[
Este artigo consiste, essencialmente, numa cronologia. Infelizmente, ela pára
antes do final do século XX. No entanto, os que verdadeiramente quiserem saber
os desenvolvimentos posteriores poderão aqui encontrar um ponto de partida.
Note-se que muitos destes dados são completamente ignorados pelo grande
público. Por outro lado, foram-se acumulando dados sobre infracções e foram
adicionadas mais evidências nos cerca de vinte anos, desde que foi publicada
esta lista*]
Pergunta
— A operação «Drop Kick» foi uma operação real realizada pelo governo dos
EUA e, assim sendo, será que existem outros exemplos do governo proceder a
experiências com civis?
Eis
uma lista, interessante e assustadora – devo dizer, para minha protecção – de
alegadas acções tomadas pelo governo «Do Povo, Pelo Povo e Para o Povo».
Interessante, duma maneira macabra e assustadora, porque quase todas as
experiências, senão todas, foram completamente legais.
TÍTULO
50 – GUERRA E DEFESA NACIONAL
CAPÍTULO
32 – PROGRAMA DE ARMAS QUÍMICAS E BIOLÓGICAS DOS EUA
Sec.
1520. Utilização de sujeitos humanos para experimentação de agentes químicos ou
biológicos pelo Departamento da Defesa; reportadas às Comissões do Congresso no
que respeita a experimentações e estudos; notificações dos agentes civis locais
(a)
No mais tardar, trinta dias depois da aprovação final dentro do Departamento da
Defesa, dos planos de qualquer experimentação ou estudo a ser conduzido pelo
Departamento da Defesa, quer directamente, quer sob contrato, envolvendo a
utilização de seres humanos para testar agentes químicos ou biológicos, o
Secretário da Defesa irá fornecer às Comissões dos Serviços Armados do Senado e
da Assembleia dos Representantes, uma relação detalhada de tais planos para
experiência ou estudo e essa mesma experiência ou estudo só poderá ser
conduzido depois de passar um prazo de trinta dias, a começar pela data em que
esse relatório é recebido pelas referidas comissões.
(b)
(1)
O Secretário da Defesa não poderá coordenar quaisquer testes ou experiências
envolvendo a utilização de qualquer agente químico ou biológico em populações
civis, a não ser que as autoridades civis da área onde o teste ou experiência
vai ser conduzida sejam notificadas de antemão de tal teste ou experiência, e
esta apenas poderá ser levada a cabo depois de expirado o período de trinta
dias, começando pela data da notificação respectiva.
(2)
O parágrafo (1) aplica-se a testes e experiências conduzidos por pessoal do
Departamento de Defesa e a experiências conduzidas em nome do Departamento da
Defesa, por contratantes.
Note-se
que não é requerida uma autorização, apenas a aprovação do Departamento de
Defesa. Note-se, também que, “a não ser que as autoridades civis da área
onde o teste ou experiência vai ser conduzida sejam notificadas de
antemão”… não dá definição do que constitui «autoridades civis» ou «da
área». Governador, presidente do município, amigos do Departamento da Defesa?
1931 O
Dr. Cornelius Rhoads, sob a protecção do Instituto Rockefeller para a
Investigação Médica, infecta seres humanos com células cancerígenas. Mais
tarde, estará na origem da criação dos laboratórios para a Guerra Biológica do
Exército dos EUA em Maryland, no Utah e no Panamá e é nomeado para a Comissão
de Energia Atómica dos EUA. Enquanto permanece neste posto, inicia uma série de
experiências com exposição a radiação em soldados e pacientes hospitalares
civis.
1932
Inicia-se o Estudo Tuskegee sobre sífilis. 200 homens negros diagnosticados com
sífilis, não lhes é nunca revelado o diagnóstico da doença, sendo-lhes negado
tratamento da mesma, são usados como cobaias humanas para seguir a progressão
dos sintomas da doença. Eles acabam todos por morrer de sífilis e as suas
famílias nunca foram informadas de que poderiam ter sido tratados.
