ou
DOMÍNIO DA UNIVERSALIDADE
Controlar
as Revoluções Coloridas e os Golpes dos ‘Enxames’ na Rússia
A
operação - engenharia da democracia através das urnas e da desobediência civil
- está agora tão bem organizada, que os métodos se aperfeiçoaram num modelo
para vencer as eleições dos outros povos.
-
Ian Traynor, London Guardian, 26 de novembro de 2004
Washington Aperfeiçoa um Método para Encenar
Golpes de Estado
No ano
2000, surgiu um fenómeno político, novo e estranho, em
Belgrado, a capital da Sérvia, da antiga Jugoslávia. Embora aparentemente
surgisse do nada, sinalizou uma mudança no curso da guerra secreta dos EUA. À
superfície, parecia ser um movimento político espontâneo e genuíno. Na
realidade, era o produto de técnicas que vinham a ser estudadas e desenvolvidas
nos Estados Unidos, há décadas. Os estrategas militares da RAND Corporation
tinham analisado os padrões dos movimentos de protesto político bem-sucedidos,
como as revoltas estudantis de 1968, em Paris. Eles identificaram as técnicas
como sendo semelhantes a “enxames”, porque eram descentralizadas, mas
interligadas, como um enxame de abelhas.(1)
Em
Belgrado, os protagonistas fundamentais foram várias organizações: o National
Endowment for Democracy (Fundo Nacional para a Democracia) e dois dos seus
ramos, o Instituto Nacional Republicano, ligado ao Partido Republicano, e o
Instituto Nacional Democrático, vinculado aos democratas. Embora afirmassem ser
Organizações Não-Governamentais (ONGs) privadas, de facto, eram financiadas
pelo Congresso dos EUA e pelo Departamento de Estado. Munidas com milhões de
dólares dos contribuintes dos EUA, essas mesmas organizações foram instaladas
para criar um movimento sintético para levar a cabo “mudanças não violentas”.(2)
O
repórter do ‘The Washington Post’, Michael Dobbs, forneceu uma descrição em
primeira mão do que aconteceu em Belgrado. O início está ligado a uma reunião
secreta à porta fechada, em Outubro de 1999, há mais de um ano:
(Belgrado) - Numa sala de conferências suavemente
iluminada, o analista de votações americano, Doug Schoen, mostrou os resultados
de uma pesquisa de opinião em profundidade, de 840 eleitores sérvios numa tela
de projecção, esboçando uma estratégia para derrubar o último governante da era
comunista, que restava na Europa.
A sua mensagem, confiada aos líderes da
oposição tradicional da Sérvia, era simples e poderosa. Slobodan Milosevic -
sobrevivente de quatro guerras perdidas, de duas grandes manifestações de rua,
de 78 dias de bombardeio da NATO e de uma década de sanções internacionais -
estava “completamente desprotegido” perante um desafio eleitoral bem
organizado. A explicação, segundo mostraram os resultados da votação, foi a
unidade da oposição.
Realizado num hotel de luxo em Budapeste,
capital da Hungria, em Outubro de 1999, a informação, à porta fechada, dada por
Schoen, um democrata, acabou por ser um evento produtivo, apontando o caminho
para a revolução eleitoral que derrubou Milosevic um ano depois. Também marcou
o início de um esforço extraordinário dos EUA para derrubar um chefe de Estado
estrangeiro, não por meio de acções secretas do tipo que a CIA empregou em
países como o Irão e a Guatemala, mas por técnicas modernas de campanha
eleitoral.
Embora as linhas gerais da campanha de 41
milhões de dólares para a construção da democracia dos EUA, na Sérvia, sejam de
conhecimento público, entrevistas com dezenas de protagonistas importantes,
tanto na Sérvia como nos Estados Unidos, sugerem que ela foi muito mais extensa
e sofisticada do que relatado anteriormente.
Considerada por muitos como a última grande
revolução democrática na Europa Oriental, a destruição de Milosevic pode também
entrar para a História como a primeira revolução norteada para efectuar uma
revolução dirigida por grupos de pesquisadores de votação. Por trás da
aparente espontaneidade das demonstrações de rua que forçou Milosevic a
respeitar os resultados de uma eleição presidencial muito disputada, em 24 de Setembro,
estava uma estratégia cuidadosamente incrementada pelos activistas da
democracia sérvia, com a assistência activa de conselheiros e agentes
ocidentais. (3)
Dobbs
informou que o governo dos Estados Unidos “comprou” a deposição de Milosevic
por 41 milhões de dólares. A operação foi executada fora do gabinete do Embaixador
americano, Richard Miles, segundo o seu relato: “através de agentes
especialmente treinados, que coordenaram as redes de estudantes ingénuos que
estavam convencidos de que estavam a lutar por um mundo melhor, pela ‘American
way of life.’
O “The Washington Post” observou que “os
consultores financiados pelos EUA desempenharam um papel crucial nos bastidores,
praticamente, em todas as facetas da campanha contra Milosevic, efectuando
pesquisas de opinião, treinando milhares de activistas da oposição e ajudando a
organizar uma contagem de votos paralelos de importância vital. Os
contribuintes americanos pagaram 5.000 latas de tinta spray usadas pelos activistas
estudantis para escrever frases contra Milosevic, nas paredes, em toda a
Sérvia. ”(4) Cerca de 2,5 milhões de cartazes com o mote ‘Gotov Je’ (ele está
acabado) foram colados em toda a Sérvia; “Gotov Je” tornou-se o slogan da
revolução. O grupo foi denominado
Otpor, que significa “resistência”.
Este relato
notável, em primeira mão, de um dos mais respeitados jornais do ‘establishment’
americano, revelou o que estava a acontecer na Sérvia para derrubar Milosevic.
Inicialmente, o papel dos EUA foi apoiar Milosevic no início dos anos 90; mas,
mais tarde, a propaganda oficial dos EUA, atribuiu características diabólicas a
Milosevic, como sendo o herdeiro de Hitler em termos de atrocidades. Essa
inversão completa sugeria a agenda escondida de Washington.
Por trás
do Otpor havia o Departamento de Estado dos EUA que, em Belgrado, era dirigido
pelo Embaixador dos EUA, na Sérvia, Richard Miles. A Agência dos Estados Unidos
para o Desenvolvimento Internacional (USAID) canalizou os fundos através de
contratos comerciais e através das chamadas ONGs - NED, NDI e IRI.(5)
De
acordo com Dobbs, o IRI pagou a cerca de duas dúzias de dirigentes do Otpor
para participarem num seminário sobre resistência não violenta no Hotel Hilton, em
Budapeste. Aí, os estudantes sérvios foram treinados em assuntos tais como organizar
uma greve, como se comunicar com símbolos, como superar o medo e como destruir
a autoridade de um regime ditatorial. O orador principal foi o antigo coronel
do Exército dos EUA, Robert Helvey, antigo analista da Defense Intelligence
Agency, que treinou e depois usou os activistas do Otpor para distribuir 70.000
cópias de um manual sobre resistência não-violenta. Helvey tinha trabalhado com
Gene Sharp, fundador da polémica Albert Einstein Institution, em Boston, onde o
Pentágono aprendeu a ocultar os seus golpes de Estado sob a capa da não-violência.
Sharp foi descrito por Helvey como “o Clausewitz do movimento da não-violência”,
referindo-se ao famoso estratega militar prussiano.(6)
As tácticas
não violentas em que a juventude “Otpor!” foi treinada, eram baseadas nas
análises da RAND Corporation sobre os métodos de guerra de Ghengis Kahn,
atualizados com as tecnologias modernas de rede, que interligavam as pessoas
como enxames de abelhas.(7) Ao usar imagens de satélite GPS, os agentes especiais
podiam direccionar os seus líderes, especialmente treinados, no terreno, a fim
de manobrar protestos “espontâneos” que enganaram sempre a polícia ou os
militares. Entretanto, a CNN estaria colocada, cuidadosa e convenientemente,
para projectar imagens para todo o mundo, dos protestos desses “manifestantes” jovens
e não-violentos. (Nota: ver a semelhança desta
situação com o que se está actualmente a passar com os protestos dos jovens em
Hong-Kong https://www.youtube.com/watch?v=YfZ30AfEABQ)
O que
era novo no golpe de Belgrado contra Milosevic era o uso da Internet –
especialmente as ‘chat rooms’, mensagens instantâneas e blogs - juntamente com os
telemóveis ou telefones celulares, incluindo mensagens de texto SMS. Usando
esses recursos de alta tecnologia que surgiram apenas em meados da década de
1990, um punhado de líderes treinados poderia rapidamente conduzir à vontade, a
juventude rebelde e sugestionável da “Geração X”, afim de participar, ou para
sair das manifestações de massa.(8)
Otpor !, a mão dos EUA por trás
do golpe de Estado de Belgrado, em 2000, foi a primeira aplicação civil
bem-sucedida do que se tornaria a marca registada das políticas de Defesa dos
EUA, sob o comando do Secretário de Estado, Donald Rumsfeld, no Pentágono.
A
confiança nas novas tecnologias de redes de comunicações para instalar,
rapidamente, pequenos grupos foi a contrapartida civil da doutrina “Revolução
nos Assuntos Militares” de Rumsfeld - a distribuição de pequenos grupos armados,
com grande mobilidade, dirigidos pelos serviços secretos e pelas comunicações “em
tempo real”. Um analista americano,conhecedor do processo descreveu a relação
existente:
Os
esquadrões de soldados que se apoderam dos quarteirões da cidade com a ajuda
dos monitores de vídeo dos “capacete de inteligência”, que lhes dão uma visão
instantânea do seu ambiente, constituem o lado militar. Grupos de jovens que
convergem para cruzamentos planeados, em diálogo constante através de
telemóveis/celulares, constituem a aplicação civil da doutrina. (9)
Se a
invasão do Iraque pelos EUA, em 2003, foi a forma violenta da doutrina militar
de Rumsfeld, o golpe da Sérvia, seguido da “Revolução Rosa”, na Geórgia e da “Revolução
Laranja” na Ucrânia, foram exemplos da aplicação civil e não violenta dessa
doutrina. À medida que os desastres do Iraque e do Afeganistão se aprofundavam,
muitos estrategas americanos estavam cada vez mais convencidos de que a aplicação
“civil” era muito mais eficaz, do que um conflito militar declarado.
Não foi
por acaso que houve tal semelhança entre os modelos civis e militares para a
mudança de regime. Andrew Marshall, antigo estratega da RAND e chefe isolado do
Departamento de Avaliações da Net/ Pentagon Office of Net Assessments do
Pentágono, desde 1974, havia supervisionado o desenvolvimento de ambos a partir
do seu gabinete no Pentágono. Através de técnicas sofisticadas de marketing da
Madison Avenue e do estudo cuidadoso de movimentos de protesto genuínos, o
governo dos EUA tinha aperfeiçoado as técnicas para se livrar “democraticamente”
de qualquer oponente, enquanto convencia o mundo de que eram derrubados por
explosões espontâneas de liberdade. Foi
uma arma terrivelmente eficiente.
