A Roadmap for Peace
UMA ESTRATÉGIA PARA A PAZ
Em 20 de Setembro de 1961, na cidade de Belgrado (Sérvia),
os Estados Unidos e a União Soviética assinaram os Acordos de McCloy-Zorin. Este acordo notável, que exige que “Não
Haja Mais Guerra”, estabeleceu directrizes não só para o desarmamento nuclear,
mas também para o desarmamento completo e geral de todas as nações do mundo. Se
for encontrada a vontade política para alcançá-lo, os conceitos contidos nestes
Acordos ainda poderão ser usados para atingir esse objectivo.
John F. Kennedy, o 35º Presidente dos Estados Unidos,
proferiu um discurso nas Nações Unidas cinco dias após a assinatura dos Acordos
McCloy-Zorin. Durante o seu discurso, ele proclamou as seguintes afirmações:
Discurso do Presidente John F. Kennedy à Assembleia Geral
da ONU
25 de Setembro de 1961
Discurso à Assembleia Geral da ONU
Senhor Presidente, Distintos Delegados, Senhoras e Senhores:
Encontrámo-nos numa hora de dor e desafio. Dag
Hammarskjold faleceu. Mas a organização das Nações Unidas está viva. A sua
tragédia é sentida profundamente nos nossos corações, mas a tarefa pela qual
ele morreu está no topo da nossa agenda. Um nobre servidor da paz desapareceu.
Mas a procura da paz está perante nós.
O problema não é a morte de um homem - o problema é a
vida desta organização. Ou crescerá para enfrentar os desafios de nossa era ou
desaparecerá com o vento, sem influência, sem força, sem respeito. Se a
deixássemos morrer, ou enfraquecer o seu vigor, ou paralisar os seus poderes,
condenaríamos o nosso futuro.
Pois a única alternativa verdadeira à guerra assenta no desenvolvimento desta organização -
e os apelos à guerra não são mais uma alternativa racional. A guerra incondicional
não pode conduzir jamais à vitória incondicional. Não pode mais servir para
resolver disputas. Já não pode dizer respeito apenas às grandes potências. Pois
um desastre nuclear, espalhado pelo vento, pela água e pelo medo, poderia muito
bem envolver os grandes e os pequenos, os ricos e os pobres, os comprometidos e
os descomprometidos. A Humanidade tem de acabar com a guerra - ou a guerra
acabará com a Humanidade.
Então, vamos decidir que Dag Hammarskjold não viveu ou
morreu em vão. Vamos chamar de trégua ao terror. Vamos invocar as bênçãos da paz.
E, à medida que construirmos uma capacidade internacional para manter a paz,
vamos desmantelar a capacidade nacional de iniciar a guerra.
Irá exigir um vigor renovado e novos procedimentos para
as Nações Unidas. Pois o desarmamento sem controlo é apenas uma sombra - e uma
comunidade sem lei é apenas uma concha. As Nações Unidas já se tornaram a
medida e o veículo dos impulsos mais generosos do Homem. Já forneceu - no Médio
Oriente, na Ásia, em África este ano no Congo - um meio de manter a violência
do Homem dentro dos limites.
Mas a grande questão que confrontou este corpo, em 1945,
ainda está perante nós: se as esperanças acalentadas pelo Homem para alcançar o
progresso e a paz são para ser destruídas pelo terror e pela perturbação, se os
“ventos sujos da guerra” podem ser domados a tempo de libertar os ventos frios
da razão, e se as garantias da nossa Carta são para ser cumpridas ou desafiadas
- prerrogativas para garantir a paz, o progresso, os direitos humanos e o
Direito Internacional.
Nesta audiência, não há três forças, mas duas. Uma é
composta por aqueles que estão a tentar construir o tipo de mundo descrito nos
artigos I e II da Carta. O outro, está a procurar um mundo bem diferente e
destruiria esta organização nesse procedimento.
