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Quem e como nos conduzem à catástrofe
6.7 O golpe de Estado na Ucrânia
A operação conduzida pelos USA e pela NATO na Ucrânia inicia-se quando, em 1991, depois do Pacto de Varsóvia, também se desagrega a União Soviética da qual fazia parte. Os Estados Unidos e os aliados europeus movem-se rapidamente para tirar a máxima vantagem da nova situação geopolítica.
A Ucrânia – cujo território de mais de 600 mil km2 faz de tampão entre a NATO e a Rússia e é atravessada por corredores energéticos entre a Rússia e a União Europeia – não entra na NATO, como fazem os outros países da antiga URSS e do antigo Pacto de Varsóvia.No entanto, entra para fazer parte do «Conselho de Cooperação Norte-Atlântica» e da «Parceria para a Paz», em 1994, contribuindo para as operações de «peacekeeping» nos Balcãs.
Em 2002, é adoptado o «Plano de Acção NATO-Ucrânia» e o Presidente Kuchma anuncia a intenção de aderir à NATO. Em 2005, na esteira da «revolução laranja» (orquestrada e financiada pelos USA e pelas potências europeias), o Presidente Yushchenko é convidado para a Cimeira da NATO, em Bruxelas. Pouco depois é lançado um «diálogo intensificado sobre a aspiração da Ucrânia a tornar-se membro da NATO» e, em 2008, a cimeira de Bucareste dá luz verde à sua adesão.
Nesse mesmo ano, o exército georgiano, treinado e armado pelos Estados Unidos através do «Georgia Train and Equip Program» e, ao mesmo tempo, por Israel, através de companhias militares «privadas», ataca a Ossétia do Sul, em luta desde 1991 (quando se desagrega a União Soviética) para tornar-se independente da Georgia. Na noite de Agosto de 2008 a Georgia, apoiada pela NATO, lança uma ofensiva militar (precedida de um ataque de artilharia e lança foguetes) para reconquistar o controlo da região em discussão. Poucas horas depois, a Rússia intervém militarmente, rejeitando a invasão georgiana e a Ossétia do Sul torna-se, para todos os efeitos, independente da Georgia. É o primeiro sinal da ofensiva que a NATO, sob comando USA, está a preparar na frente oriental para forçar a Rússia a reagir.
Na Ucrânia, em 2009, Kiev assina um acordo que permite a passagem no seu território, do abastecimento para as forças da NATO, no Afeganistão. Agora a adesão à NATO parece certa mas, em 2010, Presidente Yanukovych, eleito recentemente, anuncia que, embora continuando a cooperação, a adesão à NATO não está no seu programa de governo. Mas, entretanto, no fim de 1991, a NATO teceu uma rede de ligações no interior das forças armadas ucranianas. Os oficiais superiores participam todos os anos nos cursos da NATO Defense College em Roma e em Oberammergau (Alemanha). No mesmo quadro insere-se a instituição, na Academia Militar ucraniana, de uma nova «faculdade multinacional» com docentes NATO.Também foi notavelmente desenvolvida a cooperação técnico-científica no campo dos armamentos a fim de facilitar, através de uma maior operacionalidade conjunta, a participação das forças armadas ucranianas em «operações conjuntas para a paz», sob a orientação da NATO.
Dado que «muitos ucranianos têm falta de informação sobre o papel e sobre os objectivos da Aliança, e conservam na mente estereótipos ultrapassados da guerra fria», a NATO estabelece em Kiev, um Centro de Informação que organiza encontros, seminários e visitas de «representantes da sociedade civil» ao quartel general de Bruxelas.
E visto que não existe só aquilo que se vê, é evidente que a NATO constrói uma rede de ligações nos ambientes militares e civis, muito mais extensa do que aparenta. Sob a direcção USA/NATO, através da CIA e de outros serviços secretos, são recrutados anualmente, financiados, treinados e armados militantes neonazis. Uma documentação fotográfica mostra jovens militantes nazis ucranianos do UNO-UNSO, treinados em 2006, na Estónia, por instrutores NATO, que ensinam as técnicas de combate urbano e o uso de explosivo para sabotagem e atentados.O mesmo método usado pela NATO, durante a guerra fria, para formar a estrutura paramilitar secreta «Gladio». Activa também em Itália onde, em Camp Darby e noutras bases, são treinados grupos neofascistas, preparando-os para atentados e para um eventual golpe de Estado.
É esta estrutura militar que entra em acção, em 2014, na praça Maidan, em Kiev. Uma manifestação anti-governamental, com reivindicações justas contra a corrupção galopante e o agravamento das condições de vida, torna-se rapidamente transformada num verdadeiro campo de batalha: enquanto grupos armados tomam de assalto os palácios do governo, atiradores de elite(snipers) «desconhecidos» disparam com as mesmas armas de precisão quer sobre os manifestantes, quer sobre a polícia (quase todos atingidos na cabeça).
