Parte 3/3: Em tradução
5. CHINA PÓS-DENG
A China pós-Deng testemunhou três variantes de trajetórias socioeconômicas associadas a três líderes diferentes. Apesar de o programa econômico de reforma iniciado por Deng ter continuado sem impedimentos, houve estilos significativamente diferentes de implementação daquele programa. Abaixo, uma breve recapitulação.
A. Jiang Zemin (até 2003)
Em 1997, após a partida de Deng, Jiang Zemin tornou-se líder supremo da China. As reformas econômicas e os problemas profundamente enraizados da economia acentuaram-se durante a administração de Jiang. Houve um aumento acentuado na corrupção política; desequilíbrio nos índices de crescimento, entre regiões e entre classes; migração rural para áreas urbanas; desemprego; desigualdade; e diferença de riqueza e nas taxas de criminalidade, em toda a China.
Durante 1998 e 1999, muitas empresas estatais foram privatizadas com demissões em massa e transferência de ativos para empresários privados; muitas outras foram reestruturadas para torná-las lucrativas.
O bem-estar dos funcionários e o sistema de bem-estar social incorporados (desde a era Mao) nas Empresas de Propriedade Estatal, EPE [ing. state-owned enterprises, SOE], foram completamente dissolvidos (o que contribuiu para criar uma classe trabalhadora urbana de baixa renda). O governo seguiu uma política de reter os setores cruciais nas empresas estatais, enquanto pequenas e médias empresas estatais eram privatizadas ou fechadas. Os seguintes setores eram operados como ‘chaves de comando’:
Além de reduzir o número de empresas estatais (de 262.000 unidades empregando 113 milhões no período 1995-1997, para 110.000 unidades empregando 64 milhões em 2007-2008) e reestruturar empresas estatais maiores, o governo reduziu tarifas, barreiras comerciais, regulamentos; reformou o sistema bancário. O retorno médio dos ativos nas empresas estatais aumentou de 0,2% em 1998, para 5% em 2007. No mesmo período, os lucros das empresas estatais aumentaram de 0,3%, para 6,6% do PIB. O dinheiro continuou a ser despejado nas SEZs [ing. Special Economic ZoneS, Zonas Econômicas Especiais, ZEEs] e na indústria de manufatura orientada para a exportação.
De acordo com o Bureau Nacional de Estatística da China, Hong Kong-Taiwan-Japão-Coréia do Sul-Cingapura contribuíram com cerca de 71% do Investimento Estrangeiro Direto (IED) que fluiu para a China entre 1990 e 2004. Para resumir de maneira convincente, pode-se dizer que o governo da China perseguiu agenda econômica neoliberal, com consultoria de banqueiros e capitalistas dos EUA. A China ingressou na Organização Mundial do Comércio em dezembro de 2001. Durante o período 1990-2004, a economia da China cresceu a uma taxa média de 10% ao ano.
Observação muito interessante pode ser feita sobre as relações exteriores durante a era Jiang: todas as viagens ao exterior pela liderança e comunicação com a mídia estrangeira foram organizadas deliberadamente para girar em torno do (então) modelo de crescimento econômico da China e seus imperativos. Incidentes como o bombardeio pelos EUA contra a embaixada da China em Belgrado e a colisão com aeronaves dos EUA perto da ilha de Hainan foram minimizados, após alguma troca de ‘declarações’. Aparentemente, a liderança superior visava apenas a manter a estabilidade do governo e da economia.
O próprio Partido Comunista Chinês, PCC, passou por transformação muito significativa: de partido predominantemente de camponeses e trabalhadores, o PCC converteu-se em partido com grande número de pequenos burgueses de classe média. Essa classe evoluiu durante a reestruturação industrial da década dos 90s, e surgiu como principal beneficiária, devido ao seu empreendedorismo e conexão com a liderança local e central do PCC; mais importante, essa classe atuou como uma base robusta do PCC nas regiões urbanas da China.
B. Hu Jintao (2003 a 2012)
Hu Jintao teve que nadar continuamente contra a maré do efeito dominó da reforma econômica (capitalista) e da abertura que fora iniciada principalmente por Deng em 1979. Na reunião do Terceiro Pleno de outubro de 2003, foram discutidas emendas à Constituição. Cogitava-se de introduzir uma política econômica governamental abrangente, para reduzir a taxa de desemprego, reequilibrar a distribuição de renda e proteger o meio ambiente. Também os direitos de propriedade privada seriam protegidos. Devido à pobreza generalizada, desigualdade e descontentamento, o governo chinês foi forçado a buscar, sobretudo, uma sociedade equilibrada. Usando o conceito de “sociedade socialista harmoniosa”, fixaram-se duas prioridades: a distribuição equilibrada da riqueza e o aprimoramento da educação e da saúde.
Durante 1995, as exportações dos países do Leste Asiático para a China não representaram porcentagem muito significativa de suas exportações totais (Japão exportou 4,95%; Coréia do Sul exportou 7,0%; Taiwan exportou 0,3%; Singapura exportou 2,3%). Em 1995, as exportações totais chinesas valiam cerca de 149 bilhões de dólares. Mas em 2013 houve crescimento explosivo das exportações dos países do Leste Asiático para a China, como porcentagem de respectivas exportações totais (Japão exportou 18,1%; Coréia do Sul exportou 26,1%; Taiwan exportou 26,8%; Singapura exportou 11,8%). E, em 2013, as exportações chinesas para o mundo valiam cerca de 2.210 bilhões de dólares (pouco mais de 30% do valor foi exportado por empresas totalmente estrangeiras; 12% do valor foi exportado por joint ventures entre empresas chinesas e estrangeiras). Aparentemente, nesse período a China evoluía como ‘núcleo’ e o Leste da Ásia como ‘periferia’, em um novo subsistema dentro do sistema mundial (com os EUA e a Europa Ocidental como ‘núcleo’ e o resto do mundo como ‘periferia’).
