackinder apresentou o seu mais famoso ditado da geopolítica. Segundo a sua opinião, a estratégia do Império Britânico tinha de ser a de impedir, a todo custo, uma convergência de interesses entre as nações da Europa Oriental - Polónia, Checoslováquia, Áustria-Hungria - e a centenária ‘Heartland’ Eurasiática centrada na Rússia. Mackinder resumiu as suas ideias com o seguinte ditado:
Who rules East Europe commands the Heartland; Quem governa a Europa Oriental, comanda a Heartland
Who rules the Heartland commands the World-Island; Quem governa a Heartland, comanda a Ilha do Mundo;
Who rules the World-Island commands the world.(25) Quem governa a Ilha do Mundo, comanda o mundo (25)
A Heartland de Mackinder era o núcleo da Eurásia – a Rússia e a Ucrânia. A Ilha do Mundo era toda a Eurásia, incluindo a Europa, o Médio Oriente e a Ásia. A Grã-Bretanha, na visão de mundo de Mackinder, nunca fez parte da Europa continental; era uma potência naval e marítima separada e deveria permanecer assim, qualquer que fosse o custo.
A perspectiva geopolítica de Mackinder moldou a entrada da Grã-Bretanha na Grande Guerra de 1914 e moldou a sua entrada na Segunda Guerra Mundial. Deu forma às provocações calculadas de Churchill para induzir a Rússia soviética a uma “Guerra Fria” com a Grã-Bretanha, a começar já em 1943. Ao forçar Washington a unir-se à Grã-Bretanha contra a URSS, a Grã-Bretanha calculou cinicamente que Washington seria forçado a confiar nas capacidades políticas globais superiores de Londres. Portanto, a Grã-Bretanha permaneceria ‘no jogo’.
Em 1997, na sua função de antigo Conselheiro da Segurança Nacional dos EUA, Zbigniew Brzezinski baseou-se na geopolítica de Mackinder como sendo a estratégia principal que permitia que os Estados Unidos permanecessem a única superpotência após o colapso da União Soviética. (26)
Precisamente dois anos após o artigo de Mackinder, sobre os Negócios Estrangeiros, em 1943, que delineava o seu plano geopolítico para o domínio global dos Estados Unidos, o Primeiro Ministro, Winston Churchill, acrescentou outra voz de Mackinder ao coro. Em Abril de 1945, Churchill começou a agitar o General Dwight Eisenhower e o Presidente Roosevelt para iniciar uma guerra imediata contra a União Soviética, usando até 12 divisões alemãs capturadas - prisioneiros de guerra - como carne de canhão para destruir a Rússia de uma vez por todas.
Ironicamente, considerando a política dos EUA depois de 1990, Washington rejeitou a proposta de Churchill como sendo “muito arriscada”.(27) De facto, parece que Washington já havia chegado à conclusão de que os seus interesses em dominar todo o mundo não-comunista eram mais bem servidos por uma União Soviética hostil. Enquanto a Europa Ocidental e uma Ásia centrada no Japão, se sentissem militarmente ameaçadas pela União Soviética ou pela República Popular da China, apesar de relutantes, elas curvar-se-iam, mais ou menos, às exigências de Washington, como “Estados vassalos”, assim designados por Brzezinski.
Em 1945, quando o Presidente Harry S. Truman ordenou ao General Eisenhower e aos Chefes Adjuntos que preparassem planos secretos para um ataque nuclear surpresa a cerca de 20 cidades da União Soviética, sabia-se que a União Soviética não representava nenhuma ameaça directa ou imediata para os Estados Unidos. (28)
O plano secreto de guerra nuclear, designado pelo nome de código, “Vulnerabilidade Estratégica da U.R.S.S. a um Ataque Aéreo Limitado”, foi o primeiro plano de guerra americano cujo objectivo era obliterar a Heartland Russa. Não seria, de modo algum, o último desses planos.
Moscovo abalou Washington ao testar a sua própria bomba atómica, em 1949, bem como bombas de hidrogénio logo de seguida. Quando os russos demonstraram a capacidade de lançamento de mísseis balísticos através do lançamento arrojado do satélite espacial Sputnik, em 1957, as elites políticas dos EUA foram forçadas a colocar no gelo, o seu sonho de ‘first strike’ nuclear, designado “predomínio nuclear”. Permaneceu no gelo durante mais de meio século, até que Donald Rumsfeld, Dick Cheney, Paul Wolfowitz e um pequeno grupo de neoconservadores de ‘falcões de guerra’ (de militares) da administração de George W. Bush o ressuscitou, depois de 11 de Setembro de 2001. A ‘doutrina Bush’, a política da guerra preventiva, agora incluía a doutrina do ataque nuclear preventivo.
Daquele ponto em diante, um poderoso segmento da liderança militar-industrial dos EUA e as suas elites políticas estavam preparados para renovar os esforços para alcançar a superioridade nuclear do ‘first strike’ (primeiro ataque). Essa foi a verdadeira razão pela qual, o conflito na pequena Geórgia, em Agosto de 2008, teve um potencial tão aterrador para os governos europeus mais bem informados. Felizmente, a maioria dos americanos foram abençoadamente mantidos na ignorância desses problemas impressionantes, por uma comunicação mediática amplamente controlada e por uma barreira de desinformação da Casa Branca.