Hoje e todos os dias, a nossa dedicação à Carta deve ser
mantida. Antes de tudo, deve ser fortalecida pela escolha de um funcionário
público eminente para levar adiante as responsabilidades de Secretário Geral -
um homem dotado de sabedoria e poder, para tornar significativa a força moral
da comunidade mundial. O falecido Secretário Geral promoveu e aumentou a
obrigação das Nações Unidas agirem. Mas ele não a inventou. Essa obrigação estava
e ainda está presente na Carta.
Por mais difícil que seja ocupar o lugar de Hammarskjold,
ele pode ser melhor preenchido por um homem do que por três. Até os três
cavalos da Troika não tinham três pilotos, todos a ir em direcções diferentes.
Tinham apenas um - e também deve ter o executivo da ONU. Instalar um
triunvirato ou qualquer painel ou autoridade rotativa nos departamentos
administrativos das Nações Unidas substituiria a ordem pela anarquia, a acção
pela paralisação, a confiança pela confusão.
O Secretário Geral, na verdadeira acepção da palavra, é o
servidor da Assembleia Geral.Se diminuírem a sua autoridade, irão diminuir a autoridade
do único corpo onde todas as nações, independentemente do seu poder, são iguais
e soberanas. Até que todas as nações poderosas sejam justas, as fracas estarão
seguras apenas na força desta Assembleia.
Uma acção executiva independente e eficaz não é o mesmo
caso de uma representação equilibrada. Tendo em vista a enorme mudança no
número de membros deste órgão desde a sua fundação, a delegação americana unir-se-á
a qualquer esforço para a revisão rápida da composição dos órgãos das Nações
Unidas.
Mas dar a essa organização três condutores - para
permitir que cada grande potência decida o seu próprio caso, iria fortalecer a
Guerra Fria nos quarteis generais da paz. Quaisquer vantagens que esse plano
possa apresentar para o meu país, como uma das grandes potências, nós
rejeitamo-lo. Pois preferimos muito o Direito Internacional, na era da
autodeterminação, à guerra mundial, na era do extermínio em massa.
Hoje,
todos os habitantes deste planeta devem ter em consideração o dia em que este
planeta não poderá mais ser habitável. Todos os homens, mulheres e crianças
vivem sob uma espada nuclear de Dâmocles, pendurada pelo fio mais fino, capaz
de ser cortado a qualquer momento por acidente, erro de cálculo ou loucura. As
armas de guerra devem ser destruídas antes que elas nos destruam.
Os homens já não discutem se os armamentos são um sintoma
ou uma causa de tensão. A mera existência das armas modernas - dez milhões de
vezes mais poderosas do que quaisquer outras que o mundo já viu, e a apenas a alguns
minutos de qualquer alvo na Terra - é uma fonte de horror, de discórdia e de desconfiança.
Os homens não mantém mais que o desarmamento deve aguardar a solução de todas
as disputas - pois o desarmamento deve fazer parte de qualquer solução
permanente. E os homens não podem mais fingir que a procura do desarmamento é
um sinal de fraqueza - pois numa corrida armamentista em espiral, a segurança
de uma nação pode muito bem estar a diminuir, mesmo quando as suas armas
aumentam.
Durante 15 anos, esta organização procurou a redução e a
destruição das armas. Agora esse objectivo já não é mais um sonho - é uma questão prática de vida ou morte. Os
riscos inerentes ao desarmamento empalidecem em comparação com os riscos
inerentes a uma corrida armamentista ilimitada.