O PIB da China cresceu 10,1% em 2004 e 10,4% em 2005, apesar das tentativas do governo para esfriar a economia. E, em 2006, o comércio ultrapassou US $ 1.760 bilhões, tornando a China a terceira maior nação comercial do mundo. Novamente, em 2007 a China registrou crescimento de 13% no PIB (US $ 3.552 bilhões), tornando-se a terceira maior economia do mundo em termos de PIB. Segundo estimativas da ONU em 2007, cerca de 130 milhões de pessoas nas áreas rurais das províncias do interior ainda viviam na pobreza, com consumo inferior a 1 dólar por dia, enquanto cerca de 35% da população chinesa vivia com menos de 2 dólares por dia. O índice oficial Gini do governo chinês atingiu um pico de 0,49 em 2008-2009 e, posteriormente, diminuiu apenas marginalmente, para 0,47 em 2014.
A crise financeira global em 2008 revelou a fraqueza inata da economia chinesa de então – economia que seja orientada para a exportação depende das condições econômicas em países estrangeiros, muito mais do que do consumo interno. O governo da China tomou decisões políticas altamente eficazes sobre estímulo econômico e implementou-as efetivamente (mas também aumentou o já alto ônus da dívida). O estímulo (cerca de US$ 600 bilhões, à taxa de câmbio atual) envolveu investimentos estatais em infraestrutura física, como rede ferroviária, estradas, pontes e portos, complexo habitacional urbano; flexibilização de restrições de crédito; e redução de impostos sobre imóveis.
De acordo com o Bureau Nacional de Estatística da China, em 2010 o PIB da China era de 40.850 bilhões de yuan, que podem ser divididos nas seguintes categorias de despesas:
O consumo das famílias não aumentou substancialmente com o crescimento econômico. Uma das razões disso pode ter sido o fato de que os salários da classe trabalhadora não subiram no mesmo ritmo. Embora as reformas tenham ajudado a melhorar os indicadores socioeconômicos, levando em consideração a diferença entre a região costeira e as regiões do interior, e entre as regiões urbanas e rurais, os números mostravam que a China provavelmente não conseguiria superar a pobreza e a desigualdade predominantemente nas regiões rurais e do interior.
Em 2011, havia menos de 10 dos 40 principais setores industriais nos quais as empresas estatais representavam mais de 20% da produção. Outra estatística significativa de 2012 sobre empresas industriais (conforme o National Bureau of Statistics, China) mostra:
Bilhões
de Yuan
|
Empresas
Estatais
(EPEs) |
Empresas
de propriedade privada
|
Empresas
de propriedade privada do IED
|
Ativo
total
|
31.209
|
15.255
|
17.232
|
Lucro
|
1.518
|
2.019
|
1.397
|
As estatísticas acima podem sugerir à primeira vista que as empresas estatais estivessem atrasadas em termos de rentabilidade. Mas seria conclusão errada, se se observar que há grande diferença de propriedade de ativos em vários setores – na mineração e extração de carvão, petróleo, gás natural etc. As EPEs comandam 93% dos ativos específicos do setor; mas no setor de têxteis as empresas privadas comandam 90% dos ativos específicos do setor. Diferentes setores da indústria têm proporção diferente de ativos aplicados/lucros.
C. Xi Jinping (a partir de 2013)
Por volta de 2010, o governo chinês e o PCC passam a trabalhar para implementar políticas econômicas que buscarão o ‘crescimento econômico baseado no consumo interno’, mantendo a economia já há décadas orientada para a exportação. Com Xi Jinping na presidência, iniciou-se tarefa pendente há muito tempo, mas importantíssima – a guerra contra a corrupção e o nepotismo. O PCC tomou medidas fortes para que os corruptos ativos nos quadros do partido no poder e os funcionários do governo fossem identificados e punidos. Princípios marxistas foram aplicados como diretrizes para o PCC, para que a sociedade e a economia passassem a ser orientadas em direção à igualdade e à justiça. O PCC também se tornou proativo nas ações para aprimorar sua base geopolítica e geoeconômica em todo o mundo.
Simultaneamente, o governo chinês tomou medidas concretas para modernizar todas as alas das forças armadas, por meio da pesquisa e desenvolvimento de aeronaves militares furtivas [ing. stealth] de 5ª geração, marinha de guerra, submarinos nucleares, mísseis hipersônicos, mísseis antissatélite, além de adquirir da Rússia o S400, o mais letal sistema de defesa aérea e de guerra eletrônica existente hoje no planeta.
Mas a China teve desempenho excepcionalmente bom na redução da pobreza. Em 2015, o World Bank Group estimava que apenas 0,7% dos cidadãos chineses viviam abaixo da linha de pobreza extrema de $1,9 (2011 PPP) ao dia, e 7,0% da população chinesa vivia abaixo da linha de pobreza média de $3,2 (2011 PPP) ao dia. Essa rápida redução da pobreza é conquista sem equivalente em toda a história da humanidade.