A Nova Guerra Fria — Rodear a Rússia e a China
O primeiro plano de guerra do Pentágono para o ‘first strike’ nunca foi concretizado. A detonação realizada pela União Soviética da sua bomba atómica, em Agosto de 1949, apanhou os planeadores dos Estados Unidos completamente de surpresa. O rápido desenvolvimento da bomba atómica russa mudou o cálculo de um ‘first strike’ das décadas seguintes e, o que teria sido uma guerra quente, veio a ser a Guerra Fria.
No entanto, em 2007, vários dos principais formuladores da política dos EUA consideraram-na como um negócio inacabado para realizar o total e absoluto desmembramento da Rússia como um eixo independente para a Eurásia. Os mísseis nucleares eram apenas uma ferramenta num vasto arsenal de armas e campanhas enganosas a ser estabelecidos para cercar a Rússia. O seu objectivo era, em última análise, destruir a única potência remanescente que poderia impedir o Século Americano total em todo o globo - a concretização do Domínio do Espectro Total, como o Pentágono (Full Spectrum Dominance) o designava.(29)
Na época do discurso do Presidente Putin, em 2007, na Alemanha, o mundo já estava mergulhado numa Nova Guerra Fria. A Nova Guerra Fria não havia sido iniciada por Moscovo. Mas, inevitavelmente, a certa altura Moscovo foi levada a reagir. Desde que Putin ordenou a prisão do oligarca de petróleo russo, Mikhail Khodorkovsky, em 2003, o Kremlin fez com que Vladimir Putin, da Rússia, traçasse a linha contra o avanço da NATO, na conferência de Munique, em 2007, colocando os motores do controlo económico, mais uma vez, nas mãos do Estado. A decisão da Defesa dos Mísseis dos EUA (US Missile Defense) obrigou os motores do Kremlin a trabalhar a alta velocidade.
A dinâmica desencadeada pelo anúncio de Washington de uma política nuclear ‘preventiva’ tornou a guerra nuclear por erro de cálculo, num risco muito maior do que até mesmo durante as tensões mais profundas da Guerra Fria, incluindo a Crise dos Mísseis Cubanos, de Outubro de 1962. Quanto mais Washington se aproximasse da capacidade operacional dos seus sistemas de defesa antimísseis polacos e checos, maior era a possibilidade dos estrategas do Kremlin poderem ver que a sua única esperança de sobrevivência, era a realização de um ataque nuclear preventivo contra alvos seleccionados na Polónia ou na UE, antes que fosse tarde demais para responder eficientemente.
O fracasso no Iraque, ou a perspectiva de um ataque preventivo nuclear táctico dos EUA contra o Irão, eram suficientemente terríveis. Mas empalideciam, quando comparados com o fortalecimento militar dos EUA em todo o mundo contra a Rússia, o seu mais formidável rival que restava, a nível global.
As políticas militares dos EUA desde o fim da União Soviética e o aparecimento da República da Rússia, em 1991, necessitavam (e ainda necessitam)de um exame atento, neste contexto. Só depois dessa análise é que os comentários, francos e sinceros, de Putin, em 10 de Fevereiro de 2007, na Conferência da Segurança de Munique fazem sentido.
Putin falou em Munique, em termos gerais, sobre a visão de Washington de um mundo “unipolar”, com um centro de autoridade, um centro de força, um centro de tomada de decisões, designando-o como um “mundo em que há um dono, um soberano”. E no final do dia isto é pernicioso não só para todos os que estão dentro deste sistema, mas também para o próprio soberano, porque se destrói a si mesmo, a partir do interior”.(30)
É claro que Putin não estava a falar sobre a Rússia, mas sobre a única superpotência, os EUA. Então o Presidente russo chegou ao cerne da questão
Hoje assistimos a um quase desenfreado híper uso da força – da força militar - nas relações internacionais, força que está a mergulhar o mundo num abismo de conflitos permanentes. Como resultado, não temos força suficiente para encontrar uma solução abrangente para qualquer um desses conflitos. Também se torna impossível encontrar um acordo político.
Estamos a ver um desprezo cada vez maior, pelos princípios básicos do Direito Internacional. E as normas legais independentes estão, de facto, cada vez mais próximas do sistema judicial de um Estado. Um Estado e, é claro, em primeiro lugar e principalmente, os Estados Unidos, que extrapolou as suas fronteiras nacionais em todos os sentidos. Isto é visível na política e nas políticas económicas, culturais e educativas que esse Estado impõe a outras nações. Bem, quem gosta disto? Quem é que está feliz com isto?(31)
As palavras de Putin começaram a tocar naquilo que preocupava a Rússia, sobre a política externa e militar dos EUA desde o fim da Guerra Fria, citando políticas militares explícitas que eram particularmente perturbadoras.
Ele alertou para o efeito desestabilizador das armas espaciais:
É impossível sancionar o aparecimento de novas armas de alta tecnologia desestabilizadoras ... uma nova área de confronto, especialmente no Espaço exterior. Star Wars não é mais uma fantasia - é uma realidade… Na opinião da Rússia, a militarização do Espaço exterior poderá ter consequências imprevisíveis para a comunidade internacional e provocar nada menos que o início de uma era nuclear.