A
revolução sérvia do Otport! foi fundada, guiada e financiada secretamente, pelo
governo dos EUA, por meio de ONGs seleccionadas. Marcava a perfeição moderna das
técnicas que, segundo Jonathan Mowat, tinham sido estudadas, durante anos, pelo
Pentágono e pelos seus vários ‘think tanks’, principalmente a California RAND Corporation, de Santa Monica. (10)
As Medidas Cruéis Anteriores da CIA
Nos
primeiros dias da sua existência, a Agência Central de Inteligência empregou
medidas relativamente confusas para efectuar mudanças de regime, quando
Washington queria alguém fora do seu caminho. A destruição do Primeiro Ministro,
popular e eleito democraticamente, Mohammed Mossadegh, no Irão, foi alcançada,
principalmente por agentes secretos da CIA, enviados para o país com dinheiro,
que distribuíam a manifestantes falsos, fornecendo-lhes slogans e cartazes de
apoio ao Xá. Isto motivou as forças reaccionárias da oposição monarquista ao
Xá. Mossadegh foi preso e os interesses petrolíferos dos EUA estavam, de novo,
protegidos. Na Guatemala, a CIA agiu em nome e por solicitação da United Fruit
Company, para se livrar do presidente eleito Arbenez, um nacionalista cujas
medidas de melhoria económica para os camponeses guatemaltecos ameaçavam os
lucros do produtor de banana dos EUA.(11)
Nos
primeiros anos, o padrão do “imperialismo informal” dos EUA, como alguns o
designavam, era repetido com frequência. Todos os tipos de ocultação e
intervenções ilegais nos assuntos soberanos de outras nações poderiam ser
justificados em termos da Guerra Fria contra a “ameaça” do comunismo. Os
interesses das empresas americanas, no estrangeiro, podiam estar ameaçados, até
mesmo por líderes não-comunistas que eram populares ou democraticamente eleitos,
porque favoreciam a reforma agrária, sindicatos mais fortes e redistribuição da
riqueza. Também ameaçavam os interesses dos EUA, os dirigentes que
nacionalizaram os recursos locais e limitaram a indústria estrangeira, ou
procuraram regulamentar os negócios para proteger trabalhadores ou
consumidores.
Em representação
das empresas americanas e, muitas vezes, com a sua ajuda, a CIA iria mobilizar
a oposição interna. Primeiro, identificava os grupos de extrema direita nesse
país, habitualmente ligado aos militares, e depois ofereciam-lhe um acordo: ‘Ajudamo-vos
a tomar conta do poder se mantiverem um clima de negócios que nos seja
favorável’. Para facilitar o processo, como era habitual, estavam envolvidas
enormes quantias de dinheiro e gratificações.
A CIA
então colaboraria com eles para derrubar o governo existente, geralmente, uma
democracia. Usava um vasto leque de truques e tácticas: propaganda,
urnas sabotadas, eleições compradas, extorsão, chantagem, intrigas sexuais,
histórias falsas sobre os opositores na comunicação local, greves de transporte,
infiltração e ruptura dos partidos políticos opostos, rapto, espancamento,
tortura, intimidação, sabotagem económica, esquadrões da morte e até o assassinato.(12)
Esses esforços culminariam, normalmente, num golpe militar, instalando um ditador “pró-americano”, da
direita. A CIA então treinaria a trama de segurança do ditador para reprimir os
inimigos tradicionais dos grandes negócios, usando frequentemente o
interrogatório, a tortura e o assassinato. As vítimas eram designadas como “comunistas”,
mas quase sempre eram apenas camponeses ou liberais moderados, líderes
sindicais, estudantes, nacionalistas, oponentes e defensores da liberdade de
expressão e da democracia. Geralmente, seguiam-se abusos generalizados dos
direitos humanos, envolvendo o uso de “esquadrões da morte”.(13) As vítimas ficaram,
muitas vezes, conhecidas como “os desaparecidos”.
As histórias sangrentas do Chile
e da Argentina e de inúmeras outras ditaduras “pró-americanas”, durante a
Guerra Fria, foram decalcadas daquele molde cruel.
Truman
Cria a ‘Segurança Nacional do Estado’
O início da carreira de Frank
Wisner, advogado da Wall Street e agente dos serviços secretos, exemplificava os
métodos antigos. Em 1947, o Presidente Harry Truman havia assinado o estatuto que
criava a CIA (Agência Central de Inteligência) como braço do Poder Executivo,
uma agência absolutamente imune à supervisão do Congresso e completamente
escondida do escrutínio público. As duas palavras “segurança nacional” eram
usadas para encobrir tudo. Foi o nascimento do que viria a ser a Segurança
Nacional do Estado Americano, um mundo em que todos os crimes imagináveis
seriam justificados em nome da “segurança nacional” e da suposta ameaça da “insubordinação
comunista global”.
Frank Wisner tinha sido
recrutado em 1948, no nascimento da CIA, para chefiar o falso Gabinete de
Coordenação Política/ Office of Policy Coordination (OPC). Na realidade, o OPC
era o braço das operações secretas da agência. De acordo com os termos de sua
carta secreta, as suas responsabilidades abrangeriam “propaganda, guerra económica,
acção directa preventiva, incluindo procedimentos de sabotagem, anti-sabotagem,
demolição e evacuação; subversão contra os Estados hostis, incluindo
assistência a grupos de resistência clandestina, e apoio a elementos indígenas
anti-comunistas, nos países ameaçados do mundo livre.” (14)
No final de 1948, Wisner
estabeleceu a Operação Mockingbird, um projecto planeado para influenciar
ilegalmente a comunicação mediática nacional e estrangeira. Em 1952, ele tornou-se
Chefe da Directoria dos Planos, onde controlava 75% do orçamento da CIA. Portanto,
foi fundamental na queda de Mohammed Mossadegh, no Irão e Jacobo Arbenz Guzmán,
na Guatemala. (15)
Noutras operações de golpes de
Estado, a CIA empregou atiradores de elite, assassinos cruéis com um pouco mais
de sofisticação do que os assassinos da máfia - na verdade, usando mesmo a máfia, em alguns casos.(16)
O problema era que os métodos da
CIA para eliminar chefes de Estado populares, durante as décadas de 1950 e
1960, todos justificados em nome da “guerra contra a disseminação do comunismo
ateu”, não eram somente ineficientes, mas resultavam, muitas vezes, num ataque contra os Estados Unidos, que custou mais do que beneficiou
Washington. O “Farol da Liberdade” dos Estados Unidos, ficaria manchado,
sistematicamente, pela exposição das suas operações secretas, quer pela inveja
do Director do FBI, J. Edgar Hoover, quer pela comunicação mediática
estrangeira ou pela oposição local, nos países atingidos.
As operações da CIA eram praticamente
descontroladas; chegou a extremos para avançar a sua versão do Século
Americano. Ao começar, na década de 1950, por exemplo, com fundos secretos do
Departamento de Educação e Bem-Estar da Saúde, de Nelson Rockefeller, a CIA
envolveu-se num programa denominado “MK-ULTRA”. Apresentado como sendo necessário
para responder às alegações de “lavagem cerebral” dos Soldados americanos, na
Coreia do Norte, a CIA começou as experiências sobre o “controlo da mente”. As
alegações de lavagem cerebral norte coreana foram fabricadas, como revelaram
pesquisas posteriores, para justificar esse programa depois da sua criação. Na
época, não havia evidências de tal lavagem cerebral, nem houve nenhuma desde
então.
O programa da CIA envolveu a
administração de LSD e de outras drogas a cidadãos americanos sem o seu
conhecimento ou contra a sua vontade, fazendo com que vários cometessem
suicídio.
A operação MK-ULTRA foi financiada secretamente pela Rockefeller Foundation, (17) bem como pelos fundos
especificamente destinados aos projectos de fachada da MK-ULTRA, por Nelson
Rockefeller - então Subsecretário da Saúde, Educação e Bem-Estar do Presidente
Eisenhower e, mais tarde, seu assistente especial para a estratégia da Guerra
Fria e da guerra psicológica. Além de tentativas de “controle mental” com drogas,
o MK-ULTRA envolveu pesquisas sobre métodos eficazes de propaganda, lavagem
cerebral, relações públicas, publicidade, hipnose e outras formas de sugestão.(18)
A partir da década de 1960,
alguns membros da comunidade dos serviços secretos dos EUA começaram a ver as
possibilidades de uma forma inteiramente nova de mudança clandestina de regime.
De
Tavistock para a Rand
Em 1967, o Chefe das Relações Humanas, do Instituto Tavistock, em Londres, era um indivíduo chamado Dr. Fred
Emery, perito em “efeitos hipnóticos” da televisão. O Dr. Emery ficou
particularmente impressionado com o que observou sobre o comportamento da
multidão, em concertos de rock, que eram, na época, um fenómeno relativamente
novo. Emery referiu-se ao público como sendo um “enxame de adolescentes”. Estava
convencido de que esse comportamento poderia, efectivamente, ser refinado e
usado para derrubar governos hostis ou pouco cooperativos. Emery escreveu um
artigo sobre esse assunto, no jornal do Instituto Tavistock, ‘Relações Humanas’, que intitulou, “Os
Próximos Trinta Anos: Conceitos, Métodos e Antecipações”. O artigo descrevia,
detalhadamente, maneiras de canalizar ou manipular directamente o que ele
designou como ‘histeria rebelde’. ”Foi, precisamente, o que os estudos da RAND
mais tarde observaram e manufacturaram como“ swarming/enxame”. (19)
Após a Primeira Guerra Mundial,
as forças armadas britânicas criaram o Instituto Tavistock para servir como o seu
braço de guerra psicológica. O Instituto recebeu o nome do duque de Bedford,
Marquês de Tavistock, que doou um prédio ao Instituto, em 1921, para estudar o
efeito do choque das bombas nos soldados britânicos que sobreviveram à Primeira
Guerra Mundial. No entanto, o seu objectivo não era ajudar os soldados traumatizados,
mas estabelecer o “ponto de ruptura” dos homens sob stress. O programa estava
sob a direcção do Departamento do Exército Britânico de Guerra Psicológica.
Durante algum tempo, Sigmund Freud trabalhou com Tavistock em métodos
psicanalíticos aplicados a indivíduos e a grandes grupos.
Depois da Segunda Guerra
Mundial, a Fundação Rockefeller ofereceu-se para financiar o Instituto Tavistock
e, com efeito, atrair os seus programas para os Estados Unidos e as suas actividades
sobre guerra psicológica.(20) A Fundação Rockefeller forneceu uma infusão de
fundos para os estudos financeiramente debilitados do Tavistock, recentemente
reorganizado como Instituto Tavistock de Relações Humanas. A agenda de
Rockefeller era delinear “sob condições de paz, o tipo de psiquiatria social
que se desenvolveu no exército em condições de guerra”. (21)
Foi uma reviravolta fatal.
O Instituto Tavistock começou, imediatamente,
a trabalhar nos Estados Unidos, enviando o seu principal investigador, o
psicólogo nascido na Alemanha, Kurt Lewin, ao Instituto de Tecnologia de
Massachusetts, em 1945, para estabelecer o Centro de Pesquisa para a Dinâmica
de Grupo. Lewin estava interessado no estudo científico dos processos que
influenciam os indivíduos em situações de grupo e é amplamente creditado como sendo
o fundador da “psicologia social”. Após a morte de Lewin, o Centro mudou-se
para a Universidade de Michigan em 1948, onde se tornou o Instituto de
Psicologia Social.(22)
O trabalho de Tavistock, nas
duas décadas a seguir, foi associar as percepções psicológicas existentes a grupos sociais e a dinâmicas sociais, a fim de refinar as técnicas de manipulação
social.
Então, os conhecimentos de 1967, de Fred Emery sobre multidões, pareceram validados pelas grandes revoltas
estudantis em Paris, em Maio de 1968. Milhares de 'enxames de adolescentes’
transformaram-se num movimento de milhões, desestabilizando o governo francês e
derrubando o Presidente Charles de Gaulle.(23) Este derramamento ‘espontâneo’ foi
estudado de perto pelo Instituto Tavistock e por várias agências de inteligência dos EUA,
sobre métodos, padrões e tácticas que seriam desenvolvidas e concretizadas
durante as três décadas e meia seguintes, pela comunidade de inteligência dos
EUA.(23)
{Nota da Trad: É de ter em
consideração que o Presidente de Gaule, retirou a França da NATO, o que Washington considerou intolerável, portanto, a meu ver, era uma boa oportunidade para pôr
em prática as técnicas de ‘swarming/enxame’.Ver https://pt.mondediplo.com/spip.php?article176 e, novamente, anexada à NATO em 2009 por Sarkozy https://www.esquerda.net/content/fran%C3%A7-regressa-ao-comando-militar-da-nato}
Enxameação
desde a Sérvia até à Geórgia
O êxito alcançado pelos EUA ao
afastar o tenaz Slobodan Milosevic como Presidente da Sérvia, em 2000, provou
ao Departamento de Estado dos EUA e à comunidade de serviços
secretos, que o novo modelo secreto, de mudança de regime por meio de golpes de
Estado não-violentos, funcionava. Parecia ser o modelo perfeito para eliminar
regimes opostos à política dos EUA. Não importava que esse regime fosse popular
ou democraticamente eleito. Qualquer regime era vulnerável aos novos métodos de
guerra do Pentágono - as técnicas de “enxame” e de “revolução colorida”, da
RAND.