Segundo o National Bureau of Statistics of China, em 2019 o PIB da China foi de Yuan 99.492,74 bilhões (por aproximação do gasto), que pode ser distribuído nas seguintes categorias:
- Gasto
no Consumo das Famílias: Yuan 38.589,56 bilhões (38,78% do PIB);
- Gasto
do Governo: Yuan 16.559,90 bilhões (16,64% do PIB); e
- Gross (Fixed) capital formation: Yuan 42.862,78
bilhões (43.08% do PIB);
- Exportação
Líquida de Bens e Serviços – Yuan 1.480,50 bilhões (1.49% do PIB).
Comparado às estatísticas de 2010, em 2019 o consumo doméstico subiu para quase 39% do PIB. Mas os valores de 2019 do consumo das famílias, abaixo de 50% do PIB, não podem ser considerados como saudáveis, nem a formação bruta de capital mais de 30% do PIB pode ser dada como crescimento equilibrado. Não quer dizer que o período 1970-1975 tenha sido melhor, porque a componente do consumo das famílias foi de cerca de 60-65% do PIB (o próprio PIB era muito baixo).
A desigualdade entre urbano e rural permaneceu demasiado gritante mesmo em 2019 – como observa-se nos seguintes dados, segundo o National Bureau of Statistics of China (dados de 2019):
O modelo de crescimento escolhido por Deng e reforçado por Jiang já se esgotara. Fora útil para fornecer emprego em massa e construir capital fixo para a economia nacional. O governo chinês precisava direcionar o crescimento econômico para o consumo doméstico o mais rápido possível, sem prejudicar muito o setor de exportação. Para aumentar o consumo, a ‘demanda’ por bens e serviços teria de ser aprimorada – na China, ‘poder de compra’ é a chave para aumentar a demanda, o consumo interno, portanto. A renda do cidadão comum teria de ser aumentada mediante regulamentações forçadas, pelas quais o excedente da operação industrial (que é embolsado pelos capitalistas para acumulação de capital) fosse distribuído à classe trabalhadora. Da mesma forma, para o setor agrícola, o governo forneceria preços de aquisição muito mais altos para produtos agrícolas.
Outra área chave que exigia intervenção do governo foi o sistema de previdência social e de bem-estar, pelo qual educação-moradia-saúde para todas as pessoas rurais e urbanas que vivem com gastos diários abaixo de US $ 10 seria organizada pelo governo (contra uma quantia simbólica de prêmio anual de seguro). A maioria dessas pessoas se sentiria confiante o suficiente para gastar, em vez de só pensar em economizar dinheiro para os dias de chuva. As elites capitalistas bem arraigadas resistiriam, porque tais medidas restringiriam seu processo contínuo de acumulação de capital. – Mas a China é democracia socialista popular, e deve dar prioridade às pessoas comuns.
INICIATIVA CINTURÃO E ESTRADA, ICE – Desafio para o sistema mundial atual?
A Iniciativa Cinturão e Estrada, ICE, (anteriormente programa Um Cinturão Uma Estrada [ing. One Belt One Road – OBOR]) da China é na verdade uma estrutura em que os investimentos entre um e dois trilhões de dólares em diferentes países da Ásia, Europa, África e América do Sul serão feitos principalmente em projetos de governo para governo. Quando estiver implementada com sucesso, por volta de 2035, a ICE terá transformado completamente a economia e o conforto das pessoas em mais de 100 países.
Os investimentos são canalizados principalmente para infraestrutura física, mineração e exploração, geração de energia, centro de produção industrial, centro de produção agrícola e rede de comunicação. A ICE, em vez de se afastar da economia capitalista liberal existente, opera sobre o sistema capitalista existente com agenda mais inclusiva, se comparada à agenda do sistema financeiro dominado pelo capitalismo sionista. Assim sendo, os projetos da ICE tentam aliviar a pobreza e o desemprego nos estados participantes, sem considerar a ideologia do governo.
A ICE beneficia a China principalmente de quatro maneiras:
Existem mais corredores da ICE, além da “Rota da Seda Marítima” planejada como parte da ICE. Não se pode aqui entrar nos detalhes de programa tão gigantesco (que consiste de centenas de projetos gigantescos), o qual, só ele, exige estudo específico. No entanto, será muito interessante analisar se e como a ICE chega como desafio ao sistema mundial existente coordenado pelo Estado Profundo.
A ICE segue o modelo econômico capitalista tradicional de ‘lucro’, mas, diferentemente do sistema de propulsão capitalista sionista, o sistema da Iniciativa Cinturão e Estrada visa a margens de lucro nominais que criarão poderoso ‘fator de atração’ entre os países em desenvolvimento, para que busquem os projetos da Iniciativa Cinturão e Estrada.
Outra diferença importante é que o sistema ICE é radicalmente diferente do sistema capitalista existente. Ao evitar a hegemonia e a força, a ICE promove integração global harmoniosa. Com toda a probabilidade, a ICE criará um ‘núcleo benigno’ e uma ‘periferia exultante’ numa escala global que se assemelha bastante aos conceitos confucionistas de governança familiar e governança do estado.