Planos para expandir certos elementos do sistema de defesa antimísseis para a Europa não podem deixar de nos perturbar. Quem precisa do próximo passo do que seria, nesse caso, uma inevitável corrida armamentista?(32)
A que assunto é que ele se estava a referir? Poucas pessoas estavam cientes de que os EUA, no início de 2007, haviam anunciado que estavam a construir enormes instalações de defesa antimísseis na Polónia e na República Checa. Os EUA tinham rodeado esse anúncio com falsas alegações de protecção, para se defender do risco de ataques de mísseis nucleares de “Estados desonestos” de países como a Coreia do Norte ou talvez, um dia, o Irão.
Polónia? Defesa de mísseis balísticos? Do que se tratava? A fim de compreender a natureza extremamente provocativa e perigosa da política nuclear de Washington, era necessário analisar alguns conceitos militares básicos.
‘A Mão Direita para Alcançar o Ouvido Esquerdo”
Em 29 de Janeiro de 2007, o General Brigadeiro do Exército dos EUA, Patrick J. O`Reilly, Vice-Director da Agência de Defesa contra Mísseis do Pentágono, anunciou os planos dos EUA de instalar um sistema de antimísseis balísticos na Europa, até 2011. O Pentágono declarou que a instalação se destinava a proteger as instalações americanas e da NATO contra ameaças de inimigos no Médio Oriente, não da Rússia.
Após as observações de Putin em Munique, o Departamento de Estado USA emitiu um comentário formal, observando que a Administação Bush estava “perplexa com os comentários cáusticos repetidos de Moscovo, sobre o sistema previsto”.(33)
Em 28 de Fevereiro, duas semanas após o discurso de Putin, o chefe da Agência Americana de Defesa contra Mísseis, General Henry Obering, chegou à Europa, vindo de Washington, para “explicar”os novos planos de mísseis dos EUA para a Polónia e para a Europa Oriental. Reunindo-se na Bélgica com os 26 Embaixadores dos membros da NATO e com a Rússia, Obering insistiu que o sistema de mísseis planeado era totalmente defensivo por natureza e que o seu objectivo era fornecer protecção contra um possível ataque do Irão.(34)
O argumento de que uma hipotética ameaça de míssil iraniano aos Estados Unidos exigia a instalação de defesas anti-míssil dos EUA na Polónia não era muito convincente, especialmente, se os alvos imaginários estivessem realmente em território norte-americano ou instalações críticas dos EUA na Europa.(35)
Analistas sérios interrogavam-se por que é que Washington não perguntou ao seu antigo aliado da NATO, a Turquia, se os EUA poderiam colocar lá o seu escudo antimísseis? Não será que a Turquia está mais perto do Irão? Ou talvez o Kuwait? Ou Catar? Ou Israel? Como Putin salientou no seu discurso, em Munique:
Armas de mísseis com um alcance de cerca de cinco a oito mil quilómetros que realmente representam uma ameaça para a Europa não existem em nenhum dos chamados países problemáticos. E no futuro próximo e em perspectiva, isto não vai acontecer e nem é previsível. E qualquer lançamento hipotético de, por exemplo, um foguetão da Coreia do Norte para o território americano, através da Europa Ocidental, contradiz, obviamente, as leis da balística. Como dizemos na Rússia, seria como usar a mão direita para alcançar o ouvido esquerdo.(36)
Falando no quartel-general da NATO, em Março de 2007, o General Obering disse que Washington também queria instalar um sistema de radar antimíssil no Cáucaso, provavelmente nas antigas repúblicas soviéticas da Geórgia e da Ucrânia, que não eram membros da NATO, naquela época. A declaração de Obering provocou uma resposta imediata e mordaz do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Mikhail Kamynin, relatado pela agência de notícias Itar-Tass:
Esta afirmação é outra prova de que o lado americano irá continuar a alargar o seu potencial de defesa antimíssil, o que afectará cada vez mais a segurança russa. A Rússia manifestou, repetidamente, a sua preocupação com os planos de defesa antimísseis dos EUA. Pensamos que a escala dos preparativos dos EUA é desproporcional à ameaça declarada de mísseis. A intenção dos EUA de instalar componentes de defesa antimíssil, que se tornarão instalações militares estratégicas próximas das fronteiras da Rússia, é uma fonte de preocupação especial. Teremos de ter em mente as perspectivas dessas instalações em mais situações político-militares russas e no planeamento militar. Estes planos contradizem o compromisso da NATO de limitar a instalação de forças, o que foi feito no Acto Fundador Rússia-NATO.(37)
Washington fez uma lista de mais de 20 Estados que produzem mísseis balísticos. Além da Rússia e da China, nenhum deles tinha mísseis que pudessem representar, remotamente, perigo para a Europa ou para os Estados Unidos. E, com excepção da Coreia do Norte e do Irão, todos eles cooperaram com os EUA, como a Rússia, a Índia ou Israel, ou foram aliados de longa data dos EUA, como a França ou o Reino Unido. Além do mais, o Irão estava a vários anos de distância de desenvolver mísseis de longo alcance com ogivas nucleares e o suposto potencial nuclear da Coreia do Norte era essencialmente fanfarronice (hot air/empty talk that is intended to impress) e não uma ameaça real, de acordo com especialistas militares ocidentais. (Nota da T.: este livro foi publicado em 2009, portanto esta observação refere-se a essa data ou mesmo antes.)
