As bombas Atómicas no Japão Foram Destinadas a Terminar a Guerra e salvar vidas?
Global Research, 04 de Novembro de 2019
Tema: Historia, Militarização e Armas
de Destruição em Massa
Há alguns anos, um escritor americano chamado
Greg Mitchell escreveu um livro elucidativo sobre a enorme ocultação forjada
pelo governo dos Estados Unidos sobre o lançamento da primeira bomba atómica no
Japão, e a censura a que foi sujeito o
primeiro filme de Hollywood sobre esse assunto. (1) O governo tinha na sua
posse muitas filmagens ao vivo realizadas pelas Forças Armadas Americanas, sobre Hiroshima e Nagasaki, que
Mitchell diz que teria chocado os espectadores, com ruínas fantasmagóricas e
bebés com as caras queimadas. Ele inclui muitas das fotos originais no seu
livro, bem como pormenores dos enormes esforços para esconder os factos, a
evidência do uso de bombas atómicas e a tapeçaria de mentiras criadas após o
facto, para justificar esta atrocidade e apresentá-la como um mal necessário.
O filme de Hollywood surgiu porque a indústria
cinematográfica queria alertar os povos do mundo sobre os perigos futuros de
uma corrida ao armamento nuclear, alegando Mitchell, que os primeiros argumentos apresentavam uma
imagem chocante que, de facto, teria provocado o desarmamento, mas a versão
final de Hollywood sobre a versão da narrativa oficial era que a bomba tinha sido absolutamente necessária para terminar a guerra e salvar vidas americanas.
Ele escreve que, à medida que os roteiros foram
rectificados, o lançamento das bombas tornou-se não só justificável, mas mesmo admirável.
Robert Oppenheimer, o notável físico judeu e principal responsável pelo
desenvolvimento da bomba, teve a certeza de que no filme, a sua personagem
mostraria “humildade” e “amor à Humanidade”. Mas não foi bem assim. “Na
primeira detonação bem-sucedida de uma bomba atómica, em 16 de Julho de
1945, “Oppenheimer ficou fora de si com o espectáculo. Ele gritou: “Eu transformei-me
na Morte, no Destruidor de mundos.” (2)
O roteiro do filme foi alterado para mostrar o
Presidente Truman angustiado com a decisão, quando, na verdade, se vangloriava,
orgulhosamente, de nunca ter deixado de dormir devido a esses factos, e
escreveu ainda, numa carta a um crítico: “Não tenho dúvidas sobre o que quer
que seja ”. (3)
Hollywood tinha começado a criação de mais um
mito da História Americana. Pelas anotações de Mitchell, até pequenos detalhes
do filme foram alterados para aparentar que o lançamento das bombas era justificado. As
consequências da radiação nuclear foram desvalorizadas como sendo comuns e
foram inseridas cenas fabricadas para retratar os bombardeiros americanos a ser
fortemente bombardeados com fogo antiaéreo (o que era falso) para fazer o ataque parecer
mais corajoso.
Foram produzidas alegações de que o uso das bombas atómicas reduziria a
guerra num ano, o que era 100% falso, visto que os japoneses já tinham
oferecido repetidamente para se render,
assim como a argumentação de que o uso da bomba atómica economizaria, pelo
menos, meio milhão de vidas americanas, que também era, evidentemente, falsa. De facto,
o lançamento das bombas não salvou vidas americanas, pois já era bastante claro que
nenhuma invasão do Japão seria necessária para efectuar uma rendição e,
efectivamente, a perspectiva de uma invasão física nunca foi submetida a
discussão. Mas esses lançamentos eliminaram, desnecessariamente, pelo menos, mais de um
milhão de vidas japonesas, apesar da Wikipedia declarar pouco mais de 100.000.
Outro mito criado por Hollywood foi que as
cidades alvos - Hiroshima e Nagasaki - tinham sido escolhidas pelo seu valor
militar, mas, na verdade, ambas eram cidades inteiramente civis e foram
escolhidas, apenas, porque não haviam sido bombardeadas antes e podiam
demonstrar, claramente, o poder destrutivo desta nova arma.