Alguns meses após ser
bem-sucedido a supervisionar a criação da Revolução sérvia Otpor!, o chefe da
diplomacia dos EUA, em Belgrado, o Embaixador Richard Miles, foi enviado para a
sua nomeação seguinte, a minúscula República da Geórgia nas montanhas do Cáucaso,
na Ásia Central.(27) Normalmente, um posto na Geórgia - um pequeno Estado no mar
Negro, administrado por uma veterano da era soviética, Edouard Shevardnadze -
teria sido considerado um passo para baixo numa carreira típica do Departamento
de Estado. Não por milhas. A sua tarefa era supervisionar uma repetição da
revolução de Belgrado em Tbilisi, na Geórgia.(28) Em Tbilisi, Miles foi
apresentado ao seu famoso aluno georgiano, Mikheil Saakashvili, um produto da
Columbia University Law School, da George Washington University Law School e Par
do Departamento do Estado americano. Na época, em 2002, Saakashvili era Ministro
da Justiça da Geórgia, sob o comando do Presidente Eduard Shevardnadze; Miles
iria orientar Saakashvili sobre como derrubar o seu Chefe.(29)
Miles recebeu uma assistência enorme
das ONGs vinculadas ou financiadas pelo governo dos EUA, incluindo a National
Endowment for Democracy, a organização que parecia estar presente em todos os
grandes golpes dos EUA ou operações de mudança de regime, desde os anos 80.(30)
Segundo Mowat, também se destacou na Geórgia, a Open Society Foundation,
dirigida pelo bilionário norte-americano George Soros e a Freedom House,
sediada em Washington, criada na década de 1940, como organização de propaganda
da NATO e, em 2001, chefiada pelo antigo Director da CIA, James Woolsey.
O Departamento de Estado dos EUA
usou, frequentemente, ONGs nas suas máquinas de golpe de Estado ao longo dos
anos: na deposição do Presidente Fernando Marcos das Filipinas, em 1986, ou na
desestabilização da Praça Tiananmen, em 1989, e na “revolução de veludo” de
Vaclav Havel, na Checoslováquia, em 1989. Então, as tácticas um tanto
grosseiras das décadas anteriores foram aumentadas pelos refinamentos das
técnicas de enxameamento da RAND, mensagens de texto SMS e telemóveis/celulares,
e os estudos de Gene Sharp sobre o que ele designou como a “não-violência como
um método de guerra”.(31)
Dentro e à volta dos protestos
estudantis não-violentos, na Praça da Paz Celestial, em 1989, tanto a
Instituição Albert Einstein, de Gene Sharp, como o Fundo para a Reforma e Abertura
da China, de George Soros, estiveram aparentemente presentes. De facto, Gene
Sharp, admitiu estar em Pequim pouco antes da eclosão dos protestos estudantis
não violentos na Praça Tiananmen.(32) O governo chinês da época, acusou
abertamente a fundação de Soros de ter laços com a CIA, forçando-a a sair do
país.(33)
A Albert Einstein Institution,
de Sharp, desempenhou, inequivocamente, um papel importante na formação e
educação dos movimentos juvenis nos países do pacto de Varsóvia e também na
Ásia.(34) Segundo o pesquisador Jonathan Mowat, a organização de Sharp foi
financiada, em parte, pelas fundações de Soros e pela National Endowment for Democracy
entre outras.(35) No seu próprio site, o Instituto de Sharp admitiu estar activo
com grupos de oposição ‘pró-democracia’ em vários países, incluindo Birmânia,
Tailândia, Tibete, Letónia, Lituânia, Estónia, Bielorrússia, bem como na Sérvia.(36)
Convenientemente, os seus países-alvo coincidiram inteiramente com os
objectivos do Departamento de Estado dos EUA para mudança de regime, durante o
mesmo período de tempo. A palavra “democracia”, como bem sabiam os antigos
oligarcas gregos, era uma faca de dois gumes que podia ser manipulada contra os
opositores, ou contra a fúria dirigida de uma turba enfurecida.
Entre os conselheiros do
Instituto de Sharp, na ocasião da operação ‘Otpor!’ da Sérvia, além do Coronel
Helvey, havia um especialista em serviços secretos/inteligência dos EUA, o Major
General Edward B. Atkeson, oficial aposentado do Exército dos EUA. (37) Antigo Chefe
Adjunto dos Serviços Secretos do Estado Maior (Deputy Chief of Staff
Intelligence), do Exército dos EUA na Europa e membro do National Intelligence
Council, sob o Director da CIA, o General Atkeson também serviu no Gabinete de
Assuntos Político-Militares, do Departamento de Estado. Outro assessor da
Albert Einstein Institution, de Sharp, foi o antigo Almirante Gene R. La
Rocque, chefe do Center for Defense Information. (38)
Assim como as coisas estavam a
aquecer na Geórgia, onde a Instituição Albert Einstein estava a desempenhar um papel, outra parte
vital da antiga União Soviética foi subitamente adicionada à 'lista de alvos'
de Washington. A Ucrânia, no coração da Rússia étnica, também se tornava agora num alvo para uma Revolução Colorida, apoiada pelos EUA.
A
revolução Laranja na Ucrânia e a Política dos Oleoductos/Condutas
A Ucrânia e a Rússia estavam tão
interligadas económica, social e culturalmente, especialmente no leste do país,
que eram quase indistinguíveis uma da outra. A maioria dos gasoductos da Rússia
da Sibéria Ocidental fluía pela Ucrânia a caminho da Alemanha, da França e de outros Estados da Europa Ocidental. Em termos estratégicos militares, uma Ucrânia
não neutra inserida na NATO, representaria um golpe fatal para a segurança da
Rússia. Na era das armas nucleares avançadas dos EUA e das defesas antimísseis,
era exactamente o que o governo Bush queria.
Uma leitura de um mapa de
geografia eurasiática revelou um padrão distinto para as Revoluções Coloridas,
patrocinadas por Washington depois de 2000. Elas visavam claramente isolar a
Rússia e, em última análise, cortar a sua linha de vida econômica - as suas
redes de canalizações que transportavam as enormes reservas de petróleo e gás
natural da Rússia, dos Montes Urais e da Sibéria para a Europa Ocidental e para
a Eurásia - directamente através da Ucrânia.
A
Rússia está a ser cercada pelos países da NATO e se a Ucrânia se unir à NATO,
representaria um golpe devastador para a segurança económica e militar russa.
A transformação da Ucrânia de
antiga república russa em satélite pró-NATO foi realizada pela designada “Revolução
Laranja”, em 2004, supervisionada por John Herbst, nomeado Embaixador dos EUA
na Ucrânia, em Maio de 2003. Como o Departamento de Estado dos EUA descreveu
eufemisticamente as suas actividades:
Durante o seu mandato, trabalhou
para melhorar as relações EUA-Ucrânia e para ajudar a garantir a realização de
uma eleição presidencial ucraniana justa. Em Kiev, testemunhou a Revolução
Laranja. Anteriormente, o Embaixador John Herbst foi embaixador dos EUA no
Uzbequistão, onde desempenhou um papel fundamental no estabelecimento de uma
base americana para ajudar a conduzir a Operação Liberdade Duradoura (Operation
Enduring Freedom)no Afeganistão.(39)
O homem que Washington decidiu
apoiar na sua mudança de regime orquestrada na Ucrânia, foi Viktor Yushchenko,
um antigo governador do Banco Central da Ucrânia, de cinquenta anos de idade. A
esposa de Yushchenko, Kateryna, uma cidadã americana nascida em Chicago, tinha
tido uma posição de responsabilidade tanto na Administração Reagan, como na
Administração de George H.W. e no Departamento de Estado dos EUA. Ela foi à
Ucrânia como representante da Fundação US-Ukraine, cujo Conselho de
Administração incluía Grover Norquist, um dos republicanos conservadores mais
influentes em Washington. Norquist foi apelidado de “Director Administrativo
da extrema direita”, ao apoiar a presidência de George W. Bush.(40)
O foco central da campanha de Yushchenko
para presidente, era defender a adesão da Ucrânia à NATO e à União Europeia. A
sua campanha utilizou enormes quantidades de faixas, bandeiras, cartazes,
balões e outros adereços de cor laranja, levando a comunicação mediática,
inevitavelmente, a apelidá-la de “Revolução Laranja”. Washington financiou
grupos de jovens “pró-democracia” que desempenharam um papel particularmente
significativo na organização de grandes manifestações de ruas que o ajudaram a
vencer a segunda volta de uma eleição duvidosa.
Na Ucrânia, o movimento
pró-Yushchenko agiu usando o slogan Pora ("É tempo") e trouxe pessoas
que haviam ajudado a organizar a “Revolução Rosa” na Geórgia: o Presidente
da Comissão Parlamentar da Defesa e Segurança da Geórgia, Givi Targamadze;
antigo membro do Instituto da Liberdade da Geórgia; bem como membros do grupo
de jovens da Geórgia, Kmara. Os georgianos foram consultados por líderes da
oposição ucraniana sobre técnicas de luta não violenta. As bandas de rock
georgianas Zumba, Soft Eject e Green Room, que apoiaram a “Revolução Rosa”,
organizaram um concerto de solidariedade no centro de Kiev, para apoiar a
campanha de Yushchenko, em Novembro de 2004.(41)
Uma empresa de relações públicas,
com sede em Washington, chamada Rock Creek Creative, também desempenhou um
papel significativo na marca da Revolução Laranja, desenvolvendo um site a
favor de Yushchenko, em torno do tema e do logotipo laranja. (42)
No terreno, vários elementos
trabalharam em conjunto para criar uma aura de fraude em torno da eleição de
2004, que Yuschchenko tinha perdido, a fim de mobilizar o apoio popular para uma
segunda volta. Usando o Pora e outros grupos de jovens, especialmente monitores
de eleições, em coordenação com importantes meios de comunicação mediática ocidentais,
como a CNN e a BBC, foi organizada uma segunda eleição que permitiu a Yushchenko
sair com uma estreita margem de vitória, em Janeiro de 2005 e declarar-se
presidente. O Departamento de Estado dos EUA gastou cerca de 20 milhões de
dólares na Presidência da Ucrânia.(43)
As mesmas ONGs apoiadas pelo
governo dos EUA que estiveram na Geórgia, também produziram resultados na
Ucrânia: a George Soros Open Society Institute; a Freedom House; e a National
Endowment for Democracy, juntamente com as suas duas subsidiárias, o Instituto
Nacional Republicano e o Instituto Nacional Democrata. De acordo com relatórios
ucranianos, as ONGs norte-americanas, juntamente com a conservadora US-Ukraine
Foundation, estiveram activas em toda a Ucrânia, a alimentar o movimento de protesto
do Pora e do Znayu e a treinar observadores das eleições.(44)
A certa altura, em 2004, após os
êxitos de Washington na Geórgia e na Ucrânia, Putin, da Rússia, passou a
centralizar o controlo sobre o activo estratégico que a Rússia possuía e do
qual os países NATO, da Europa Ocidental precisavam - energia. A Rússia era, de
longe, o maior produtor mundial de gás natural.