O míssil balístico Taepodong-2, de Pyongyang, tinha um alcance estimado de 4.300 quilómetros. Quando a Coreia do Norte testou um míssil de longo alcance, em Julho de 2006, o Presidente Bush ordenou que o Forte Greely, no Alasca, ficasse em alerta máximo. No final, o míssil caiu no Pacífico, 40 segundos após o lançamento. Não ficou claro quando é que a Coreia do Norte seria capaz de produzir projécteis adequados com ogivas nucleares.
O Irão, a partir do início de 2008, só tinha testado mísseis com alcance até 1.600 quilómetros. Até mesmo o modelo Shahab-5 supostamente de ponta do país, provavelmente um derivado de um míssil do tipo norte-coreano Taepodong, foi estimado ter um alcance de apenas 3.000 quilómetros. Portanto, as estações de radar instaladas na Europa Oriental, não detectariam quaisquer mísseis iranianos que se dirigissem para os Estados Unidos nos tempos vindouros.
Segundo o Tenente General aposentado, Robert Gard, o programa americano de defesa antimísseis foi um esforço para fornecer segurança contra mísseis iranianos que ainda não existiam e que, hipoteticamente, poderiam usar ogivas que também ainda não existiam. Além do mais, acrescentou, os iranianos estavam plenamente conscientes de que os EUA os aniquilariam, se disparassem mísseis contra os EUA.(38)
A elite de Washington não estava, nitidamente, a ser muito sincera sobre a sua nova estratégia de defesa contra mísseis.
Moscovo Reaje
Moscovo perdeu pouco tempo a reagir ao anúncio dos planos dos EUA relatico aos seus sistemas de defesa antimísseis balísticos (BMD) na Europa Oriental. O Comandante da Força de bombardeio estratégica da Rússia, o Tenente General Igor Khvorov, em 5 de Março de 2007, disse que as suas forças poderiam impedir facilmente ou destruir qualquer infraestrutura de defesa antimíssil na Polónia e na República Checa, precisamente onde os Estados Unidos se preparavam para instalá-los.
Duas semanas antes, declarações semelhantes do Comandante das Forças Armadas Estratégicas, o Coronel General, Nikolai Solovtsov, não deixavam a menor dúvida de que Moscovo iria alvejar os arsenais nucleares dos EUA, se Washington insistisse nos seus planos. (39)
Em 10 de Março de 2007, o Presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin fez um discurso numa cerimónia militar de atribuição de prémios, no Kremlin, onde anunciou que a Rússia gastaria 190 biliões de dólares, nos próximos oito anos, (cerca de 5 triliões de rublos), para equipar o Exército e a Marinha com armas modernas, em 2015. Putin disse que a “situação global” ditava a necessidade de melhorar a estrutura militar da Rússia. “Não podemos deixar de notar as constantes tentativas de resolver disputas internacionais pela força, a ameaça de conflitos internacionais, a escalada de conflitos locais e a disseminação de armas de destruição em massa”.(40) Foi uma repetição textual das suas observações de Fevereiro, em Munique, onde ele se referiu aos EUA, citando o nome desse país.
Putin observou que uma parte considerável dos fundos seria destinada a comprar armas e equipamentos da última geração e desenvolver a ciência e a tecnologia militar. “Estamos a tentar integrar a indústria da Defesa no sector civil da economia, principalmente nos sectores de alta tecnologia”, acrescentou. “As Forças Armadas devem, de uma vez por todas, retomar a prática [permanente] de levar a cabo exercícios militares em grande escala, lançamentos de mísseis e missões marinhas remotas”, concluiu o Presidente russo.(41)
Com palavras explícitas, Putin estava a responder às provocações crescentes de Washington, ao declarar abertamente que a Nova Guerra Fria estava a acontecer. Não foi uma nova Guerra Fria iniciada pela Rússia, mas uma à qual a Rússia, por razões de sobrevivência nacional, foi forçada a responder.
O mundo estava no início de uma nova corrida armamentista. Na primavera de 2007, cerca de 17 anos após o suposto fim da Guerra Fria EUA-União Soviética, uma nova corrida armamentista baseada em armas nucleares estava em pleno desenvolvimento.