O filme final foi apresentado “basicamente, como
uma história verdadeira” para os inúmeros americanos que o viram. O New York Times designou-o como uma
“reconstituição digna de crédito” e elogiou o manuseamento das questões morais
de um “mal necessário”. Uma revista popular elogiou a sua “aura de
autenticidade e significado histórico especial”. E o “bombardeio humanitário”
de Hiroshima entrou na mitologia americana como História Americana autêntica. Mas não era.
Ellsworth Torrey Carrington, em ““Reflections of a
Hiroshima Pilot/Reflexões de um piloto de Hiroshima” (4), citou o segundo piloto
do B-29, que disse: “Depois da primeira bomba ter sido lançada, o comando da
bomba atómica ficou com muito medo de que o Japão se rendesse antes de pudermos
lançar a segunda bomba, então o nosso pessoal trabalhava dia e noite, 24 horas
por dia, para evitar tal infortúnio.” Uma das maiores mentiras fabricadas para
o filme, foi a história do Presidente dos EUA, Harry Truman, proclamar que
antes dos lançamentos reais os EUA lançaram panfletos sobre o Japão para
alertar a população do que “está para vir” como um meio de “salvar vidas”.
Harrison Brown, que havia trabalhado na bomba, designou essa ficção dos
folhetos de aviso como “a mais horrível falsificação da História”. A Wikipedia,
a mentir como sempre, diz-nos: “Várias fontes dão informações contraditórias
sobre quando os últimos folhetos foram lançados sobre Hiroshima, antes da bomba
atómica.” Mas, na verdade, nenhum panfleto foi lançado em Hiroshima antes do
bombardeio, em 6 de Agosto.
Hiroshima e Nagasaki não eram os alvos originais
das primeiras bombas atómicas. O Major General Leslie Groves é geralmente
responsabilizado pela sugestão de bombardear Kyoto, mas aparece bem documentado,
que foi Bernard Baruch quem, persistentemente, exigiu que Kyoto fosse destruída
por causa do seu valor cultural e histórico para o povo japonês; a sua
destruição abriria uma ferida que nunca se curaria. Henry Stimson, então
Secretário da Guerra dos EUA, recusou-se a aceitar Kyoto como alvo pela mesma
razão, mas foi posto de parte. No entanto, Kyoto foi protegida pela Providência
e por uma densa cobertura de nuvens que impediu os bombardeiros americanos de
localizá-la com precisão suficiente, deixando-os avançar para as alternativas.
Em Maio de 1945, vários meses antes das bombas
atómicas estarem prontas, os auto-proclamados “Mestres do Universo” realizaram
uma reunião no Palace Hotel, em San Francisco, para discutir o fim da guerra no
Pacífico. A questão era que o Japão já estava a apelar oficialmente pela paz e
a opinião colectiva desses senhores era, de acordo com Edward Stettinius, então
Secretário de Estado: “Já perdemos a Alemanha. Se o Japão desistir, não
teremos uma população viva para testar a bomba ... todo o nosso programa
pós-guerra depende de aterrorizar o mundo com a bomba atómica ... esperamos um cálculo de 1 milhão no Japão. Mas se eles se
renderem, não teremos nada. ”O conselho de John Foster Dulles foi o seguinte: “Então
deve mantê-los em guerra até que a bomba esteja pronta. Isso não é problema.
Rendição incondicional.” Stettinius respondeu: “Eles não irão concordar com
isso. Eles juraram proteger o Imperador.” Resposta de Dulles: “Exactamente.
Mantenha o Japão em guerra durante mais três meses, e podemos usar a bomba nas
suas cidades. Terminaremos esta guerra com o medo puro de todos os povos do
mundo, que se curvarão à nossa vontade.”(5) Hoje, muitos americanos gostam de
justificar o uso de armas nucleares pela sua nação, no Japão, dizendo-nos que
encurtou a guerra, totalmente confiantes de que a sua superioridade moral
permanece intacta. Mas, na verdade, as bombas foram lançadas em Hiroshima e
Nagasaki, principalmente, como uma “oportunidade única na vida” de testemunhar
os efeitos das explosões nucleares na população humana. Não se sabe amplamente
que os EUA lançaram dois tipos diferentes de bombas - urânio e plutónio - nas
duas cidades, sendo esses bombardeamentos experiências de laboratório ao vivo, para
determinar as diferenças de rendimento e de efeito entre as duas. O Departamento
de Energia dos EUA ainda especificam essas explosões como “testes”.