A Guerra das Condutas da Eurásia
A agenda
escondida das políticas agressivas de Washington, na Ásia Central, após o
colapso da União Soviética, poderia ser resumida numa única frase: controlo da energia.
Enquanto a Rússia for capaz de usar o seu trunfo estratégico – as suas reservas
enormes de petróleo e de gás - para conquistar aliados económicos na Europa
Ocidental, na China e noutros lugares, ela não poderá estar isolada
politicamente. A localização das várias Revoluções Coloridas visava, directamente.
cercar a Rússia e cortar, a qualquer momento, os seus oleoductos de exportação.
Com mais de sessenta por cento da exportação da Rússia em dólares, provenientes
das suas exportações de petróleo e gás, tal cerco equivaleria a um
estrangulamento económico da Rússia, efectuado pela NATO, liderada pelos EUA.
A Geopolítica das condutas na região da Ásia
Central, coloca os EUA e a Grã-Bretanha contra a Rússia e contra a China, com
um potencial elevado de conflito
A revolução
colorida na minúscula República da Geórgia e o esforço para atrair a Geórgia
para a NATO sob a égide do novo Presidente Mikheil Saakashvili, treinado pelos
EUA, em parte, visava assegurar uma nova rota do oleoducto para aproximar as
vastas reservas de petróleo do Mar Cáspio, próximo de Baku, no Azerbaijão. A
British Petroleum (BP) assegurou o papel principal no desenvolvimento de
enormes campos de petróleo offshore, perto de Baku, logo após a dissolução da
União Soviética no início da década dos anos 90.
Com o
apoio de Washington, desde a Administração Clinton, a BP procurou construir um
oleoducto que, de alguma forma, evitaria o trânsito pela Rússia. Devido ao
terreno montanhoso, a única rota desse tipo era Baku, através da Geórgia via
Tbilisi e depois através do Mar Negro até a Turquia, membro da NATO, onde se
ligaria com um oleoducto até ao porto turco mediterrânico de Ceyhan.
As riquezas petrolíferas da Rússia e da Ásia
Central dependem de oleoductos para chegar ao mercado num ponto onde a NATO
pretende controlar o acesso russo através da Ucrânia e da Geórgia.
O oleoducto
Baku-Ceyhan foi originalmente proclamado pela BP e por outros como sendo “O
Projecto do Século”. Zbigniew Brzezinski era consultor da BP durante a era
Clinton, pressionando Washington para apoiar o projecto da BP. Foi Brzezinski
que foi a Baku, em 1995, não oficialmente, em nome do Presidente Clinton, para
se encontrar com o presidente azeri, Haidar Aliyev e negociar as novas rotas do
oleoducto independente de Baku, incluindo o que se tornou o oleoducto B-T-C ou
Baku-Tbilisi-Ceyhan.
Em 2003,
a Rússia tornou-se no segundo maior produtor mundial de petróleo bruto, depois
da Arábia Saudita. Durante a era soviética, as economias da Ucrânia, Geórgia,
Rússia, Cazaquistão, Azerbaijão e outras repúblicas da URSS estavam totalmente
integradas economicamente. Depois da União Soviética entrar em colapso, no
início dos anos 90, os seus gasoductos e oleoductos e rotas de exportação em
toda a Eurásia, continuaram a funcionar. Além do mais, as antigas regiões
soviéticas, incluindo a Ucrânia, continuaram a receber gás russo através do
monopólio estatal de gás, Gazprom, a preços altamente subsidiados, muito abaixo do
preço cobrado na Europa Ocidental.
ONGs patrocinadas pelos EUA
Zbigniew
Brzezinski faz parte do Conselho de Administração de uma organização pouco expressiva
e pouco conhecida, a Câmara de Comércio EUA-Azerbaijão (USACC). O presidente da
USACC em Washington, era Tim Cejka, presidente da ExxonMobil Exploration. Os
membros do Conselho da USACC, além de Brzezinski, incluíam Henry Kissinger,
Brent Scowcroft e James Baker III. Scowcroft fora Conselheiro da Segurança Nacional
dos Presidentes Nixon, Ford, Bush Sr. e Bush Jr. Baker foi o indivíduo que
viajou a Tbilisi, em 2003, para dizer pessoalmente a Shevardnadze que Washington
queria que ele se afastasse a favor de Shaakashvili, treinado pelos Estados
Unidos. Dick Cheney era um antigo membro do Conselho da USACC, antes de se
tornar Vice Presidente.
Seria
difícil imaginar uma equipa mais pesada de manipuladores do poder
geopolítico de Washington. Basta dizer que as elites do poder de Washington não
desperdiçariam o seu tempo, nem se concentrariam dessa maneira, a não ser que
essa área fosse da máxima importância estratégica e geopolítica.
Outra ONG que apareceu, invariavelmente, em cada uma
das mudanças de regime de Revolução Colorida foi a Freedom House. Juntamente com os
Institutos Open Society de George Soros, NED financiada pelos EUA e outros, a
ONG curiosamente designada por Freedom House, apareceu em toda a parte.
A
Freedom House era uma organização com um nome que soava a nobreza e com uma
longa história. Foi criada no final da década de 1940, como sendo um lobby dos
EUA para organizar a opinião pública a favor da criação da NATO. O presidente
da Freedom House, na época das Revoluções Coloridas da Geórgia e da Ucrânia,
era James Woolsey, antigo Director da CIA e neoconservador, que declarou ao
mundo, que o 11 de Setembro de 2001 foi o início da “Quarta Guerra Mundial”.(45)
Woolsey definiu a Guerra Fria como sendo a III Guerra Mundial.
Outros
curadores e financiadores da Freedom House incluíam Zbigniew Brzezinski e
Anthony Lake, Conselheiros de Política Estrangeira dos Presidentes Carter,
Clinton e Obama. A Freedom House também enomerou, entre seus contribuintes
financeiros, o Departamento de Estado dos EUA, a USAID, a Agência de
Informações dos EUA, as Fundações da Soros Open Society e da omnipresente
National Endowment for Democracy (NED). (46)
A NED,
juntamente com a Freedom House, esteve no centro de todas as “revoluções
coloridas” principais na Eurásia, desde 2000. Tinha sido criada durante a
Administração Reagan para funcionar como uma CIA de facto, privatizada de forma a permitir mais liberdade de acção.(47)
Allen Weinstein, que ajudou a redigir a legislação que estabelece a NED, disse
numa entrevista, em 1991: “Muito do que fazemos hoje, foi feito secretamente há
25 anos, pela CIA.” (48)
O
Presidente da NED, desde 1984, era Carl Gershman, que já havia sido bolsista da
Freedom House. O General da NATO e antigo candidato presidencial, Wesley Clark,
o homem que liderou o bombardeio americano da Sérvia, em 1999, também se sentou
no Conselho da NED.
A
maioria das figuras históricas ligadas às acções clandestinas da CIA foram, em
algum momento, membros do Conselho de Directores ou do Conselho Administrativo
da NED, incluindo Otto Reich, John Negroponte, Henry Cisneros e Elliot Abrams.
O Presidente do Conselho de Directores da NED, em 2008, era Vin Weber, fundador
da organização ultraconservadora Empower America, e arrecadador de fundos da
campanha de George W. Bush, em 2000.(49)
Gershman,
chefe da NED desde a sua criação até ao presente, não era um funcionário
público comum. Tinha sido um dos membros principais, durante a década de 1970,
de algo chamado Social Democrats-EUA, onde trabalhou em estreita colaboração
com Richard Perle, Elliott Abrams e Frank Gaffney. Gershman esteve, em certo
sentido, “presente na criação” da facção da inteligência política conhecida,
mais tarde, como neoconservadorismo. A organização NED, até 2007, esteve
envolvido na distribuição de fundos do governo dos EUA para selecionar grupos
em mais de 90 países. O ‘think-tank’ neoconservador, o American Enterprise
Institute, e o antigo senador Bill Frist (R-TN) estavam entre os membros do
Conselho de Directores da NED.
Sob a
liderança de Gershman, a NED esteve inúmeras vezes envolvida em operações para
promover a mudança de regime de governos cujas políticas, de uma forma ou de
outra, colidiam com uma prioridade particular de Washington. Em 2004, a NED
esteve envolvida numa tentativa de golpe de Estado, patrocinada pelos EUA
contra o novo Presidente da Venezuela, Hugo Chavez, eleito democraticamente.
Depois de Hugo Chávez vencer com facilidade um referendo, em Agosto de 2004,
sobre sua presidência, surgiram acusações sobre o papel da NED, no apoio a
grupos contra Chavez. Uma figura chave na tentativa do golpe de Estado, foi o Secretário
de Estado Adjunto de Bush para o Hemisfério Ocidental, Otto Juan Reich, nascido
em Cuba. Reich, um antigo lobista de Washington para empresas militares como
McDonnell Douglas e Lockheed-Martin, também era membro do conselho do
controverso Instituto do Hemisfério Ocidental para Cooperação em Segurança,
mais conhecido como a Escola das Américas, onde o Pentágono treinou a maior
parte dos ‘Esquadrões da morte’ latino-americanos.(51)
A
National Endowment for Democracy foi o veículo que foi usado em múltiplos e
diversos países para promover a agenda de Washington do Domínio do Espectro Total.
A Geografia Política da Eurásia
Um olhar
mais atento ao mapa da Eurásia começava a sugerir o que estava em jogo para
Washington, na Eurásia. O objectivo não foi apenas o cerco estratégico da
Rússia por meio de uma série de bases da NATO, desde Camp Bond Steel, no
Kosovo, até à Polónia, à República Checa, e possivelmente a Geórgia e a
Ucrânia. Todo esse bloqueio tinha como objectivo primordial, permitir que a
NATO controlasse as rotas e as redes de energia entre a Rússia e a União Europeia.
A
estratégia de Washington dos golpes de Estado “democráticos” - as revoluções
coloridas na Geórgia e na Ucrânia - foi projectada estrategicamente para
impedir a China de aceder às reservas vitais de petróleo e gás do Mar Cáspio,
incluindo o Cazaquistão e, finalmente, a Rússia.
As
antigas rotas de comércio da Ásia e, especificamente, a Grande Rota da Seda,
passaram por Tashkent, no Uzbequistão, e Almaty, no Cazaquistão. Numa região
cercada por grandes cadeias de montanhas, o controle geopolítico do
Uzbequistão, do Quirguistão e do Cazaquistão permitiria o controlo de qualquer
potencial rota de oleoducto entre a China e a Ásia Central. Assim, também, o
cerco da Rússia permitiria o controlo das condutas e outras ligações entre a
Rússia e a Europa Ocidental e o Médio Oriente.
Nesse
contexto, um artigo do ‘Foreign Affairs’ de Zbigniew Brzezinski, em Setembro de
1997, revelou a verdadeira estratégia geopolítica de Washington em relação à
Eurásia:
A
Eurásia é o lar da maioria dos Estados politicamente positivos e dinâmicos do
mundo. Todos os pretendentes históricos ao poder global se originaram na
Eurásia. Os aspirantes mais populosos do mundo à hegemonia regional, China e
Índia, estão na Eurásia, assim como todos os potenciais adversários políticos
ou económicos à superioridade americana. Depois dos Estados Unidos, as seis
maiores economias e gastadores militares estão lá, assim como todas, excepto
uma das potências nucleares do mundo, e todas excepto uma das encobertas. A
Eurásia é responsável por 75% da população mundial, 60% do PNB e 75% dos recursos energéticos. Colectivamente, o poder potencial da Eurásia
obscurece até o da América.
A
Eurásia é o super-continente axial do mundo. Uma potência que dominasse a
Eurásia, exerceria influência decisiva sobre duas das três regiões
economicamente mais produtivas do mundo, a Europa Ocidental e a Ásia Oriental.