Um dos poucos dirigentes ocidentais que manifestaram preocupação com o anúncio dos planos dos EUA de construir defesas antimísseis na Polónia e na República Checa foi o antigo chanceler alemão, Gerhard Schroeder. Schroeder ganhou o estatuto de “inimigo”, de facto, do governo Bush depois de sua oposição à guerra do Iraque, em 2003. Ao falar em Dresden, em 11 de Março de 2007, vários dias depois das reflexões do Presidente Putin, em Munique, Schroeder declarou que os esforços dos Estados Unidos, de instalar os seus sistemas antimísseis na Europa Oriental, fazia parte de uma tentativa de prosseguir “uma política de cerco irresponsável contra a Rússia”. Schroeder advertiu que essa política lançava uma nova corrida armamentista global.(42)
Lei da Defesa contra Mísseis dos EUA, de 1999
A política dos Estados Unidos desde 1999, exigia a criação de alguma forma de defesa antimísseis activa, apesar do fim da Guerra Fria e da ausência de qualquer ameaça estruturada de lançamentos de mísseis ICBM soviéticos ou russos, ou quaisquer outros. A Lei Nacional da Defesa contra Mísseis dos EUA de 1999 estipulava:
A política dos Estados Unidos é instalar, logo que tecnologicamente possível, um sistema eficiente de Defesa Nacional contra Mísseis, capaz de defender o território dos Estados Unidos contra ataques limitados de mísseis balísticos, sejam acidentais, não autorizados ou deliberados, com o financiamento sujeito à autorização anual de verbas e de apropriação anual de fundos para a Defesa Nacional de Mísseis.(43)
A defesa antimíssil era uma das obsessões de Donald Rumsfeld, como Secretário da Defesa. Ela era uma aberração de uma camarilha excessivamente militarista ao redor de Bush e de Cheney? Ou fazia parte de uma estratégia muito mais perigosa para o domínio do mundo por uma poderosa elite financeira e política empenhada na hegemonia mundial? A resposta foi enterrada em políticas e programas que, considerados separadamente, pareciam bastante inofensivos, mas quando colocados no contexto das políticas concretizadas por Washington, desde Setembro de 2001, eram tudo menos inofensivas.
Para estabelecer a sua agenda estratégica a longo prazo a fim de manter o domínio do mundo como Superpotência Única, os principais círculos dentro e à volta do Pentágono e do Departamento de Estado dos EUA exigiram a concretização de uma nova técnica revolucionária de mudança de regime, para impor ou instalar regimes “amigos dos EUA” em todo o mundo na antiga União Soviética e em toda a Eurásia. Os estrategas americanos iriam inspirar-se numa página do livro sobre abelhas – ‘Enxame’ - como sendo um método de guerra encoberta e de mudança de regime. ‘Swarming/Enxame’ foi o termo dado pela RAND Corporation para um novo técnica de conflito militar. Baseada nos padrões de comunicação e nos movimentos de enxames de insectos, aplicados ao conflito militar, essa técnica dependia do uso de tecnologias de rede e de fluxosde comunicação.(44)
As mensagens de texto e as novas tecnologias revolucionárias de informação, seriam aplicadas à tarefa de avançar a agenda de Washington, do Full Spectrum Dominance ou Domínio do Espectro Total ou Domínio Total da Universalidade.
Notas de rodapé:
1 George F. Kennan, Policy Planning Study, PPS/23: Review of Current Trends in U.S. Foreign Policy, Memorandum by the Director of the Policy Planning Staff (Kennan)2 to the Secretary of State and the Under Secretary of State (Lovett), in Foreign Relations of the United States, Washington DC, February 24, 1948, Volume I, pp. 509-529.
2 Arnold L. Horelick and Myron Rush, Strategic Power and Soviet Foreign Policy, The RAND Corporation, Santa Monica, California, R-434-PR, A Report Prepared for the United States Air Force Project RAND, August, 1965, pp. 202-204. The US missile deployment in Turkey was kept top secret, so that the American public was unaware of how provocative US policies against the Soviet Union had been. The US missiles in Turkey were mentioned briefly in a RAND study three years after, but the facts were only declassified three decades later. In the October 26 International Herald Tribune of 1996, ‘Chiefs Urged War in ’62 Missile Crisis,’ the article reported details of just-declassified tapes from the John Kennedy White House. It reported, “Mr Kennedy worried that Mr Khrushchev’s offer to remove Soviet missiles from Cuba if the United States removed its nuclear missiles from Turkey seemed so reasonable that it would turn world public opinion to the Soviet side.’ The article cited Kennedy: ‘If we don’t take it we’re going to be blamed, and if we do take it we’re going to be blamed…” It then gave the reply of the Pentagon: ‘We don’t have any choice but military action’, General Curtis Lemay, Air Force Chief of Staff insisted October 19, three days before the public knew about the crisis. In the end, Mr Kennedy accepted the (Soviet Turkey for Cuba missile) deal, though he managed to keep it a secret.’ Cited in International Herald Tribune, October 26-27, 1996.