Após o lançamento das bombas, houve uma ânsia quase obscena da parte dos
americanos em chegar a Hiroshima e a Nagasaki para 'examinar e catalogar' os
resultados da sua nova monstruosidade. Ao conferir os relatos da presença
americana nessas duas cidades após as explosões, não se pode escapar à
conclusão de que os denominados “cientistas” eram quase tão irreflectidos como
os estudantes ao ver a sua obra-prima da guerra e, moralmente, demasiado
deformados, para ponderarem o horror que eles tinham consumado.
Quando as forças americanas entraram e ocuparam
as duas cidades, imediatamente após o lançamento das bombas, a sua primeira
ordem foi o apagão completo das informações e a proibição da publicação de
quaisquer relatórios sobre a destruição e sobre os seus efeitos, mantendo o monopólio totalmente controlado das informações.Os jornalistas e os ‘operadores
de cameras (cinegrafistas) japoneses foram proibidos de fazer qualquer
reportagem e ameaçados de julgamento em tribunal marcial e execução, se ousassem desobedecer.
Todos os livros e relatos escritos sobre os lançamentos das bombas e os seus
resultados, foram censurados e, na maioria das vezes, confiscados e destruídos
pelos americanos. Até a necessidade de dar tratamento às vítimas foi proibida
de ser relatada no Japão e, consequentemente, os japoneses praticamente não
tinham informações sobre a condição das vítimas. Todos os médicos do Japão
foram proibidos de se comunicar ou trocar informações sobre a devastação
humana. “Os seus registos, pesquisas clínicas e outros dados foram suprimidos e
confiscados. As forças armadas dos EUA também confiscaram todas as amostras de
tecido danificado, pele queimada e irradiada, sangue e órgãos internos, de
vítimas mortas e vivas.” Todas as informações foram total e completamente
suprimidas.
Além disso, as autoridades americanas forçaram o governo japonês a recusar
qualquer assistência médica oferecida pela Cruz Vermelha Internacional ou por
outras agências porque, nas palavras de um autor, “se o animal de laboratório
fosse curado, seria inútil para a pesquisa médica científica”. Os americanos
também fizeram todo o possível para impedir que qualquer tratamento fosse dado
às vítimas. A sua política declarada era: “No que diz respeito à assistência
médica, quanto menos, melhor”. Os médicos japoneses, a lidar com o primeiro
holocausto nuclear da Humanidade, estavam desesperados para ajudar as vítimas e
descobrir tratamentos ou curas, mas foram rejeitados pelos americanos e
proibidos de tentar qualquer tratamento. As vítimas feridas das primeiras explosões
nucleares da História, foram verdadeiras cobaias destinadas apenas à
observação.
Houve outra razão importante, mas nunca
discutida, para escolher lançar bombas atómicas. Os americanos estavam a
levar a cabo ataques de alto nível contra o Japão há algum tempo e, apesar de
serem bem-sucedidos, ficaram desapontados com os resultados gerais. Temos bom
conhecimento do bombardeio americano de Dresden, na Alemanha, e do seu deleite
visível com os resultados dessa perversão, mas a História Americana enterrou-se
silenciosamente e os americanos nunca tiveram de enfrentar o facto dos EUA
terem conduzido uma campanha semelhante e de longa duração, contra o Japão.
Numa reunião, em 27 de Abril de 1945, o chamado
“Target Committee”/“Comissão-Alvo” reuniu-se no Pentágono para discutir a lista
de possíveis cidades japonesas para experimentar a bomba atómica. Tóquio foi
eliminada porque, nas palavras do comissão, estava “agora praticamente toda
bombardeada e queimada e, praticamente, é um monte de entulho, só com os
terrenos do palácio em pé”. Os membros discutiram ainda o facto de que havia
poucas cidades não danificadas no Japão, para uma demonstração do poder da nova arma atómica, observando que a sua política durante um ano, tinha sido
bombardear “sistematicamente as cidades, tendo em mente, como objectivo
principal, não deixar pedra sobre pedra.”