Uma observação do mapa também sugere que um país dominante na Eurásia,
controlaria quase que automaticamente o Médio Oriente e a África. Com a Eurásia
a servir agora, como tabuleiro de xadrez geopolítico decisivo, já não basta
moldar uma política para a Europa e outra para a Ásia. O que acontece com a
distribuição do poder na massa de terra eurasiática será de importância decisiva
para a superioridade global da América... (52)
Começa Uma Nova Guerra Fria Devido ao Petróleo
Após a ocupação fracassada do Iraque, em 2003, o “tabuleiro do xadrez” geopolítico de Brzezinski apresentou uma série de desafios para os EUA: a dúvida de lançar ou não, a guerra contra o Irão; a questão da Geórgia e do oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan; o dilema do aparecimento da China como uma superpotência económica global. Todos estes assuntos estavam ligados ao tema da geopolítica. O futuro dos Estados Unidos como superpotência única estava intimamente ligado à sua capacidade de controlar os fluxos globais de petróleo e de gás, que constituíam o sistema arterial da economia moderna. Essa foi a verdadeira razão para a invasão do Afeganistão, para a ocupação violenta do Iraque, para a guerra do Kosovo, em 1999, para a ameaça do uso da força militar contra o Irão e para os esforços de Washington em derrubar Hugo Chavez, na Venezuela.
A Rússia, após quase uma década de devastação económica e insolvência da dívida do Estado, em 1998, começou a erguer-se como uma economia funcional sob a presidência de Vladimir Putin.
As exportações de petróleo e de gás da Rússia beneficiaram de um mercado mundial cujos preços da energia aumentaram significativamente após a invasão do Iraque, em 2003. O aumento das receitas permitiu à Rússia pagar os seus empréstimos ao FMI.
Ao começar, na primeira década do milénio, a nova Rússia estava a adquirir influência, não através das armas, mas por movimentos estratégicos, usando os seus activos geopolíticos de energia – o petróleo e o gás natural. Os dirigentes russos, durante a presidência de Putin, perceberam que, se não agissem de forma decisiva, a Rússia, em breve, seria cercada e confinada por um rival militar, os EUA.
Entretanto, a China, não poderia manifestar-se claramente com potência global verdadeiramente independente nas próximas décadas, a não ser que pudesse resolver duas vulnerabilidades estratégicas – a sua dependência crescente das importações de energia para o seu crescimento económico e a sua incapacidade de representar uma dissuasão nuclear a um ‘first strike’ nuclear dos EUA.
A Rússia era a única potência com um potencial estratégico considerável de dissuasão nuclear, bem como com reservas de energia suficientes, para ser um contrapeso credível à superioridade militar e política global dos EUA. Além do mais, uma combinação euro-asiática da China e da Rússia, juntamente com os Estados euroasiáticos aliados, representava um contrapeso ainda maior ao domínio unilateral dos EUA. Após a crise asiática de 1998, Pequim e Moscovo estabeleceram um acordo de segurança mútua com os Estados vizinhos, Cazaquistão e Tajiquistão. Em 2001, o Uzbequistão juntou-se e o grupo intitulou-se Organização de Cooperação de Xangai.
A Nova Geopolítica do Petróleo de Washington
Desde o momento em que a Administração Bush-Cheney tomou posse, em Janeiro de 2001, o controlo dos principais campos de petróleo e gás natural do mundo foi a prioridade principal, embora não declarada, da política externa dos EUA. A batalha foi pelas paradas mais altas. Na sua busca pelo domínio global, pela Nova Ordem Mundial, as elites do poder de Washington estavam determinadas a desmantelar a Rússia como potência em funcionamento. Tornou-se, cada vez mais claro que, não só a invasão do Iraque, como também a destruição dos Taliban no Afeganistão, não tinha nada a ver com a “democracia” e tudo a ver com o controlo dos oleoductos em toda a Ásia Central e com a militarização do Médio Oriente. (53)
Depois de 1999, os Estados Unidos, que já mantêm entre 600 e 800 bases militares em todo o mundo, construíram ainda mais bases que variam geograficamente de Camp Bondsteel no Kosovo, até São Tomé e Príncipe, ao largo da costa da África Ocidental. Tentaram uma “mudança de regime” do presidente democraticamente eleito da Venezuela, rica em petróleo, enquanto se proclamavam, desavergonhadamente, os defensorores da democracia. E os EUA pressionaram imenso as nervosas Alemanha e França, para que a pequena, mas estratégica, República da Geórgia, entrasse na NATO, a fim de assegurar o fluxo do petróleo de Baku, para o Mediterrâneo.
O próprio Presidente George W. Bush fez uma viagem a Tbilisi, em 10 de Maio de 2005, para se dirigir a uma multidão na Praça da Liberdade, a fim de promover a campanha de “guerra à tirania” de Washington, para essa região. Elogiou as “revoluções coloridas” em curso, apoiadas pelos EUA, da Ucrânia à Geórgia, atacando oportunisticamente a divisão da Europa, concretizada em Yalta por Roosevelt, em 1945. Nessa ocasião, Bush proferiu uma declaração curiosa:
“Não vamos repetir os erros de outras gerações, apaziguar ou desculpar a tirania e sacrificar a liberdade, na procura inútil, de estabilidade”, disse o Presidente. “Aprendemos a lição; não se pode dispensar a liberdade de ninguém. A longo prazo, a nossa segurança e estabilidade dependem da liberdade dos outros. . . Agora, através do Cáucaso, na Ásia Central e no Médio Oriente, vemos o mesmo desejo de liberdade a queimar os corações dos jovens. Eles estão a exigir a sua liberdade - e tê-la-ão. (54)
As observações de Bush foram calculadas para estimular a chama de novas desestabilizações de regime em toda a Eurásia, onde agora, a National Endowment for Democracy (NED) e as ONGs relacionadas com essa instituição, coordenavam, acusações de violações de “direitos humanos” em toda a região. (55)
A Estratégia da Energia de Cheney
A presidência Bush-Cheney foi, desde o início, baseada num acordo claro entre as várias facções do ‘establishment’ energético dos EUA. Esse consenso foi de que a política externa dos EUA deveria ter como objectivo garantir o que o Pentágono denominou como“Domínio do Espectro Total”.
Os estrategas do Domínio do Espectro Total imaginaram o controlo de praticamente todo o Universo, incluindo o domínio do Espaço exterior e do interior, desde e poder absoluto sobre a galáxia até ao controlo total da mente. O controlo da energia, em especial dos recursos mundiais do petróleo e do gás, pelos quatro gigantes petrolíferos privados anglo-americanos - ChevronTexaco, ExxonMobil, BP e Royal Dutch Shell - foi a viga mestra da sua estratégia global.
A Administração Bush concretizou a decisão do ‘establishment’ americano de que os EUA precisavam de uma mudança drástica na sua política externa - de uma apropriação extremamente agressiva dos recursos petrolíferos mundiais - para que os EUA continuassem a controlar o crescimento económico mundial e evitar o aparecimento de grupos económicos rivais, especialmente a China.
Ficou claro, nos círculos políticos de Washington que, para controlar os fluxos globais de petróleo e de gás, os Estados Unidos precisavam de projectar o seu poder militar de uma maneira muito mais agressiva, para alcançar uma supremacia militar total que,de facto, era aquilo a que o ‘Domínio do Espectro Total’ dizia respeito.
Dick Cheney era a pessoa ideal para unir as políticas militares e energéticas dos EUA numa estratégia coerente de domínio. Durante o início dos anos 1990, Cheney foi Secretário da Defesa de Bush Sr., e quando Cheney deixou o Governo, em 1993, tornou-se CEO da Halliburton Corporation (anteriormente sediada no Texas e agora baseada no Dubai, para evitar o pagamento de impostos). A Halliburton era a maior empresa de serviços de petróleo e de gás do mundo. Ao mesmo tempo, através da sua subsidiária Kellogg, Brown & Root, era o maior construtor de instalações militares do Pentágono, bem como de prisões. O governo Bush-Cheney era uma fusão dos interesses e dos donos do complexo militar-industrial e do Big Oil.
‘Onde, Fundamentalmente, o Prémio Reside’
Em Setembro de 1999, pouco mais de um ano antes de se tornar o mais poderoso Vice Presidente da História dos Estados Unidos, Cheney proferiu um discurso revelador no London Institute of Petroleum. Revendo as perspectivas para o Big Oil, Cheney fez o seguinte comentário:
Segundo algumas estimativas, nos próximos anos, haverá uma média de crescimento anual de dois por cento na procura global de petróleo juntamente com um declínio natural de 3% na produção das reservas existentes. Significa que, até 2010, precisaremos cerca de mais cinquenta milhões de barris por dia. Então, de onde virá o petróleo? Os governos e as empresas nacionais de petróleo controlam, obviamente, cerca de noventa por cento dos activos. Fundamentalmente, o petróleo continua a ser um negócio do governo. Se bem que muitas regiões do mundo ofereçam grandes oportunidades de petróleo, o Médio Oriente, com dois terços do petróleo mundial e com o preço mais baixo, ainda é o local onde o prémio reside. . . (55)
Cheney calculou que o mundo devia chegar ao número impressionante de 50 milhões de novos barris de petróleo por dia até 2010 - 50% do total da produção mundial de 2008, o equivalente a cinco novas Arábias Sauditas.
O segundo ponto do discurso de Cheney, em Londres, foi a sua declaração de que “o Médio Oriente... ainda é o local onde o prémio reside.” No entanto, observou, o “prémio” do petróleo do Médio Oriente estava nacionalizado ou nas mãos do governo, não estava aberto a ser explorado pelo mercado privado. Ainda.
Cheney, descobriu-se, também fazia parte de um poderoso grupo determinado a tirar o petróleo do Médio Oriente das mãos do Estado. Na época do seu discurso em Londres, em 1999, era membro de um ‘think tank’ extremamente influente, o Projecto para o Novo Século Americano (PNAC). Um grupo dentro do PNAC, incluía Donald Rumsfeld, Paul Wolfowitz e outros que entraram para a Administração Bush, publicou um documento político, em 2000, intitulado “Reconstruir as Defesas da América”.
Cheney aprovou totalmente o artigo do PNAC, que defendia a doutrina da guerra preventiva e pedia ao novo Presidente dos Estados Unidos que encontrasse um pretexto para declarar guerra ao Iraque, a fim de ocupá-lo e assumir o controlo directo da segunda maior reserva de petróleo do Médio Oriente.(56) O relatório do PNAC afirmava sem rodeios: “A necessidade de uma presença enorme da força americana no Golfo transcende a questão do regime de Saddam Hussein. . . . ”(57)
Era o que Cheney havia aludido no seu discurso de 1999, em Londres. O problema, como Cheney o via, era que as vastas reservas inexploradas de petróleo do Médio Oriente estavam, em grande parte, sob o controlo do governo local e não, em mãos privadas. A ocupação militar do Iraque foi o primeiro grande passo, nesta estratégia dos Estados Unidos, para levar o petróleo para mãos privadas seleccionadas, para as mãos do Big Oil anglo-americano.
No entanto, embora o controlo militar dos EUA sobre os vastos recursos petrolíferos do Golfo Pérsico fosse necessário para a agenda de Domínio do Espectro Total do Pentágono - domínio incontestado de todo o planeta - não era satisfatório. Enquanto a Rússia permanecesse um agente livre e ainda não estivesse sob o controlo autoritário da superioridade militar dos EUA, o controlo da Eurásia pelos EUA continuaria a ser impossível. O desmembramento total ou a desmantelamento do arsenal nuclear remanescente da Rússia e o controlo dos vastos recursos de petróleo e de gás da Rússia continuaram a ser a prioridade estratégica de Washington.
A Destruição da Rússia: O ‘Prémio Imprescindível’
Por razões militares e políticas óbvias, Washington não podia admitir abertamente que, desde a queda da União Soviética, em 1991, o seu objectivo estratégico era desmembrar ou desmantelar a Rússia, ganhando assim, o controlo efectivo sobre os seus enormes recursos de petróleo e gás.