1935
O Incidente da Pelagra. Após milhões de mortes de pelagra, no intervalo de duas
décadas, o Serviço de Saúde Pública dos EUA, FINALMENTE, ACTIVA-SE para
enfrentar a doença. O Director deste serviço admite que tinha conhecimento,
pelo menos há vinte anos, de que esta doença, a pelagra, é causada
por uma deficiência em niacina. Mas não agiu, visto que a maior parte das
mortes ocorria em populações negras afectadas pela pobreza.
1940 Quatrocentos
presos em Chicago são infectados com malária para estudar os efeitos de novas
drogas em experiência para combate à doença. Mais tarde, médicos nazis, durante
o julgamento de Nuremberga, citam este estudo americano para defender as suas
próprias acções durante o Holocausto.
1942
Os Serviços de Guerra Química iniciam experiências com gás mostarda sobre cerca
de 4 mil soldados. As experiências continuam até 1945 e utilizaram
membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia que escolheram servir de cobaias
humanas, em vez de prestar serviço militar como combatentes.
1943 Em
resposta ao programa em pleno desenvolvimento de guerra com micróbios,
efectuado pelos japoneses, os EUA iniciam investigações com armas
biológicas em Fort Detrick, MD.
1944
A Marinha dos EUA utiliza seres humanos para testar máscaras de gás e roupa. Os
indivíduos eram trancados numa câmara com gás e expostos ao gás mostarda e
a lewisita(gás tóxico).
1945
Inicia-se o Projecto «Paperclip». O Departamento de Estado dos EUA, os
serviços de espionagem militares e a CIA recrutam cientistas nazis,
oferecendo-lhe imunidade e identidades forjadas, em troca de trabalho para
programas secretos do governo dos EUA.
1945
O “Programa F”: é empreendido este programa, pela Comissão da Energia Atómica
(AEC). O mesmo consiste num estudo muito extenso sobre os efeitos do fluoreto
na saúde, um componente químico chave na produção da bomba nuclear. Sendo um
dos químicos mais tóxicos para o Homem, causa efeitos marcados no sistema
nervoso central, mas grande parte da informação é suprimida em nome da
segurança nacional, porque se temiam processos que viessem comprometer a
produção das bombas atómicas.
1946
Nos hospitais de Veteranos do Exército, os pacientes são usados como cobaias
para experiências médicas. A fim de eliminar suspeitas, foi dada a ordem de
substituir a palavra «experiências» por «investigações» ou «observações»,
sempre que sejam comunicados estudos médicos realizados num desses hospitais de
veteranos.
1947
A CIA inicia o estudo do LSD enquanto arma potencial para ser usada pela
espionagem americana. Nele, são usados seres humanos (tanto civis, como
militares) com e sem o seu conhecimento.
1950
O Departamento da Defesa começa a fazer detonar armas nucleares em áreas
desérticas e a controlar as pessoas que residem no trajecto dos ventos, em
relação a problemas médicos e a taxas de mortalidade.
1950
Numa experiência destinada a determinar em que grau uma cidade americana seria
susceptível a um ataque biológico, a Marinha dos EUA lança uma nuvem de
bactérias sobre San Francisco a partir de um navio. Aparelhos de detecção
estão distribuídos pela cidade, para testar a extensão da infecção. Muitos
residentes adoecem com sintomas de doença semelhantes a pneumonia.
1951
O Departamento da Defesa inicia testes ao ar livre, usando bactérias e vírus
patogénicos. Os testes duram até 1969 e existe o receio de que as pessoas a
residir nas zonas limítrofes possam ter ficado expostas.
1953
Os militares dos EUA espalham nuvens de gás de sulfureto de cádmio e zinco
sobre Winnipeg, St. Louis, Minneapolis, Fort Wayne, Monocacy River Valley
no Maryland, e Leesburg, Virginia. O seu propósito é determinar a eficiência
com que poderão dispersar agentes químicos.
1953
São efectuadas experiências conjuntas do Exército, da Marinha e da CIA, pelas
quais dezenas de milhares de pessoas, em Nova Iorque e San Francisco, são
expostas a micróbios Serratia marcescens e Bacillus
glogigii lançados na atmosfera.