O General americano, Curtis LeMay, um dos assassinos patológicos mais
talentosos da História, havia aprendido com o
bombardeamento de Dresden e queria levar a cabo o seu próprio genocídio numa
tapeçaria que oferecia muito mais potencial do que uma única cidade alemã. Por
essa razão, conduziu uma intensa campanha de extermínio, durante um ano, contra
o povo do Japão. Durante um ano inteiro, os americanos travaram uma campanha
de bombardeio que incluiu quase 100 cidades japonesas, devastando as frágeis
comunidades japonesas de madeira e papel. Essa campanha matou exponencialmente
mais civis, do que nos dizem sobre Hiroshima e Nagasaki. É o mesmo Curtis LeMay
que se gabaria, alguns anos mais tarde, de ter bombardeado e matado cerca de 40% da
população civil da Coreia do Norte - sem motivo algum.
Os ataques anteriores
de bombardeio a grandes altitudes nas cidades japonesas foram considerados
pelos americanos como “ineficazes”, de modo que LeMay mudou
para ataques nocturnos usando bombas incendiárias e ordenou que os seus
bombardeiros voassem a altitudes muito baixas (500 pés/150 mt) para garantir a
destruição dos edifícios vulneráveis de madeira e papel do Japão e, é claro,
para assegurar a destruição da população civil que neles residia. A sua
ideia era que os ataques nocturnos e os bombardeios generalizados
contra civis, eram uma medida apropriada para multiplicar a destruição e o
terror. Naquela época, as defesas aéreas japonesas eram
inexistentes e não permaneceu nenhum alvo militar útil; os americanos
estavam, simplesmente, a “pacificar” uma população civil indefesa.
No caso mais célebre, “Operation Meeting-house”, os bombardeiros
norte-americanos realizaram uma incursão nocturna em Tóquio que destruiu 50 km
quadrados da cidade. O subúrbio de Shitamachi, no centro de Tóquio, tinha sido
considerado o centro desse ataque, porque, nessa época, a área continha a maior densidade populacional
civil de qualquer cidade do mundo, com cerca de 750.000 pessoas a viver nos
prédios de madeira, facilmente inflamáveis naquele distrito. LeMay queria
realizar uma “experiência” sobre os efeitos do bombardeio, incendiando esta
cidade virtual de papel. Logo após a meia noite, 334 Fortalezas voadoras
enormes, os bombardeiros B-29, voando a uma altitude de apenas 150 metros,
realizaram um intenso ataque de três horas que lançou meio milhão de bombas
incendiárias M-69. Esses dispositivos incendiários, como aconteceu em Dresden,
criaram uma imensa tempestade de fogo, atingida por ventos de 50 km por hora,
que arrasou totalmente o distrito de Shitamachi e espalhou chamas por toda a
restante cidade, destruindo quase 50 km quadrados de Tóquio.
Os bombardeiros B-29 para esses ataques de extermínio levavam uma mistura
de explosivos incendiários que incluíam napalm misturado com fósforo branco,
talvez a mais cruel e imoral de todas as armas já usadas em populações civis,
tendo essa contribuição para a Humanidade sido criada e desenvolvida pela
Universidade de Harvard. Os incendiários produziram tempestades de fogo
semelhantes às de Hamburgo, na Alemanha, dois anos antes, e às de Dresden,
apenas um mês antes. As temperaturas no solo em Tóquio atingiram 1.800 graus em
alguns lugares. Os relatos de sobreviventes falam de mulheres correndo pelas
ruas com bebés em chamas amarrados às suas costas, de pessoas a pular para dentro
de piscinas para tentar escapar às chamas e a ser fervidas vivas. No seu livro
“Guerra sem Misericórdia”/“War Without Mercy”, John
Dower escreveu "Canais a ferver, metal derretido, prédios e seres humanos
explodem espontaneamente em chamas". Cerca de 65% da área comercial de
Tóquio e cerca de 20% da sua indústria foram destruídos. Quase 300.000 prédios
arderam até ao chão, somente em Tóquio. Este foi o ataque aéreo mais mortal da
Segunda Guerra Mundial. Poucos escaparam desse inferno.