A instalação de mísseis dos EUA na Turquia foi mantida em segredo absoluto, de modo que o público americano não sabia quanto as políticas norte-americanas contra a União Soviética tinham sido provocadoras. Os mísseis americanos na Turquia foram mencionados brevemente, num estudo da RAND Corportation três anos depois, mas os factos só foram tornados públicos, três décadas depois. Em 26 de Outubro, o International Herald Tribune de 1996, "Chiefs Urged War in '62 Missile Crisis", o artigo relatou detalhes de gravações recentemente desclassificadas da Casa Branca de John Kennedy. “O Sr. Kennedy temia que a oferta de Khrushchev de retirar mísseis soviéticos de Cuba, se os Estados Unidos removessem os seus mísseis nucleares da Turquia parecesse tão razoável, que voltaria a opinião pública mundial para o lado soviético.” O artigo citava Kennedy: Se não aceitarmos essa proposta, vamos ser culpados e, se aceitarmos, seremos culpados ...” E depois, a resposta do Pentágono: 'Não temos outra escolha senão a acção militar',dada pelo General Curtis Lemay, Chefe do Estado Maior da Força Aérea, em 19 de Outubro, três dias antes que o público soubesse da crise. No final, Kennedy aceitou o acordo (retirada dos mísseis americanos da Turquia, em troca dos mísseis soviéticos de Cuba), embora tenha conseguido mantê-lo em segredo.”Citado no International Herald Tribune, de 26 a 27 de Outubro de 1996
3 At the annual G7 summit of leading Western industrial nations, meeting in Houston, Texas in June 1990, the Bush Administration demanded that the IMF, an institution which Washington and the US Treasury controlled since 1944, would be the sole dictator of the economic transformation of the states of the former Soviet Union. It was to prove a colossal blunder and one which made the emerging Russia increasingly skeptical of Washington’s true motives at the end of the Cold War. In a true sense IMF shock therapy and its forced imposition by Washington on Russia laid the first seeds of a new phase in the Cold War back in 1990.
3 Na cimeira anual do G7, dos principais países industriais ocidentais, realizada em Houston, Texas, em Junho de 1990, o governo Bush exigiu que o FMI, uma instituição que Washington e o Tesouro dos EUA controlavam desde 1944, fosse a única organização a administrar a transformação económica dos estados da antiga União Soviética. Foi provado ter sido um erro colossal e que tornou a Rússia emergente cada vez mais céptica em relação aos verdadeiros motivos de Washington, no final da Guerra Fria. Num verdadeiro sentido, a terapia de choque do FMI e a sua imposição forçada de Washington à Rússia, lançaram as primeiras sementes de uma nova fase na Guerra Fria, em 1990.
4 Philip Zelikow and Condoleezza Rice, Germany Unified and Europe Transformed, Cambridge, Harvard University Press, 1995, pp. 180-184. US Ambassador to Moscow at that time, Jack Matlock, confirmed in personal discussions with German researcher Hannes Adomeit of the Stiftung Wissenschaft und Politik of the German Institute for International and Security Affairs that he had been present and noted in his diary that US Secretary of State James Baker III had agreed in talks with Soviet President Mikhail Gorbachev that ‘Any extension of the zone of NATO is unacceptable.’ Curiously, Baker omitted the pledge entirely in his memoirs.
4 O Embaixador dos EUA em Moscovo na época, Jack Matlock, confirmou em conversas pessoais com o pesquisador alemão Hannes Adomeit, da Stiftung Wissenschaft und Politik, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança, que ele estava presente e observou no seu diário que o Secretário de Estado dos EUA, James Baker III, concordara, durante as conversações com o Presidente soviético, Mikhail Gorbachev, de que “Qualquer extensão da zona da NATO seria inaceitável.” Curiosamente, Baker omitiu, completamente, esse compromisso nas suas memórias.
5 Dimitri K. Simes, Losing Russia: The Costs of Renewed Confrontation, Foreign Affairs, Vol. 86. no. 6, Nov/Dec 2007.
7 Zbigniew Brzezinski, Second Chance: Three Presidents and the Crisis of American Superpower, New York, Basic Books, 2007, pp. 1-2.
8 Zbigniew Brzezinksi, The Grand Chessboard: American Primacy and Its Geostrategic Imperatives (New York: Basic Books, 1997), passim.
9 Brzezinski, Second Chance.
10 Olesya Vartanyan and Ellen Barry, Ex-Diplomat Says Georgia Started War With Russia, The New York Times, November 25, 2008.Former Georgian Ambassador to Moscow, and onetime close ally of President Saakashvili, Erosi Kitsmarishvili, told a special Georgian Parliamentary Commission investigating the background to the war that Georgian officials had told him in April that they planned to start a war in Abkhazia, one of two breakaway regions at issue in the war, and had received a green light from the United States government to do so. He said the Georgian government later decided to start the war in South Ossetia, the other region, and continue into Abkhazia. Two days later, on November 28 at the same Parliamentary Commission, President Saakashvili himself blurted out, "We did start military action to take control of Tskhinvali and other unruly areas…The issue is not about why Georgia started military action - we admit we started it. The issue is about whether there was another chance when our citizens were being killed? We tried to prevent the intervention and fought on our own territory."
10 O antigo Embaixador georgiano em Moscovo e antigo aliado do Presidente Saakashvili, Erosi Kitsmarishvili, disse a uma comissão especial parlamentar georgiana, que investigava os antecedentes da guerra, que oficiais georgianas lhe disseram, em Abril, que planeavam iniciar uma guerra na Abkhazia, uma das regiões separatistas em questão na guerra, e receberam luz verde do governo dos Estados Unidos para fazê-la. Ele disse que o governo da Geórgia decidiu, mais tarde, iniciar a guerra na Ossétia do Sul, a outra região, e continuá-la na Abkházia. Dois dias depois, em 28 de Novembro, na mesma Comissão Parlamentar, o próprio Presidente Saakashvili deixou escapar: “Nós iniciámos uma acção militar para assumir o controlo de Tskhinvali e outras áreas indisciplinadas ... A questão não é, por que é que a Geórgia iniciou uma acção militar - nós admitimos que começámos. O problema é se havia outra oportunidade, quando os nossos cidadãos estavam a ser mortos? Tentámos impedir a intervenção e lutámos no nosso próprio território”.