A ordem mundial hegemônica existente e o Estado Profundo terão grave dificuldade para digerir tão completo declínio de sua estatura e a formação de um novo ‘centro de periferia’. Mas de modo algum esse novo desenvolvimento ameaçará derrubar a ordem mundial capitalista sionista existente. A nova ‘periferia central’ formará um subsistema não imperial significativo dentro do sistema mundial existente. EUA, 5 Olhos e Israel terão de compartilhar a hegemonia, com a China como centro nuclear da Iniciativa Cinturão e Estrada, e a Rússia como semiperiferia (com baixa contagem populacional e, portanto, com mercado doméstico limitado, a Rússia não tem papel muito maior a desempenhar).
Na prática, a ordem mundial pós-Segunda Guerra Mundial conheceu o funcionamento do sistema periférico central com os EUA (e a OTAN) impondo sua vontade sobre os países fracos da ‘periferia’, sempre que a camarilha do Estado Profundo percebia alguma ameaça à primazia do ‘capital de acumulação’. O capital do Estado Profundo, mediante o controle pela mídia e pela academia, garante que essa ameaça ao capital seja retratada como se fosse ameaça à ‘democracia e aos direitos humanos’. O estratagema, por sua vez, garante terreno moral elevado à superpotência hegemônica – para invadir e destruir qualquer país, como bem entenda.
No sistema da Iniciativa Cinturão e Estrada, não se conta com essa supremacia do capital, simplesmente porque a perspectiva chinesa sobre o ‘sistema mundial’ foi construída tipicamente sobre a práxis confucionista.
Observações significativas sobre a China pós-Deng
1. O Comitê Central do PCC, em Conferência em 2015, formulou oito princípios de Economia Política Socialista com Características Chinesas, a saber:
Os donos do capital jamais se reconciliam com o proletariado e a pequena-burguesia (chamo de pequena burguesia apenas o grupo de camponeses donos de terra das áreas rurais; profissionais urbanos e trabalhadores autônomos de renda média, cujo capital é pequeno demais para lhes garantir a sobrevivência). A teoria do materialismo histórico prediz clara e corretamente que, no longo prazo, os capitalistas continuarão a acumular capital mediante a exploração infinita de 90% da população; e que sempre tentarão e eventualmente conseguirão derrubar regimes estabelecidos pelos comunistas – seja de dentro para fora, como aconteceu no Partido Comunista da União Soviética, seja de fora para dentro, como no Movimento Solidariedade na Polônia), e criarão um estado que será “capitalista liberal” no espírito e na realidade.
Mao e Deng sabiam disso. A diferença entre os dois projetos estava só na estratégia para alcançar a sociedade sem classes e a economia marxista; jamais houve entre eles qualquer diferença quanto ao objetivo final. – É importante que outros líderes comunistas chineses não percam de vista isso.
Haverá perguntas: “Por que Mao não criou uma sociedade sem classes desde 1950 ou por que Mao também tentou acumular capital para começar, ou a China, mesmo antes de Mao?” “Por que em 1921 Lênin apostava na Nova Política Econômica (NPE), para introduzir o livre mercado e o capitalismo controlado pelo Estado?”
Para procurar a resposta, visitemos o maior líder de transformação – Lênin. Lênin considerou a NPE como um afastamento estratégico dos princípios do socialismo. Os líderes do partido bolchevique tiveram que criar a “base material” do desenvolvimento econômico na União Soviética, antes de poderem iniciar o primeiro estágio do socialismo, a ser seguido pelo segundo estágio.
A situação para Mao e Deng na China era exatamente a mesma: tinham de criar, primeiro, o alicerce básico da economia chinesa, para o qual as forças de produção estavam desatualizadas ou não existiam. Curiosamente, tanto o PCUS quanto o PCC tentaram criar ‘comunas’ como construção comunista ideal para as regiões rurais e o setor agrícola. Mas, principalmente devido à má administração entre os membros do partido, e à falta de conhecimento da doutrina entre a população rural, ambos os experimentos falharam.
Outra pergunta contudo permanece, mais válida: “Por que tanto o PCUS como o PCC perderam-se no atoleiro do desenvolvimento capitalista inicial e não retornaram aos próprios objetivos finais, mesmo depois de já haver um nível básico de ‘formação de capital fixo’ na União Soviética em 1960, e na China até 2010?” Talvez porque os eventos geopolíticos fossem insuperáveis. Mas fato é que, que eu saiba, essa pergunta permanece sem resposta até hoje.
2. Outra questão relacionada a exportações muito altas e algum superávit comercial obscurece dois pontos significativos:
Mesmo que o excedente geral de exportação não seja substancial, quando os valores são agrupados em continentes, observa-se grande desequilíbrio devido ao excedente de exportação nas Ilhas Oceânicas e do Pacífico (cerca de US $ 64 bilhões); na Europa (cerca de US $ 95 bilhões); na América do Norte (cerca de US $ 330 bilhões). E há desequilíbrio marginal de US $ 5-10 bilhões em excedentes de exportação / importação no caso da Ásia, África e América Latina. Indo mais fundo no nível do país, encontram-se mais desequilíbrios. A principal razão é que, onde havia oportunidade de exportar, os requisitos de abastecimento da China (energia, matérias-primas, componentes de fabricação, gêneros alimentícios etc.), na comparação com os países fornecedores, eram na maioria das vezes diferentes da natureza do item exportado (produtos acabados manufaturados), de quantidade e de destino onde existem oportunidades de exportação.