1953
A CIA inicia o Projecto MKULTRA. É um programa de investigação
desenvolvido durante onze anos e concebido para produzir e testar drogas e
agentes biológicos que pudessem ser usados no controlo da mente e na
modificação do comportamento humano. Seis dos projetos subordinados implicavam
testar estas substâncias em seres humanos, sem o seu conhecimento.
1955
Numa experiência para testar a capacidade de infectar populações humanas com
agentes biológicos, a CIA liberta bactérias na baía de Tampa
(Florida), retiradas do arsenal de armas biológicas.
1955
O Army Chemical Corps continua a investigação com LSD, estudando o seu uso
potencial como agente incapacitante. Mais de 1.000 americanos participam nos
testes que continuam até 1958.
1956
Os militares dos EUA libertam mosquitos infectados com o agente da febre
amarela em zonas por cima de Savannah, Ga e Avon Park, Fl. Após cada
teste, agentes do exército disfarçados de funcionários de saúde pública estudam
os efeitos nas vítimas.
1958 O
LSD é testado em 95 voluntários, nos Laboratórios da Guerra Química do
Exército, para estudo dos seus efeitos sobre a inteligência.
1960
O Chefe Adjunto do Estado-Maior autoriza testes de campo com LSD, na
Europa e no Extremo Oriente. Na Europa, os testes têm o nome de
código THIRD CHANCE; os destinados à população asiática, têm o nome de
código de DERBY HAT.
1965
A CIA e o Departamento da Defesa iniciam o Projecto MKSEARCH, um programa
para desenvolver a capacidade de manipulação do comportamento humano, através
de drogas psicotrópicas.
1965
Os prisoneiros detidos na Holmesburg State Prison, em
Filadélfia, são sujeitos à dioxina, uma substância química muito tóxica, que
faz parte do Agente Laranja usado no Vietname. Os homens são depois estudados
em relação ao desenvolvimento de cancros, o que indica que se suspeitava que o
Agente Laranja era tido como agente carcinogénico, desde essa época.
1966
A CIA inicia o projecto MKOFTEN, um programa para testar o efeito
toxicológico de certas drogas nos seres humanos e nos animais.
1966
O exército dos EUA distribui por toda a rede de metro da cidade de Nova Iorque
o Bacillus subtilis, variante niger. Mais de
um milhão de civis ficam expostos, quando os cientistas militares deixam
cair lâmpadas com bactérias, dentro dos sistemas de ventilação.
1967
A CIA e o Departamento de Defesa iniciam o projecto MKNAOMI, sucessor do
MKULTRA e destinado a manter, armazenar e testar armas biológicas e
químicas.
1968
A CIA faz experiências sobre a possibilidade de envenenar a água
potável, injectando substâncias químicas no abastecimento de água do
FDA [Food and Drug Administration] em Washington, D.C.
1969
O Dr. Robert MacMahan, do Departamento da Defesa requer ao Congresso 10 milhões
de dólares para desenvolver, no prazo de 5 a 10 anos, um agente biológico
sintético para o qual não exista imunidade.
1970
O financiamento para o agente biológico sintético é obtido sob a
referência H.R. 15090. O projecto, sob supervisão da CIA é levado a
cabo pela Divisão de Operações Especiais em Fort Detrick, o laboratório
«top secret» do exército para as armas biológicas. Especula-se que teriam sido
usadas técnicas de biologia molecular para produzir um retro-vírus do tipo
HIV.
1970
Os Estados Unidos intensificam o seu desenvolvimento de «armas étnicas»
(Military Review, Nov., 1970), concebidas para atingir de modo selectivo e
eliminar determinados grupos étnicos que sejam susceptíveis devido a diferenças
genéticas e variações no seu ADN.
1975 A
secção de vírus do Centro de Fort Detrick para a Guerra Biológica é rebaptizada
como Centro Fredrick de Investigação em Cancro e colocada sob a supervisão
do National Cancer Institute (NCI) . É aqui que o programa especial de
vírus cancerígenos é iniciado pela Marinha dos EUA, com a intenção de desenvolver
vírus causadores de cancro. É também aqui que os virologistas isolam um
vírus para o qual não existe imunidade. Ele será posteriormente designado por
HTLV (Human T-cell Leukemia Virus).