É neste espírito que a recente Conferência de Belgrado - reconhecendo que não é mais um problema
soviético ou americano, mas um problema humano - defendeu um programa do “desarmamento geral, completo e estritamente
controlado internacionalmente”. É neste mesmo espírito que nós, nos Estados
Unidos, trabalhamos este ano, com uma nova urgência e com uma nova agência, agora
estatal e totalmente aprovada pelo Congresso, para encontrar uma abordagem ao
desarmamento que seria tão abrangente se bem que realista, tão mutuamente
equilibrado e benéfico, que poderia ser aceite por todas as nações. E é neste
espírito que apresentamos, com o acordo da União Soviética - sob o título de que ambas as nações agora
aceitam o “desarmamento geral e completo” - uma nova declaração de princípios,
recentemente acordados, para negociação.
Mas estamos bem cientes de que todas as questões de
princípio não estão resolvidas e que somente esses princípios não são
suficientes. Portanto, é nossa intenção
desafiar a União Soviética, não a uma corrida armamentista, mas a uma corrida
pela paz - avançar juntos passo a
passo, fase a fase, até que o desarmamento geral e completo seja alcançado. Vamos
convidá-los agora a ir além do acordo em princípio, para chegar a um acordo
sobre os planos reais.
O programa a ser apresentado a esta Assembleia - para o
desarmamento geral e completo sob um controlo internacional eficaz - move-se
para preencher a lacuna entre aqueles que insistem numa abordagem gradual e
aqueles que falam apenas da conquista final e total. Criaria maquinaria para
manter a paz enquanto destrói a maquinaria da guerra. Passaria por estágios
equilibrados e protegidos, projectados para não dar a nenhum Estado uma
vantagem militar sobre o outro. Colocaria a responsabilidade final da
verificação e do controlo onde pertence, não a ser efectuado só pelas grandes
potências, não a ser levado a cabo pelo adversário ou por si mesmo, mas através
de uma organização internacional dentro da estrutura das Nações Unidas. Esse
processo garantiria a condição indispensável da inspecção verdadeira ao
desarmamento - e seria aplicado em fases proporcionais ao estágio do
desarmamento. Abrangeria sistemas de
transporte de armas e as prórpias armas. Em última análise, interromperia a produção e os testes dessas armas, a
sua transferência e a sua posse. Atingiria, sob os olhos de uma organização
internacional de desarmamento, uma constante redução da força, tanto nuclear
como convencional, até abolir todos os exércitos e todas as armas, excepto as
necessárias para a ordem interna e para uma nova Força de Paz das Nações
Unidas. E inicia esse processo agora, hoje, mesmo quando as negociações estão a
começar.
Resumindo, o desarmamento geral e completo não deve mais ser um
slogan, usado para resistir aos primeiros passos. Não é mais um objectivo sem meios para alcançá-lo, sem meios para
verificar o seu progresso, sem meios para manter a paz. Agora é um plano
realista e um teste - um teste dos que apenas querem conversar e um teste dos
que desejam agir.
Tal
plano não produziria um mundo livre de conflitos e ganância - mas iria criar um
mundo livre dos terrores da destruição em massa. Não daria início à era do
super Estado - mas daria início a uma era na qual nenhum Estado poderia
aniquilar ou ser aniquilado por outro.
Em 1945, esta nação (USA) propôs o Plano Baruch para internacionalizar o átomo antes de
outras nações possuírem a bomba ou desmilitarizarem as suas tropas. Propusemos
com os nossos aliados o Plano de Desarmamento de 1951 enquanto ainda estávamos em guerra, na
Coreia. E hoje apresentamos as nossas propostas, enquanto construímos as nossas
defesas sobre Berlim, não porque somos inconsistentes, não sinceros ou
intimidados, mas porque sabemos que os direitos dos homens livres prevalecerão
- porque, enquanto somos compelidos, contra a nossa vontade, a armar de novo,
olhamos confiadamente, para além de Berlim, para o tipo de mundo desarmado que
todos nós preferimos.
Por esta razão, propus com base neste Plano, que as
negociações sobre desarmamento sejam retomadas prontamente e continuem sem
interrupção até que todo um programa de desarmamento geral e completo tenha
sido acordado não apenas como realmente tenha sido alcançado.
......
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.