(b) Na maioria das vezes, os economistas esquecem-se de mencionar que as importações da China têm múltiplas categorias, incluindo importação por empresas estrangeiras orientadas para a exportação para agregar valor antes de exportar mercadorias; importação por empresas chinesas para agregar valor antes de despachar para exportação, bem como vendas domésticas, importação de instalações e máquinas etc. para formação de capital e importação para consumo doméstico direto. Ao contrário, a exportação tem quase uma dimensão única – produtos acabados manufaturados, principalmente bens de consumo com alguns produtos industriais. Há dependência esmagadora das exportações, o que compromete a economia chinesa, na medida em que, sem o crescimento contínuo da demanda de países estrangeiros, a economia chinesa pode ver-se em situação de crescimento lento. No futuro, pode haver cenários em que os países parceiros comerciais (exceto os EUA) possam reduzir boas importações da China para produzir dentro do próprio país (para reduzir o desemprego).
3. O superávit comercial resultante das exportações e as altas economias internas capacitaram os países do leste asiático, como Japão e China, a acumular maiores reservas cambiais (juntos, têm mais de US$6 trilhões), usadas para comprar títulos do Tesouro dos EUA. Os títulos do Tesouro dos EUA são emitidos pelo governo dos EUA para cobrir o déficit fiscal – portanto, China e Japão são os maiores credores dos EUA. Com esse arranjo de financiamento de déficits, sucessivos governos dos EUA têm sido imprudentes em cortar impostos (de oligarquia) e aumentar os gastos diretos do governo para manter os eleitores felizes. Os preços das exportações do leste asiático para os EUA foram mantidos baixos para manter aqueles produtos atraentes no mercado dos EUA. Finalmente, mais demanda por bens do leste asiático aumentou o superávit comercial e mais excedente comercial significou mais compra de títulos do Tesouro.
Assim, uma relação mútua bidirecional entre EUA e China-Japão ajudou os EUA a se envolverem em guerras sem fim, bem como a manter baixa a inflação dentro dos EUA – ainda que os líderes dos EUA adotem postura anti-importação, útil apenas para agradar o eleitorado nacionalista. No entanto, a China não apenas estará na ponta ‘recebedora’ se e quando as exportações forem subitamente restringidas. A China também deve estar preparada para o pior cenário, quando, no futuro, os EUA simplesmente se recusarem a honrar sua dívida.
A China terá que tomar iniciativa séria no que tenha a ver com a possibilidade de o EUA-dólar perder o status da moeda mundial de reserva. Juntamente com a Rússia, a China deve considerar a possibilidade de introduzir uma nova moeda internacional que tenha lastro em ouro. Essa ação não levará a qualquer economia socialista, mas certamente ajudará a conter a vantagem indevida de que goza o governo dos EUA, de imprimir tanto “fiat dólar” quanto queira, usando moeda de reserva global, mas sem o status de garantia em ouro.
4. Indiscutivelmente, a China alcançou sucessos notáveis no crescimento econômico e nos indicadores socioeconômicos nas últimas décadas. Mas essas realizações dependeram em grande parte também da política de crédito (além do Investimento Externo Direto, IED, e da exportação). Como resultado, o ônus total da dívida da China, incluindo famílias, governo (central, regional, local), setor não financeiro (incluindo imóveis) e setor financeiro, aumentou ao longo das décadas, embora lentamente.
Aparentemente, no início de 2019, a dívida das famílias aumentou para mais de 50% do PIB; a dívida do governo também superou a marca de 50% do PIB; a dívida do setor financeiro aumentou para mais de 40%; o setor não financeiro da indústria ultrapassou os 150% do PIB. Como um todo, o governo chinês está em posição precária para controlar uma dívida tão grande (total de 40 trilhões de dólares), dado que, sob controle estrito, o crescimento econômico estará em jogo. Embora o governo da China tente periodicamente desalavancar a economia com medidas de controle, até o presente o crescimento econômico tem atropelado todas essas tentativas.
O problema das dívidas ‘podres’ atingiu pela primeira vez o governo de Jiang no final dos anos 90s, quando o volume de empréstimos vencidos chamou a atenção da liderança. Para resolver o problema, foi criada, em 1999, uma empresa de administração de ativos, que absorveu 2 trilhões de yuan de empréstimos ‘podres’ de bancos estatais, deixando normal e saudável o setor bancário. Para o governo chinês, a questão da inadimplência continuaria a ser como um espinho na carne.
5. As disputas de fronteiras marítimas no Mar do Sul da China e no Mar do Leste da China têm raízes históricas, desde quando o Japão deslocou as potências europeias dessas duas regiões marítimas. Também é verdade que, após a Segunda Guerra Mundial, a maioria dos países litorâneos (exceto Vietnã e Coréia do Norte) foram apoiados pelo Estado Profundo, e foram armados até os dentes.
Mas será conquista notável e um marco monumental para a diplomacia chinesa, bem como para a imagem nacional, se a China puder resolver os problemas das fronteiras marítimas sem conflito e, se necessário, compartilhando os recursos submarinos com os estados litorâneos.
Nas disputas fronteiriças terrestres, a China resolveu todas, exceto a questão com a Índia. A fronteira terrestre foi traçada pelo poder colonial britânico que governou a maior parte do sul da Ásia até 1947, mas o governo chinês nunca aceitou a fronteira. O governo chinês tentará todas as possibilidades para levar Índia-Paquistão-China à mesma mesa de discussão, com a ONU como observadora.
Será benéfico para os três países se resolverem a disputa de uma vez por todas mediante concessões mútuas, usando a política de dar e receber. Uma guerra de fronteira por terras de pouco valor econômico (embora alto valor geoestratégico e geopolítico) não faz sentido.