No entanto, o urso russo ainda tinha meios militares formidáveis, embora um pouco arruinados, e ainda tinha dentes nucleares.
A partir de meados da década de 1990, Washington iniciou um processo deliberado de encaminhar antigos Estados soviéticos satélites não só para a União Europeia, mas também para uma NATO, dominada por Washington. Em 2004, a Polónia, a República Checa, a Hungria, a Estónia, a Letónia, a Lituânia, a Bulgária, a Roménia, a Eslováquia e a Eslovénia estavam todas na NATO e a República da Geórgia estava a ser preparada para participar.
A disseminação da NATO no perímetro imediato da Rússia foi um dos principais objectivos dos membros do PNAC. Desde 1996, Bruce Jackson, membro do PNAC e compadre de Cheney, Vice Presidente de Estratégia e Planeamento do gigante da Defesa dos EUA, a Lockheed Martin Corporation, dirigiu a Comissão dos EUA sobre a NATO, um poderoso lobby de Washington. Ele fundou o “Project for Transitional Democracies” que se destinava, especificamente, a encaminhar as antigas repúblicas soviéticas para a NATO.
O cerco da NATO à Rússia, as Revoluções Coloridas na Eurásia e a guerra no Iraque. foram aspectos de uma única e mesma estratégia geopolítica americana: uma grande estratégia para destruir a Rússia de uma vez por todas, como rival potencial da única Superpotência hegemónica, os Estados Unidos da América.
No entanto, o fim da era de Yeltsin, causou uma ligeira quebra nos planos grandiosos de Washington. Após a pilhagem da Rússia, orientada pelo FMI através de uma combinação de bancos ocidentais e oligarcas russos corruptos, Putin, sóbrio e inteligente, surgiu cautelosamente, como uma força nacionalista dinâmica, comprometida com a reconstrução da Rússia.
Ao mesmo tempo, a produção de petróleo russo tinha aumentando firmemente desde o colapso da União Soviética, a ponto de, na época da invasão do Iraque, em 2003, a Rússia ser o segundo maior produtor de petróleo do mundo, atrás da Arábia Saudita.
O verdadeiro significado do caso Yukos
Um acontecimento decisivo na geopolítica da energia russa ocorreu em 2003. Logo que Washington declarou a sua intenção de militarizar o Iraque e o Médio Oriente, não obstante os protestos mundiais ou o Direito Internacional, Putin ordenou a espectacular prisão pública do oligarca bilionário russo Mikhail Khodorkovsky sob a acusação de evasão fiscal. Putin então surpreendeu os observadores ocidentais, ao congelar as acções do grupo gigante Yukos Oil, de Khodorkovsky, colocando-o sob controlo estatal.
Khodorkovsky foi preso quatro semanas antes de uma eleição decisiva na Duma russa, ou câmara baixa. Alegava-se com segurança que Khodorkovsky, usando a sua fortuna enorme, tinha comprado os votos da maioria. O controlo da Duma foi o primeiro passo de Khodorkovsky num plano para concorrer contra Putin, no ano seguinte, como presidente. A vitória da Duma teria permitido que ele mudasse as leis eleitorais a seu favor, bem como alterar uma lei controversa que estava a ser elaborada na Duma, “A Lei dos Recursos Subterrâneos”. Essa lei impediria a Yukos Oil e outras empresas privadas de obter o controlo de matérias-primas subterrâneas, ou de desenvolver rotas de oleodutos privadas independentes dos gasodutos estatais da Rússia.(58)
Khodorkovsky havia violado a promessa que os oligarcas tinham feito a Putin - de que se eles se mantivessem fora da política russa e repatriassem uma parte do seu dinheiro roubado (na verdade, roubados ao Estado em licitações manipuladas, sob o governo de Yeltsin), seriam autorizados a manter os seus activos.
A prisão de Khodorkovsky ocorreu pouco depois dos relatos de uma reunião não divulgada, em Washington, em Julho, entre Khodorkovsky e o Vice Presidente Dick Cheney. Após a reunião com Cheney, Khodorkovsky entabulou conversações com a ExxonMobil e a ChevronTexaco (antiga firma da Secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice) sobre a aquisição de uma participação nas acções da Yukos, até 40%. (59)
Por outras palavras, Khodorkovsky, o mais poderoso oligarca da época, estava, evidentemente, a servir de veículo para um ‘putsch’ contra Putin, apoiado por Washington.
A participação de 40% na Yukos, da Rússia, teria dado a Washington, através dos gigantes do petróleo, dos EUA, o poder de veto de facto sobre futuros oleoductos e gasoductos russos e sobre acordos de petróleo. Poucos dias antes da sua prisão, em Outubro de 2003, Khodorkovsky tinha recebido George H.W. Bush, que tinha ido a Moscovo em nome do poderoso Carlyle Group, para discutir a compra da Yukos pelos EUA. Bush renunciou, discretamente, à sua posição com a Carlyle, logo após a prisão de Khodorkovsky e do seu parceiro, Platon Lebedev, presidente do Grupo Menatep. (60)
Khodorkovsky também actuou como consultor de energia do mesmo Washington Carlyle Group, cujos sócios incluíam o antigo Secretário da Defesa dos EUA, Frank Carlucci, e o antigo Secretário de Estado dos EUA, James Baker III.(61) Carlyle era conhecida como uma firma de poder, em Washington, por um bom motivo.
Na época da prisão de Khodorkovsky, a Yukos tinha acabado de iniciar as etapas para adquirir a Sibneft, um dos maiores grupos russos, de produção e de refinaria de petróleo. A empresa combinada Yukos-Sibneft, com 19,5 biliões de barris de petróleo e gás, teria então a segunda maior reserva de petróleo e gás do mundo depois da ExxonMobil. A compra da Yukos Sibneft pela Exxon ou pela Chevron teria sido, literalmente, um golpe de Estado através da energia. Cheney, Bush e Khodorkovsky sabiam-no. Sobretudo, Vladimir Putin sabia-o e apressou-se decisivamente a bloqueá-lo.
A prisão de Khodorkovsky sinalizou a reviravolta decisiva do governo de Putin para a reconstrução da Rússia e para a construção de defesas estratégicas. Ocorreu no contexto da captura descarada do Iraque, pelos EUA, em 2003. A decisão ousada de Putin também aconteceu em menos de dois anos, após o governo Bush anunciar que os EUA estavam a revogar unilateralmente as suas obrigações com a Rússia sobre o Tratado ABM, a fim de avançar com o desenvolvimento de novos mísseis dos EUA. Esta medida foi percebida em Moscovo, como um acto claramente hostil contra a sua segurança.
Em 2003, foi preciso pouca perspicácia militar estratégica para perceber que os falcões do Pentágono e os seus aliados na indústria de armamentos e no Big Oil, tinham uma visão dos Estados Unidos livres de acordos internacionais e agindo unilateralmente, de acordo com os seus próprios interesses, como definido, evidentemente, pelo PNAC neoconservador. Os acontecimentos na Rússia foram logo seguidos por desestabilizações encobertas, na Eurásia, financiadas por Washington - as Revoluções Coloridas contra os governos na periferia da Rússia.
No final de 2004, era explícito para Moscovo que uma nova Guerra Fria - sobre o controlo estratégico da energia e sobre a superioridade nuclear unilateral - estava a aproximar-se.
Depois de 2003, a política externa russa, especialmente a política energética, reverteu para os axiomas da geopolítica da "Heartland", como foi definida por Sir Halford Mackinder, política que havia sido a base da estratégia anterior da Guerra Fria soviética, desde 1946.
Putin começou a fazer uma série de medidas defensivas para restaurar uma forma de equilíbrio sustentável diante da política cada vez mais óbvia de Washington de cercar e enfraquecer a Rússia. Erros estratégicos posteriores dos EUA tornaram o trabalho um pouco mais fácil para a Rússia. Agora, com as fasquias a subir em ambos os lados - NATO e Rússia - a Rússia de Putin passou da estratégia da defesa simples para uma nova ofensiva dinâmica destinada a garantir uma posição geopolítica mais viável, usando a sua energia como alavanca.
Geopolíticas da Energia Russa
Em termos de padrão de vida, taxas de mortalidade e prosperidade económica, a Rússia, em 2004, não era uma potência de classe mundial. Em termos de energia, era um colosso. Em termos de massa terrestre, ainda era a maior nação do mundo, estendendo-se desde o Pacífico até à porta da Europa. Tinha um vasto território, recursos naturais enormes e as maiores reservas de gás natural do mundo. De mais a mais, era a única potência à face da Terra com capacidades militares latentes, para se igualar às dos Estados Unidos, apesar do colapso da URSS e da deterioração das forças armadas russas desde então.
Uma observação do mapa esclarece por que é que o Pentágono tem interesse geopolítico em ter bases no Afeganistão, no Paquistão e no Iraque - o controlo militar dos fluxos de petróleo na Ásia Central
A Rússia tinha mais de 130.000 poços de petróleo e cerca de 2.000 depósitos de petróleo e gás. As reservas de petróleo foram estimadas em 150 biliões de barris, semelhantes ao Iraque. Poderiam ser muito maiores, mas ainda não haviam sido exploradas devido à dificuldade de perfurar as regiões remotas do Ártico. No entanto, com os preços do petróleo, em toda a parte, acima de 60 dólares o barril, tornaram economicamente viável explorar essas regiões remotas.
A rede estatal russa de gasoductos, o “sistema unificado de transporte de gás”, incluía uma vasta rede de oleoductos e estações de compressão que se estendiam por mais de 150.000 quilómetros em toda a Rússia. Por lei, somente a Gazprom, propriedade do Estado, podia usar o gasoducto. A rede talvez fosse o bem mais valorizado do Estado russo, além do próprio petróleo e do gás. Aqui estava o coração da nova geopolítica energética de Putin.
Já em 2001, quando se tornou evidente que as repúblicas bálticas estavam prestes a unir-se à NATO, Putin apoiou o desenvolvimento de um novo porto de petróleo importante, na costa russa do Mar Báltico, em Primorsk. Este Sistema de Oleoductos Bálticos (BPS), concluído em Março de 2006, diminuiu muito a dependência da exportação através dos novos Estados da NATO, como a Letónia, a Lituânia e a Polónia. O Báltico era a principal rota de exportação do petróleo da Rússia, das províncias petrolíferas da Sibéria Ocidental e Timan Pechora. Agora, o BPS era capaz de transportar mais de 1,3 milhões de barris/dia de petróleo russo para os mercados ocidentais.
Em Março de 2006, o antigo chanceler alemão, Gerhard Schroeder, foi nomeado presidente de um consórcio público-privado russo-alemão, a construir um gasoducto de 1.200 km sob o Báltico.
O accionista maioritário do North European Gas Pipeline (NEGP) era a estatal russa Gazprom, a maior companhia de gás natural do mundo. A alemã BASF e a E.On detinham 24,5%, cada uma. O projecto de € 5 biliões foi iniciado no final de 2005 e ligaria o terminal de gás, na cidade portuária russa de Vyborg, perto de São Petersburgo, com Greifswald, no leste da Alemanha. Era a clássica geopolítica russa - a tentativa da Heartland de se ligar à Europa Central. O objectivo de Churchill e, mais tarde, da Guerra Fria de Truman, foi o de conduzir uma cunha, uma "cortina de ferro" entre a Europa Central e o centro da Rússia. O seu objectivo era fazer da Grã-Bretanha o mediador geopolítico indispensável ou intermediário de poder entre as duas.
A ‘joint venture’ entre a Gazprom e a BASF foi o último grande acto de Schroeder, como chanceler alemão. O que provocou gritos de protesto do governo polaco, pró-Washington, bem como da Ucrânia, que perderiam o controlo sobre os fluxos dos gasoductos da Rússia. Apesar dos laços estreitos com o governo Bush, a nova chanceler conservadora da Alemanha, Angela Merkel, foi forçada a engolir e a aceitar o projecto. A Rússia era, de longe, o maior fornecedor de gás natural da Alemanha - mais de 40% das suas importações totais de gás.