14 George F. Kennan, Op. Cit.
15 Peter Grose, Continuing the Inquiry: The Council on Foreign Relations from 1921 to 1996, New York, Council on Foreign Relations Press, 1996, pp.23-26.
16 Ibid. This official Council on Foreign Relations account describes the then-secret 1939- 1942 CFR War & Peace Studies project. One of the project leaders, Johns Hopkins University President Isaiah Bowman, a geographer and student of British geopolitician Halford Mackinder, once referred to himself as ‘America’s Haushofer,’ a reference to Hitler’s geopolitical adviser, until he realized that it played poorly among the American public that was being mobilized to war against Nazi Germany. Describing the War & Peace Studies, Bowman wrote, ‘The matter is strictly confidential because the whole plan would be ‘ditched’ if it became generally known that the State Department was working in collaboration with any outside group.’ Bowman was being disingenuous. It was working not just with ‘any’ outside group, but with the most powerful group of the American power establishment, the CFR. The CFR project was directly financed by a significant contribution of $350,000 from the Rockefeller Foundation. The project’s leading members were quietly sent to senior positions inside the State Department to implement the CFR postwar agenda for a Pax Americana or US global empire. The Bowman group explicitly rejected using the term “empire” in order to deceive the rest of the world as well as the naïve American public that America was ‘something different.’ The idea of the United Nations was a centerpiece of their postwar design.
16 Este relato oficial do Conselho de Relações Exteriores/Council on Foreign Relations (CFR) descreve o projecto secreto de então, designado como Estudos sobre Guerra e Paz do CFR de 1939-1942. Um dos líderes do projecto, Isaiah Bowman, presidente da Universidade Johns Hopkins, geógrafo e estudante do geopolítico britânico Halford Mackinder, referia-se a si mesmo como o “Haushofer dos Estados Unidos”, uma referência ao assessor geopolítico de Hitler, até se dar conta de que esse epíteto caía mal entre o público americanos que estava a ser mobilizado para a guerra contra a Alemanha nazi. Ao descrever os Estudos sobre Guerra e Paz, Bowman escreveu: “O assunto é estritamente confidencial porque todo o plano seria “descartado” se se tornasse conhecido que o Departamento de Estado estava a trabalhar em colaboração com qualquer grupo externo.” Bowman estava a ser falacioso. Ele estava a trabalhar não só com “qualquer” grupo externo, mas com o grupo mais poderoso do ‘establishment’ do poder americano, o CFR. O projecto CFR foi financiado directamente por uma contribuição significativa de 350.000 dólares, da Fundação Rockefeller. Os membros principais do projecto foram silenciosamente enviados para cargos de alto escalão dentro do Departamento de Estado, a fim de estabelecer a agenda pós-guerra do CFR para um império global dos EUA ou a Pax Americana. O grupo Bowman rejeitou explicitamente o uso do termo “império”, a fim de enganar o resto do mundo, como também o público americano ingénuo, de que a América era “algo diferente”. A ideia das Nações Unidas era uma peça central do seu projecto do pós-guerra.
17 Michio Kaku and Daniel Axelrod, To Win a Nuclear War: The Pentagon's Secret War Plans, Boston, South End Press, 1987, pp. 30-31.
18 The plan, called JIC 329/1, envisioned a nuclear attack on the Soviet Union with 20 to 30 atomic-bombs. It earmarked 20 Soviet cities for obliteration in a first strike: Moscow, Gorki, Kuibyshev, Sverdlovsk, Novosibirsk , Omsk, Saratov, Kazan, Leningrad , Baku, Tashkent, Chelyabinsk, Nizhni Tagil, Magnitogorsk, Molotov, Tbilisi, Stalinsk, Grozny, Irkutsk, and Jaroslavl." Detailed in Michio Kaku and Daniel Axelrod, To Win a Nuclear War: The Pentagon's Secret War Plans, Boston, South End Press, 1987, pp. 30-31. The secret Pentagon strategy since the end of the Cold War to use modernization of its nuclear strike force and deployment of missile defense technology is but a modern update of a policy established in 1945—Full Spectrum Dominance of the world, via the destruction of the only power capable of resisting that dominance—Russia.
18 O plano, designado como JIC 329/1, previa um ataque nuclear à União Soviética com 20 a 30 bombas atómicas. Destacava 20 cidades soviéticas para a serem aniquiladas num ‘first strike’/primeiro ataque: Moscovo, Gorki, Kuibyshev, Sverdlovsk, Novosibirsk, Omsk, Saratov, Kazan, Leningrado, Baku, Tashkent, Chelyabinsk, Nizhni Tagil, Magnitogorsk, Molotov, Tbilisi, Stalinsk, Grozny, Irkutsk e Jaroslavl. "Detalhado em Michio Kaku e Daniel Axelrod, ‘To Win a Nuclear War: The Pentagon's Secret War Plans’, Boston, South End Press, 1987, pp. 30-31.. A estratégia secreta do Pentágono, desde o fim da Guerra Fria, para usar a modernização da sua força de ataque nuclear e instalar a tecnologia de defesa antimísseis é, apenas, uma actualização moderna de uma política estabelecida em 1945 - Full Spectrum Dominance/Domínio do Espectro Total do mundo, através da destruição do único poder capaz de resistir a esse domínio - a Rússia.