6. Entre 1700 e 1840, a China foi a maior economia do mundo e o segundo maior império em superfície. No entanto, essa posição não impediu as potências europeias de praticar todos os tipos de violência e de saques em território chinês. O império chinês perdeu o rumo, por causa da incapacidade para acompanhar as mudanças tecnológicas globais. Para as potências europeias, os avanços em poucas tecnologias industriais e militares mostraram-se decisivos. Mantendo em vista esses momentos decisivos, o governo da China deve fazer arranjos extraordinários (como força-tarefa especial etc.) para cobrir as lacunas da tecnologia de fabricação em vários campos apontadas pelo McKinsey Global Institute no relatório “China e o mundo” publicado em julho de 2019, dentre as quais:
Os elementos acima mencionados não são necessariamente de natureza militar. Os atrasos na tecnologia militar são bem conhecidos e estão sendo abordados pelo governo chinês já há duas décadas, sendo os motores a jato com tecnologia de controle de vetor de empuxo os mais significativos.
6. GEOPOLÍTICA A PARTIR DE 1930
Com a criação do Banco de Compensações Internacionais (BCI) [ing. Bank for International Settlements, BIS] na Suíça em 1930, foram resolvidas as disputas e rusgas entre as mais importantes famílias de banqueiros judeus e anglo-saxões (como Rothschild, Rockefeller, Morgan, Warburg, Lazard e outros) em torno do tipo de negócio, região geográfica de influência e parcela das operações do setor bancário.
As elites capitalistas sionistas estavam totalmente unidas em palavras e ações, apesar da ocasional rivalidade e diferença de opinião entre os seguidores de dois campos: Rothschild e Rockefeller. O objetivo de longo prazo do Estado Profundo capitalista sionista (representando principalmente as famílias oligarcas e aristocratas judias, anglo, holandesas, francesas, alemãs que acumularam riqueza e envolveram-se em negócios no setor bancário, comercial e industrial) após a Primeira Guerra Mundial foi estabelecer uma ordem mundial hegemônica que:
O Estado Profundo capitalista sionista cristalizou-se na forma que tem hoje quando a Segunda Guerra Mundial começou em 1936 (com a assinatura do pacto anticomunista entre Alemanha, Itália e Japão). O Estado Profundo capitalista sionista contava com destruir sociedades poderosas (não judias anglo/holandesas/francesas) que tivessem potencial para desenvolver economia avançada; contava igualmente com expandir o império capitalista sionista:
União Soviética e China não capitularam, e seus adversários diretos (Alemanha e Japão) foram destroçados. A “Fase II” do projeto passou a ser absoluta e urgente necessidade para o Estado Profundo.
Fase II da Segunda Guerra Mundial
A Fase II da Segunda Guerra Mundial foi iniciada assim que terminou a Fase I.
A “Operação Impensável” foi planejada por Churchill, o mais ardente dos imperialistas, a fim de lançar um ataque surpresa à União Soviética para alcançar os objetivos originais que Hitler não alcançara; mas foi descartada.
Os imperialistas perceberam que um bloco militar constituído de todas as sociedades que se unissem como um só Estado Profundo Capitalista Sionista seria mais eficaz para demolir:
(a) uma potência moral e militarmente superior, como a União Soviética, que se recuperava economicamente: e
(b) uma nova potência como a China Comunista (onde, em janeiro de 1949, o Exército de Libertação Popular já havia vencido três grandes campanhas nas últimas fortalezas do partido Kuo Mintang nas regiões leste e sul da China).
Frente à nova realidade, o Estado Profundo Capitalista Sionista constituiu, em abril de 1949, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN.
Para alcançar o objetivo de longo prazo de uma ordem mundial hegemônica e os quatro objetivos da Segunda Guerra Mundial, o Estado Profundo Capitalista Sionista demonstrou criatividade, ao projetar e implantar ferramentas e métodos diplomáticos, políticos, econômicos, culturais que se provaram altamente duráveis e extremamente eficazes [os mesmos que hoje se reúnem sob o rótulo de “guerra híbrida” (NTs)]:
Durante as quatro décadas e meia seguintes – de 1945 a 1990 – o Estado Profundo Capitalista Sionista cumpriu as seguintes grandes tarefas:
Embora fosse verdade que esses países que foram devastados durante a Segunda Guerra Mundial não pudessem fornecer o padrão de vida que os países imperialistas/colonialistas da Europa Ocidental poderiam oferecer aos seus cidadãos, aqueles países socialistas forneceram todas as comodidades básicas da vida, não só a uns poucos, mas a todos os seus cidadãos.
Assim se criou uma lacuna ideológica intransponível entre o PCUS e o PCC, que dividiu todo o movimento socialista/comunista em todo o mundo. Depois de Khrushchev ser removido da posição de líder, a situação política da União Soviética foi recuperada internamente. Mas a China continuou cega sobre o cenário em mudança da União Soviética.
Essa falta de confiança da liderança chinesa na liderança soviética foi utilizada pelas elites do Estado Profundo Capitalista Sionista na década de 1980, para sangrar a União Soviética no Afeganistão e em Angola.
O bloco significativo liderado pela União Soviética e ilhas relativamente pequenas da esfera chinesa chegou a uma encruzilhada: estavam ficando para trás no aproveitamento do progresso tecnológico para o crescimento econômico, o que resultou em nível de vida relativamente baixo da maioria da população, enquanto funcionários do governo e líderes do partido no poder levavam vida muito melhor.