O gigantesco depósito de gás Shtokman, no sector russo do Mar de Barents, ao norte do porto de Murmansk, também se tornaria parte do fornecimento de gás do NEGP. Quando concluída em dois gasoductos paralelos, a NEGP forneceria, anualmente, à Alemanha, mais de 55 biliões de metros cúbicos de gás russo.
Em Abril de 2006, o governo de Putin começou um oleoducto da Sibéria Oriental-Oceano Pacífico (ESPO), um oleoduto de 14 biliões de dólares, de Taishet no leste da Sibéria, para a costa do Pacífico da Rússia. A Transneft, empresa estatal russa de oleoductos, estava a construí-lo. Quando terminar, bombeará até 1,6 milhões de barris por dia, da Sibéria para o Extremo Oriente da Rússia e daí para a região Ásia-Pacífico, faminta de energia, principalmente para a China e para o Japão.
Além destas condutas, a China estava a discutir, intensamente, com Putin, um ramal entre Blagoveshchensk e Daqing. A rota Taishet fornecia um roteiro para a cooperação energética entre a Rússia e a China, o Japão e outros países da região Ásia-Pacífico.
Sakhalin: as Rédeas da Russia no Big Oil
No final de Setembro de 2006, uma disputa aparentemente menor explodiu e resultou na revogação da licença ambiental para um projecto de Gás Natural Liquefeito da Royal Dutch Shell Sakhalin II, que deveria entregar GNL/gás liquefeito ao Japão, Coreia do Sul e outros clientes, em 2008. A Shell era o sócio principal num projecto de energia de desenvolvimento de petróleo e gás anglo-japonês, na ilha de Sakhalin, no extremo leste da Rússia, uma vasta ilha ao norte de Hokkaido, no Japão.
O governo de Putin anunciou que os requisitos ambientais não tinham sido tidos em conta pela ExxonMobil, para o seu terminal de petróleo em Sakhalin, como parte do seu projecto de desenvolvimento de petróleo e gás Sakhalin I. Sakhalin I continha cerca de 8 biliões de barris de petróleo e enormes volumes de gás, tornando o campo num raro achado Super Gigante de petróleo, na terminologia dos geólogos. No início dos anos 90, o governo de Yeltsin fez uma tentativa desesperada de atrair capitais e tecnologias de investimento ocidentais necessárias para explorar as regiões de petróleo e gás da Rússia, numa época em que o governo russo estava falido e os preços do petróleo muito baixos. Num lance audacioso, Yeltsin concedeu aos Estados Unidos e a outras grandes empresas petrolíferas ocidentais, generosos direitos de exploração de dois grandes projectos petrolíferos, Sakhalin I e Sakhalin II, ambos sob o denominado PSA ou Production Sharing Agreement.
De acordo com os termos do PSA, a Rússia seria paga pelos direitos do petróleo e do gás, em acções do petróleo ou do gás eventualmente produzidos, mas somente depois de todos os custos de produção terem sido, primeiramente, pagos. Os acordos de PSA com as principais empresas petrolíferas ocidentais, só haviam sido feitos anteriormente com governos fracos do Terceiro Mundo, incapazes de exigir condições mais justas.
Pouco antes do governo russo dizer à ExxonMobil que tinha problemas com o seu terminal em Sakhalin, a ExxonMobil anunciou um aumento de 30% no custo do projecto. A ExxonMobil, cujo advogado, James Baker III, mantinha uma estreita parceria com a Casa Branca de Bush-Cheney, sabia que tal aumento de custos adiaria ainda mais qualquer parte do fluxo de petróleo russo do PSA. O Ministério do Meio Ambiente da Rússia, por sua vez, ameaçou interromper a produção da ExxonMobil.
A empresa britânica Shell detinha os direitos, sob outro PSA, de desenvolver recursos de petróleo e gás na região de Sakhalin II e de construir o primeiro projecto de gás natural liquefeito da Rússia. O projecto de US $ 20 biliões empregou mais de 17.000 pessoas e foi o maior projecto integrado de petróleo e gás do mundo. Incluiu a primeira produção de petróleo offshore da Rússia, bem como a primeira plataforma de gás integrada offshore da Rússia.
Os movimentos claros do governo russo contra a ExxonMobil e a Shell foram interpretados, no sector de energia, como uma tentativa do governo de Putin de recuperar o controlo dos recursos de petróleo e gás da Rússia, que Yeltsin tinha concedido, durante a sua época.
O Projecto de Gás Rússia-Turquia
Em Novembro de 2005, a Gazprom da Rússia completou a etapa final do gasoduto Blue Stream, de 1.213 quilómetros 3,2 biliões de dólares de custo. Trouxe gás russo dos campos em Krasnodar, por meio de condutas submarinas através do Mar Negro até a costa turca (no Mar Negro). De lá, o gasoduto forneceu gás russo a Ancara.
A Grécia, a Itália e Israel envolveram-se em negociações com a Gazprom para se abastecer de gás do gasoducto Blue Stream, em toda a Turquia. Outra rota de gás russo, um Gasoducto Sul-Europeu, estava a ser desenvolvido via Europa Oriental e Central, para estabelecer um novo sistema internacional de transmissão de gás. Putin estava a usar o trunfo da energia da Rússia para construir laços económicos em toda a Eurásia, do Ocidente ao Oriente, do Norte ao Sul. Washington não ficou nada satisfeito.
O Estatuto Militar de Moscovo
No seu discurso à Nação, de Maio de 2003, Vladimir Putin falou em reforçar e modernizar o sistema de dissuasão nuclear da Rússia, criando novos tipos de armas, incluindo algumas para as forças estratégicas, o que, a longo prazo, garantiria a capacidade de defesa da Rússia e dos seus aliados. Depois da Administração Bush ter declarado, unilateralmente, o fim do Tratado de Mísseis Anti Balísticos e anular, de facto, o Tratado Start II em 2001, a Rússia parou de retirar e destruir os seus mísseis SS-18 MIRV-ed.
A Rússia nunca deixou de ser uma entidade poderosa que produzia tecnologias militares de ponta. Se bem que o seu exército, marinha e força aérea estivessem num estado de abandono, no final da Guerra Fria, em 1990, os elementos para o ressurgimento da Rússia como potência militar ainda estavam activos. A Rússia tinha colocado, continuamente, tecnologia de ponta em várias feiras internacionais, usando o mercado mundial de exportação de armas para manter intacta a sua base mais vital de tecnologia militar.
Por exemplo, de acordo com uma análise de 2004 do ‘think tank’ Power and Interest News Report (PINR), sediado em Washington, uma das melhores realizações da Rússia após a dissolução da União Soviética foi o seu veículo de combate blindado, o BMP-3, que foi preferido aos veículos ocidentais, em contratos com os Emirados Árabes Unidos e Omã.
Os sistemas de mísseis terra-ar da Rússia, o S-300, e o seu sucessor mais poderoso, o S-400, foram relatados como sendo mais potentes do que os sistemas Patriot, feitos nos EUA. Um exercício militar antecipado entre o Patriot e o S-300 nunca se materializou, deixando o complexo russo com a reivindicação incontestável, ainda que não comprovada, de superioridade sobre o sistema americano.
Os helicópteros militares Kamov-50 incorporaram as mais recentes tecnologias e tácticas de ponta, tornando-os iguais aos melhores que Washington possuía, de acordo com fontes da indústria de helicópteros europeus.
Em 2006, nos exercícios conjuntos da Força Aérea Indiana e Americana, nos quais a Força Aérea Indiana estava equipada com caças Su-30 modernos, de fabrico russo, a Força Aérea Indiana suplantou os aviões F-15 fabricados nos Estados Unidos na maioria das suas tarefas, levando o General Hal Homburg, da Força Aérea dos Estados Unidos, a admitir que a tecnologia russa nas mãos dos indianos deu à Força Aérea dos EUA uma “chamada de alerta”. A instituição militar russa continuava a desenhar outros helicópteros, tanques e veículos blindados que estavam em pé de igualdade com os melhores que o Ocidente tem para oferecer. (62)
As exportações de armas, além do petróleo e do gás, tinham sido uma das melhores maneiras da Rússia obter a moeda forte tão necessária nos anos 1990 e no novo século. A Rússia era o segundo maior exportador mundial de tecnologia militar depois dos Estados Unidos. A moderna tecnologia militar da Rússia era mais provável de ser exportada do que fornecida aos seus próprios exércitos. Isso teve implicações para as futuras operações de combate dos Estados Unidos, já que praticamente todas as formações de rebeldes, guerrilheiros, separatistas ou formações armadas em todo o mundo - as mesmas formações que os Estados Unidos mais provavelmente enfrentariam nas suas guerras futuras – estavam equipadas com armas russas ou com os seus derivados.
O arsenal nuclear russo também desempenhou um importante papel político desde o fim da União Soviética, proporcionando a segurança fundamental ao Estado russo. Em 2003, a Rússia teve de comprar à Ucrânia, bombardeiros estratégicos e ICBMs que estavam armazenados lá.
No entanto, desde então, as forças nucleares estratégicas têm sido uma prioridade. Em 2008, as finanças do Estado russo, ironicamente, devido aos preços extremamente altos das exportações de petróleo e gás, estavam numa posição sólida. O Banco Central da Rússia tornou-se o terceiro maior detentor de reservas de dólares do mundo, atrás da China e do Japão, com reservas de mais de 500 biliões de dólares.
O ressurgimento gradual de uma Rússia dinâmica no coração da Eurásia, que estava a crescer economicamente mais perto da China e das principais nações da Europa Ocidental Continental, foi o desenvolvimento para o qual Brzezinski tinha alertado que poderia ameaçar mortalmente o domínio americano. Foi o pior pesadelo de Halford Mackinder. Ironicamente, as invasões falhadas de Washington no Iraque e no Afeganistão e sua concepção imperfeita da “Guerra ao Terror” ajudaram, directamente, a provocar essa cooperação eurasiática. Também criaram o cenário para o conflito da Geórgia, em Agosto de 2008.
Washington encorajou, obviamente, o Presidente da Geórgia, Mikheil Saakashvili, a invadir a Ossétia do Sul, sabendo claramente que a Rússia seria forçada a intervir para estabelecer a fronteira contra o cerco implacável dos EUA.(63) Washington abanou deliberadamente as chamas de uma Nova Guerra Fria com a Rússia, para instalar uma cunha de ferro entre a Rússia e a Alemanha e trazer a ordem geopolítica mundial de volta ao esquema original de Mackinder, a ordem da Guerra Fria. Tanto para o domínio da América na Europa Ocidental, como para a Rússia, a Alemanha era um parceiro vital. A indústria alemã tornou-se o principal importador europeu de gás natural russo e sua indústria dependia da energia russa. Não havia um substituto possível à vista.
Para alcançar o Domínio do Espectro Total, Washington precisava não só dos recursos das suas Revoluções Coloridas em toda a Europa Central para cercar a Rússia. O Pentágono também precisava de esticar a corda à volta do colosso económico emergente na Ásia, a China. Nesse país, era necessária uma abordagem diferente, dada a extrema dependência financeira dos EUA em relação à China, os seus laços económicos e investimentos. Uma forma de “direitos humanos” como arma da política externa dos EUA estava a desempenhar o papel central, a fim de controlar a China.
Notas de rodapé:
2 Michael Dobbs, US Advice Guided Milosevic Opposition Political Consultants Helped Yugoslav Opposition Topple Authoritarian Leader, Washington Post, December 11, 2000.