19 Sir Halford J. Mackinder, The Geographical Pivot of History, in Democratic Ideals and Reality, pp. 241-42, 255, 257-58, 262-64.
20 Ibid.
21 Brooks Adams, The New Empire, New York, MacMillan Co, 1900.
22 William Appleman Williams, The Frontier Thesis and American Foreign Policy, in Henry W. Berger (ed.), A William Appleman Williams Reader, Chicago, Ivan R. Dee, 1992, pp. 90-96.
23 Brzezinski, The Grand Chessboard, p. 40.. 24 Halford J. Mackinder, The Round World and the Winning of the Peace, Foreign Affairs, New York, Vol. 21, No. 4, July 1943, pp.597-605.
25 Halford J. Mackinder, Democratic Ideals and Reality: A study in the politics of reconstruction, New York, Henry Holt & Co., 1919, p. 150.
26 Zbigniew Brzezinski, Op. Cit., pp. 38-39.
27 Valentin M. Falin, Russia Would Have Faced World War III Had it Not Stormed Berlin, Novosti Russian Information Agency, March 28, 2005, in en.rian.ru/rian/index.cfm?.
28 Michio Kaku and Daniel Axelrod, Op. Cit., p.30. 29 Inderjeet Parmar, To Relate Knowledge and Action: The Impact of the Rockefeller Foundation on Foreign Policy Thinking During America’s Rise to Globalism 1939-1945, Minerva, Vol.40, Kluwer Academic Publishers, 2002.
30 Vladimir Putin, Rede des russischen Präsidenten Wladimir Putin auf der 43. Münchner, Sicherheitskonferenz,’ München, February 10, 2007.
31 Ibid.
32 Ibid.
33 David Gollust, US Reiterates Missile-Defense Plan Not Directed at Russia, US State Department, Voice of America, 15 February 2007
34 Der Spiegel, Europe Divided over US Missile Defense Plan, March 5, 2007, Spiegel Online, English in www.spiegel.de.
35 Richard L. Garwin, Ballistic Missile Defense Deployment to Poland and the Czech Republic, A Talk to the Erice International Seminars, 38th Session, August 21, 2007, in www.fas.org/RLG/. Garwin, a senior US defense scientist demonstrated the fraudulent nature of the US Government’s motivation for its missile policy, p.17. Garwin asked, ‘Are there alternatives to the Czech-Polish deployment? Yes…An Aegis cruiser deployed in the Baltic Sea and another in the Mediterranean could thus provide equivalent protection of Europe against Iranian missiles.’ Garwin, as well, reached the same conclusion as Putin: the US missiles were being aimed directly at Russia.
35 Garwin, um cientista sénior da defesa dos EUA, demonstrou a natureza fraudulenta da motivação do governo dos EUA da sua política de mísseis, p.17. Garwin perguntou: “Existem alternativas para a instalação nos territórios checo-polacos? Sim… Um cruzador Aegis implantado no Mar Báltico e outro no Mediterrâneo poderiam, assim, fornecer protecção equivalente da Europa contra os mísseis iranianos. ”Garwin também chegou à mesma conclusão de Putin: os mísseis americanos estavam a ser apontados directamente para a Rússia.
36 Putin, Rede des russischen, München, February 10, 2007.
37 Today.az, Diplomat: US ABM in Caucasus will affect Russian relations with neighbors, March 10, 2007, in www.today.az.
38 Ralf Beste, et al, America’s Controversial Missile Shield: Where Does Germany Stand? [http://www.spiegel.de/international/spiegel/0,1518,473952,00.html]. SPIEGEL ONLINE, March 26, 2007.
39 Viktor Lotovkin, ABM: Washington trying to use Europe as a cover, in RAI Novosti, [http://en.rian.ru/analysis/20070406/63267224.html], April 6, 2007. 40 Today.az,, Putin says $190 bln funding for military equipment, March 10, 2007, in www.today.az.
41 Ibid.
42 Der Spiegel Online, Schröder geißelt Bushs Raketenabwehr, 11 March 2007. www.spiegel.de. 43 US Congress, USA National Missile Defense Act of 1999, 106th Congress, 1st Session, S. 269, Washington D.C., Library of Congress, accessed in http://thomas.loc.gov/cgibin/query/C?c106:./temp/~c106f0Hcte. 44 John Arquilla and David Ronfeldt, Swarming and the Future of Conflict, (Santa Monica, CA: RAND, MR-311-OSD, 2000).
A seguir:
CAPÍTULO DOIS
Controlar as Revoluções Coloridas da Rússia e os Golpes dos ‘Enxames’
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email:luisavasconcellos2012@gmail.com
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