Em 20 de Fevereiro, o Secretário Geral da NATO, dirige-se em voz de comando, às forças armadas ucranianas, advertindo-os para «permanecerem neutros», pelas «graves consequências negativas para as nossas relações». Abandonado pelas chefias das forças armadas e por grande parte do aparelho do governo, o Presidente Viktor Yanukovych é forçado a fugir.
Andriy Parubiy – co-fundador do partido nacionalista, constituído em 1991 sob o modelo do Partido Nacional Socialista de Adolfo Hitler, e chefe das formações paramilitares neonazis – é nomeado «Chefe do Conselho de Defesa e Segurança Nacional».
O golpe de Estado violento da Praça Maidan é acompanhado de uma campanha de perseguição, dirigida em particular ao Partido Comunista e aos sindicatos, análoga àquelas que marcaram a chegada do fascismo a Itália e do nazismo à Alemanha. Sedes dos partidos destruídas, dirigentes linchados, jornalistas torturados e assassinados, activistas queimados na Câmara do Trabalho, em Odessa; habitantes desamparados de Ucrânia oriental de origem russa massacrados em Mariupol, bombardeados com fósforo branco em Slaviansk, Lugansk, Donetsk.
Um verdadeiro golpe de Estado, sob a direcção USA/NATO, com a finalidade estratégica de provocar na Europa uma nova guerra fria para separar e isolar a Rússia e reforçar, ao mesmo tempo, a influência e a presença militar dos EUA na Europa.
Perante o golpe de Estado e a ofensiva contra os russos da Ucrânia, o Conselho Supremo da República autónoma da Crimeia – território russo passado à Ucrânia no período soviético de 1954 – vota a favor de ser separada de Kiev e pede a reinserção na Federação Russa, decisão que é confirmada com 97% dos votos, num referendo do povo. Em 18 de Março de 2014, o Presidente Putin assina o tratado de adesão da Crimeia à Federação Russa, com o estatuto de república autónoma.
Nesta altura, a Rússia é acusada pela NATO e pela União Europeia de ter anexado, ilegalmente, a Crimeia e é submetida a sanções. A Rússia responde com contra sanções que atingem, sobretudo, a economia da União Europeia, estando a economia italiana também compreendida.
Enquanto em Donbass, as auto-proclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, apoiadas pela Rússia, resistem à ofensiva de Kiev, que provoca milhares de mortos entre os civis, um roteiro para a cooperação técnica e militar, NATO/Ucrânia, assinada em Dezembro de 2015, integra todos os efectivos das forças armadas e a indústria bélica de Kiev na da Aliança, sob orientação USA. Falta, apenas, a entrada formal da Ucrânia na NATO. O Presidente Poroshenko anuncia, para esse fim, um «referendo» em data a definir, anunciando antecipadamente uma vitória clara do «sim», baseada numa «sondagem» já efectuada.
Pela sua parte, a NATO garante que a Ucrânia, «um dos parceiros mais sólidos da Aliança», está «firmemente empenhada em realizar a democracia e a legalidade». Os factos falam por si. A Ucrânia de Poroshenko, o oligarca enriquecido com o saque das propriedades estatais, proíbe o Partido Comunista da Ucrânia, impedindo-o de participar nas eleições.
Ao mesmo tempo, as formações neonazis são incorporadas na Guarda Nacional, treinada por centenas de instrutores USA da 173ª Brigada Aerotransportada, transferidos de Vicenza (Itália) para a Ucrânia, juntando-se a outros da NATO. A Ucrânia de Kiev torna-se assim, num «viveiro» do fascismo remanescente, no coração da Europa. Chegam a Kiev neonazis de toda a Europa (Itália incluída) e dos USA, recrutados sobretudo para a Pravy Sektor e para o batalhão Azov, cuja sigla nazi é copiada do emblema dos SS Das Reich. Depois de serem treinados e postos à prova em acções militares contra os russos da Ucrânia, em Donbass, são enviados para os seus países com o «salvo-conduto» do passaporte ucraniano.
Ao mesmo tempo, é espalhada na Ucrânia, a ideologia nazi entre as gerações jovens. Ocupa-se do mesmo, em particular, o batalhão Azov, que organiza campos de treino militar e formação ideológicas para crianças e jovens, aos quais se ensina, acima de tudo, a odiar os russos. Isto acontece com a conivência dos governos europeus, no quadro do «Apoio prático da NATO à Ucrânia».
A seguir
6.8 As guerras secretas de rosto humanitário
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
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