3 Ibid.
4 Ibid.
5 Ibid.
6 Ibid.
7 Jonathan Mowat, Coup d'État in Disguise: Washington's New World Order ‘Democratization’ Template, February 9, 2005, in http://globalresearch.ca/articles/MOW502A.html. The author is indebted to Mowat’s ground breaking research on the role of Emery, RAND and others in creating the Color Revolution model for US-led regime coups in Eurasia.
8 Ibid.
9 Ibid.
10 Ibid.
11 William Blum, Killing Hope: U.S. Military and CIA Interventions since World War II, Monroe, Maine, Common Courage Press, 1995.
12 Ibid.
14 William Blum, Op. Cit., p.259 discusses the CIA’s immunity from prosecution for crimes including assassination and bribery.
15 Ibid., pp.72-83.
16 Ibid.
17 John Marks, The Search for the ‘Manchurian Candidate’: The CIA and Mind Control— The Secret History of the Behavioral Sciences, New York, W.W. Norton & Co., 1979, p. 141.
18 Gerard Colby and Charlotte Dennett, Thy Will Be Done: The Conquest of the Amazon: Nelson Rockefeller and Evangelism in the Age of Oil, New York, HarperCollins, 1995, p. 256.
19 Jonathan Mowat, Op. Cit.
nubs/research/centres/mhrg/papers/paper13.pdf+tavistock+institute+rockefeller+ foundation&hl=en&ct=clnk&cd=6.
Cooke notes, ‘While Tavistock histories have been previously written, this is the first to draw on archival material which sets out the early relations between the Rockefeller and TIHR founder ATM “Tommy” Wilson in the 1930s, and shows how the Tavistock’s development into a centre of social and organizational science was supported by the Rockefeller’s medical research program up until the 1950s. It also situates the rise of the Tavistock in a nexus of transatlantic inter-personal relationships on the one hand, and changing UK, US, and world politics on the other.’
Cooke observa: 'Embora as histórias de Tavistock tenham sido escritas anteriormente, esta é a primeira a desenhar material de arquivo que estabelece as primeiras relações entre o fundador da TIHR, ATM Tommy Wilson, na década de 1930, e mostra como o desenvolvimento de Tavistock num centro de ciência social e organizacional foi apoiado pelo programa de pesquisa médica de Rockefeller, até à década de 1950. Ele também situa a ascensão do Tavistock, por um lado, numa associação de relações interpessoais transatlânticas e, por outro lado, a mudar as políticas do Reino Unido, EUA e do mundo.
23 A curious tiny group named Situationist International played in inordinately large role behind the student uprisings in May 1968 leading some researchers to posit that it was backed or steered by US intelligence. Even the powerful French Communist trade union, CGT, attempted to quell the student unrest to no avail. De Gaulle was considered a ‘friend’ of the Soviet Union for his opposition to US-run NATO.
23 Um grupo minúsculo e curioso chamado Situationist International desempenhou um papel extraordinariamente importante por trás das revoltas estudantis de Maio de 1968, levando alguns pesquisadores a afirmar que o mesmo era apoiado ou orientado pelos serviços secretos USA. Até mesmo o poderoso sindicato comunista francês, CGT, tentou reprimir a agitação estudantil sem sucesso. De Gaulle era considerado um “amigo” da União Soviética pela sua oposição à NATO, sob comando USA.
24 Jonathan Mowat, Op. Cit.
25 Howard Perlmutter was one of the leading strategists of the US model of globalization from his work at the Wharton School of Finance at University of Pensylvania. At Wharton, he led the internationalization process as Chairman of the Multinational Enterprise Unit and Founder-Director of the Worldwide Institutions Research Center.During this time with his colleague, Tavistock’s Eric Trist, he formulated his vision the Social Architecture of the Global Societal enterprise, based on this paradigm for organizations in the 21st Century. At Wharton, he introduced research and teaching on the global social architecture of the multinational enterprise, multinational organization development, global strategic alliances, global cities, and the globalization of education, in a course called Cross cultural management in the context of the First Global Civilization. Cited in http://www.deepdialog.com/dr_perlmutter/index.html.
25 Howard Perlmutter foi um dos principais estrategas do modelo norte-americano de globalização, devido ao seu trabalho na Wharton School of Finance da Universidade de Pensylvania. Na Wharton, liderou o processo de internacionalização como Presidente da Unidade Empresarial Multinacional e Director Fundador do Centro de Pesquisa de Instituições Internacionais. Durante esse período, com o seu colega Eric Trist, de Tavistock, formulou a sua visão sobre a Arquitectura Social da Sociedade Global, baseado neste paradigma para as organizações do séc. XXI. Na Wharton, ele introduziu a pesquisa e o ensino sobre a arquitectura social global da empresa multinacional, desenvolvimento de organizações multinacionais, alianças estratégicas globais, cidades globais e a globalização da educação, num curso chamado ‘Gestão Transcultural no Contexto da Primeira Civilização Global’. . Citado em http://www.deepdialog.com/dr_perlmutter/index.html .
26 John Arquilla and David Ronfeldt, In Athena’s Camp: Preparing for Conflict in the Information Age, Santa Monica, CA: RAND, MR-880-OSD/RC, 1997.
28 Ibid.
29 Jonathan Mowat, Op. Cit.
30 Ibid.
31 Ibid.
32 Amitabh Pal, Gene Sharp: The Progressive Interview, The Progressive, March 1, 2007.
33 Ibid.
35 Jonathan Mowat, Op. Cit.
38 SourceWatch, Albert Einstein Institution, in http://www.sourcewatch.org/index.php?title=Albert_Einstein_Institution#Advisors_.281 993-1999.29.
43 Dmitry Sudakov, USA Assigns $20 million for Elections in Ukraine, Moldova, Pravda.ru, 11 March 2005.
46 Freedom House, 2004 Annual Report, Our Partners, p. 37.
47 Nicholas Thompson, This Ain’t Your Mama’s CIA, Washington Monthly, March 2001. Thompson describes the creation of the National Endowment for Democracy and the Reagan Administration’s related ‘Project Democracy: ‘Ronald Reagan loved subversion, and he empowered CIA director William Casey to covertly organize a war in Nicaragua. But Reagan's more lasting legacy comes from his recognition that the weakness of communism could be exploited by international institution building. Reagan proclaimed in 1982 that "The march of freedom and democracy will leave Marxism-Leninism on the ash heap of history," and set in motion a major movement that led to the creation of a number of QUANGOs (quasi-nongovernmental organizations) like the National Endowment for Democracy (NED) that worked to build democratic opposition abroad. In a way, NED was chartered to do what the CIA used to do, only working bottom up and helping activists instead of working top down and lopping off heads. ‘Reagan also worked inside the White House, pulling Walt Raymond, a top-ranking CIA official, over from Langley to organize what the president called "Project Democracy." As part of the project, the United States Information Agency (USIA) began to cook up plans that, except for their openness, seemed like the old CIA. In the summer of 1982, USIA organized democracy-building seminars for African colonels, voting technique lessons for Peruvians, and conferences on freedom for the press in the Philippines and Romania. Cultural ambassadors were even sent by USIA from universities to travel around and preach Reagan's gospel of democracy, and in what Vaclav Havel would say was the most important thing the United States did for his country, USIA beamed the Voice of America and Radio Free Europe into Czechoslovakia. Simultaneously, the CIA sent millions of dollars to the Solidarity movement in Poland by way of the international arm of the AFLCIO.’
Nicholas Thompson, Esta não é a CIA da sua Mãe, Washington Mensal, Março de 2001. Thompson descreve a criação do Fundo Nacional para a Democracia e o projecto relacionado com a democracia: Ronald Reagan adorava a subversão e deu autoridade ao Director da CIA, William Casey para organizar secretamente uma guerra na Nicarágua. Mas o legado mais duradouro de Reagan vem do seu reconhecimento de que a fraqueza do comunismo poderia ser explorada pelo fortalecimento institucional internacional. Reagan declarou, em 1982, que “A marcha da liberdade e da democracia deixará o marxismo-leninismo no monte de cinzas da História", e colocou em movimento um grande movimento que levou à criação de um número de QUANGOs (organizações quase não-governamentais) como o National Endowment for Democracy (NED), que trabalhou para construir a oposição democrática no estrangeiro. De certa forma, a NED foi contratada para fazer o que a CIA costumava fazer, trabalhando apenas de baixo para cima e ajudando os activistas, em vez de trabalhar de cima para baixo e decepar as cabeças. ‘Reagan também trabalhou dentro da Casa Branca, puxando Walt Raymond, um alto funcionário da CIA, de Langley para organizar o que o Presidente designou como “Projecto Democracia”. Como parte do projecto, a Agência de Informação dos Estados Unidos (USIA) começou a elaborar planos que, excepto pela sua abertura, pareciam a antiga CIA. No verão de 1982, a USIA organizou seminários de construção da democracia para os coronéis africanos, aulas técnicas de votação para os peruanos e conferências sobre liberdade, para a imprensa nas Filipinas e na Roménia. Embaixadores culturais foram até enviados pelas universidades da USIA para viajar e pregar o evangelho da democracia de Reagan, e no que Vaclav Havel diria que foi a coisa mais importante que os Estados Unidos fizeram para seu país, a USIA transmitia a Voz da América e a Rádio Europa Livre (the Voice of America e Radio Free Europe) na Checoslováquia. Simultaneamente, a CIA enviou milhões de dólares para o movimento Solidariedade, na Polónia, por meio do braço internacional da AFLCIO.
48 David Ignatius, Openness Is the Secret to Democracy, Washington Post National Weekly Edition, 30 September-6 October,1991, 24-25.
52 Zbigniew Brzezinski, A Geostrategy for Eurasia, Foreign Affairs, September/ October 1997.
53 F. William Engdahl, A Century of War: Anglo-American Oil Politics and the New World Order, London, Pluto Press, 2004, pp.253-255.
55 Dick Cheney, Remarks to the London Institute of Petroleum Autumn Lunch, September 1999, published by the Institute of Petroleum June 8, 2004 and subsequently removed from their own website. Archived and reprinted in full at http://www.energybulletin.net/node/559.
57 Ibid.
58 Dmitry Slobodanuk, The State Determined to Own Oil and Gas, Pravda, September 23, 2003.
60 Greg Schneider, Arrested Russian Businessman Is Carlyle Group Adviser, November 10, 2003, The Washington Post.
61 Ibid.
62 Yvgeny Bendersky, “Keep a Watchful Eye on Russia’s Military Technology,” Power & Interest News Report, July 21, 2004.
63 Russia Today, Saakashvili: we started the war, November 28, 2008, Russia Today, accessed in http://www.russiatoday.com/news/news/33939 . See also, Oleysa Vartanyan and Ellen Barry, Ex-Diplomat Says Georgia Started War With Russia, November 25, 2008, The New York Times, accessed in http://www.nytimes.com/2008/11/26/world/europe/26georgia.html?_r=1&partner=rss&emc=rss. The Times reports that, ‘Erosi Kitsmarishvili, Tbilisi’s former ambassador to Moscow, testifying before a Georgian Congressional Commission, ‘said Georgian officials told him in April that they planned to start a war in Abkhazia, one of two breakaway regions at issue in the war, and had received a green light from the United States government to do so. He said the Georgian government later decided to start the war in South Ossetia, the other region, and continue into Abkhazia.’
O Times relata que, "Erosi Kitsmarishvili, antigo Embaixador de Tbilisi, em Moscovo, testemunhando perante uma Comissão Parlamentar da Geórgia, “disse que as autoridades georgianas, em Abril, que planeavam iniciar uma guerra na Abkhazia, uma das duas regiões separatistas em deascordo sobre a guerra e que tinha recebido luz verde do governo dos Estados Unidos para fazê-lo. Disse que o governo da Geórgia decidiu mais tarde iniciar a guerra na Ossétia do Sul, a outra região, e continuar para a Abkházia.
A seguir:
CAPÍTULO TRÊS
Controlar a China com a Democracia Sintética
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.