Houve relatos documentados de que, durante as três horas do ataque, havia
grandes nevoeiros vermelho-sangue e um cheiro avassalador de carne humana em
chamas, a subir no ar e a encher as cabines dos bombardeiros americanos de
baixo vôo, que as equipas foram obrigadas a colocar as máscaras de oxigénio
para impedi-las de vomitar. Tal era a carnificina humana. De qualquer maneira,
essa acção foi genocídio e, no entanto, toda a confusão sórdida foi retirada de
todos os livros da História dos EUA. O ajudante do General Douglas MacArthur, o
Brigadeiro General Bonner Fellers, chamou o atentado de LeMay a Tóquio “um dos
assassinatos mais implacáveis e bárbaros de não combatentes, em toda a História”, mas LeMay estava orgulhoso da sua conquista no Japão, como estaria mais tarde, na Coreia, vangloriando-se de que ele “conseguiu queimar, ferver e assar até à morte bem mais de
meio milhão de civis japoneses, talvez quase um milhão”, naquele único
acontecimento em Tóquio. Após o sucesso desse primeiro ataque, LeMay estava
determinado a continuar, declarando a sua intenção de que Tóquio fosse
totalmente “queimada - varrida completamente do mapa” e prosseguiu na sua
determinação homicida com repetidos ataques de bombas incendiárias, cobrindo
uma área ainda maior do Japão. As bombas incendiárias desencadearam tempestades
de fogo inimagináveis nessas
cidades, tempestades que criaram correntes de ar tão intensas que os
bombardeiros às vezes eram carregados para altitudes até 10.000 pés. Esses
ataques genocidas foram tão bem-sucedidos que os EUA estavam a ficar sem
cidades para bombardear, os executivos da Força Aérea a reclamar que poucas
cidades restantes valiam a atenção de 50 bombardeiros, enquanto eles podiam colocar pelo menos 450 bombardeiros de
cada vez. “A totalidade da devastação no Japão foi extraordinária,
correspondendo à quase totalidade da população civil, sem defesa do Japão”.
Mas Tóquio foi apenas uma das muitas cidades
bombardeadas por LeMay e pelos americanos. No total, quase 100 cidades
japonesas e as suas populações civis sofreram o mesmo destino, cerca de 40 das
principais cidades do Japão sofreram uma destruição de 50% a quase 100% e
dezenas de outras, entre 25% e 50%, deixando, pelo menos, 30% da população
japonesa sem abrigo até ao final da guerra. Esta orgia de ódio e assassinato
que durou um ano, “levou a incineração em massa de civis a um novo nível, num
conflito já caracterizado por derramamento de sangue sem precedentes”.
Inexplicavelmente, as estatísticas da população
fornecidas pelos EUA sugerem que o número de mortos por todo esse bombardeio
incendiário foi praticamente nulo, a população do Japão antes da guerra estava
recenseada em 73 milhões e após a guerra em 72 milhões. (Outubro de 1940 -
73.000 milhões; Outubro de 1945 - 71.999 milhões). A Wikipedia é uma fonte
destas estatísticas bem absurdas, mas existem muitas outras. De qualquer modo, só
precisamos pensar. Além das baixas habituais da guerra, um ano inteiro de
bombardeamentos intensos de quase 100 cidades, com taxas de destruição em média de 50%
e depois com duas bombas atómicas, produzirá baixas em número maior do que
zero.
Houve alguns ajustes maciços feitos nas estatísticas
da população do Japão para o período imediatamente antes e durante a Segunda
Guerra Mundial, uma vez que nas comparações dos números do censo, os números da
população civil e a contagem das mortes, muito poucas fazem sentido. Os
americanos e os japoneses, até certo ponto, chegaram a reivindicar o número de
mortos pelo bombardeio de Tóquio em apenas 35.000, o que é um absurdo, já que
só a área de Shitamachi continha mais de vinte vezes esse número e foi
destruída tão completamente - e tão rapidamente - que a população não poderia
ter escapado. Esforcei-me para extrair os números anteriores do censo do governo
japonês por cidade e, desses números, a população da cidade de Tóquio mostra
uma redução de quase 60% entre 1940 e 1945, que é o que se esperaria: Outubro
de 1944: 6.558.161; Outubro de 1945: 2.777.010. Estes números sugerem um número
de mortos de quase quatro milhões, a maioria dos quais teria sido
necessariamente vítimas directas do bombardeio. O primeiro bombardeio destruiu
cerca de 50 quilómetros quadrados de Tóquio, mas LeMay realizou muitos ataques
posteriores, em noites sucessivas que, finalmente, elevaram a área devastada
total de Tóquio para mais de 150 quilómetros quadrados ou quase 60 milhas
quadradas. Com ventos fortes, até 160 km/hora, criados perto do centro da tempestade,
e uma incapacidade total de combater incêndios dessa magnitude, e considerando
que a área relativamente pequena de Shitamachi continha cerca de 750.000
pessoas e constituía, apenas, cerca de 10% da área bombardeada pelos americanos,
é ridículo considerar somente a morte de
35.000 pessoas.