Os EUA construíram mais de 700 bases militares em todo o mundo.
Os agentes do Estado Profundo tiveram muito sucesso em seu plano original de destruir a União Soviética por dentro. No início dos anos 80s, dois líderes assumiram poderosas posições políticas no bloco soviético – Yuri Andropov tornou-se o principal líder do PCUS e Lech Walesa, o principal sindicalista da Polônia. Tais líderes antissocialistas de alto escalão rapidamente invadiram a estrutura do Estado e as políticas na União Soviética e na Polônia.
Depois que Andropov escolheu Gorbachev para liderar o PCUS, era apenas uma questão de tempo até o Estado Profundo Capitalista Sionista dar por concluído o experimento socialista então conhecido como União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, URSS.
Gorbachev e sua chamada camarilha reformista incapacitaram sistematicamente a economia soviética e também promoveram ativamente a queda dos governos em todos os países do leste europeu, liderados por um Partido Socialista alinhado ao PCUS. Essa camarilha foi ajudada por profissionais dos EUA e da Europa Ocidental. Também esperavam que o líder do PCC, Zhao Ziyang, se convertesse num ‘Gorbachev da China’, para derrubar o governo do PCC.
Esse plano contudo fracassou completamente, pois o próprio Zhao confidenciou a Gorbachev que “Deng é o principal líder”, em reunião realizada enquanto se desenrolava o protesto da Praça da Paz Celestial, em Pequim, em 1989.
Sem que as alas militares da camarilha capitalista sionista tivessem de disparar um tiro, a União Soviética se autodissolveu, entre 1990 e 1991. Chegava ao fim a Fase II da Segunda Guerra Mundial.
Em vez de introspecção séria e correção de rumo entre funcionários do partido no poder e departamentos governamentais, para elaborar políticas que acompanhassem as mudanças socioeconômicas e tecnológicas, todos esses líderes ‘reformistas’ decidiram que a melhor maneira de garantir crescimento (pessoal?) seria dar as mãos à Ordem Mundial Sionista-Capitalista, depois de derrubar governos do próprio partido comunista/socialista.
À altura de 2020, toda a Europa e metade da Ásia já estão ocupadas pelos “benevolentes” militares anglo-americanos da OTAN, que dizem garantir a “independência” dos “países libertados” do comunismo “autoritário”. Ao mesmo tempo providenciavam para que a versão “liberal do capitalismo democrático” do império sugasse para si toda a terra e sangue dos cidadãos.
Não admira que os monumentos e memoriais soviéticos da II Guerra Mundial tenham sido sistematicamente destruídos na Europa Oriental. Afinal, por quanto tempo o Estado Profundo toleraria a bandeira anticapitalista antissionista que o Exército Vermelho Soviético – com imensos sacrifícios e sofrimentos de seus comandantes, soldados e povo – hasteou sobre toda a Europa?
Concomitantemente com o controle completo de todos os partidos políticos (em todo o amplo espectro de cada ideologia declarada) dos dois lados do Atlântico – América do Norte, América do Sul, Europa –, a camarilha sionista capitalista mantém uma complexa teia de aranha que conecta todos os membros-chave e os troca – sempre os mesmos – de um papel para outro. Assim, um diretor aposentado do departamento de inteligência dos EUA ocupará o cargo de presidente de uma grande empresa de investimentos financeiros, e também será um muito citado professor universitário! A camarilha mantém fachada cuidadosamente construída, na qual profissionais de diferentes esferas da sociedade aparecem em conjunto, como ‘setor’ altamente educado, experiente e inteligente. São industriais, banqueiros, políticos, burocratas, oficiais militares, gerentes de negócios, profissionais jurídicos e de mídia, acadêmicos, gerentes de ONGs, diretores de cinema e artistas muito ativos em todas as esferas da vida.
[Sobre isso, ver “Bilderberg governa o mundo? Eis um quadro para ajudar você a responder”]
Interlúdio?
Depois que a União Soviética foi derrubada, líderes soviéticos corruptos e traiçoeiros e seus lacaios apoiados pela oligarquia e elites capitalistas sionistas destruíram o tecido socioeconômico da sociedade russa. O tesouro do Estado foi saqueado descaradamente; os recursos naturais foram divididos entre quadros das elites soviéticas que se tornaram empresários; o capital industrial foi destruído ou privatizado sem qualquer pagamento significativo ao Estado; os trabalhadores foram reincorporados ou pauperizados sem salários regulares; e os camponeses ficaram sem recursos adequados para trabalho agrícola. Os povos tentaram ganhar a vida oferecendo contrabando de drogas, de sexo, etc.; e a queda acentuada nas taxas de natalidade em todas as províncias da URSS fez parecer que toda a massa terrestre da Eurásia seria despovoada em duas gerações.
O Estado Profundo também tentou dividir a Rússia (a qual, depois de a URSS ser dividida, tornou-se o maior estado da Eurásia) em 4, 5 regiões, criando e auxiliando movimentos separatistas regionais com a ajuda das elites da 5ª coluna e da oligarquia dentro da Rússia. Sem financiamento, as capacidades militares da Rússia caíram no esquecimento. A pesquisa e o desenvolvimento tecnológicos, bem como a fabricação de equipamento de defesa, foram empurrados para um beco sem saída. Tropas desmoralizadas e corrupção aberta tornaram-se símbolo das forças armadas russas.