1977
A audições do Senado sobre Saúde e Investigação Científica confirmam
que 239 áreas povoadas tinham sido contaminadas com agentes biológicos
entre 1949 e 1969. Estas
incluem San Francisco, Washington, D.C., Key West, Panama City,
Minneapolis, e St. Louis.
1978
Ensaios experimentais sobre a vacina contra a Hepatite B, iniciam-se em Nova
Iorque, Los Angeles e San Francisco. Os cartazes para procurar pessoas para se
submeterem a essas experiências especificam que se pede indivíduos sexualmente
promíscuos, homossexuais.
1981
Os primeiros casos de SIDA em homens homossexuais são confirmados em Nova
Iorque, Los Angeles e San Francisco, desencadeando a especulação de que a SIDA
possa ter sido introduzida aquando da introdução da vacina da hepatite B.
1985
Segundo o jornal Science (227:173-177), os vírus HTLV e VISNA,
este um vírus fatal para as ovelhas, são muito semelhantes, indicando uma
relação próxima, do ponto de vista taxonómico e evolutivo.
1986
Segundo a revista Proceedings of the National Academy of Sciences
(83:4007-4011), HIV e VISNA são muito semelhantes e partilham todos os
elementos estruturais, excepto um pequeno segmento que é quase idêntico ao
HTLV. Isto tem levado a que se especule que HTLV e VISNA possam ter sido
ligados para produzir um novo retro-vírus para o qual não existe imunidade
natural.
1986
Um relatório ao Congresso revela que a presente geração de agentes biológicos
inclui: vírus modificados, toxinas ocorrendo naturalmente e agentes que foram
alterados por engenharia genética, para mudar o seu carácter imunológico e
impedir toda a prevenção com as vacinas existentes.
1987
O Departamento da Defesa admite que, apesar do tratado que baniu a investigação
e desenvolvimento de agentes biológicos, continua a operar laboratórios de
investigação em 127 locais e universidades, nos EUA.
1990 Mais
de 1500 bébés de seis meses, de raça negra ou hispânicos, em Los Angeles,
receberam uma vacina «experimental» da papeira, que nunca foi licenciada para
utilização nos EUA. O CDC, mais tarde, admitiu que os progenitores nunca foram
informados de que a vacina – usada nos seus filhos – era experimental.
1994
Usando a técnica de «despiste de genes» o dr. Nicolson do MD Anderson
Cancer Center em Houston, TX descobriu que muitos soldados que voltavam da
operação «Desert Storm» estavam infectados com uma estirpe modificada de Mycoplasma
incognitus, um micróbio que tem sido usado para produzir armas biológicas.
Estavam incorporados, na sua estrutura molecular, uns 40 por cento da proteína
de invólucro do HIV, o que indicava que tinha sido fabricado por manipulação
genética.
1994
O senador John D. Rockefeller publica um relatório revelando que, pelo
menos nos últimos 50 anos, o Departamento de Defesa usou centenas de milhares
de militares em experiências, com seres humanos e com exposição a
substâncias perigosas. Os materiais incluem gás mostarda e gás nervoso,
radiação ionizante, substâncias psicotrópicas e alucinogénicas, bem como drogas
usadas durante a Guerra do Golfo.
1995
O governo dos EUA admite que ofereceu aos criminosos de guerra japoneses e a
cientistas que tinham efectuado experiências médicas em seres humanos, salários
e imunidade em serem processados, em troca de dados sobre a investigação com
armas biológicas.
1995 O
Dr. Garth Nicolson descobre provas de que os agentes biológicos usados na
Guerra do Golfo tinham sido manufacturados em Houston, TX e em Boca Raton, Fl e
testados nos presos do Departamento Correccional do Texas.
1996
O Departamento da Defesa admite que os soldados de Desert Storm estiveram
expostos a agentes químicos.
1997
Oitenta e oito membros do Congresso assinam uma carta exigindo a investigação
sobre as bio-armas usadas e sobre o síndrome da Guerra do Golfo.
Traduzido
por Manuel Baptista para «Observatório da Guerra e Militarismo» a partir do
original seguinte:
(*)
Penso que a origem desta lista seja esta:
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