A partir de uma comparação de dados do censo
anterior, amplamente publicados e provavelmente exactos, disponível em 40 das
principais cidades do Japão, a diferença populacional entre as duas datas acima
indicadas produz uma redução na população total de quase 50%, de cerca de 19.750.000
para 10.500.000, o que é o que seria de esperar e que indica cerca
de dez milhões de mortes resultantes principalmente do bombardeamento de bombas
incendiárias, nessas 40 cidades. Vários historiadores e cientistas políticos
ofereceram explicações diferentes sobre o motivo pelo qual os americanos e os
japoneses estariam ansiosos por mascarar os verdadeiros números de vítimas,
mas as razões são mais óbvias. Os americanos estavam desesperados para destruir
as provas de muitos dos seus crimes durante a Segunda Guerra Mundial, e
controlaram totalmente a comunicação mediática do pós-guerra na Alemanha e no
Japão, eliminando o acesso do público a informações precisas. E, como nas
Filipinas, na Indonésia e noutras nações vítimas dos massacres militares dos
EUA, os americanos destruíram e reescreveram os livros de História dessas
nações, para tornar permanente a ignorância pública. Naturalmente, essa
informação também se evaporou do registo histórico, o mundo já não está mais
ciente de que os EUA são um dos grandes queimadores de livros e revisionistas
históricos de todos os tempos. Gostaria de recordar aqui, a Historiadora
indonésia Bonnie Triyana, que escreveu: “A nossa sociedade é uma sociedade
alheia. Durante quase 50 anos, ninguém nos ensinou o que realmente aconteceu em
1965. Quase ninguém sabe que houve
milhões de mortos”.
É improvável que esta exposição da História
enterrada revele muita simpatia pelos japoneses, dada a sua conduta selvagem e
patológica durante a mesma guerra, mas esta História não é sobre os japoneses;
é sobre os americanos. É mais uma revelação da sede de sangue americana, não
apenas de uma vontade, mas de uma vontade de deliberadamente atingir populações
civis com uma intenção real de exterminar ou, pelo menos, de a esgotar de forma
selvagem.
O bombardeio do Japão por bombas incendiárias é
apenas um capítulo de um livro escrito durante mais de 200 anos. Foi precedido
pela Alemanha e outros capítulos semelhantes e em breve seria seguido pela Coreia,
pelo Vietname, pela Indonésia e por muitas outras nações. Durante toda a sua História,
os americanos envolveram-se regularmente em orgias literais de massacres de
populações civis em circunstâncias totalmente desprovidas de causa, matando
pelo prazer de matar. Desde o primeiro desembarque de colonos europeus no Novo
Mundo, os invasores, liderados por Cristóvão Colombo, exterminaram 125 milhões
de pessoas pela pura alegria de matar, extinguindo toda a civilização Inca,
Asteca e Maia, além de 90% dos aborígenes norte-americanos. Os americanos
continuam com essa tradição desde então, estabelecendo um mundo seguro para a
democracia, através do extermínio da sua população.
Larry Romanoff é colaborador frequente do site Global Research.
Notas
“Larry Romanoff, consultor
de administração e empresário aposentado. Ocupou cargos executivos
especializados em empresas de consultoria internacionais e possuía uma empresa
internacional de importação e exportação. Professor Visitante da Universidade
Fudan de Shangai, apresenta estudos de casos em assuntos internacionais a
executivos especializados. Romanoff reside em Shangai e, actualmente,
está a escrever uma série de dez livros, de um modo geral, relacionados com a
China e com o Ocidente. Pode ser contactado através do email: 2186604556@qq.com”.
A Fonte original deste artigo é Global Research
Copyright © Larry Romanoff, Global Research, 2019
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@mail.com
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