E então? As diferentes facções da camarilha capitalista sionista ter-se-iam dado por satisfeitas com o fechamento bem-sucedido da Segunda Guerra Mundial em 1991? O que pensavam sobre o muito visível fracasso de seu projeto de destruir o poder e o governo do PCC, na China?
Pelo que se via, o Estado Profundo não apenas estava satisfeito com o próprio desempenho na destruição do PCUS e da União Soviética; também confiava plenamente em que a China se tornaria “país normal”, com sistema capitalista democrático liberal de economia em larga escala e eleições periódicas para eleger governos que seriam administrados pela ordem mundial capitalista sionista que opera por trás da cortina (como aconteceu em todos os países do mundo em 1992, exceto China, Vietnã, Coréia do Norte, Irã, Zimbábue, Angola e Cuba).
É preciso perguntar como e/ou por que o Estado Profundo capitalista sionista confiava tão firmemente que a China subiria a bordo com eles.
De 1978 em diante, o movimento na direção do capitalismo industrial na China, usando as finanças globais de propriedade dos banqueiros e industriais capitalistas sionistas, foi iniciado por Deng e seguido por Jiang Zemin com tanto empenho, que os representantes do Estado Profundo – como Kissinger; e Instituições Financeiras, como JP Morgan – acabaram por concluir que a perspicácia chinesa nos negócios e no comércio transformaria a sociedade em sociedade capitalista. O Japão integrava a tríade da ordem mundial, isto é, EUA-Europa Ocidental-Japão, e com a entrada da China, a tríade se tornaria EUA-Europa Ocidental e Ásia Oriental.
O governo chinês esforçava-se para criar um “campo de caça feliz” para os interesses capitalistas sionistas globais, que desejavam cada vez mais lucros em direção à acumulação infinita de capital, e, portanto, estavam ocupados transferindo sua base de manufatura para a China, para aproveitar mão-de-obra barata e regulamentações frouxas.
Mas em 2008, ou seja, após 30 anos de reforma, a China tornara-se a terceira maior economia em termos de PIB nominal (US$4.604 bilhões, estimados pelo FMI) e a maior base de exportação do mundo (em 2007-2008, a relação Exportação/PIB na China atingiu 32%; e a relação ExIm/PIB foi de 59%). Problema é que se tornara sociedade em que a desigualdade era das mais altas do mundo – o coeficiente de Gini da China (uma medida de desigualdade pela qual ‘0’ representa a igualdade perfeita; e ‘1’ representa a desigualdade perfeita) subira, de cerca de 0,3 no início dos anos 80, para 0,49 em 2008. Mídia, academia e instituições multilaterais financiadas pelo Estado Profundo Capitalista Sionista tentaram atrair os líderes do PCC para iniciar uma nova era de ‘reformas políticas’ depois do sucesso tão brilhante das “reformas econômicas”. Por “reformas políticas”, aquelas instituições referiam-se à introdução de um sistema eleitoral multipartidário, com privatização das empresas estatais.
Só em meados da década de 2000, depois de uma década e meia de persuasão e autopersuasão para não ver a realidade, afinal a camarilha do Estado Profundo Capitalista Sionista entendeu que o PCC jamais tivera qualquer plano e qualquer desejo de mudar a própria ideologia de economia política.
Na mesma época, em 2007, na Conferência de Segurança de Munique, Putin como líder da Rússia, proferiu o seu famoso Discurso de Munique. Em termos inequívocos, Putin criticou o domínio hegemônico dos EUA e seu “hiper uso quase ilimitado da força nas relações internacionais”. Esse discurso foi chocante para a camarilha capitalista sionista – foi como acordar de um longo sono. Porque, ao longo de todos aqueles anos, viveram convencidos de que a Segunda Guerra Mundial teria dizimado completamente a União Soviética. Contudo... passados 16 anos, ainda havia russos ousados o bastante para participar de uma conferência em solo europeu, na qual um líder russo os criticava sem meias palavras, por usar a força na resolução de disputas!
De fato, a partir de 2000 as principais lideranças da Rússia dedicaram-se a uma espécie de autoexame empenhado, sobre a decadência geral pela qual passara a Rússia em um período de apenas 10 anos – entre 1985 e 1995. Resultado, o governo russo e uma seção do partido governante liderada por Putin passaram a promover novas políticas econômicas, que criaram novas indústrias de bens de consumo e melhoraram a produção agrícola e a operação de extração de petróleo e gás. Em poucos anos, a Rússia reergueu-se, criou uma economia baseada no “consumo doméstico” e impulsionou a exportação de petróleo e gás para obter divisas.
Mas a oligarquia capitalista sionista liderada por facção poderosa do partido no poder na Rússia ainda estava profundamente arraigada na burocracia, na academia e na mídia que apoiavam a acumulação ilegal de riqueza – e dela se beneficiavam. Corrupção, nepotismo, extorsão entre quadros do partido no poder e funcionários do governo haviam sobrevivido até ali, praticamente impunes. O fluxo de capitais para fora do país e incentivos fiscais para empresários ricos também continuavam, embora em ritmo lento.
Mesmo assim, ao perceber a recuperação geral da sociedade russa, o Estado Profundo Capitalista Sionista ficou alarmado. O urso russo “imundo” novamente cozinhava um curry que, no longo prazo, poderia vir a ser difícil de digerir.
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